No livro "Nos Domínios
da Mediunidade", André Luiz cita o estranho fenômeno
da psicometria, definindo-o como “a faculdade de ler impressões
e recordações ao contato de objetos comuns”.
Parte da explicação está na impregnação
de objetos (que podem ser virtualmente "qualquer coisa")
com algum tipo de substância ou fluido que permite a um
indivíduo, dotado de faculdade psicométrica, acessar
o passado histórico desse objeto. Segundo André
Luiz “todos os objetos que você vê emoldurados
por substâncias fluídicas acham-se fortemente lembrados
ou visitados por aqueles que os possuíram". Exemplos
de psicometria também podem ser encontrados na obra de
Yvonne Pereira, como é o caso de "Devassando o Invisível".
Embora o tema tenha sido estudado no alvorecer do Espiritismo,
o termo "psicometria" não existe em nenhuma obra
de Kardec. Seu grande estudioso foi certamente Ernesto Bozzano,
que chegou a escrever uma obra sobre o assunto, "Enigmas
da Psicometria". Segundo Bozzano "a psicometria não
passa de uma das modalidades da clarividência". Portanto,
ainda que Kardec não tenha tratado diretamente do tema,
é possível prever sua explicação ao
se invocar o conceito Kardequiano de "dupla vista" (Ver
"O Livro dos Espíritos", 2a parte, Capítulo
8.). A própria concepção do fluido
magnético se presta como ingrediente fundamental para a
psicometria. Muitas explicações do fenômeno
de psicometria frequentemente não utilizam Espíritos
como "agentes intermediários". A razão
disso está na influência da "Metapsíquica",
um movimento posterior ao Espiritismo que buscou explicar muitos
fenômenos psíquicos - em nossa opinião sem
sucesso - como instâncias de faculdades inerentes ao "médium"
ou "sensitivo", ou seja, sem recorrer aos Espíritos.
Mas não é correto afirmar que Espíritos seriam
absolutamente prescindíveis na psicometria e o assunto
certamente merece novos estudos que apenas o Espiritismo pode
contribuir.
Fenômenos os mais estranhos frequentemente ocorrem sob circunstâncias
igualmente excepcionais. Tal é o caso de perceptíveis
"mudanças de personalidade" em pacientes que
passaram por transplantes, em particular, do coração.
Em suma: pacientes com coração transplantado são
acometidos por uma estranha mudança de hábitos,
gostos e até mesmo inclinação sexual. Para
restringir os casos apenas àqueles que foram descritos
pela literatura científica, recorremos ao artigo de Pearsall
e colaboradores, publicado em 2002. Esse artigo motivou outro
como o de Gabriel Filho na revista "Galileu" e até
mesmo uma novela televisiva. O caso mais famoso relatado no artigo
de Pearsall et al foi o de Claire Sylvia, que publicou um livro
sobre sua mudança de personalidade em 1997. Com o transplante,
surgiram inesperadamente interesse por alimentos que ela nunca
ingeriu (como cerveja, por exemplo, que era consumida pelo doador
do órgão desencarnado em um acidente automobilístico).
Claire Sylvia afirmou ainda ter sonhado com o doador que lhe revelou
seu nome.
No artigo de Pearsall podemos ler dez casos, como, por exemplo,
o 5o que descreve uma mulher de 19 anos que faleceu em um acidente
automobilístico e a recipiente, uma mulher de 29 anos diagnosticada
com cardiomiopatia secundária. A doadora era vegetariana
e, segundo a mãe, ia se casar em breve, tendo passado por
experiências amorosas com diversos rapazes em poucos meses.
A paciente por outro lado se descrevia como lésbica antes
do transplante. Estranhamente mudou de hábito, tendo passado
também por grande repulsa de carne (afirma que seu coração
dispara quando sente cheiro de carne). Também descreveu
sentir, por algum mecanismo desconhecido, o impacto do acidente
da doadora. A transplantada se casou com um homem depois de receber
o novo coração. O caso 9 envolveu um doador de três
anos de idade (que caiu de uma janela ao tentar pegar um brinquedo)
e o recipiente, um garoto de nove anos. Segundo os pais do recipiente,
depois do transplante, sem nenhum conhecimento prévio,
o garoto corretamente adivinhou a idade do doador, a causa mortis,
e o chamou de "Tim" (seu nome era "Thomas",
mas era chamado pelos pais intimamente de "Tim"). Estranhamente
também nunca mais brincou com o mesmo brinquedo que tinha
sido a causa da morte do doador com quem passou a compartilhar
outros hábitos.
Alguns médicos, pouco afeitos a fenômenos insólitos,
por prudência, explicam essas ocorrências como naturais
e causadas pelo uso de medicações (um transplantado
cardíaco ingere uma grande quantidade de drogas como parte
do processo de aceitação do novo órgão,
isto é, para evitar rejeição). Entretanto,
a variedade e sutileza das experiências observadas tornam
difícil explicar tudo como causado por drogas. Seriam tais
mudanças causadas por algum fenômeno semelhante ao
da psicometria? Obviamente, não esperamos que isso ocorra
com frequência. Sabemos que a sensibilidade mediúnica
não está igualmente distribuída na população.
Assim, qualquer influência desse tipo se manifestaria de
forma rara, o que parece ser o caso nos transplantes e está
confirmada por Pearsall et al e estudos subsequentes. Além
disso, no passado, essas mudanças foram provavelmente escondidas
pelos doadores com receio de problemas de aceitação
pelos familiares.
O que o Espiritismo teria a dizer a respeito desse fenômeno?
Primeiramente, a ideia de que um órgão ou pedaço
do corpo fique impregnado por fluidos de seu "dono"
parece ser consequência natural da teoria magnética
usada por Kardec nas explicações de muitas ocorrências
mediúnicas. Também fica explicada a raridade dos
casos pela necessidade do doador ter uma sensibilidade mínima,
apenas observada em pessoas que sejam mais "influenciáveis"
ou, na linguagem do magnetismo animal, mais "magnetizáveis".
Entretanto, por que os transplantados de coração
apresentam as mudanças mais notáveis? Se transplantes
de fígado e rins são os mais realizados, porque
as mudanças são maiores com o coração?
A resposta talvez forneça as primeiras pistas para a confirmação
da existência de órgãos espirituais. Essa
noção é inexistente em Kardec, pois a maior
parte dos fenômenos espíritas são processos
externos e transitórios, que ocorrem com a influência
de Espíritos sobre médiuns, que têm seu comportamento
alterado apenas durante o transe mediúnico. A mediunidade
é vista de forma geral como uma faculdade do corpo e isso
basta para explicar muitos fenômenos. Seria o fenômeno
de natureza obsessiva? Não gostamos dessa ideia porque
obsessão exigiria um vínculo comportamental pré-existente
entre o doador e o recipiente. Obviamente que é possível
haver obsessão em algum caso de transplante, mas isso obedeceria
a condições usuais de qualquer obsessão e
não causada pelo evento de transplante. Além disso,
ela seria comum a qualquer tipo de transplante, o que não
explica sua maior ocorrência com o coração.
No caso dos transplantados, o recebimento de um órgão
vital como o coração, em região conhecida
nas tradições orientais como sendo "plexo cardíaco",
pode significar uma mudança grande demais para que tais
mudanças de personalidade não apareçam. A
interação se daria por meio de troca de "fluidos
espirituais" sutis entre o coração transplantado
e o perispírito do recipiente, já que, do ponto
de vista material, são rompidos nesse último quaisquer
conexões neurais com o cérebro (o que ocorre com
a retirada do coração doente).
Tais esboços de explicações podem fornecer
a base inicial para se apreciar melhor essas mudanças de
comportamento, muito difíceis de serem compreendidas pelo
materialismo, para o qual as sensações são
produzidas no cérebro e o coração é
apenas uma bomba de sangue. Portanto, nossa conclusão e
sugestão é que tais mudanças de personalidade
podem ser explicadas ao se considerar a importância desse
centro de fluidos com possíveis órgãos no
perispírito do encarnado, a sensibilidade do recipiente
e a existência de fluidos espirituais impregnados no órgão
doado.