De início já comentamos que uma
das grandes deficiências do livro é inexistência
de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições
feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais).
O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração
exceto pela bela imagem da Nebulosa
de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu
e especificou a existência de um mapa entre funções
cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais
didático se a descrição do autor fosse acompanhada
de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas
e funções existentes. A figura abaixo é uma
imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup
(cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser
útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita
descrição de Facure das funções cerebrais.

Modelo 3d do cérebro segundo
Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas
por Facure em seu livro.
Em 'A Evolução do
Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos
sobre a evolução do volume da massa do cortex, desde
os símios até o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição,
o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão'
com o princípio inteligente ou Alma que irá aparecer
apenas no capítulo 'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor
é bastante livre, ele consegue descrever de forma simples
muitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira
de apresentar cada conceito entre o que escreve o autor e André
Luiz em vários dos livros sob psicografia de Francisco Cândido
Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativo para
se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na
forma de curtos parágrafos.
Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente'
me chamaram a atenção. Na página 41, ao descrever
o gigantesco número de conexões neurais existentes
no cérebro e a quantidade de informação genética
supostamente necessária para descrever detalhadamente tais
descrições, Facure reconhece uma impossibilidade:
Ainda não se tem uma interpretação
adequada para explicar quais os mecanismos que direcionam essas
ligações. Não sabemos, por exemplo, como
os neurônios do olho se estendem pelas vias corretas até
a parte de trás do cérebro, onde suas terminações
têm que se distribuir por camadas de alta complexidade e
com a exigência de impecável de que cada fibra deve
ocupar com precisão o seu devido lugar. Acredita-se que
a célula alvo contenha as substâncias químicas
que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve
ligar. Convém registrar que, enquanto temos milhões
de gens, as ligações entre os neurônios são
de tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma,
a cada segundo, seriam necessários 32 milhões de
anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material
genético para, por si só, direcionar todas essas
informações.
Em outras palavras,
a quantidade de informação contida no código
genético é muito menor do que a necessária
para descrever (ou mapear) as conexões neurais. De onde vem
essa informação adicional? O problema aqui é
que, embora se possa ter ideia dessas diferenças de informação,
ninguém consegue quantificá-las corretamente. Mas,
a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações
indica que alguma força adicional está em operação.
Como a neurologia é conhecimento essencialmente descritivo,
inexiste qualquer evidência sobre como essa força poderia
operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição
de prédios e ruas do centro de uma metrópole sem poder
saber absolutamente nada sobre as forças subjacentes que
os utilizam durante a maior parte do tempo.
Outra parte interessante está na pagina 47. O autor
considera que as estruturas encefálicas necessárias
para a inteligência do homem moderno já estavam prontas
a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:
Podemos
questionar, então, porque só tão recentemente
fomos capazes de construir cidades, as pirâmides, a esfinge
e redigir livros sagrados, considerando que a disponibilidade
do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas
funções muito tempo antes. Pressuponho que a magnitude
e a rapidez desse avanço, que ocorreu nesses últimos
250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda de criaturas,
mais desenvolvidas, que vieram habitar entre nós, exercendo
um papel de enxertia para a espécie humana.
Uma observação pode
ser válida aqui: é possível que a história
que conhecemos seja apenas um esboço precário da verdadeira
história pregressa dos últimos 100 mil anos. É
possível que nossa história verdadeira tenha começado
muito tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é
interessante considerar que a arqueologia e antropologias modernas
especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos
últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno
já estava disponível 100 mil anos antes. Isso pode
corroborar a noção de nossa cultura tenha sido auxiliada
pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa
'vinda' em nada teve de extraordinária: ela se deu pelas
vias normais do nascimento comum e nada teve a ver com uma 'invasão'
extraterrestre. Assim, nenhuma evidência física dela
será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que
é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma
explicação aparente.
Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da
necessidade de se incluir a Alma ou Espírito no quadro puramente
descritivo das ciências neurológicas. Isso é
feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas culturas
que reconheciam a existência de uma individualidade que é
preservada além da morte. É importante considerarmos
aqui que a postulação da existência da Alma
não parte de uma necessidade meramente neurológica.
De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação
no código genético para explicar as ligações
neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência)
vem como base independente dessas considerações. De
uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve
conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos
primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar
aparentemente a incompletude das descrições neurológicas
da mente.
O Cérebro e a Mediunidade
O que também chama a atenção
em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento
da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver
com a organização física do médium que,
para Facure, sugere uma ligação estreita com a estrutura
cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade').
Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que
se poderiam considerar os mais 'físicos') passam pelo filtro
do cérebro para que possam se manifestar. Isso contrasta
fortemente com a opinião algo generalizada de que mediunidade
deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não
se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica, quando
o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum tipo de
interferência. Esboços em direção ao
desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia
e Pintura Mediúnica'):
Com o desenvolvimento mediúnico,
a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente
como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o
Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base
e das áreas motoras complementares para executar a tarefa.
Por isso, ambos, a psicografia e a pictografia, são executados
com extrema rapidez; a caligrafia com frequência é
ampliada e não há necessidade de acompanhamento
da visão por parte do médium, porque ele já
está treinado para execução do texto ou da
pintura.
E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro
opera a codificação dos sinais visuais para fornecer
ao Espírito a visão integral de um objeto
(1) parece ser essencial para compreender as diferenças
que existem entre descrições de diversos médiuns
videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute uma possível
explicação para esse fenômeno (2). Ele fala,
por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma
maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas
de informação de uma imagem vão para áreas
diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está
essencialmente ligada a estrutura física do cérebro,
então diferentes médiuns poderão descrever
diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade
dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles
(trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécie
Homo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns
de conhecer a história pregressa de objetos físicos
simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das
funções do tato ordinário que são processadas
no lobo parietal. Dessa forma,prevê-se que as variedades (e
intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto
as variedades de funções cognitivas disponibilizadas
pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece
que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses
conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar
uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro.
O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos
usados pelo autor no livro (tal como a palavra "psicognosia"
com significado específico dado por ele), além do
conceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro
há um instrutivo quadro cronológico sobre as descobertas
da neurologia, onde não deixam de figurar as contribuições
de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral
do ser humano. Não é possível estabelecer uma
ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado
a partir de observações da neurologia, assim sendo:
Estando presos à realidade
física que nos limita, não poderemos explicar a
fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas
a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro,
mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97)
Pelo menos, isso ainda não
ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda
a aprender um pouco mais sobre o assunto.