Segunda parte da série de posts sobre falácias
de relevância, com exemplos tirados do ceticismo. Nessa parte,
apresentamos um tipo de falácia de relevância que é
amplamente generalizada pelo amadorismo lógico. Para os links
dos artigos anteriores dessa série, abaixo desse artigo há
lista dos artigos com os links.
________________________________
Falácia de relevância:
Argumentum ad Hominem
Talvez esta seja o tipo mais disseminado
de falácia: a que pretende construir um contra argumento com
base na desqualificação (moral ou circunstancial) de quem
postula uma determinada tese (Fig. 1).
De certa forma, essa falácia é oposta ao argumento da
autoridade: enquanto que, com a de autoridade, uma proposição
é admitida verdadeira porque é sustentada por pessoas
que tem determinadas qualidades, no caso da falácia ad hominem,
o argumento é invalidade porque seu propositor é desqualificado
por seus defeitos. Portanto, a falácia ad homimem é sempre
negativa.
Exemplos desse tipo de falácia são abundantes, mas convém
primeiro distinguir os vários tipos dela conforme (1):
1. Ad hominem "ofensivo":
o argumento é desqualificado com base de que quem o sustenta
é acusado de algum defeito moral ou má ação,
alguém indigno de confiança;
2. Ad hominem "circunstancial": um argumento deve
ser rejeitado por alguém porque, quem o defende, está
envolvido em circunstâncias que tornam supostamente impossível
sua aceitação. O exemplo mais famoso desse tipo de falácia
é a "resposta do caçador" que não aceita
críticas de não vegetarianos à sua prática
de caça (1). De fato, essa replica é falaciosa porque
se escora numa desqualificação da pessoa.

Existem exemplos numerosos desse tipo de falácia, mas uma que
nos chama atenção pode ser lida no site da "Associação
Cultural Montfort'" escritas por Orlando Fedeli. O autor acusa
Kardec de racismo (assim como a K. Marx e Voltaire), mas chama os espíritas
(Brasileiros) de 'tupiniquins'. Em particular, salta aos olhos o envolvimento
emocional (e, portanto, nada lógico) mostrado por Fedeli ao escrever
isto:
Lendo os livros de Kardec, tem-se
a impressão de ler textos de um aluno de ginásio que,
não tendo compreendido bem a lição que recebeu,
e com presunção própria aos ignorantes, escreve
obras sem nexo, contraditórias e mal feitas. O resultado é
uma Gnose de "basse cour", isto é, uma "gnose
de galinheiro". (2)
O que podemos dizer sobre essas palavras? É com essas bases que
ele pretende 'argumentar' sua tese de racismo que não passa de
uma visão distorcida dos textos que caiam em suas mãos.
É no contexto dos inúmeros sites de pseudo ceticismo que
encontramos, por exemplo, a crítica do blog Skeptic (3) dirigida
ao prof. W. Bengston, um importante pesquisador da efetividade da imposição
de mãos. Já entrevistamos o prof. Begston aqui (4), de
forma que mais sobre o trabalho que ele desenvolve pode ser visto nesse
post. Recentemente, o prof. Bengston sofreu um ataque cardíaco.
Um cético do site Skeptics não perdeu a chance de enunciar
seu 'argumento' sobre porque os trabalhos de Bengston fazem rir:
He could not even cure himself from
a heart attack and he claims he has special powers?
(Ele nem mesmo pode curar a si mesmo de um
ataque do coração e afirma ter poderes especiais?)
Claramente essa é uma falácia
do tipo 'ad hominem', contaminada pelo fato de Bengston nunca ter afirmado
possuir 'poderes especiais'.
Devemos nos precaver todas as vezes que encontramos 'provas' desse tipo,
que pretendem defender pontos de vista com base em desqualificações
ad hominem, que saltam aos olhos bem treinados como tentativas desesperadas
(muitas emocionais) de fazer valer seus pontos de vista. O maior risco
sempre será quando quem argumenta realmente acredita que uma
resposta 'ad hominem' tem qualquer valor.
Referências e notas
(1) - Irving M. Copi (1978). Introdução
à lógica. Editora Mestre Jou.
(2) Orlando Fedeli (n. d.). Allan Kardec, um racista brutal e grosseiro.
Para críticas a esse autor ver: http://orlandofedelicontratudo.blogspot.com.br/
(3) http://www.skepticforum.com/viewtopic.php?f=16&t=20929 (Acesso,
Janeiro de 2014).
(4) Ver: Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas
por imposição das mãos (passes de cura)
(5) "Ele nem mesmo pode curar a si mesmo de um ataque do coração
e afirma ter poderes especiais?"