Espiritualidade e Sociedade



Ademir L. Xavier Jr.

>      Sobre a política na gerência e a gerência na política

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Ademir L. Xavier Jr.
>  Sobre a política na gerência e a gerência na política

 

 

O termo "política" é majoritariamente usado para se referir à "ciência da governança de um estado ou nação" (1) ou "arte de negociação para compatibilizar interesses". Uma definição mais forte, porém, pode ser inferida a partir de uma descrição interessante de "poder": a capacidade de fazer com que pessoas hajam de acordo com um determinado interesse. Há quem confunda a posse de recursos (dinheiro, fama etc) com poder, mas, na verdade, aquele que tem poder necessariamente terá em suas mãos - se não for de direito, mas de fato - a capacidade de manipular e dispor de recursos. Em outras palavras, não se pode dissociar "política" de "poder". Ser político é assim ter a capacidade de influenciar pessoas - a partir de situações e contextos - de forma que atuem em favor de um interesse que, obviamente, será aquele que o político defende. Idealmente, esse interesse deve coincidir com o da "coisa" pública.

Tudo isso é bastante óbvio. O termo política é pouco usado, entretanto, no contexto de gerenciamento de projetos. De forma geral, do gerente de projetos se exige que tenha capacidade de lidar com conflito de interesses (2) mas, uma vez que não se trata de interesses públicos, a terminologia e, principalmente, as práticas políticas são pouco referenciadas. A primeira lição, portanto, é que interessar-se por política, aprender a história de um poder (como ele se estabelece, opera e desaparece) ou a própria história das sociedades pode ser bastante instrutivo a quem pretende ser um bom gerente de projetos, já que ele é, por definição, um cargo eminentemente político. Há paralelos entre a história de sociedades - principalmente aquelas que se dedicaram a grandes obras - e o próprio curso dos projetos, embora esse seja um tema com escassas referências.

E não só isso. A comparação que se pode fazer entre ditaduras e a ação de gerentes desumanos é outro exemplo. O oposto das democracias bem governadas encontra seu paralelo nos times de projeto que tem a disposição um bom líder, um espaço que permite a cooperação e a iniciativa de todos que não seguem ordens simplesmente. Isso é assim porque ambos os fenômenos sociais são baseados nos mesmos princípios e florescem nos agrupamentos de indivíduos.

Inexistem em realidade diferenças maiores de um ou de outro caso, em que pese o fato de que, na gerência de projetos, o interesse maior não é o do próprio gerente, mas de seus clientes e stakeholders. Mas, não se trata de fazer aquilo que o cliente ou stakeholders querem em um determinado momento da vida do projeto, mas de se atingir objetivos que foram previamente negociados e que, se cumpridos, representam a realização máxima desses interesses. Já na vida pública de um político - principalmente em países ainda em desenvolvimento como no caso do Brasil - na imensa maioria dos casos, inexiste um plano ou uma meta. O objetivo, se é que se pode definir um, é satisfazer a inúmeros interesses de grupos particulares que têm acesso ou influência às pessoas que estão no poder.

Da mesma forma, como se pode falar da importância da política em gerenciamento de projetos (e o tema tem sido cada vez mais tratado, como é o caso da ultima versão do PMBok, ver Capítulos 9 e 13, 2), é altamente instrutivo considerar uma visão de gerenciamento de projeto na política. Esse exercício nos levar a compreender com profundidade o malogro de inúmeras "políticas públicas" adotadas por diversos governos, nas mais diferentes esferas da administração - municipal, estadual ou federal - já que os princípios são invariantes em relação à escala. Ele nos faz compreender as derrocadas econômicas, as situações "sem saída" e a ausência de "luz no fim do túnel" em muitos embates econômicos e sociais. Mas, que desalento perceber que ainda estamos distantes de cumprir sequer o levantamento dos requisitos para se ter um bom projeto de administração pública! Tem-se um "projeto de poder" convivendo plenamente com um "poder sem projeto"...

Parece urgente aplicar métodos de gerenciamento de projeto no trato da coisa pública. É claro que a multiplicidade de interesses, as limitações de tempo e o ambiente cultural francamente contrários ao desenvolvimento e a aplicação de metodologias são "desafios" a quem, na política, pretenda usar técnicas consagradas de gerenciamento de projetos. Sem isso, entretanto, fica difícil vislumbrar uma forma mais evoluída de política, uma que fosse bem diferente daquela noticiada pelos jornais todos os dias.

Trata-se de um problema de calamidade pública a ausência de pessoas poderosas não convencidas dessa necessidade. Se sobram discursos ideológicos totalmente distantes da visão de gerenciamento que constitui, por si só, a verdadeira revolução a ser empreendida, por outro, politizam-se problemas eminentemente técnicos. Em certo sentido, o poder é ingrediente fundamental para a administração pública, mas está longe de ser "condição necessária e suficiente". Poder sem inteligência e planejamento é como um elefante desgovernado, furioso e inconsciente dos estragos que faz.

Independente da orientação ideológica, dever-se-ia apoiar aqueles políticos sinceramente interessados em administrar interesses públicos de forma ótima. Para isso, conhecimento e competências já estão desenvolvidas, mas jazem distantes do que se vê no trato administrativo de governos porque ao povo falta essa consciência.

 

 

Referências (acessos em outubro de 2015)

(1) http://www.significados.com.br/politica/

(2) PMI (2013). A Guide to the Project Management Body of Knowledege (PMBok Guide); 5th Edition.

 

 

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/sobre-pol%C3%ADtica-na-ger%C3%AAncia-e-ademir-xavier


 


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