O termo "política"
é majoritariamente usado para se referir à "ciência
da governança de um estado ou nação"
(1) ou "arte de negociação
para compatibilizar interesses". Uma definição
mais forte, porém, pode ser inferida a partir de uma descrição
interessante de "poder": a capacidade de fazer
com que pessoas hajam de acordo com um determinado interesse. Há
quem confunda a posse de recursos (dinheiro, fama etc) com poder,
mas, na verdade, aquele que tem poder necessariamente terá
em suas mãos - se não for de direito, mas de fato
- a capacidade de manipular e dispor de recursos. Em outras palavras,
não se pode dissociar "política" de "poder".
Ser político é assim ter a capacidade de influenciar
pessoas - a partir de situações e contextos - de forma
que atuem em favor de um interesse que, obviamente, será
aquele que o político defende. Idealmente, esse interesse
deve coincidir com o da "coisa" pública.
Tudo isso é bastante óbvio. O termo política
é pouco usado, entretanto, no contexto de gerenciamento de
projetos. De forma geral, do gerente de projetos se exige que tenha
capacidade de lidar com conflito de interesses (2)
mas, uma vez que não se trata de interesses públicos,
a terminologia e, principalmente, as práticas políticas
são pouco referenciadas. A primeira lição,
portanto, é que interessar-se por política, aprender
a história de um poder (como ele se estabelece, opera e desaparece)
ou a própria história das sociedades pode ser bastante
instrutivo a quem pretende ser um bom gerente de projetos, já
que ele é, por definição, um cargo eminentemente
político. Há paralelos entre a história de
sociedades - principalmente aquelas que se dedicaram a grandes obras
- e o próprio curso dos projetos, embora esse seja um tema
com escassas referências.
E não só isso. A comparação que se pode
fazer entre ditaduras e a ação de gerentes desumanos
é outro exemplo. O oposto das democracias bem governadas
encontra seu paralelo nos times de projeto que tem a disposição
um bom líder, um espaço que permite a cooperação
e a iniciativa de todos que não seguem ordens simplesmente.
Isso é assim porque ambos os fenômenos sociais são
baseados nos mesmos princípios e florescem nos agrupamentos
de indivíduos.
Inexistem em realidade diferenças maiores de um ou de outro
caso, em que pese o fato de que, na gerência de projetos,
o interesse maior não é o do próprio gerente,
mas de seus clientes e stakeholders. Mas, não se
trata de fazer aquilo que o cliente ou stakeholders querem em um
determinado momento da vida do projeto, mas de se atingir objetivos
que foram previamente negociados e que, se cumpridos, representam
a realização máxima desses interesses.
Já na vida pública de um político - principalmente
em países ainda em desenvolvimento como no caso do Brasil
- na imensa maioria dos casos, inexiste um plano ou uma meta. O
objetivo, se é que se pode definir um, é satisfazer
a inúmeros interesses de grupos particulares que têm
acesso ou influência às pessoas que estão no
poder.
Da mesma forma, como se pode falar da importância da política
em gerenciamento de projetos (e o tema tem sido cada vez mais tratado,
como é o caso da ultima versão do PMBok, ver Capítulos
9 e 13, 2), é altamente instrutivo considerar uma visão
de gerenciamento de projeto na política. Esse exercício
nos levar a compreender com profundidade o malogro de inúmeras
"políticas públicas" adotadas por diversos
governos, nas mais diferentes esferas da administração
- municipal, estadual ou federal - já que os princípios
são invariantes em relação à escala.
Ele nos faz compreender as derrocadas econômicas, as situações
"sem saída" e a ausência de "luz no
fim do túnel" em muitos embates econômicos e sociais.
Mas, que desalento perceber que ainda estamos distantes de cumprir
sequer o levantamento dos requisitos para se ter um bom projeto
de administração pública! Tem-se um "projeto
de poder" convivendo plenamente com um "poder sem projeto"...
Parece urgente aplicar métodos de gerenciamento de projeto
no trato da coisa pública. É claro que a multiplicidade
de interesses, as limitações de tempo e o ambiente
cultural francamente contrários ao desenvolvimento e a aplicação
de metodologias são "desafios" a quem, na política,
pretenda usar técnicas consagradas de gerenciamento de projetos.
Sem isso, entretanto, fica difícil vislumbrar uma forma mais
evoluída de política, uma que fosse bem diferente
daquela noticiada pelos jornais todos os dias.
Trata-se de um problema de calamidade pública a ausência
de pessoas poderosas não convencidas dessa necessidade. Se
sobram discursos ideológicos totalmente distantes da visão
de gerenciamento que constitui, por si só, a verdadeira revolução
a ser empreendida, por outro, politizam-se problemas eminentemente
técnicos. Em certo sentido, o poder é ingrediente
fundamental para a administração pública, mas
está longe de ser "condição necessária
e suficiente". Poder sem inteligência e planejamento
é como um elefante desgovernado, furioso e inconsciente dos
estragos que faz.
Independente da orientação ideológica, dever-se-ia
apoiar aqueles políticos sinceramente interessados em administrar
interesses públicos de forma ótima. Para isso, conhecimento
e competências já estão desenvolvidas, mas jazem
distantes do que se vê no trato administrativo de governos
porque ao povo falta essa consciência.