Ademir
L. Xavier Jr.
> Doze obstáculos ao estudo científico da sobrevivência
e à compreensão da realidade do Espírito

Tanto o espírito de
um "vivo" como o de um "morto"" são,
em si, inobserváveis sensorialmente. Toda evidência de
sua existência é indireta, mediante o padrão inteligente
exibido por algum meio (comportamento corporal, símbolos diversos)...portanto,
os dois casos (o do espírito da pessoa "viva" e o
da "morta") são epistemologicamente idênticos.
(Chibeni, 2010).
O filósofo Silvio Chibeni
recentemente postou uma apresentação sobre a pesquisa
científica do espírito que se relaciona com muitos temas
que tratamos aqui. Trata-se de um conjunto de slides elucidativos
sobre a questão da pesquisa aplicada à realidade do
Espírito e sobrevivência. A partir desses slides, complementamos
com alguns comentários os 12 empecilhos à pesquisa do
Espírito e da sobrevivência que são citados por
Chibeni.
Depois de apresentar a fenomenologia associada às substâncias
"matéria" e "espírito", Chibeni
resume as visões presentes, que se dividem sucintamente entre
(Chibeni, 2010):
1. Materialismo, "só há
substâncias materiais";
2. Idealismo, "só há substâncias espirituais";
3. Dualismo, "há dois tipos de substâncias";
4. Ceticismo, "não podemos determinar isso".
Veja que, aqui, "ceticismo"
não se refere ao mesmo conceito que tratamos na série
de artigos sobre as "Crenças céticas", mas
a uma postura filosófica. O Espiritismo admite abertamente
o dualismo e, de acordo com essa visão, podemos listar um conjunto
de "obstáculos" para a pesquisa científica
do Espírito, entendendo essa pesquisa dentro do estudo científico
da sobrevivência e não esse estudo dentro do referencial
teórico e experimental das ciências naturais. Há
considerável confusão feita entre esses dois conceitos,
e o leitor dedicado deve prestar atenção em seus estudos,
para não ser confundido também.
Seguem, assim, nossos comentários:
-
Considerar a questão
metafísica ou "sobrenatural": Esse problema
surge por dificuldade em se compreender a viabilidade de estudo
científico da questão. Frequentemente, ou se considera
o assunto como além do que seria o normal ou verificável
(e, portanto, pertencente ao domínio da metafísica),
ou, diante de uma visão mística dos fatos, toda a
questão é tomada como pertencente ao 'reino do sobrenatural'.
Assim sendo, considera-se o assunto de forma alienada da realidade;
-
Considerar que o assunto
já foi analisado e a conclusão foi negativa:
esse é o erro mais comum entre os céticos. É
comum também entre os que se satisfazem com uma visão
superficial, baseada em supostas pesquisas que não atentam
para o rigor e o detalhe que o assunto exige. A respeito disso,
vale um comentário de Kardec apresentado abaixo (Nota 1);
-
Considerar que o que há
de importante sobre o espírito já é investigado
pela psicologia, etc., dentro de um referencial materialista:
isso é uma variante algo mais sofisticada do empecilho anterior.
Como uma teoria determina em último grau quais os fatos e
ocorrências devem ser considerados, então, ao se assumir
o materialismo como arcabouço teórico de investigação,
está se restringindo severamente o universo de fatos. A "prova"
obtida a favor de determinado ponto de vista simplesmente não
é válida;
-
Considerar
que esse referencial materialista foi "provado" pela ciência.
Ciência entendida como 'conhecimento' nada tem a dizer sobre
a questão da sobrevivência. Outra coisa bem diferente
é a opinião dos cientistas. Mas essa opinião
não constitui ciência, principalmente se ela versa
sobre assuntos que não estão diretamente relacionados
aos objetos de sua pesquisa científica;
-
Tentar "detectar"
o espírito por meios diretos: há uma quantidade
enorme de pessoas que acreditam que manifestações
físicas (efeitos físicos) são 'manifestações
espirituais'. Outros dizem que, se o Espírito existe, ele
necessariamente deve deixar rastros mensuráveis. Aqui, a
falha é na compreensão do objeto de estudo: a matéria
se deixa apreender por determinados tipos de sinais (cores, sons,
formas, gostos etc). O Espírito tem pensamento, vontade e
sentimentos, todos atributos inacessíveis do ponto de vista
sensorial (ver novamente a referência Chibeni, 2010). Não
é difícil perceber que a questão não
pode também ser decidida apelando-se para uma amplificação
no nível de acuidade ou 'precisão' do equipamento;
-
Tentar "mensurar"
o espírito: uma variante do erro anterior;
-
Só considerar válida
a evidência "reprodutível": aqui temos
um ponto para muitas discussões. Mas a essência é
muito simples: como os fenômenos dependem de inteligências
que são independentes, insistir na reprodutibilidade é
condenar o estudo do assunto desde o princípio. A fonte dos
fenômenos espirituais necessariamente não pode ser
controlada, pois é independente, logo não está
sujeita a reprodução;
-
Tratar o assunto de forma
puramente experimental, sem preocupação com o desenvolvimento
de uma teoria que explique os fatos. Esse é um empecilho
típico da parapsicologia. Em toda a história, jamais
se fez ciência de verdade sem teorias. Entretanto, alguns
pesquisadores das "ciências psi" pretendem resolver
a questão tão só apelando-se para o experimento.
Para esses pesquisadores, invocar "explicações"
tiraria a "neutralidade" e o "rigor" que o tema
de pesquisa exige. Entretanto, isso está errado pois 'rigor'
nada tem a ver com 'neutralidade' e o desenvolvimento científico
normal exige que se proponham experimentos baseados em hipóteses
ou teorias que não são, elas próprias, neutras;
-
Trabalhar com fragmentos
teóricos (hipóteses isoladas). Por outro lado,
quando explicações são dadas, elas são
produzidas para cada fenômeno e não conseguem dar conta
de todos os fatos. Não se procura correlacionar um fenômeno
com outro. Fatos psíquicos diferentes, que se manifestam
fenomenologicamente de forma diversa, são explicados por
hipóteses diferentes ou mesmo totalmente antagônicas
entre si;
-
Adotar enfoque dogmático
ou preconceituoso: dogmatismo e preconceito são regras
no comportamento humano e não exceções. A compreensível
"neutralidade" não deve ser anulada até
o ponto em que se adote uma visão claramente radical da questão.
Há que se reconhecer que ninguém é dono da
verdade;
-
Misturar ou conivir com
o misticismo: de novo, isso ocorre por falha na compreensão
do caráter científico do assunto a ser estudado. Para
o misticismo, não há necessidade de se envolver a
ciência, pois ele se considera uma fonte independente de conhecimento.
Trata-se de um obstáculo, pois o misticismo oblitera ou impede
essa compreensão científica;
-
Descuidar do rigor:
quando se fala na aplicação de um método (não
necessariamente extraído ou importado das ciências
ordinárias) há que se tratar do rigor sem o que é
impossível chegar a conclusões válidas.
Tais obstáculos permitem entender
porque a pesquisa da questão da sobrevivência encontra-se
grosso modo no nível presente, e, também, compreender
a necessidade de conduzir esse estudo dentro do arcabouço teórico
desenvolvido por Allan Kardec. Por quê? Talvez isso pareça
contrariar à suposta 'neutralidade' que seria necessária
para um estudo científico. Entretanto, não é
possível considerar os fatos sobre os quais discorre
o Espiritismo fora do arcabouço teórico que ele determina
para colher os seus fatos.
Assim,
ao se descuidar de utilizar o referencial teórico criado por
Kardec, estamos abrindo brechas para as evidências sejam contaminas
por concepções inadequadas ou pressupostos que não
levem em conta a teoria por ele desenvolvida. Fica assim muito
fácil rejeitar erroneamente a tese espírita, por
uma questão de colheita incorreta de fatos que passam a ser
descritos em uma ideologia diferente. Para mim, esse é um problema
central, embora pouco reconhecido, que caracterizaria um décimo
terceiro obstáculo para o estudo científico da sobrevivência
e da realidade do espírito. Falaremos mais tarde sobre isso
em um futuro post.
Essa apresentação é,
assim, um resumo didático que recomendamos fortemente, já
que demonstra uma exposição sumária e elucidativa
dessas questões.
Referências
Nota 1
“O ceticismo, no tocante à doutrina
espírita, quando não resulta de uma oposição
sistemática por interesse, origina-se quase sempre do conhecimento
incompleto dos fatos, o que não impede que alguns dêem
a questão por encerrada, como se a conhecessem a fundo.”
(A. Kardec, Artigo 17, Introdução
de 'O Livro dos Espíritos')
Fonte: https://eradoespirito.blogspot.com/2012/02/doze-obstaculos-ao-estudo-cientifico-da.html
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o blog do autor: Era do Espírito
- http://eradoespirito.blogspot.com.br
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>
Crenças Céticas XXIII - Pequeno manual de falácias
não formais com exemplos do ceticismo (2)
>
Crenças Céticas XXIV - Pequeno manual de falácias
não formais com exemplos do ceticismo (3)
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Crenças Céticas XXVI - Pequeno manual de falácias
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