"Não pense que sofro outra
espécie de angústia
senão essa que me vem de sua ternura torturada
e de nossa família amorosa e inesquecível.
Se me lembrarem tranquilo, estarei seguro de mim.
Se me recordarem conformados, a resignação estará
comigo.
Não julguem que vim para cá fora de tempo.
Hoje sei que o meu tempo terrestre era curto."
(R.T. Richetti, "Entre duas vidas", Ed. Boa Nova)
Por coincidência, na semana
da ocorrência do desastre aéreo com o time da cidade
de Chapecó, tive a oportunidade de ler um texto psicografado
por Chico Xavier em fevereiro de 1993 (1)
que descreve as circunstâncias de uma acidente aéreo
ocorrido em junho de 1992. Nessa carta, o Espírito Celso Maeda
descreve seus últimos instantes como encarnados antes do acidente
que culminou na queda - por colisão com o mar - da aeronave
Beech F 90-1 King Air, que carregava quatro ocupantes.
Os detalhes técnicos do acidente, eu consegui encontrar na
internet (2). O avião havia partido
do aeroporto de Itumbiara (GO) com destino a Blumenau (SC), mas sua
queda se deu no mar, na altura da cidade de Navegantes (SC). A causa
do acidente foi reconhecido como as péssimas condições
meteorológicas, o que está descrito em detalhes na carta
enviada:
Subimos céus acima ou tentamos
subir… Não era fácil raciocinar ante o perigo
maior que se aproximava. Tentou-se a elevação da máquina,
mas o vento prosseguia implacável qual se fosse um conjunto
de forças maléficas interessadas em derrubar-nos.
Não temos dúvidas quanto
ao desespero e apreensão que toma conta de todos os envolvidos
nesses momentos:
Estávamos à mercê
dos acontecimentos que o furacão nos impunha. O piloto e
o companheiro que o assessorava estavam pálidos, agravando-nos
as dúvidas e o desconforto de que nos sentíamos possuídos.
Debalde procurávamos alguma nesga de céu azul. Achávamos-nos
como que trancados por dentro de uma nuvem que parecia guardar o
vento furioso que não encontrava uma saída a fim de
expandir-se.
Por dentro éramos a aflição de quem não
eximiu-se da morte compulsória e por fora de nós vimos
claramente que um enorme banco de areia nos aguardava, asfixiando-nos
a todos.
E, finalmente, a descrição
do grande despertar:
A água marinha encharcada
de areia nos penetrava os pulmões e quando me vi totalmente
esmagado nada sabendo de meu irmão e dos companheiros que
nos guardavam a viagem, quando no auge do meu desespero íntimo,
vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas
e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em
Deus e me disse: “Meu filho, você está conosco.
Sou a sua avó Ai, que venho retira-lo da areia. Seu avô
Tsunezaemon retirará seu irmão. Haverá socorro
para vocês todos. O pilo e o co-piloto serão resguardados”.

Em acidentes desse tipo, quando um grupo de pessoas acaba retornando
mais cedo à vida real, é plenamente natural que os que
ficam sintam a fragilidade não só da vida humana, mas
de todas as perspectivas e planos que se faz ao se viver.
Se a vida humana (a presente) pode ser considerada frágil -
e de fato é porque existem leis materiais que determinam de
forma rigorosa seus limites - a condição de paternidade
espiritual indica outra coisa bem diferente. Nossa vida material é
frágil porque ela não é a vida verdadeira do
Espírito, que não está sujeito a esses limites
severos impostos pela condição de materialidade, mas
depende de laços facilmente rompidos com as influências
do ambiente. O instante da morte, em momento como esse se assemelha
a um novo despertar, a partir do qual novos planos e diretrizes serão
feitos pela alma imortal. Os que ficam, se não se prepararem,
guardarão por muito tempo as impressões da saudade,
mas a verdade é que eles apenas partiram alguns instantes antes
de nós.
(1) Ref. "Dádivas Espirituais". F.
C. Xavier, Espíritos diversos. Ed. IDE.
(2) http://www.desastresaereos.net/