Quarta parte da série de
posts sobre falácias, com exemplos tirados do ceticismo.
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aqui.
Será que cães andam
de bicicleta?
Um cético pode argumentar
que essas imagens são de um embuste, onde um anão
(ou uma criança) vestido de cachorro pretende convencer pessoas
de boa fé de que cães podem andar de bicicleta. Os
detalhes claramente indicam isso: o "cachorro" é
grande, o que facilitaria a farsa, o cão tem pelos longos,
o que tornaria a fantasia mais realista, o "cão"
tem dificuldades em conduzir a bicicleta - seus olhos podem estar
parcialmente encobertos dificultando o controle do veículo
etc. Além disso, cachorros nunca foram vistos andando de
bicicleta em circunstâncias insuspeitas. Para ele, a evidência
é claramente uma fraude...
Falácia do acidente (Dicto
Simpliciter) e generalização apressada (acidente
convertido).
Um tipo muito comum de erro de argumentação
ocorre quando evidências se apresentam de forma estatística,
ou seja, não acontecem sempre que determinadas circunstâncias
são observadas. Há ocorrências que se mostram
de forma espalhada, algumas vezes de forma recorrente, de outras vezes
rara, compondo uma imagem aparentemente inconclusiva para quem não
percebe, com atenção devida, nuances mínimas
que as diferenciam. De outras vezes, as características que
distinguem um caso são tão raras que eles são
facilmente desprezados.
A falácia do acidente e de generalização apressada
são dois tipos de falácia relacionadas e que surgem
de forma "inversa". No primeiro caso (acidente), ocorre
quando uma exceção é simplesmente ignorada na
formação de uma regra geral. Já apresentamos
aqui o caso da "Avestruz cética e do peru indutivista"
(2). Nessa estória, o pobre peru
acreditou que nada poderia acontecer a ele porque todas as evidências
da véspera do natal nada indicavam que ele seria morto para
a ceia. Essa estorinha se apresenta como um paradigma para o induvitismo
ingênuo que é bastante comum na argumentação
cética.
No segundo caso (acidente convertido) a generalização
é tomada como a própria exceção. A Fig.
2 é uma síntese dessa falácia. É logicamente
possível afirmar que "existem patos brancos". Mas,
um cético, a quem essa conclusão não agrade,
ao observar apenas a existência de alguns casos de cor preta,
terá prazer em generalizar: "todos os patos são
pretos".
Fig. 2 Acidente convertido: a exceção
torna-se a regra.
Na vida real, e, principalmente, com os fenômenos psíquicos
e espíritas, a situação não é tão
simples assim. Nesses casos mais complexos ocorre:
-
Existência do que
lógicos chamam de 'silogismo estatístico'. Ou seja,
não é sempre verdade que A se comporte como B-nunca-visto;
algumas vezes isso ocorre. Dai a inferência feita
é frequencial, quanto mais acontece, mais "força"
ganha o argumento;
-
Comparação
mal feita entre A e B que leva à generalização.
De fato, A não se assemelha com B em todas as aparências,
mas apenas em algumas, o que é suficiente para criar a
generalização;
-
Má vontade ou
ponto de vista abertamente contrário à aceitação
de uma evidência aparentemente extraordinária que
leva à generalização apressada por sua falsidade.
A fenomenologia psíquica sempre foi estigmatizada por céticos
que "colocam em um mesmo cesto" todos os médiuns
pelo fato de se terem reportados médiuns que fraudaram. Esse
ponto foi bastante discutido por Kardec (3):
Do fato de haver charlatães
que preconizam drogas nas praças públicas, mesmo de
haver médicos que, sem irem à praça pública,
iludem a confiança dos seus clientes, seguir-se-á
que todos os médicos são charlatães e que a
classe médica haja perdido a consideração que
merece? De haver indivíduos que vendem tintura por vinho,
segue-se que todos os negociantes de vinho são falsificadores
e que não há vinho puro? De tudo se abusa, mesmo das
coisas mais respeitáveis e bem se pode dizer que também
a fraude tem o seu gênio. Mas, a fraude sempre visa a um fim,
a um interesse material qualquer; onde nada haja a ganhar, nenhum
interesse há em enganar. Por isso foi que dissemos, falando
dos médiuns mercenários, que a melhor de todas as
garantias é o desinteresse absoluto.
Como na representação
da Fig. 2, para os céticos, "todos os médiuns são
desonestos", porque alguns (mal intencionados) foram pegos a
fraudar. Como é previsível, quanto mais rara for a ocorrência
mediúnica - como no caso dos fenômenos de efeitos físicos
- tanto maiores serão as acusações de fraude
não apenas por causa da raridade, mas pelo caráter extraordinário
e "facilmente" replicável das aparências (ver
"Teoria das evidências fotográficas e de outros
tipos", 4).
Infelizmente, com a imensa maioria das ocorrências naturais,
a natureza é muito mais extraordinária e complexa que
o raciocínio humano ordinário consegue compreender.
Referências
(1) Fallacy-a-day
Podcast. Excelente blog sobre falácias.
(2) http://eradoespirito.blogspot.com.br/2011/02/crencas-ceticas-xi-avestruz-cetica-e-o.html
(3) A. Kardec, "O Livro dos Médiuns", II Parte, "Das
manifestações espíritas", Capítulo
XXVIII - Do charlatanismo e do embuste, Fraudes espíritas.
(versão
IPEAK).
(4) http://eradoespirito.blogspot.com.br/2011/11/crencas-ceticas-xvii-teoria-das.html