"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é
acreditar no que não é verdade e a outra é
recusar-se a acreditar naquilo é."
Søren Kierkegaard
Queremos até admitir, nestes últimos, uma
opinião conscienciosa, visto que por si mesmos não
puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é
permitida a dúvida, uma hostilidade sistemática
e apaixonada é sempre inconveniente. (...). Explicai-os
como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se
não quiserdes que ponham em dúvida o vosso
julgamento.
A. Kardec, Revie Spirite, Arigo 'Sr.
Home', Fevereiro de 1858.
Dicionários definem fraude como o 'ato de enganar, esconder,
distorcer informações, não cumprir com a verdade'.
O ato em si de fraudar pode ser consciente, quando quem frauda tem
interesses no ato, ou pode ser inconsciente. Nesse último
caso, o agente da fraude não tem interesse explícito
em enganar. Seu interesse é outro e ele nem tem consciência
do engano.
As 'teorias da fraude' (ou do 'charlatanismo')
formam o grupo das explicações mais preferidas do
ceticismo dogmático quando se trata de relativizar, reduzir
ou negar fenômenos psíquicos. Através dela,
médiuns respeitados são considerados farsantes, fraudadores
conscientes ou não da fé pública, mesmo que
não se identifiquem nenhum interesse escuso tais como vantagens
pecuniárias ou outros. Mas, não somente as fontes
dos fenômenos são inescrupulosamente envolvidos, testemunhas,
mães, parentes e amigos são todos envolvidos, seja
como membros de uma quadrilha de embusteiros ou como vítimas
de um gigantesco engodo propositado.
Fraudes também podem ser divididas em 2 tipos: as fraudes
materiais e as intelectuais. As primeiras obviamente são
preferidas dos céticos. Basta uma foto, um som, uma evidência
sensorial que não esteja de acordo com as noções
do senso comum que facilmente se pode acusar o material como uma
tentativa burlesca e grave de se enganar. Quanto às fraudes
intelectuais - as que são geradas através de argumentação
ou material de natureza intelectual, essas são muito mais
difíceis de serem identificadas. Se inexistem dúvidas
quanto a existência das fraudes de primeira classe (materiais),
com as de segunda classes existe uma clara dificuldade em sua identificação,
mas é inegável que ela tem poder muito maior (e mais
duradouro) de convencimento do que as primeiras.
Nosso objetivo aqui é demonstrar que o grosso da argumentação
pseudocética pode ser descrito verdadeiramente como uma mistificação
de natureza intelectual e inconsciente. Isso porque, no
rastro das explicações forçadas dos céticos
'linha dura' está a constatação de que eles
mesmos, os que pretendem 'denunciar' a fraude ou o embuste, acabam
se tornando os verdadeiros charlatães. Obviamente aqui não
se trata de fraude vulgar: nenhum crítico, sério ou
não, se interpelado, revelará ter outros interesses
a não ser a sua 'verdade'. Mas, para todos os efeitos práticos,
acabam 'enganando, escondendo, distorcendo informações
e faltando com a verdade' Se não vejamos:
1 - Para que se
possa ajustar uma explicação aos fatos, é necessário
escrutiná-los detalhadamente e encontrar nos menores deles
razões que aumentem a importância da explicação
postulada, a da fraude. Assim, os menores erros feitos por médiuns
são magnificados de tal forma a se tornarem 'evidências'
conclusivas. Isso faz parte da tática da fraude pois é
preciso que se acumulem evidências que, na cabeça dos
pseudocéticos, formam um quadro favorável à
tese que defendem. Como não podem distorcer muitos fundamentos,
acabam se agarrando aos detalhes que são, por isso, magnificados
para que adquiram importância. Detalhes como, 'por que o médium
saiu 15 minutos mais cedo ou mais tarde', 'por que ele estava usando
essa roupa e não outra' são considerados muito relevantes.
2 - Justamente
porque os detalhes insignificantes são considerados muito
importantes, o contexto ou muitas outras circunstâncias relevantes
de fato são desprezados. Isso caracteriza o status 'intelectual'
da fraude. O foco da crítica no detalhe faz com que se relativizem
as circunstâncias, a idoneidade e outros detalhes menos aparentes.
Pouco importa se testemunhas sérias podem ser encontradas.
Se não foram enganadas fizeram parte da fraude. Como para
o pseudocético é muito mais fácil apelar para
os sentidos, condições não aparentes e circunstanciais
devem ser obrigatoriamente desprezadas.
3 - Foco em ressaltar
o caráter ordinário e facilmente forjável de
evidências materiais apresentadas. A tática é
criar hipóteses das mais variadas e mutáveis para
explicar qualquer material apresentado como evidência. Assim,
hipóteses mirabolantes, teatralizações inusitadas
ou confusões consistentes e incidentais de testemunhas são
sempre levadas em conta. Isso ocorre porque a crítica pseudocética
focaliza-se no que é considerado evidência palpável.
Todo o esforço é então gasto na sua invalidação
pois, se isso for feito em paralelo com o passo (1)
- quando detalhes menos importantes são magnificados - cria-se
uma imagem do 'caso' obviamente identificável como embuste.
4 - Existam pessoas que enganam,
que exploram a credulidade e a fé alheia. Esse fato óbvio
é a explicação principal e invariável
da crítica pseudocética que se faz apresentar sempre
como uma extrapolação justa. Juntando-se os passos
1-2-3 descritos acima, torna-se uma tarefa 'fácil' chegar
a mesma conclusão sempre.
Analisemos todas as críticas que céticos endurecidos
lançaram contra médiuns e os fenômenos espíritas
e veremos sempre o processo descrito acima. Tal processo caracteriza
charlatanismo intelectual em sua essência, pois é forjado
como argumentação tendenciosa e, muitas vezes, 'inconsciente'.
Quanto mais endurecido for o
pseudoceticismo tanto mais ele se aproxima de um fraude ou mistificação
intelectual porque as conclusões a que chega não
são verdadeiras. Assim como se pode hoje facilmente, usando
recursos tecnológicos, criar imagens fantásticas
que explorem o que pessoas acreditem, o 'charlatanismo cético'
pode modificar, retocar, forjar argumentos para se criar uma imagem
aparentemente convincente embora falsa de determinado fato, principalmente
quando esse fato ainda é considerado uma anomalia ou aberração
para o senso comum.
Pouquíssimos
céticos de carteirinha se dão conta disso, quando
então descem em um processo de alienação pessoal
flagrante. Analisemos detalhadamente cada caso particular e veremos
que o motor principal da alienação será sempre
o orgulho ferido, a necessidade de ser reconhecido e acreditado
por suas audiências, a inveja pela admiração
causada nos outros por esse ou aquele fenômeno transcendente
que eles, os céticos, não conseguem reproduzir e que,
por isso, passam a combater com todas as suas forças.

Outras identificações do charlatanismo cético:
Diferenças entre quem busca verdadeiramente a verdade
e o pseudocético.
Estas diferenças também
reforçam nossa tese do pseudoceticismo como mistificação
intelectual: