Espiritualidade e Sociedade



Ademir L. Xavier Jr.

>    Crenças Céticas VI - Noções populares de Ciência

Artigos, teses e publicações

Ademir L. Xavier Jr.
>    Crenças Céticas VI - Noções populares de Ciência

 

 

"Uma coisa que aprendi em minha vida é que toda nossa Ciência, se comparada à realidade, é primitiva e infantil.
Mas, mesmo assim, é a coisa mais preciosa que temos."

A. Einstein


 

O público em geral tem várias opiniões formadas sobre o que é Ciência. Isso é importante já que a Ciência substituiu a autoridade religiosa em nosso tempo. Nada há mais bem conceituado hoje em dia do que essa autoridade da Ciência. Entretanto, como seria possível descrever corretamente o conhecimento científico? Será que a Ciência se limita apenas ao conhecimento que está disponível na forma de livros científicos ou artigos?

Aqui descrevo o meu ponto de vista, sem entrar em detalhes complexos que o leitor pode encontrar ao buscar por suporte em algum livro de Epistemologia da Ciência. Essa área da Filosofia foi justamente criada para tratar esses problemas. No que segue não exporei nada sobre as principais teorias do conhecimento, mas discuto precariamente o que aprendi na minha vivência como cientista.

Nosso objetivo aqui é discutir posteriormente essas ideias e as novas proposições de pesquisa dos fenômenos psíquicos, bem como o caráter científico das teorias que se aventaram para os explicar.


Elementos da Ciência

Para que haja Ciência (note que escrevo essa palavra com letra maiúscula) são necessários, ao meu ver, 3 ingredientes:

Objeto de estudo:
É o objeto, coisa física ou não sobre a qual as teorias e explicações científicas irão versar. Por exemplo, há uma ciência que estuda átomos e suas relações ou interações, há outra que estuda os fenômenos climáticos etc. A Ciência, para existir, tem que ter definido um objeto de estudo. A questão do objeto de estudo é especialmente crítica, uma vez que, por não se reconhecer a existência de outros objetos além dos que já são conhecidos em uma determinada época, é impossível estabelecer a Ciência.

Linguagem:
É a maneira como a Ciência fará suas proposições sobre o objeto de estudo. No caso feliz da Física (ou mesmo da Química), essa linguagem é essencialmente matemática, ou seja, utiliza abstrações lógicas, construções abstratas e teoremas envolvendo essas construções. Há muita gente que acha de forma incorreta que, se o conhecimento científico não puder ser colocado na forma de proposições que se reduzem a números, não há Ciência. Isso é um erro grave, já que as coisas são justamente assim na Física por uma peculiaridade do objeto de difícil prever as consequências do conhecimento científico.

Método:
Aqui nos deparamos com algo mais delicado, fonte de inúmeras confusões. O método (assim como a linguagem) não pode ser definido de forma independente do objeto de estudo e da linguagem. Há pessoas (inclusive vários acadêmicos) que acham ser possível estabelecer um método geral para fazer ciência independente do objeto de estudo. Essa crença é resultado de uma visão parcial e deficiente a respeito da maneira como a Ciência operou e se desenvolveu ao longo da história. O método ou processo de se fazer Ciência é altamente dependente do objeto de estudo e da linguagem, ou seja, das teorias científicas que são levantadas preliminarmente para se estudar o objeto de estudo. Ou seja, dependendo da explicação ou hipótese levantada para explicar a origem ou fonte de um determinado fenômeno, um método de investigação diferente deverá ser implementado.


Há muitas pessoas que acham que o método científico é a fonte do conhecimento genuinamente científico - e, portanto, genuinamente verdadeiro. Acreditam que o conhecimento pode ser adquirido através de um conjunto de passos que se inicia com uma evidência, se amontoam ou adicionam outros próximos e, de evidência em evidência, se chega à verdade. O ceticismo dogmático confere grande importância às evidências justamente porque se apoia nessa noção muito popular de se fazer Ciência. Essa ideia é problemática porque, muitas vezes, considerações sobre os objetos de estudo e linguagem não são levados em consideração. Efeitos com origem em determinadas causas são confundidos com outros efeitos que tem natureza conhecida. Acredita-se que um determinado fenômeno deve ser enquadrado dentro da perspectiva de outros conhecidos, com linguagem própria.


Antigamente (antes do Sec. 20) a comunidade acadêmica
achava que meteoritos eram pedras lançadas
durante erupções de vulcões distantes.


Um exemplo típico dessa visão foram as primeiras teorias sobre quedas de pedras (meteoritos) do céu. A comunidade científica até a época de Arago (1786-1853), não acreditava que pedras poderiam cair do céu. Portanto, as que eram observadas caindo só poderiam provir de erupções vulcânicas distantes, caso os relatos fossem considerados verídicos. Achava-se que vulcões tinham força suficiente para erger monolitos inteiros a centenas de quilômetros de distância. Nenhuma evidência nessa caso foi suficiente para convencer o contrário. Por que isso ocorreu? A explicação mais plausível - frequentemente chamada pelo ceticismo dogmático de 'navalha de Occam' - não exigia que pedras viessem de fora da Terra, mas era suficiente imaginar que voariam com as explosões, pois muitas pedras foram observadas voando nas proximidades de vulcões em erupção.

Ou seja, existiam evidências fortes para a teoria amplamente aceita na época. As evidências mudaram depois que se observou que a maior parte das pedras que cairam tinham um composição característica, diferente daquelas ligadas a erupções vulcânicas. Um estudo muito mais meticuloso foi necessário para comprovar a 'evidência extraordinária' para a queda de pedras do céu. Obviamente que a mera observação dessas ocorrências - testemunhadas por qualquer indivíduo desde o início da civilização - não era considerada evidência extraordinária.

Esse exemplo tirado da História mostra que Ciência não começa com acumulo de evidências e fatos, já que as evidências e os fatos devem ser interpretados para serem aceitos. E a interpretação dos fatos não depende deles mesmos, mas do que está dentro da cabeça das pessoas. Logo a Ciência é uma construção humana, cultural e não algo independente de considerações humanas.

Ciência fértil ocorre quando há uma interação fértil entre as noções de objeto de estudo, linguagem e método. Entretanto, só isso não é suficiente. Os resultados devem estar disponíveis publicamente. Como sempre ocorre às vezes, as consequências (ou efeitos) são tomadas pelas causas, a ponto de ser bastante comum se confundir conhecimento científico com conhecimento acadêmico. Não é o conhecimento acadêmico aquele que está publicamente disponível e que foi analisado por um método próprio de análise por consultores independentes etc?

Não há espaço aqui para criar uma disputa sobre as vantagens e desvantagens do método de publicações ou 'análise por pares'. Nosso interesse é na idéia ou concepção de Ciência. Há verdadeira Ciência quando as causas dos fenômenos recebem explicação satisfatória, esteja ela ou não publicamente disponível na forma de publicações acadêmicas. Seja ela aceita ou não. No que segue iremos analisar esse ponto que gera outro tipo de confusão.

 

Fonte:
http://eradoespirito.blogspot.com.br/2010/12/crencas-ceticas-vi-nocoes-populares-de.html

 


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