Ainda perplexos com a notícia do maior acidente aéreo
ocorrido no Brasil, com 154 mortos, focamos nossa atenção
em um dos "sobreviventes", Wellington Pípolos,
consultor de empresas, que desistiu do vôo 1907, da Gol, pelo
excesso de escalas, remarcando a passagem para o dia seguinte. Em
entrevista, Wellington mencionou ser esta a segunda vez que ele desiste
de um vôo que se envolve em acidente (em 2004, ele deveria estar
num avião da Rico, que caiu em Manaus e vitimou 33 pessoas).
Situações como esta, nos fazem pensar: existe
acaso? Por que alguém que deveria estar num evento
fatídico, de repente, desiste ou é "impedido"
de estar naquele local e momento? Na crônica popular, há
casos de pessoas que foram "aconselhadas" por uma voz interior,
dizendo: - Não vá! Outras, sem qualquer razão
aparente, mudam de idéia, sem mesmo justificar para si ou para
os circunstantes. E há, ainda, aqueles que sofrem atrasos involuntários
(furou um pneu, esqueceu um documento e teve de voltar, etc.). O imaginário
e a crendice popular apontam para "mensagens de anjos",
"proteção de santos", "milagres",
ou coisas do gênero.
Para o Espiritismo, no entanto, a situação não
é acidental, nem, tampouco, obra do acaso, já que o
único "acaso" aceito pela Doutrina Espírita,
é o inteligente. Não há, na filosofia espírita,
espaço para "sorte" ou "azar", "ventura"
ou "maldição", e cada ser vive o que está
contido na Lei de Causa e Efeito, uma diretriz inteligente que, longe
de ser absoluta e pré-determinada (inafastável) para
todas as circunstâncias, nos coloca no ponto de partida e de
chegada de todas as situações que conosco ocorrem, nesta
e em outras encarnações. Mesmo considerando o chamado
"planejamento encarnatório", feito ainda no plano
espiritual e com, em regra, nossa anuência, o direito (inalienável)
ao livre-arbítrio possibilita a alteração do
plano, em virtude de nossas escolhas presentes. Pode-mos dizer, assim,
que há "tendências", "caminhos",
"diretrizes", mas, no plano concreto, somos nós quem
tomamos as decisões, sempre. Também, a presença
de mentores espirituais (anjos de guarda ou protetores) para cada
um de nós, em missão de orientação particular,
em relação a cada espírito, e o que chamamos
de "intuição", "sexto sentido",
ou, "voz interior", é, na verdade, a sugestão
(não-indução) de alguém que "nos
quer bem" e que "deseja o nosso sucesso", para que
possamos tomar as "melhores" decisões, caso a caso.
O protetor, contudo, não interfere em nossas escolhas e, quando
resolvemos fazer "o que bem entendemos", ele se afasta,
momentaneamente, retornando após, para continuar a sua tarefa.
Nosso amigo Pípolos provavelmente deve ter sido "aconselhado"
a não embarcar, inclusive com o argumento do "excesso
de escalas", evitando seu envolvimento no evento fatídico.
Não havia, em seu "plano", a "previsão"
do desencarne violento, mas, se ele tivesse decidido embarcar, seu
planejamento seria refeito, e uma possível morte iria compor
novas contingências espirituais, com seu aprendizado. Se, do
contrário, por um "milagre" (provocativamente, assim
falando), ele sobre-vivesse, estaria demonstrado, a priori, o que
diz o dito popular ("não era a sua hora"), expressão
curiosa mas significativa, porque, expressa que a vida - e os realinhamentos,
em virtude de nossas ações ou omissões, escolhas
e decisões - não obedece a nenhum acaso. Tudo se encadeia,
na trama de ações e reações de nossas
existências, colocando-nos, sempre, na posição
de "atores principais" do cenário de nossas vidas.