Os espíritas gaúchos
foram pioneiros na efetivação de um programa de estudo
sistematizado, verdadeira âncora do movimento espírita
contemporâneo, capaz de pensar o Espiritismo do presente e projetar
o do futuro, atualizando-o.

Tudo na vida tem um ponto de partida,
um início. Não raro, atitudes corajosas e destemidas,
motivadas por grande força interior – e, sabemos, nós,
espíritas, com o concurso de inteligências desencarnadas
afins – desembocam em ações e estas se perpetuam
no tempo, muitas delas com alterações progressistas
e atualizações necessárias.
Num distante
e frio sábado do inverno gaúcho, a 22 de julho de 1978,
Salomão Benchaya e Maurice Herbert Jones (na foto com Felipe
Rachewski) lançavam na federativa do Rio Grande do Sul a “Campanha
de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE”,
iniciativa que frutificou pelo Brasil, não obstante a resistência
da Federação Espírita Brasileira (FEB) para encampar
o projeto e difundi-lo, oficialmente, entre as instituições
do Conselho Federativo Nacional (CFN), senão de modo explícito,
mas pelo que se chamou de “surda resistência”, por
desinteresse.
O embrião local, em solo gaúcho,
para a idealização da campanha havia sido a trajetória
dos grupos de estudo sistematizado do Espiritismo sediados na (antiga)
Sociedade Espírita Luz e Caridade - SELC (hoje Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre - CCEPA) durante aquela década
(1970), o que representou verdadeira revolução na FORMA
de trabalhar conceitos e estruturar estudos e debates, já que
as práticas pedagógicas direcionadas a adultos nas instituições
espíritas, àquela época, se limitavam à
leitura sequencial dos capítulos das obras básicas,
seguidas de interpretação dos dirigentes e alguma discussão
entre os participantes. Registre-se, ainda, a inspiração
obtida no programa de estudos do COEM (Centro de Orientação
e Estudo da Mediunidade), uma exitosa iniciativa do Centro Espírita
Luz Eterna, de Curitiba (PR), fazendo da SELC um verdadeiro e dinâmico
laboratório onde foi gestada, parida, acalentada e vivenciada
nos passos de tenra idade, a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina
Espírita.
Vale dizer que o movimento espírita, com a proposta da federativa
gaúcha, iniciava uma nova e importante fase: a da conscientização
da necessidade do estudo. Tanto que a própria FEB que, a princípio
não tinha dado muita importância ao projeto, resolveu,
de próprio punho, conceber outra campanha, deixando de lado
os textos já testados e em uso, para valer-se de roteiros e
programas de estudo reelaborados por uma comissão específica.
Assim, a partir de 1983, começou o ESDE da FEB, para “divulgar
nacionalmente o aprofundamento coletivo nos estudos de Espiritismo”,
embora com relativo atraso, eis que a proposta já havia sido
aprovada pelo CFN em 6 de julho de 1980.
Salomão e Jones, os pioneiros, por certo leram, releram e entenderam
com maestria a dicção do Codificador (em “Obras
Póstumas”, Projeto 1868), que recomendara:
“Um curso regular de Espiritismo
seria professado com o fim de desenvolver os princípios da
Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios.
Este curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios,
de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas
e de desenvolver grande número de médiuns”.
O modelo originário foi sendo
reestudado e, a partir de 1990, no CCEPA, os interessados passaram
a ser encaminhados aos Cursos Básicos de Espiritismo abertos
à comunidade.
De lá para cá, ao fim
desses cursos básicos, os participantes que manifestem interesse
em prosseguir seus estudos são encaminhados ao Ciclo Básico
de Estudos Espíritas (CIBEE), que tem a duração
de um ano e não realiza intercâmbio mediúnico,
iniciando, assim, o estudo sistemático do espiritismo. Na sequência,
os grupos, agora denominados Grupos de Estudo de Espiritismo (GEE)
passam a desenvolver seus próprios programas, calcados em pesquisa,
debate e produção cultural, utilizando-se os princípios
da “problematização".
As únicas reuniões públicas são palestras
mensais, na primeira 2a. feira e na terceira 4a. feira, com expositores
da casa ou convidados.
Recentemente, o CCEPA constituiu um Grupo de Estudo Analítico
de O Livro dos Espíritos (GEALE), destinado a estudiosos da
doutrina fundada por Allan Kardec que tenham interesse numa apreciação
crítica dessa obra básica da filosofia espírita
num contexto de atualização.
Não há dúvidas
de que a semente lançada encontrou solo propício e gerou
– continua gerando – bons frutos, como diz a Parábola
do Semeador, atribuída a Jesus de Nazaré. E, como sempre
vale resgatar o espírito do pensamento de Kardec, a proposta
de “atualização”, que é a da própria
PERMANÊNCIA do Espiritismo enquanto filosofia e ciência
capaz de influenciar a sociedade planetária, o CCEPA cumpre
aquilo que o Codificador, no texto acima mencionado, também
aduziu: “Considero esse curso como de natureza a exercer capital
influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.".