O trabalho (de análise, seleção,
aceitação e divulgação das mensagens,
mesmo as que sejam “referendadas” por “médiuns
famosos” ou “instituições de destaque”)
é PESSOAL e INTRANSFERÍVEL. Cada leitor – como
estudioso espírita – deve ler, analisar, refutar, comparar,
aprovar (ou desaprovar) textos ou obras, de acordo com sua bagagem
de conhecimentos, estudo e prática.
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Muitos dos estudiosos espíritas
conhecem os fundamentos, a metodologia, os critérios e a sistemática
do trabalho de Allan Kardec na seleção das mensagens
ditadas pelos Espíritos: o Controle Universal dos Ensinos dos
Espíritos (CUEE). Se QUALQUER ESPÍRITO (desencarnado)
pode se manifestar por meio de um médium, a variedade dos níveis
evolutivos do comunicante é tão vasta quanto o próprio
Universo: Espíritos esclarecidos, sábios, bons, zombeteiros
e pseudossábios.
A ida para o “lado de lá” não produz significativas
alterações no “estado íntimo”, nas
crenças, na intelectualidade nem na moralidade de quem retorna
ao Plano Espiritual, mantendo gostos, afeições, pendores
e interesses da vida (física). E, portanto, não raro,
grande parte das comunicações mediúnicas estará
“contaminada” pela visão pessoal do comunicante,
inclusive com os atavismos, gostos, preferências e “verdades”
pessoais. Daí porque Kardec não validou as comunicações
nem pela assinatura nem pelo conteúdo, numa primeira leitura,
comparando os textos e adotando para a construção das
Obras Fundamentais, elementos que eram confirmados na generalidade
das comunicações.
A MEDIUNIDADE necessita do veículo (meio) que é o MÉDIUM
e este “atrai” ou se “vincula” a muitas personalidades
invisíveis por afinidade vibratória e similaridade entre
opiniões e comportamentos. Numa sessão espírita
comparecem inúmeros espíritos, muitos deles bastante
imperfeitos, “necessitados” de consolo e orientação,
outros “obsessores”, “curiosos”, “brincalhões”,
etc. Recomendamos a leitura da ESCALA ESPÍRITA, contida nos
itens 100 e seguintes de “O livro dos Espíritos”
para relembrar as características dos Espíritos.
Como, então, distinguir uns dos outros? Como saber se “os
Espíritos são de Deus”? Como separar orientações
oportunas de mensagens inverídicas? Quem deverá fazer
a “seleção” das mensagens? Kardec estabelece
os critérios: a) Escolha de colaboradores mediúnicos
insuspeitos; b) Análise rigorosa das comunicações;
c) Controle dos Espíritos comunicantes; e, d) Consenso universal.
A partir destes critérios, caberiam as seguintes perguntas:
- No dia a dia das instituições espíritas, qual
material humano que está disponível, interessado e motivado
para as tarefas? Quem faz a triagem dos médiuns e sob quais
elementos avaliativos? Até que ponto se conhece a MORALIDADE
dos médiuns? Conseguimos penetrar em seus pensamentos e intenções?
O que é mediunidade real e o que é fantasia? E os que
simulam mediunidades, sobretudo para obter prestígio e poder?
- O que dizer da assistência espiritual? Quem são os
Espíritos que “nomeamos” como guias e mentores?
Eles são, realmente, de espiritualidade superior? Quem afere
a autoria da comunicação? Há espíritos
que se passam por outros? As mensagens contêm elementos absurdos
ou questionáveis, segundo a ética, a moral ou o bom
senso comum? São contrárias às “verdades
científicas demonstradas” e aos princípios espiritistas?
- A linguagem do Espírito guarda relação com
a forma usual de manifestação daquela personalidade
quando estava “vivo” (encarnado)? Há, durante a
comunicação, médiuns de “suporte”,
videntes ou clarividentes capazes de atestar a real presença
espiritual dos que assinam mensagens? São, tais médiuns,
experientes e com estudo e discernimento para não se deixarem
iludir pela “aparência” ou “parecença”,
já que os desencarnados podem assumir formas que desejem, segundo
os parâmetros da Filosofia Espírita?
- Há nos grupos mediúnicos “experts”, que
conhecem a fundo a Doutrina dos Espíritos, para apreciar as
comunicações? Quem as compara? Quem tem tempo e entusiasmo
para ler, reler, dissecar, estudar e comparar as mensagens?
O que tenho visto, por aí, é desanimador. O usual é
o “maravilhamento” e a “estupefação”
diante das mensagens e dos livros, como se todos eles proviessem de
fontes genuinamente confiáveis. São muitos os dirigentes
que “reclamam” de obras “não-espíritas”,
“pseudo-espíritas”, “espiritualistas”
ou “das enxertias e adulterações”.
Dadas tais premissas, perguntaríamos: - Devemos ter um manual
orientativo, a ser lido e consultado pelas instituições,
seus dirigentes e pelos leitores espíritas, a fim de melhor
selecionar textos e livros “espíritas”?
Por isso, devermos resgatar que não é necessário
qualquer “manual” produzido por instituições
ou federações acerca da Mediunidade. As orientações
para esta atividade já constam dos livros de Allan Kardec,
em especial “O livro dos Médiuns”. A partir de
tais premissas, o trabalho (de análise, seleção,
aceitação e divulgação das mensagens,
mesmo as que sejam “referendadas” por “médiuns
famosos” ou “instituições de destaque”)
é PESSOAL e INTRANSFERÍVEL. Portanto, cada leitor –
como estudioso espírita – deve ler, analisar, refutar,
comparar, aprovar (ou desaprovar) textos ou obras, de acordo com sua
bagagem de conhecimentos, estudo e prática. Nossa natureza
espiritual atesta a sobrevivência do espírito e a individualidade
da alma, o protagonista da vida individual de cada ser com sua inteligência
e a LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONVICÇÃO e EXPRESSÃO,
o elemento essencial e característico do ESPÍRITO.
A você, que lê o meu texto e que costuma acessar textos
e livros tidos como espíritas, mediúnicos ou não,
fazemos uma recomendação: - Leia, leia sempre, leia
tudo o que estiver ao seu alcance. É o que faço, é
o que tenho feito. Não é necessário nenhum manual
nem guia de seleção de obras espíritas!
Sim, portanto, à liberdade de pensar e de se expressar e à
liberdade – individual e intransferível – de tudo
ler, analisar e aceitar. Livremente! Eis, aí, a LÓGICA
GENUINAMENTE ESPÍRITA! Então, para parafrasear uma importante
mensagem contida em “O evangelho segundo o Espiritismo”,
“fora da lógica espírita não há
salvação”.