Marcelo Henrique Pereira

>    Projeto genoma: confrontando as descobertas científicas com as informações espíritas

Artigos, teses e publicações

Marcelo Henrique Pereira
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1. Noções Introdutórias


Os avanços da pesquisa científica, na área da Biogenética e da Bioética têm possibilitado o conhecimento do maravilhoso universo humano e contribuído para a compreensão da causa de inúmeras moléstias, quando não para a sua própria cura.

Descobrir e decodificar o chamado Mapa da Vida, o livro mais importante do mundo, através dos rascunhos da ciência, é a grande nova viagem do conhecimento.

Oferece, a Doutrina dos Espíritos, um conjunto de informações preciosas à compreensão do atual estágio do homem e do planeta no curso evolutivo. O Livro dos Espíritos, a propósito, reúne ponderações da Falange da Verdade e do Codificador, capazes de auxiliar nossa compreensão acerca das atividades humanas, mormente aquelas vinculadas às experiências científicas dos dias modernos.

A grande meta é o conhecimento de nós mesmos. Ler e entender as instruções contidas nas células humanas, o completo entendimento da base genética do Homo sapiens, incluindo a das doenças que o atingem.

As pesquisas iniciais na área datam de 1953, com os cientistas James Watson (EUA) e Francis Craig (Inglaterra), englobando o estudo dos elementos formadores e componentes dos organismos humanos. Craig baseou-se na célebre frase socrática, o "conhece-te a ti mesmo", para convencer seus interlocutores a investirem recursos no Projeto GENOMA Humano (PGH).

Iniciado formalmente em 1990, o projeto, de âmbito internacional, apresenta objetivos básicos: identificar todos os 30 mil genes humanos que existem no DNA das células do corpo humano; determinar as seqüências dos três bilhões de pares de bases químicas que o compõem; armazenar tais informações em um banco de dados, a fim de desenvolver ferramentas eficientes para análise do material obtido, tornando-os acessíveis para novas pesquisas biológicas; e, finalmente, discutir e normatizar questões legais advindas do processo de pesquisa.

Genoma, aliás, é a própria molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico), uma escada espiral dupla, em formato de hélice, composta por quatro bases nitrogenadas: ATCG, isto é, adenina, timina, citosina e guanina, repetidas bilhões de vezes. Sabe-se que o organismo humano possui cerca de três bilhões de pares dessas bases.

Corresponde, portanto, a um livro onde estão escritas todas as instruções que guiam a formação do indivíduo e são transmitidas aos descendentes. O genoma inclui os genes, os quais possuem todas as informações para a produção das proteínas requeridas pelos organismos, determinando sua apresentação e a forma de metabolismo dos alimentos, por exemplo.

Hoje, dez anos passados, o mundo comemora a identificação da quase totalidade dos genes do corpo humano. Um grande passo, sem dúvida, mas, apenas o primeiro passo. A fórmula dos genes, contida na molécula de DNA serve para ordenar o fabrico das proteínas - em milhares, presentes nos seres vivos, desde bactérias aos homens, - material utilizado para a execução de todas as tarefas vitais. A partir das informações geradas e detalhadas do DNA, os cientistas estarão aptos a entender a estrutura, a organização e a função do mesmo nos cromossomos, capítulos do livro da vida, em número de 46 em cada célula humana, sendo as duas metades (23) originadas pelo pai e pela mãe, a conhecida herança genética. Seqüencialmente, os genes são os capítulos e os códons, as palavras - combinações de três letras das quatro antes citadas (A, T, C, G), em números variáveis, havendo genes de poucas e de milhares de bases.

A corrida, agora, é pelo mapa das proteínas, capaz de fornecer à indústria químico-farmacêutica os meios de composição de novas drogas para reforçar a atuação positiva de algumas proteínas ou anular o efeito deletério de outras.

As recentes descobertas serviram também para a luta contra o preconceito racial, uma vez que há muito mais semelhanças do que diferenças entre os indivíduos, de vez que a mudança da cor da pele é resultante apenas da mudança de uma única letra no código genético.

Alguns benefícios deste importante trabalho para a Humanidade já podem ser antecipados. Na Medicina, por exemplo, a descoberta de como os genes influem na formação de doenças - como o câncer - levarão a uma revolução na prática médica. A prevenção ganhará destaque, uma vez que se conhecerão os processos genéticos que desencadeiam as moléstias. Também será possível a substituição de genes defeituosos, através da chamada terapia genética. Novas drogas medicinais e técnicas imunoterápicas, por sua vez, surgirão, produzidas a partir de organismos geneticamente alterados.

Finalmente, as tecnologias, os recursos biológicos gerarão um violento impacto nas indústrias relacionadas à biotecnologia (agricultura, produção de energia, controle e reciclagem de lixo, despoluição ambiental). Os benefícios, inclusive, poderão ser estendidos aos animais - sobretudo, os domésticos - tornando-os mais imunes ou resistentes a doenças. De outra parte, teremos vegetais não tão sensíveis a pragas e doenças degenerativas.

Vê-se, assim, que o poder científico alcança ares de incomensurabilidade. As pesquisas têm demonstrado que os limites para o avanço da ciência não são mais técnicos (como outrora), mas passam a ser éticos. Assim sendo, a pergunta que passa a ecoar é a seguinte: o que é ético fazer, ou seja, o que devo fazer, e não mais o que posso fazer.

Espiritualmente falando, as atividades científicas são o resultado do progresso intelectual dos homens, na conquista dos atributos espirituais, acessíveis a todos. A grande diferença é justamente a liberdade de ação - o livre-arbítrio - que permite tais avanços, numa clara posição em que o homem é o senhor do seu destino. Todavia, num universo sábia e perfeitamente organizado, as leis divinas, imutáveis, estabelecem os limites, derivando daí a acepção de que os erros, os equívocos, trarão para os seus executores o resultado proporcional, nunca como castigo, mas como efeito, como reação natural.

Neste passo, entende-se oportuno dizer que a vida humana não é patrimônio de ninguém. Não pode, em conseqüência, ser comercializada, negociada. É, iniludivelmente, patrimônio (espiritual) da Humanidade. Deste modo, qualquer experimento ou pesquisa deve constituir-se em uma aplicação técnica que tem de ser feita com controle, de cem por cento de segurança. O grande receio das pessoas, em pesquisas de opinião sobre o assunto, é a chamada manipulação genética e por isso, recentemente, 41% (quarenta e um por cento) dos americanos entrevistados se posicionaram contra a "quebra" dos genes, temendo um outro tipo de discriminação, a chamada discriminação genética, originada em função da descoberta de que alguém possua algum gene defeituoso, impedindo, por exemplo, que essa pessoa venha a reproduzir, uma espécie de seleção biológica controlada pelo homem.

Neste campo, entendemos que a evolução científica precisa ser acompanhada bem de perto, quase que concomitantemente, pela evolução jurídica, para que o respeito aos direitos e garantias, tanto individuais quanto sociais, expressas nos principais códigos e constituições dos países deste mundo, possa ser assegurado, permitindo os necessários avanço genéticos e médicos, mas com a ética (espiritual) que seja capaz de bem direcionar cada comportamento científico humano.

Neste ponto, cada um de nós, inserido em sua atividade profissional, mesmo distante dos laboratórios e institutos de pesquisa, é solidariamente responsável, evitando a omissão, na hipótese em que seja questionado por qualquer pesquisa de opinião, nas discussões no âmbito educacional e, principalmente, na escolha dos legisladores, os políticos que são eleitos pelo povo para guiarem o destino de sociedades, nações e coletividades. Aproveitando o ensejo, você poderá questionar dos seus candidatos, já no próximo pleito, o que pensam e entendem sobre o assunto, não é mesmo? Ou você acha que nós estamos muito longe de todo o processo decisório, nesta área? Verá, ao contrário, que não estamos... O problema, ou a solução, está bem próxima do cotidiano de nossas vidas, ou, no máximo, da de nossos descendentes.

Afinal, cada um de nós não veio a esta Terra a passeio...


2. Utilidade e autorização divina das pesquisas científicas


Muito se tem perguntado acerca da validade das pesquisas e dos experimentos na área da genética. Tanto em relação aos homens, quanto no que pertine aos animais inferiores e aos vegetais. Para que servem as atividades humanas, neste campo do conhecimento? São, as mesmas, úteis? Até que ponto?

Outro questionamento usual, em reuniões e encontros de estudos espíritas se vincula a uma suposta autorização divina para que o homem manipule o arcabouço genético das espécies vivas. Permite Deus que o homem adentre em tais mecanismos? Até onde pode interferir o homem na formação e/ou composição dos seres vivos?

Ensina-nos o Espiritismo que a Divindade, infinitamente perfeita em suas perfeições, criou um universo que possui um mecanismo auto-regente, firmado sobre leis imutáveis, dentre as quais a de causa e efeito, que situa o ser como ponto de partida e de chegada de todas as suas ações. Noutros termos, há a liberdade de ação - livre-arbítrio -, mormente no desenvolvimento de todas as faculdades e potencialidades humanas, aliás, o mote de progresso do ser, nas distintas e sucessivas eras do orbe em que habitamos.

Assim sendo, lícito é, ao homem, empreender esforços intelectuais e mecânicos no sentido de minorar as dificuldades existentes, sejam elas físicas - como no caso das experiências genéticas - ou espirituais e, aí, ganha espaço o desenvolvimento da Ciência Espírita (ciência do espírito).

É esta, fundamentalmente, a razão de ser e de existir das faculdades, centros de pesquisa e laboratórios, movimentando, diariamente, incontáveis recursos financeiros. A par de existirem interesses paralelos (de grupos financeiros, indústrias de medicamentos, ou, mesmo, órgãos governamentais) a preocupação com a saúde e o bem-estar da humanidade situa-se nas mentes lúcidas de inúmeros espíritos que, via de regra, escolhem tais oportunidades de estar a serviço do progresso científico e tecnológico (material) e, em conseqüência, do avanço espiritual.

Neste, como em outros ramos do conhecimento humano, há os que conseguem levar a cabo, de modo satisfatório, suas "missões", contribuindo, efetiva e abnegadamente, para as descobertas, as invenções, as soluções dos problemas existentes. Outros, no entanto, deslumbram-se com os atrativos materiais, as facilidades de benefícios financeiros, poder e honrarias mundanas, desviando-se da senda linear. Adiam, desta forma, seu próprio processo de redenção - e, nisto, o resgate de faltas pretéritas, ou, a escolha de oportunidades para desenvolvimento de certas faculdades ou potencialidades da alma - levando o ser ao fracasso e propiciando que o bastão do progresso (conhecimento) seja repassado - pelos Institutos Espirituais - a outros depositários, naquele ou em outros locais do orbe. Aliás, esta é a própria conceituação da Falange da Verdade, quando reitera que as novas idéias, as descobertas, surgem concomitantemente em várias partes do globo .

Podemos citar, exemplificativamente, os experimentos médicos e biológicos na Europa das décadas de 30 e 40, mormente no cognominado Estado Nazista, onde se buscava a superação de deficiências orgânicas e o aprimoramento da espécie humana. A proposta inicial, todavia, foi deturpada pelo próprio homem e transformada em processo de eleição/constituição de uma chamada RAÇA PURA, importando na hedionda discriminação de semelhantes e no retorno à era de escravização de homens.

Como, mesmo das circunstâncias (aparente ou verdadeiramente) negativas, podem ser extraídos ensinamentos úteis, experiências válidas e lições construtivas, algumas das evidências científicas nazistas foram reaproveitadas por pesquisadores do ocidente e do oriente, alterando-se o objetivo (aplicação, resultado), servindo de ponto de partida para amplos e variados avanços nas áreas médica e biológica, em notáveis benefícios em prol do indivíduo e da coletividade.

É por isto que se insiste tanto em ética no âmbito das atividades humanas. Definindo-se a ética, temos "a ciência normativa dos comportamentos humanos" e as normas éticas como aquelas que "não envolvem apenas um juízo de valor sobre os comportamentos humanos, mas culminam na escolha de uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade.".

Assim sendo, quando se pensa em normatização de comportamentos humanos, há que se ter em conta a eleição das espécies condutoras ou balizadoras que sugiram ao homem o que deva (ou não) ser feito, em cada caso. Ora, sustentando-se que as individualidades espirituais sejam distintas entre si, é imperioso estabelecer-se um padrão de conduta normal, usual a ser observado por todos. Este padrão, no nosso caso, particular, é a assertiva crística do "fazer aos outros o que quereríeis que vos fizessem". Ela é o fulcro de ação da ética cristã, que é a ética espírita, pois ambas se fundam nos mesmos axiomas, que poderiam bem ser apresentados e entendidos na tríade Trabalho - Solidariedade - Tolerância.

Cada vez, então, que o operador material (o cientista, o pesquisador, o legislador, o julgador) estiver diante da ação humana - no campo da genética - precisará consultar a sua consciência (que não é, como vimos, algo pessoal e único do ser, mas, o resultado da junção de suas experiências com as de seus pares, resgatando-se a noção do padrão ético de conduta), para verificar se realmente seu intento beneficia, contribui e eleva o homem. Em caso afirmativo, haurirá, com isso, a tranqüilidade de consciência e a certeza do dever cumprido, adiantando-se na caminhada de "retorno à Casa do Pai", na poesia messiânica.

E, como aqueles que se adiantaram na estrada comprometem-se, com freqüência, no auxílio dos que lhes secundam, temos, a orientar, colaborar e incentivar os cientistas do mundo físico, os cientistas do além, ou, numa melhor definição, os cientistas da alma, fazendo recordar, aos primeiros, a que se destinam os experimentos da humanidade.

Salientamos, aqui e objetivamente, as oportunas colocações de um profissional médico, sobre a matéria:
"Os recentes avanços científicos (...), a superespecialização médica e a conseqüente segmentação física são fatores que interferem diretamente na atual prática médica.

Da mesma forma, os novos conceitos de vida e morte, a interpretação filosófica dos valores na caminhada humana, os novos condicionamentos sociais com evidente reflexo no comportamento do ser humano e a crescente autonomia e cidadania têm levado a Medicina ao seu maior dilema: a ética da conduta humana, ao se defrontar com as questões referentes ao próprio ser humano. (...)

A Medicina está em crise. E esta é muito mais aguda em sua credibilidade que a teoria paradoxal: nunca se viu um desenvolvimento científico-tecnológico tão acentuado nem se teve tantos questionamentos quanto à sua prática humanística.

A única solução plausível é o exercício ético da Medicina, calcado nos princípios enfatizados pela Bioética: Justiça, Solidariedade, Beneficência e Não-Maleficência e a Autonomia do paciente."

Voltando, pois, às premissas levantadas no início deste artigo, podemos inferir:

1) A atividade criadora do homem, quando eticamente dirigida e voltada ao objetivo espiritual de cada ser - a evolução - conduz naturalmente ao aperfeiçoamento do homem, seus institutos, suas coletividades, gera benefícios particulares e sociais, atinge a finalidade existencial do espírito encarnado e do orbe onde ele coabita, sendo, pois, VÁLIDA, na medida em que representa o esforço consciente no sentido da superação das deficiências, obstáculos e limites que a Natureza lhe impõe e que constituem, por assim dizer, o alvo de suas atividades.

2) A AUTORIZAÇÃO para as ações humanas repousa em sua própria consciência, consultada sempre que possível, no intuito de se verificar, a cada passo, se não estou prejudicando quem quer que seja com minha(s) atitude(s), se não há criaturas que derramem uma lágrima por minha causa.

Desaparece, por conseguinte, o dogma de que "tudo acontece segundo os desígnios divinos", ou, "nada escapa ao controle divino, que a tudo provê", interpretados erroneamente em caráter restrito, no sentido que se costuma definir como determinismo (divino). Não é, o homem, um títere, uma marionete de Deus. Age, livremente, submetendo-se - isso sim - às repercussões da relação entre cada proceder seu e o conjunto de leis (divinas e imutáveis) que regem o Universo.

Finalizando esta exposição, é imperioso assinalar que todos nós - encarnados - devemos acompanhar a divulgação das pesquisas e experiências científicas do Projeto Genoma, em aspectos de instrução espiritual, estando a par de tudo o que acontece nesta área do conhecimento humano, fazendo a ponte destes com o arcabouço de noções espirituais contido na Codificação, para perceber até que ponto a ciência humana, na prática, alcança (e quem sabe, supera) a ciência espírita. Em se alcançando este (hipotético) ponto, teríamos a necessidade de revisão dos conceitos espirituais trazidos à época de Kardec, no que chamaríamos de "uma nova revelação". A outra atribuição que nos cabe - paralelamente - é a elevação do padrão vibratório (expresso em pensamentos, palavras e atos), capaz de acelerar nossa caminhada individual e a do próprio orbe, resultando em maiores benefícios que malefícios e reduzindo as problemáticas (físicas ou morais) a serem equacionadas.

E, reconhecendo a eficácia da prece como recurso terapêutico e motivador das condutas humanas, nos momentos de introspecção e comunhão com as Entidades Superiores, possamos rogar delas a colaboração no deslinde das questões afetas à saúde e ao bem-estar das criaturas, no prudente auxílio àqueles que receberam (objetivamente) a incumbência de desenvolverem a ciência material, aproximando-a quanto possível da ciência espiritual. Que os Bons Amigos estejam sempre em contato com eles: é o nosso desejo, a nossa invocação!


3. Os principais conceitos da filosofia espírita

"Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Prova a experiência que, quando um princípio novo tem de ser enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto ao fundo. Se, portanto, aprouver a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado unicamente nas suas idéias e com exclusão da verdade, pode ter-se a certeza de que tal sistema conservar-se-á circunscrito e cairá, diante das instruções dadas de todas as partes, conforme os múltiplos exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade que pôs por terra todos os sistemas parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e o invisível." Allan Kardec .

As experiências científicas deste milênio têm levado a Humanidade a um estado de melhoria das condições de vida, principalmente na área da saúde. Mas, mesmo assim, há pessoas reticentes que advertem que existem certos segredos na Natureza, os quais o homem não poderá (ou conseguirá) desvendar. Isto, em parte, corresponde à verdade, uma vez que Deus estabelece, pelo conjunto das leis que regem o Universo, limites que não podem ser ultrapassados, hoje, mas que, mais à frente, em planos mais adiantados, será perfeitamente cognoscível e acessível a todos.

O adiantamento de alguns espíritos encarnados, vinculados a determinados ramos do conhecimento humano, que coordenam e realizam pesquisas e experimentações, tendo aceitado voluntariamente tal missão, traz ao mundo físico as informações espirituais de que o orbe necessita. Neste âmbito, não se pode olvidar o progresso individual de cada espírito, com fulcro em existências anteriores onde, neste e em outros mundos, o ser desenvolveu atributos intelecto-morais, dedicando-se às ciências, às letras, às culturas ou às artes, e, em nova encarnação, resgata teorias e práticas, complementando-as e aperfeiçoando-as.

Assim, a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais às produções da terra, as moléstias capitais, entre outros, são enfrentados corajosamente por abnegados estudiosos de diversas áreas, preservando, protegendo, prevenindo, medicando, assistindo, enfim, remediando os flagelos que afligem o homem, ao invés de conjurá-los.

Todavia, um problema a ser enfrentado nos dias atuais é a acentuada tendência ao materialismo, presente em inúmeros cientistas e pesquisadores, muitos dos quais acreditam ser superiores ao que de fato são, pelas coisas que conhecem ou pelas teorias que constroem. Obra do orgulho humano, que julga saber tudo, não admitindo que exista algo acima de seu entendimento.

É o orgulho, aliás, associado ao egoísmo, o perigoso verme roedor, a chaga social que se alastra por todo o mundo...

Todavia, não se verifica isto com todos. Alguns, escudados na acurada compreensão dos fatos e escolados em erros e quedas pretéritos, buscam adiantarem-se em ciência e em moral.

Empreendem, assim, louváveis esforços para que a Humanidade progrida e recebem, ainda, auxílio de entidades desencarnadas que têm como missão fomentar idéias e contribuir para que o homem encarnado efetue descobertas e invenções necessárias, razão porque se interessam pelo progresso das artes e das ciências de nosso orbe. No entanto, os espíritos luzeiros, quase sempre, trabalham em silêncio, não melindrando a nós, homens, que, do contrário, acreditaríamos estar sempre protegidos, não deixando de andar por nossos próprios passos, ou, até, de confiar que os desencarnados poderiam fazer por nós aquilo que nos é de obrigação e fonte de adiantamento. Por conseqüência, eles investem ao mesmo tempo em diversos expoentes da cultura, das artes ou das ciências, fazendo com que, deste modo, uma idéia, uma descoberta, um invento, surja simultaneamente em diversos pontos do orbe. Sem suspeitarmos, eles se utilizam do ar como meio de propagação da mensagem.

"A luz surge por toda a parte - assevera o Codificador - É todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas. (...) Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes idéias? (...) O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os conhecimentos humanos."

Não é somente em relação ao homem que a Ciência progride. Também junto aos reinos vegetal e animal, as experimentações levam ao aperfeiçoamento das espécies e, paralelamente, à melhoria da qualidade dos produtos secundários e terciários que se lhes derivam, ou, da própria expectativa de vida dos bichos que vivem em ambiente doméstico, tornando-se mais resistentes a pragas e moléstias, instrumento para chegarem à perfeição física.

Conforme vai a população terrena aumentando em número, multiplicam-se-lhe as necessidades e, como acentuou Kardec, a "(...) Natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelas conseqüências da ambição e do amor-próprio". Cabe, ao homem de bem, envidar esforços para multiplicar as fontes de trabalho e os meios de viver.

Nossa civilização, por isso, ainda é incompleta, uma vez que embora se tenham feito grandes descobertas e maravilhosas invenções, as mesmas não estão ao alcance de todos, e, nem mesmo, vivem os homens como irmãos, praticando a caridade cristã. Esclarecidos são os terrenos, mas não totalmente civilizados, havendo alcançado apenas a primeira das fases deste processo. Neste caminho, o homem vai se livrando dos males que a civilização mesma gerou, os quais desaparecerão todos, quando se efetivar o progresso moral. A tarefa que nos cabe, desta feita, é a verdadeira socialização das conquistas científico-culturais, pondo-as ao alcance de todos, sobretudo os mais necessitados.


4. Considerações Finais.

As recentes descobertas científicas, na área da Biogenética e da Bioética resultam em benefícios para a Humanidade e são o resultado direto do progresso intelectual dos homens, na conquista dos atributos espirituais.

Dentre eles está o Projeto Genoma Humano, nome do conjunto de ações e medidas de natureza médico-científica destinado a identificar a totalidade de genes que compõem cada célula da estrutura corporal humana. Do conhecimento advindo das pesquisas resultará uma maior efetividade no combate aos males físicos que afligem o homem moderno, seja no desenvolvimento de remédios e terapias, seja no fortalecimento das próprias células para resistir às doenças.

Como praticamente já não existem limites para o avanço científico, o grande questionamento passa a adentrar o campo da ética: não mais o que pode, mas o que deve ser feito. Isto é, qualquer experimento ou pesquisa deve ser uma aplicação técnica com cem por cento de controle e segurança e orientada sempre para o bem coletivo.

Nisto projeta-se como imprescindível que a evolução jurídica acompanhe passo a passo o progresso científico, tanto em nível do respeito e salvaguarda dos direitos e garantias individuais e sociais, como, em espectro mais amplo, do manejo e do concurso da ética espiritual direcionando a atividade humana voltada à conservação da saúde e do bem-estar da coletividade encarnada neste orbe.

Uma nova consciência – não mais individual, mas coletiva – há de se instaurar no seio das comunidades, embasada no comportamento ético em qualquer área do conhecimento e comportamento humanos, e edificada sobre os princípios de Justiça, Solidariedade e Beneficência.

Deste modo, somente quando as descobertas e os resultados estiverem ao alcance de todos, sobretudo os mais necessitados, atingir-se-á o corolário ético, socializando-se as conquistas científico-culturais, na vivência plena do Amor incondicional, a caridade cristã, onde os homens são, verdadeiramente, irmãos.

Trabalhar, cada qual, no sentido desse desiderato: eis a tarefa que nos cabe no presente.


5. Referências Bibliográficas

CARLIN, Volnei Ivo. Ética & bioética. Florianópolis: Terceiro Milênio, 1998, p. 155-160.

CLICKZERO/WEBSTUDIO. Banco de dados. Disponível em: <www.geocities.com/clickzero/genome.htm>. Acesso em 20 jul. 2000.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. José Herculano Pires. Capivari: EME, 1996, 400 p.

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 233. ed. Araras: IDE, 1999, 384 p.

KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Victor Tollendal Pacheco. São Paulo: LAKE, 1986, 400 p.

MIRANDA, Hermínio Correia de. Uma ética para a genética. Revista Espírita Harmonia. Edição n. 41. São José: s. ed., 1998, p. 10-12.

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 21. ed. S. Paulo: Saraiva, 1994, p. 29-33.



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