1. Noções Introdutórias
Os avanços da pesquisa científica, na área da
Biogenética e da Bioética
têm possibilitado o conhecimento do maravilhoso universo humano
e contribuído para a compreensão da causa de inúmeras
moléstias, quando não para a sua própria cura.
Descobrir e decodificar o chamado Mapa da Vida, o livro mais importante
do mundo, através dos rascunhos da ciência, é
a grande nova viagem do conhecimento.
Oferece, a Doutrina dos Espíritos, um conjunto de informações
preciosas à compreensão do atual estágio do homem
e do planeta no curso evolutivo. O Livro dos Espíritos, a propósito,
reúne ponderações da Falange da Verdade e do
Codificador, capazes de auxiliar nossa compreensão acerca das
atividades humanas, mormente aquelas vinculadas às experiências
científicas dos dias modernos.
A grande meta é o conhecimento
de nós mesmos. Ler e entender as instruções
contidas nas células humanas, o completo entendimento da base
genética do Homo sapiens, incluindo a das doenças que
o atingem.
As pesquisas iniciais na área
datam de 1953, com os cientistas James Watson (EUA) e Francis Craig
(Inglaterra), englobando o estudo dos elementos formadores e componentes
dos organismos humanos. Craig baseou-se na célebre frase socrática,
o "conhece-te a ti mesmo", para convencer seus interlocutores
a investirem recursos no Projeto GENOMA Humano (PGH).
Iniciado formalmente em 1990, o projeto, de âmbito internacional,
apresenta objetivos básicos: identificar todos os 30 mil genes
humanos que existem no DNA das células do corpo humano; determinar
as seqüências dos três bilhões de pares de
bases químicas que o compõem; armazenar tais informações
em um banco de dados, a fim de desenvolver ferramentas eficientes
para análise do material obtido, tornando-os acessíveis
para novas pesquisas biológicas; e, finalmente, discutir e
normatizar questões legais advindas do processo de pesquisa.
Genoma, aliás, é a própria molécula de
DNA (ácido desoxirribonucleico), uma escada espiral dupla,
em formato de hélice, composta por quatro bases nitrogenadas:
ATCG, isto é, adenina, timina, citosina e guanina, repetidas
bilhões de vezes. Sabe-se que o organismo humano possui cerca
de três bilhões de pares dessas bases.
Corresponde, portanto, a um livro
onde estão escritas todas as instruções que guiam
a formação do indivíduo e são transmitidas
aos descendentes. O genoma inclui os genes, os quais possuem todas
as informações para a produção das proteínas
requeridas pelos organismos, determinando sua apresentação
e a forma de metabolismo dos alimentos, por exemplo.
Hoje, dez anos passados, o
mundo comemora a identificação da quase totalidade dos
genes do corpo humano. Um grande passo, sem dúvida,
mas, apenas o primeiro passo. A fórmula dos genes, contida
na molécula de DNA serve para ordenar o fabrico das proteínas
- em milhares, presentes nos seres vivos, desde bactérias aos
homens, - material utilizado para a execução de todas
as tarefas vitais. A partir das informações geradas
e detalhadas do DNA, os cientistas estarão aptos a entender
a estrutura, a organização e a função
do mesmo nos cromossomos, capítulos do livro da vida, em número
de 46 em cada célula humana, sendo as duas metades (23) originadas
pelo pai e pela mãe, a conhecida herança genética.
Seqüencialmente, os genes são os capítulos e os
códons, as palavras - combinações de três
letras das quatro antes citadas (A, T, C, G), em números variáveis,
havendo genes de poucas e de milhares de bases.
A corrida, agora, é pelo mapa das proteínas, capaz de
fornecer à indústria químico-farmacêutica
os meios de composição de novas drogas para reforçar
a atuação positiva de algumas proteínas ou anular
o efeito deletério de outras.
As recentes descobertas serviram também para a luta contra
o preconceito racial, uma vez que há muito mais semelhanças
do que diferenças entre os indivíduos, de vez que a
mudança da cor da pele é resultante apenas da mudança
de uma única letra no código genético.
Alguns benefícios deste importante trabalho para a Humanidade
já podem ser antecipados. Na Medicina, por exemplo, a descoberta
de como os genes influem na formação de doenças
- como o câncer - levarão a uma revolução
na prática médica. A prevenção ganhará
destaque, uma vez que se conhecerão os processos genéticos
que desencadeiam as moléstias. Também será possível
a substituição de genes defeituosos, através
da chamada terapia genética. Novas drogas medicinais e técnicas
imunoterápicas, por sua vez, surgirão, produzidas a
partir de organismos geneticamente alterados.
Finalmente, as tecnologias, os recursos biológicos gerarão
um violento impacto nas indústrias relacionadas à biotecnologia
(agricultura, produção de energia, controle e reciclagem
de lixo, despoluição ambiental). Os benefícios,
inclusive, poderão ser estendidos aos animais - sobretudo,
os domésticos - tornando-os mais imunes ou resistentes a doenças.
De outra parte, teremos vegetais não tão sensíveis
a pragas e doenças degenerativas.
Vê-se, assim, que o poder científico
alcança ares de incomensurabilidade. As pesquisas têm
demonstrado que os limites para o avanço da ciência não
são mais técnicos (como outrora), mas passam a ser éticos.
Assim sendo, a pergunta que passa a ecoar é a seguinte: o que
é ético fazer, ou seja, o que devo fazer, e não
mais o que posso fazer.
Espiritualmente falando, as atividades científicas
são o resultado do progresso intelectual dos homens, na conquista
dos atributos espirituais, acessíveis a todos. A grande
diferença é justamente a liberdade de ação
- o livre-arbítrio - que permite tais avanços, numa
clara posição em que o homem é o senhor do seu
destino. Todavia, num universo sábia e perfeitamente organizado,
as leis divinas, imutáveis, estabelecem os limites, derivando
daí a acepção de que os erros, os equívocos,
trarão para os seus executores o resultado proporcional, nunca
como castigo, mas como efeito, como reação natural.
Neste passo, entende-se oportuno dizer que a vida humana não
é patrimônio de ninguém. Não pode, em conseqüência,
ser comercializada, negociada. É, iniludivelmente,
patrimônio (espiritual) da Humanidade. Deste modo, qualquer
experimento ou pesquisa deve constituir-se em uma aplicação
técnica que tem de ser feita com controle, de cem por cento
de segurança. O grande receio das pessoas, em pesquisas de
opinião sobre o assunto, é a chamada manipulação
genética e por isso, recentemente, 41% (quarenta e um por cento)
dos americanos entrevistados se posicionaram contra a "quebra"
dos genes, temendo um outro tipo de discriminação, a
chamada discriminação genética, originada em
função da descoberta de que alguém possua algum
gene defeituoso, impedindo, por exemplo, que essa pessoa venha a reproduzir,
uma espécie de seleção biológica controlada
pelo homem.
Neste campo, entendemos que
a evolução científica precisa ser acompanhada
bem de perto, quase que concomitantemente, pela evolução
jurídica, para que o respeito aos direitos e garantias,
tanto individuais quanto sociais, expressas nos principais códigos
e constituições dos países deste mundo, possa
ser assegurado, permitindo os necessários avanço genéticos
e médicos, mas com a ética (espiritual) que seja capaz
de bem direcionar cada comportamento científico humano.
Neste ponto, cada um de nós, inserido em sua atividade profissional,
mesmo distante dos laboratórios e institutos de pesquisa, é
solidariamente responsável, evitando a omissão, na hipótese
em que seja questionado por qualquer pesquisa de opinião, nas
discussões no âmbito educacional e, principalmente, na
escolha dos legisladores, os políticos que são eleitos
pelo povo para guiarem o destino de sociedades, nações
e coletividades. Aproveitando o ensejo, você poderá questionar
dos seus candidatos, já no próximo pleito, o que pensam
e entendem sobre o assunto, não é mesmo? Ou você
acha que nós estamos muito longe de todo o processo decisório,
nesta área? Verá, ao contrário, que não
estamos... O problema, ou a solução, está bem
próxima do cotidiano de nossas vidas, ou, no máximo,
da de nossos descendentes.
Afinal, cada um de nós
não veio a esta Terra a passeio...
2. Utilidade e autorização divina das pesquisas científicas
Muito se tem perguntado acerca da validade das pesquisas e dos experimentos
na área da genética. Tanto em relação
aos homens, quanto no que pertine aos animais inferiores e aos vegetais.
Para que servem as atividades humanas, neste campo do conhecimento?
São, as mesmas, úteis? Até que ponto?
Outro questionamento usual, em reuniões e encontros de estudos
espíritas se vincula a uma suposta autorização
divina para que o homem manipule o arcabouço genético
das espécies vivas. Permite Deus que o homem adentre em tais
mecanismos? Até onde pode interferir o homem na formação
e/ou composição dos seres vivos?
Ensina-nos o Espiritismo que a Divindade, infinitamente perfeita em
suas perfeições, criou um universo que possui um mecanismo
auto-regente, firmado sobre leis imutáveis, dentre as quais
a de causa e efeito, que situa o ser como ponto de partida e de chegada
de todas as suas ações. Noutros termos, há a
liberdade de ação - livre-arbítrio -, mormente
no desenvolvimento de todas as faculdades e potencialidades humanas,
aliás, o mote de progresso do ser, nas distintas e sucessivas
eras do orbe em que habitamos.
Assim sendo, lícito é, ao homem, empreender esforços
intelectuais e mecânicos no sentido de minorar as dificuldades
existentes, sejam elas físicas - como no caso das experiências
genéticas - ou espirituais e, aí, ganha espaço
o desenvolvimento da Ciência Espírita (ciência
do espírito).
É esta, fundamentalmente, a razão de ser e de existir
das faculdades, centros de pesquisa e laboratórios, movimentando,
diariamente, incontáveis recursos financeiros. A par de existirem
interesses paralelos (de grupos financeiros, indústrias de
medicamentos, ou, mesmo, órgãos governamentais) a preocupação
com a saúde e o bem-estar da humanidade situa-se nas mentes
lúcidas de inúmeros espíritos que, via de regra,
escolhem tais oportunidades de estar a serviço do progresso
científico e tecnológico (material) e, em conseqüência,
do avanço espiritual.
Neste, como em outros ramos do conhecimento humano, há os que
conseguem levar a cabo, de modo satisfatório, suas "missões",
contribuindo, efetiva e abnegadamente, para as descobertas, as invenções,
as soluções dos problemas existentes. Outros, no entanto,
deslumbram-se com os atrativos materiais, as facilidades de benefícios
financeiros, poder e honrarias mundanas, desviando-se da senda linear.
Adiam, desta forma, seu próprio processo de redenção
- e, nisto, o resgate de faltas pretéritas, ou, a escolha de
oportunidades para desenvolvimento de certas faculdades ou potencialidades
da alma - levando o ser ao fracasso e propiciando que o bastão
do progresso (conhecimento) seja repassado - pelos Institutos Espirituais
- a outros depositários, naquele ou em outros locais do orbe.
Aliás, esta é a própria conceituação
da Falange da Verdade, quando reitera que as novas idéias,
as descobertas, surgem concomitantemente em várias partes do
globo .
Podemos citar, exemplificativamente, os experimentos médicos
e biológicos na Europa das décadas de 30 e 40, mormente
no cognominado Estado Nazista, onde se buscava a superação
de deficiências orgânicas e o aprimoramento da espécie
humana. A proposta inicial, todavia, foi deturpada pelo próprio
homem e transformada em processo de eleição/constituição
de uma chamada RAÇA PURA, importando na hedionda discriminação
de semelhantes e no retorno à era de escravização
de homens.
Como, mesmo das circunstâncias (aparente ou verdadeiramente)
negativas, podem ser extraídos ensinamentos úteis, experiências
válidas e lições construtivas, algumas das evidências
científicas nazistas foram reaproveitadas por pesquisadores
do ocidente e do oriente, alterando-se o objetivo (aplicação,
resultado), servindo de ponto de partida para amplos e variados avanços
nas áreas médica e biológica, em notáveis
benefícios em prol do indivíduo e da coletividade.
É por isto que se insiste tanto em ética no âmbito
das atividades humanas. Definindo-se a ética, temos "a
ciência normativa dos comportamentos humanos" e as normas
éticas como aquelas que "não envolvem apenas um
juízo de valor sobre os comportamentos humanos, mas culminam
na escolha de uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade.".
Assim sendo, quando se pensa em normatização de comportamentos
humanos, há que se ter em conta a eleição das
espécies condutoras ou balizadoras que sugiram ao homem o que
deva (ou não) ser feito, em cada caso. Ora, sustentando-se
que as individualidades espirituais sejam distintas entre si, é
imperioso estabelecer-se um padrão de conduta normal, usual
a ser observado por todos. Este padrão, no nosso caso, particular,
é a assertiva crística do "fazer aos outros o que
quereríeis que vos fizessem". Ela é o fulcro de
ação da ética cristã, que é a ética
espírita, pois ambas se fundam nos mesmos axiomas, que poderiam
bem ser apresentados e entendidos na tríade Trabalho - Solidariedade
- Tolerância.
Cada vez, então, que o operador material (o cientista, o pesquisador,
o legislador, o julgador) estiver diante da ação humana
- no campo da genética - precisará consultar a sua consciência
(que não é, como vimos, algo pessoal e único
do ser, mas, o resultado da junção de suas experiências
com as de seus pares, resgatando-se a noção do padrão
ético de conduta), para verificar se realmente seu intento
beneficia, contribui e eleva o homem. Em caso afirmativo, haurirá,
com isso, a tranqüilidade de consciência e a certeza do
dever cumprido, adiantando-se na caminhada de "retorno à
Casa do Pai", na poesia messiânica.
E, como aqueles que se adiantaram na estrada comprometem-se, com freqüência,
no auxílio dos que lhes secundam, temos, a orientar, colaborar
e incentivar os cientistas do mundo físico, os cientistas do
além, ou, numa melhor definição, os cientistas
da alma, fazendo recordar, aos primeiros, a que se destinam os experimentos
da humanidade.
Salientamos, aqui e objetivamente, as oportunas colocações
de um profissional médico, sobre a matéria:
"Os recentes avanços científicos (...), a superespecialização
médica e a conseqüente segmentação física
são fatores que interferem diretamente na atual prática
médica.
Da mesma forma, os novos conceitos de vida e morte, a interpretação
filosófica dos valores na caminhada humana, os novos condicionamentos
sociais com evidente reflexo no comportamento do ser humano e a crescente
autonomia e cidadania têm levado a Medicina ao seu maior dilema:
a ética da conduta humana, ao se defrontar com as questões
referentes ao próprio ser humano. (...)
A Medicina está em crise. E esta é muito mais aguda
em sua credibilidade que a teoria paradoxal: nunca se viu um desenvolvimento
científico-tecnológico tão acentuado nem se teve
tantos questionamentos quanto à sua prática humanística.
A única solução plausível é o exercício
ético da Medicina, calcado nos princípios enfatizados
pela Bioética: Justiça, Solidariedade, Beneficência
e Não-Maleficência e a Autonomia do paciente."
Voltando, pois, às premissas levantadas no início deste
artigo, podemos inferir:
1) A atividade criadora do homem,
quando eticamente dirigida e voltada ao objetivo espiritual de cada
ser - a evolução - conduz naturalmente ao aperfeiçoamento
do homem, seus institutos, suas coletividades, gera benefícios
particulares e sociais, atinge a finalidade existencial do espírito
encarnado e do orbe onde ele coabita, sendo, pois, VÁLIDA,
na medida em que representa o esforço consciente no sentido
da superação das deficiências, obstáculos
e limites que a Natureza lhe impõe e que constituem, por assim
dizer, o alvo de suas atividades.
2) A AUTORIZAÇÃO para
as ações humanas repousa em sua própria consciência,
consultada sempre que possível, no intuito de se verificar,
a cada passo, se não estou prejudicando quem quer que seja
com minha(s) atitude(s), se não há criaturas que derramem
uma lágrima por minha causa.
Desaparece, por conseguinte, o dogma
de que "tudo acontece segundo os desígnios divinos",
ou, "nada escapa ao controle divino, que a tudo provê",
interpretados erroneamente em caráter restrito, no sentido
que se costuma definir como determinismo (divino). Não é,
o homem, um títere, uma marionete de Deus. Age, livremente,
submetendo-se - isso sim - às repercussões da relação
entre cada proceder seu e o conjunto de leis (divinas e imutáveis)
que regem o Universo.
Finalizando esta exposição, é imperioso assinalar
que todos nós - encarnados - devemos acompanhar a divulgação
das pesquisas e experiências científicas do Projeto Genoma,
em aspectos de instrução espiritual, estando a par de
tudo o que acontece nesta área do conhecimento humano, fazendo
a ponte destes com o arcabouço de noções espirituais
contido na Codificação, para perceber até que
ponto a ciência humana, na prática, alcança (e
quem sabe, supera) a ciência espírita. Em se alcançando
este (hipotético) ponto, teríamos a necessidade de revisão
dos conceitos espirituais trazidos à época de Kardec,
no que chamaríamos de "uma nova revelação".
A outra atribuição que nos cabe - paralelamente - é
a elevação do padrão vibratório (expresso
em pensamentos, palavras e atos), capaz de acelerar nossa caminhada
individual e a do próprio orbe, resultando em maiores benefícios
que malefícios e reduzindo as problemáticas (físicas
ou morais) a serem equacionadas.
E, reconhecendo a eficácia
da prece como recurso terapêutico e motivador das condutas humanas,
nos momentos de introspecção e comunhão com as
Entidades Superiores, possamos rogar delas a colaboração
no deslinde das questões afetas à saúde e ao
bem-estar das criaturas, no prudente auxílio àqueles
que receberam (objetivamente) a incumbência de desenvolverem
a ciência material, aproximando-a quanto possível da
ciência espiritual. Que os Bons Amigos estejam sempre em contato
com eles: é o nosso desejo, a nossa invocação!
3. Os principais conceitos da filosofia espírita
"Uma só garantia séria existe para o ensino dos
Espíritos: a concordância que haja entre as revelações
que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número
de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.
(...) Prova a experiência que, quando um princípio novo
tem de ser enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos
pontos ao mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto
à forma, quanto ao fundo. Se, portanto, aprouver a um Espírito
formular um sistema excêntrico, baseado unicamente nas suas
idéias e com exclusão da verdade, pode ter-se a certeza
de que tal sistema conservar-se-á circunscrito e cairá,
diante das instruções dadas de todas as partes, conforme
os múltiplos exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade
que pôs por terra todos os sistemas parciais que surgiram na
origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira
os fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as
relações entre o mundo visível e o invisível."
Allan Kardec .
As experiências científicas deste milênio têm
levado a Humanidade a um estado de melhoria das condições
de vida, principalmente na área da saúde. Mas, mesmo
assim, há pessoas reticentes que advertem que existem certos
segredos na Natureza, os quais o homem não poderá (ou
conseguirá) desvendar. Isto, em parte, corresponde à
verdade, uma vez que Deus estabelece, pelo conjunto das leis que regem
o Universo, limites que não podem ser ultrapassados, hoje,
mas que, mais à frente, em planos mais adiantados, será
perfeitamente cognoscível e acessível a todos.
O adiantamento de alguns espíritos encarnados, vinculados a
determinados ramos do conhecimento humano, que coordenam e realizam
pesquisas e experimentações, tendo aceitado voluntariamente
tal missão, traz ao mundo físico as informações
espirituais de que o orbe necessita. Neste âmbito, não
se pode olvidar o progresso individual de cada espírito, com
fulcro em existências anteriores onde, neste e em outros mundos,
o ser desenvolveu atributos intelecto-morais, dedicando-se às
ciências, às letras, às culturas ou às
artes, e, em nova encarnação, resgata teorias e práticas,
complementando-as e aperfeiçoando-as.
Assim, a peste, a fome, as inundações, as intempéries
fatais às produções da terra, as moléstias
capitais, entre outros, são enfrentados corajosamente por abnegados
estudiosos de diversas áreas, preservando, protegendo, prevenindo,
medicando, assistindo, enfim, remediando os flagelos que afligem o
homem, ao invés de conjurá-los.
Todavia, um problema a ser enfrentado
nos dias atuais é a acentuada tendência ao materialismo,
presente em inúmeros cientistas e pesquisadores, muitos dos
quais acreditam ser superiores ao que de fato são, pelas coisas
que conhecem ou pelas teorias que constroem. Obra do orgulho humano,
que julga saber tudo, não admitindo que exista algo acima de
seu entendimento.
É o orgulho, aliás, associado ao egoísmo, o perigoso
verme roedor, a chaga social que se alastra por todo o mundo...
Todavia, não se verifica isto com todos. Alguns, escudados
na acurada compreensão dos fatos e escolados em erros e quedas
pretéritos, buscam adiantarem-se em ciência e em moral.
Empreendem, assim, louváveis esforços para que a Humanidade
progrida e recebem, ainda, auxílio de entidades desencarnadas
que têm como missão fomentar idéias e contribuir
para que o homem encarnado efetue descobertas e invenções
necessárias, razão porque se interessam pelo progresso
das artes e das ciências de nosso orbe. No entanto, os espíritos
luzeiros, quase sempre, trabalham em silêncio, não melindrando
a nós, homens, que, do contrário, acreditaríamos
estar sempre protegidos, não deixando de andar por nossos próprios
passos, ou, até, de confiar que os desencarnados poderiam fazer
por nós aquilo que nos é de obrigação
e fonte de adiantamento. Por conseqüência, eles investem
ao mesmo tempo em diversos expoentes da cultura, das artes ou das
ciências, fazendo com que, deste modo, uma idéia, uma
descoberta, um invento, surja simultaneamente em diversos pontos do
orbe. Sem suspeitarmos, eles se utilizam do ar como meio de propagação
da mensagem.
"A luz surge por toda a parte - assevera o Codificador - É
todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas. (...)
Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas
hão igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes
idéias? (...) O mesmo acontecerá com relação
ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade
entre os conhecimentos humanos."
Não é somente em relação ao homem que
a Ciência progride. Também junto aos reinos vegetal e
animal, as experimentações levam ao aperfeiçoamento
das espécies e, paralelamente, à melhoria da qualidade
dos produtos secundários e terciários que se lhes derivam,
ou, da própria expectativa de vida dos bichos que vivem em
ambiente doméstico, tornando-se mais resistentes a pragas e
moléstias, instrumento para chegarem à perfeição
física.
Conforme vai a população terrena aumentando em número,
multiplicam-se-lhe as necessidades e, como acentuou Kardec, a "(...)
Natureza não pode ser responsável pelos defeitos da
organização social, nem pelas conseqüências
da ambição e do amor-próprio". Cabe, ao
homem de bem, envidar esforços para multiplicar as fontes de
trabalho e os meios de viver.
Nossa civilização, por isso, ainda é incompleta,
uma vez que embora se tenham feito grandes descobertas e maravilhosas
invenções, as mesmas não estão ao alcance
de todos, e, nem mesmo, vivem os homens como irmãos, praticando
a caridade cristã. Esclarecidos são os terrenos, mas
não totalmente civilizados, havendo alcançado apenas
a primeira das fases deste processo. Neste caminho, o homem vai se
livrando dos males que a civilização mesma gerou, os
quais desaparecerão todos, quando se efetivar o progresso moral.
A tarefa que nos cabe, desta feita, é a verdadeira socialização
das conquistas científico-culturais, pondo-as ao alcance de
todos, sobretudo os mais necessitados.
4. Considerações Finais.
As recentes descobertas científicas, na área da Biogenética
e da Bioética resultam em benefícios para a Humanidade
e são o resultado direto do progresso intelectual dos homens,
na conquista dos atributos espirituais.
Dentre eles está o Projeto
Genoma Humano, nome do conjunto de ações e medidas de
natureza médico-científica destinado a identificar a
totalidade de genes que compõem cada célula da estrutura
corporal humana. Do conhecimento advindo das pesquisas resultará
uma maior efetividade no combate aos males físicos que afligem
o homem moderno, seja no desenvolvimento de remédios e terapias,
seja no fortalecimento das próprias células para resistir
às doenças.
Como praticamente já não existem limites para o avanço
científico, o grande questionamento passa a adentrar o campo
da ética: não mais o que pode, mas o que deve ser feito.
Isto é, qualquer experimento ou pesquisa deve ser uma aplicação
técnica com cem por cento de controle e segurança e
orientada sempre para o bem coletivo.
Nisto projeta-se como imprescindível que a evolução
jurídica acompanhe passo a passo o progresso científico,
tanto em nível do respeito e salvaguarda dos direitos e garantias
individuais e sociais, como, em espectro mais amplo, do manejo e do
concurso da ética espiritual direcionando a atividade humana
voltada à conservação da saúde e do bem-estar
da coletividade encarnada neste orbe.
Uma nova consciência – não mais individual, mas
coletiva – há de se instaurar no seio das comunidades,
embasada no comportamento ético em qualquer área do
conhecimento e comportamento humanos, e edificada sobre os princípios
de Justiça, Solidariedade e Beneficência.
Deste modo, somente quando as descobertas e os resultados estiverem
ao alcance de todos, sobretudo os mais necessitados, atingir-se-á
o corolário ético, socializando-se as conquistas científico-culturais,
na vivência plena do Amor incondicional, a caridade cristã,
onde os homens são, verdadeiramente, irmãos.
Trabalhar, cada qual, no sentido
desse desiderato: eis a tarefa que nos cabe no presente.
CLICKZERO/WEBSTUDIO. Banco de dados.
Disponível em: <www.geocities.com/clickzero/genome.htm>.
Acesso em 20 jul. 2000.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
Trad. José Herculano Pires. Capivari: EME, 1996, 400 p.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Salvador Gentile.
233. ed. Araras: IDE, 1999, 384 p.
KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Victor Tollendal Pacheco. São
Paulo: LAKE, 1986, 400 p.
MIRANDA, Hermínio Correia de. Uma ética para a genética.
Revista Espírita Harmonia. Edição n. 41. São
José: s. ed., 1998, p. 10-12.
REALE, Miguel. Lições
preliminares de direito. 21. ed. S. Paulo: Saraiva, 1994, p. 29-33.