Na mitologia chinesa consta uma lenda,
bastante remota, que apregoava estarem o Céu e a Terra ligados
por uma gigantesca árvore, chamada Jian Mu. Posicionada
bem no centro de nosso planeta, a árvore parecia uma enorme
escada para se atingir as nuvens. Não produzia qualquer flor
ou fruto, nem dava sombra. Mas, do seu tronco desciam milhares de
cipós, daí a analogia de serem estes, como que escadas
celestes por onde os deuses desciam à Terra.
Vivemos, cotidianamente, pensando no Céu, isto é, no
Plano Espiritual, que nos é a morada eterna e definitiva. Esquecemos,
muitas vezes, dos atos e fatos puramente terrenos de nossa existência,
os quais constituem, não raro, a Jian Mu de trajeto
para mundos mais felizes. Em outras palavras, não há
como “nos desvencilharmos” das situações
presentes, peculiares à vida de relações da existência
corporal, porque elas são fundamentais para nossa evolução.
Conheço muitos companheiros espíritas que parecem estar
vivendo muito mais no “outro lado” do que aqui, na Terra.
Pensam que podem descurar das situações, elementos e
condicionantes da vida física, por já se considerarem
“suficientemente espiritualizados”. Sem qualquer intenção
de crítica destrutiva, mas apenas para provocar a análise
e a reflexão dos leitores, há aqueles que não
ingerem bebidas alcoólicas, não fumam, utilizam alimentação
macrobiótica, deixam de comer carne, etc. Mas, em contrapartida,
são criaturas extremamente individualistas, egoístas
e, até, mal-humoradas, afastando qualquer pessoa de seu derredor.
Adianta, então, evitar “vícios” materiais,
e cultivar, outros, psicológicos ou psíquicos?
Penso que cada um tem o seu ritmo e deve buscar a HARMONIA interior,
procurando adotar hábitos saudáveis e comportamentos
positivos. É como buscar uma espécie de ponto médio,
um meio-termo para nossa existência. Nem abuso, tampouco ausência.
Evidentemente, existem substâncias ou elementos materiais que
são, comprovadamente, bastante prejudiciais à saúde
dos órgãos físicos, de modo que o ideal seria
evitar usar ou conviver com eles.
Ademais, como Espíritos, estamos constantemente vivendo “entre
dois mundos”, como, aliás, ilustra um título de
conhecida obra mediúnica. Esta “concomitância”
nos faz participar, ao mesmo tempo, das coisas materiais e das coisas
celestiais (da Casa do Pai, que é o Universo, e suas muitas
moradas, como asseverou aquele Carpinteiro). A árvore de Jian
Mu, portanto, é a própria vida espiritual (que
se completa nas fases encarnada e desencarnada). Por ela, temos acesso
aos seres celestiais, deuses ou anjos, Espíritos que já
lograram percorrer praticamente todos os estágios evolutivos,
que de nós se acercam, com missões específicas
de nos ajudar a compreender os porquês da vida. Diferentemente
de grande parte dos homens, que ainda procuram um “jeitinho”
para “queimar” etapas, e “subir” mais rapidamente,
na trajetória espiritual, pelos cipós do logro, do levar
vantagem e do ludibriar os outros, escolhamos um meio seguro de alcançar
os degraus posteriores de nossa escalada: a paz de consciência
e a fraternidade espiritual.
(*) Marcelo Henrique Pereira, Mestre
em Ciência Jurídica.
Secretário para a Promoção da Juventude
e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana
(CEPA)
Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo
de Santa Catarina (ADE-SC)