Pense no trabalho que você
realiza na Instituição Espírita com a qual mantém
laços de afinidade. Recorde todos aqueles momentos em que,
desinteressadamente, você deixou seus afazeres particulares,
para realizar algo em prol dos outros – e, conseqüentemente,
para si mesmo. Compute todas aquelas horas que você privou seus
familiares e amigos mais diletos da convivência com você,
por causa desta ou daquela atividade no Centro. Ainda assim, rememore
quantas vezes você deixou seu bairro, sua cidade, e até
seu estado ou país, para realizar alguma atividade espírita,
a bem do ideal que abraçaste... Pois bem, foram vários
os momentos de serviço, na messe do Senhor, não é
mesmo? Quanta alegria experimentada, quanta gente nova que você
conheceu, quantos “amigos” você cativou, não
é assim?
Tão próximos... Você e os outros... Pareciam,
até, uma família!
Agora, dedique alguns minutos de sua atenção para vislumbrar
o cenário que vamos reproduzir aqui. Garantimos que ele é
a mais pura expressão da verdade. A semelhança deste
relato com os fatos e acontecimentos da vida real não terá
sido mera coincidência.
A personagem de nossa história é uma senhora
idosa, 70 e poucos anos. Depois de uma vida ativa, no serviço
público, no intercâmbio familiar, onde criou seus filhos
e netos, e do trabalho de algumas décadas nas instituições
espíritas da região, em diversificadas atividades, adoeceu.
Gravemente enferma, não pode mais se dirigir ao centro, para
continuar fazendo com carinho o que sempre fez, atender àqueles
a quem tanto consolou e amou. Dos amigos do centro, apenas uma vaga
lembrança, porque nunca recebeu uma visita, nem daqueles que
lhe eram mais próximos, com os quais nutria uma maior afinidade.
Abandonada, até pelos entes mais próximos, está
triste, deprimida, desconsolada...
Onde estão nossas tão decantadas fraternidade e solidariedade
espíritas? Onde foram parar seus “amigos”? Até
que ponto nós que ombreamos lado a lado as atividades da seara
espírita prezamo-nos mutuamente, de modo que, entre nós,
além do coleguismo do convívio, sejam formados laços
reais de amizade e companheirismo?
Ou será que eles, os colegas de trabalho e atividade espírita
não perceberam que aquela senhora, de repente, não apareceu
mais? Que ela possa estar doente ou necessitada? Será que ela
não estará precisando de alguma coisa? Ou, transmutando
a situação para nós, que estamos “no centro”,
será que nunca perguntamos onde os membros do nosso grupo moram,
nem nunca fomos fazer-lhe uma visita, só para saber onde eles
moram? Ou, ademais, nunca os recebemos em nossa casa, porque nos falta
tempo, ou porque “não queremos misturar as coisas”?
Sentimo-nos muito tristes...
Decepcionados conosco mesmos...
E, ao vermos tanta perda de tempo no movimento dos espíritas,
para discutir “o sexo dos anjos”, a “pureza doutrinária”,
“o que é ou o que não é espiritismo”,
se “é ou não é religião”,
se Cristo “foi isto ou aquilo”, se aquela casa, que realiza
a atividade “x”, “é ou não é
genuinamente espírita”, que deixamos de lado a “poesia”
da mensagem espírita, que consola e esclarece, que levanta
e acaricia, que intui e liberta, fique presa aos condicionamentos
e às exterioridades dos rótulos, da presunção,
da arrogância, da prepotência, da “seleção
espiritual” conforme nossos requisitos (pessoais) de conveniência
e oportunidade.
Choramos... Ao visitá-la, porque seu carinho
para com o trabalho de imprensa espírita que realizamos, e
o seu receio de que ela estivesse atrasada no pagamento da assinatura
do periódico a levou a telefonar para nós, percebemos
o quanto necessitamos uns dos outros, e como somos duros e rudes com
nossos semelhantes...
Decepcionados – conosco e com os outros –
nos vimos naquela irmã, imaginando o que nos pode acontecer
daqui há algumas décadas... Será que também
padeceremos do abandono, da solidão, da falta de carinho? Será
que também mendigaremos uma visita, um atendimento, uma conversa,
ou ficaremos, sós, à espera da morte? O que aconteceu
com aquele grupo grande, com muita alegria e conversa, que se reunia
semanalmente no centro? Com certeza, não sentiram a falta da
velha senhora, ou porque nos achamos melhores do que os outros, ou
porque ela era mais um número de nossas estatísticas,
já tendo sido substituída por alguém mais jovem,
mais atuante, mais risonho...
Então, meu amigo, minha amiga, o que você acha
que lhe espera, daqui a alguns anos?
Tão próximos e tão distantes... Eu, você
e os demais “trabalhadores” espíritas se preocupam
tanto com o “caráter” do trabalho, com os “resultados”,
com o “cumprimento de obrigações e regulamentos”,
que esquecemos de ser gente...
Que pena!
Mas, ainda é tempo de mudar este quadro... Hoje, amanhã,
na próxima vez que você voltar ao centro. Conte aos seus
“colegas” esta história, e proporcione um debate
e uma reflexão, no cenário da casa em que você
trabalha... Mude paradigmas, empreste mais “humanidade”
às tarefas, transformando o convívio maquinal e obrigatório
em uma relação de sólida amizade e bem-querência...
Humanize sua Instituição!
Amanhã, poderá ser tarde, muito tarde...