As Cataratas do Iguaçu:
O sinal visível da devastação
da Natureza e da poluição humana sobre a Terra
Acabo de receber um conjunto de fotos comparativas, entre imagens
atuais e de cerca de três ou quatro anos atrás, das famosas
“Cataratas do Iguaçu”. Quem, como eu, teve o privilégio
de conhecer o outrora maravilhoso ponto turístico paranaense,
é capaz de estarrecer, ao ver a situação atual.
Onde havia magistrais corredeiras e quedas d’água, apenas
pequenos filetes, onde haviam caudalosos rios, apenas sulcos de terra,
ou, em alguns casos, a vegetação cobre o que, antes,
era o curso d’água natural. Uma seca sem proporções
e uma estiagem recorde na história são, a princípio,
as causas imediatas do problema.
Grande parte da imprensa, todavia,
está silente! Um silêncio, talvez, proposital, egresso
do “sentimento de culpa” coletivo, porque, em verdade,
a causa real é o descaso com o meio-ambiente, a poluição
sob diversificadas formas, o desmatamento e a utilização
de substâncias altamente tóxicas, expelidas para a atmosfera
da Terra em quantitativos absurdos e galopantes.
Sim, somos nós os verdadeiros responsáveis!
E, atônitos, assustados, e/ou
temerosos, contemplamos os noticiários televisivos e as páginas,
de jornais e revistas, que, volta e meia, relatam catástrofes
e intempéries, de alcance e constituição variável,
muitos dos quais, avassaladores e destruidores ceifam milhares de
vidas humanas e animais (como os “Tsunamis”) e destroem
o patrimônio material (vendavais e enchentes), com prejuízos
incalculáveis.
Num esboço inicial, à
luz da filosofia espírita e, particularmente, no cotejo de
duas das chamadas Leis Universais, a de conservação
e a de destruição, é possível asseverar:
a) A conservação
é um atributo instintivo, mas que recebe da inteligência
espiritual um anteparo ainda maior, para a condução
dos atos humanos, o que infere a lógica de que, desobedecendo
a parâmetros naturais, o homem, egoístico, olvida o cuidado
para com o ambiente que o recepciona;
b) A Natureza, originariamente,
produz o que há de necessário para a vida humana, cabendo
ao homem a mantença das condições primárias
e o aperfeiçoamento daquelas que possam, com o melhor aproveitamento
dos recursos, ser aprimoradas, seja para a redução de
barreiras naturais, seja para a correção de dificuldades
criadas pelo próprio homem;
c) O homem, em geral,
não sabe “regrar o seu viver”, decorrendo, daí,
a infinita gama dos atuais e futuros dramas existenciais, mormente
aqueles relacionados com a poluição e a degradação
ambiental. Obedecendo-se a condição fundamental de causa-efeito,
experimentamos a conseqüência dos atos impensados, irrefletidos,
propositais ou teimosos, resultantes de nossas escolhas;
d) A preocupação
com os recursos naturais exorbita os limites da soberania dos inúmeros
Estados existentes na ordem mundial, de vez que todos devem, igualmente,
se preocupar, primar pelo bom uso e coibir os abusos de toda a ordem.
Todavia, assim como não se pode alegar “propriedade”
para, egoisticamente, tratar os recursos naturais dispostos sobre
seus domínios como “questão de soberania nacional”,
tampouco se pode advogar a idéia de que, estes ou aqueles,
governos que não “cuidam daquilo que está situado
entre seus limites territoriais” possam “arvorar-se em
juízes” ou “donos” daquilo que, geograficamente,
estiver situado sob outras bandeiras. Em suma, o patrimônio
é mundial, da Humanidade, não havendo donatários
(originários nem secundários), pois o uso dos “bens
da Terra” é direito de todos (item 711, de O Livro dos
Espíritos). Todos devem cuidar e todos, absolutamente, são
co-responsáveis;
e) Desgraças
ou infortúnios são qualificativos muito “confortáveis”
para nos colocarmos em posição de “vítimas”
das circunstâncias. Há, ainda, considerável parte
do movimento espírita (por seus representantes e veículos
de comunicação) que apregoa a questão dos “resgates”
(individuais ou coletivos), as provações ou expiações
coletivas, e, é claro, a versão tupiniquim da lei oriental
do “carma”. Cômoda explicação que
desvincula nossas ações atuais – leia-se, preferencialmente,
nossas omissões – pois “temos mais o que fazer”,
ou “meio-ambiente é assunto para organizações
não-governamentais ou ambientalistas”. E, “assim
passam os dias”, “a vida segue”, e, volta e meia,
nos vemos surpreendidos com os reflexos das “catástrofes”,
achando-nos ou “inocentes” em hora e local errados, ou,
que estejamos “purgando” faltas pretéritas, por
meio da bênção-dor;
f) A Ciência
deve contribuir para o bem-estar das pessoas, conforme a judiciosa
complementação de Kardec às instruções
espirituais (questão 707, de O Livro dos Espíritos).
Ora, amigos, a ciência, como todas as coisas, são “neutras”
em sua origem, e dela fazemos bom ou mau uso, de acordo com os “objetivos”
ou “intenções”. A mesma ciência que,
dentro de suas especialidades, condena, aqui ou ali, os abusos cometidos
por pessoas e instituições (públicas ou privadas),
sobretudo em sede de crimes ambientais, é utilizada, por pessoas
inescrupulosas, para “fabricar” documentos, alvarás,
autorizações, relatórios de impacto ambiental,
e outras figuras jurídico-administrativas de nosso tempo. Noutro
diapasão, é imperioso questionar: a contribuição
científica ao bem-estar humano, está acessível
a todas as pessoas, em todos os lugares, ou, somente, para as nações
tidas como potências econômicas e suas populações
de alta renda? Reflitamos, para responder;
g) Não temos
que ficar “assistindo a banda passar”, pois, mesmo ante
numerosas, seqüenciais ou atrozes dificuldades, devemos utilizar
nossa inteligência para superar os obstáculos, refazer
percursos, recomeçar, reconstruir... Há muita (des)informação
nas lides espíritas acerca do que seja “determinado”
por Deus, em função dos seus desígnios, para
a Terra, ou para os espíritos. Não há, em nenhuma
hipótese, “condenação prévia e absoluta”
de ninguém, e, mesmo os planos são refeitos, minuto
a minuto, por força de nossa (inafastável e inalienável)
liberdade de agir;
h) Os crimes de lesa-natureza,
felizmente, começam, ainda que timidamente, a receber da Justiça
Humana, apenações mais severas, sobretudo quando alcançam,
no adágio jurídico, a “parte que mais dói”
no ser humano: o bolso. Indenizações, recomposições,
penas alternativas que obrigam a destinação, construção
e mantença de parques ou reservas ambientais, começam
a aparecer em sentenças, sobretudo nas definitivas (“coisa
julgada”), o que repercute favorável e pedagogicamente
no sentido de que novas agressões sejam, pelo menos, evitadas,
em face dos exemplos condenatórios existentes. Quanto à
Justiça Divina, a ela “nada escapa”, evidentemente;
i) Há limites
– mais ou menos identificáveis pelos homens em diversos
graus existenciais – entre o necessário e o supérfluo,
ou o uso e o abuso dos bens existentes em a Natureza. O desenvolvimento
das faculdades intelectuais repercute na ampliação da
responsabilidade e culpabilidade advindas da má utilização
(destruição) dos recursos colocados à sua disposição,
numa experiência encarnatória;
j) A destruição
(natural ou provocada) é lei da natureza, em princípio
clássico enunciado por Lavoisier (“nada se cria, nada
se perde, tudo se transforma”). Destruição é,
pois, transformação, que opera, paulatinamente, a melhora
e a renovação dos seres vivos (quesito 728, de O Livro
dos Espíritos). Quando a destruição é
“ferramenta” natural, como, por exemplo, na cadeia alimentar,
em que uns destroem os outros para saciar sua fome, garantindo sua
perpetuidade, diz-se que há a mantença do equilíbrio
originário. Em muitas cidades, a devastação e
a depredação ou degradação dos ambientes
importa o desaparecimento de determinadas espécimes, resultando
na proliferação desenfreada daqueles que, antes, eram
presas dos primeiros, gerando, por exemplo, no caso de muitos insetos,
pestes e epidemias. A cátedra espiritual, também, referencia
ser a destruição um item da lei natural de dupla finalidade:
evitar a reprodução em demasia, equilibrando-a, e reaproveitar
os despojos dos que são destruídos, como alimentos ou
adubo, entre outros;
k) A baliza conservatória
impele o homem para a luta constante contra os fatores que venham
a comprometer a segurança de sua sobrevivência. Há
espíritas que explanam horas e horas sobre a não-permissão
divina para a destruição completa do Planeta (como,
no caso, os efeitos de uma hecatombe nuclear), dizendo, até,
que as baratas seriam “as únicas sobreviventes”,
no caso de uma guerra deste jaez. Ora, Deus não “permite”
nem “proíbe” nada, de modo absoluto, e considerando
sua ação efetiva e proposital sobre os mundos. Do contrário,
ao conceber um Universo “perfeito”, sob a batuta de suas
irrevogáveis, plenas e incontestes Leis Universais, igualmente
perfeitas, dá ao homem o atributo da liberdade de escolha.
Não fica Ele, Deus, preocupado com o que o homem fará
“de Sua obra”, convenhamos. Se, por acaso, chegarmos ao
ponto de, por estes ou aqueles instrumentos (poluição,
devastação, incêndios, desmatamentos, catástrofes
decorrentes do mau uso dos recursos, guerras, etc.), não subsistir
a vida (material, sobretudo humana) na Terra, todos os espíritos
migrarão para outros planos, em novas encarnações,
dando continuidade ao processo evolutivo, sem, é claro, descurar
da aplicação dos mecanismos correcionais e delineadores
da responsabilidade de ressarcimento ou resgate, proporcional ao grau
de discernimento e à autoria, caso a caso; e,
l) Os chamados “flagelos
destruidores”, conforme a poética descrição
dos Espíritos Superiores, muitos dos quais, obra do próprio
homem (O Livro dos Espíritos, perguntas 737 e 741), são
como um “aguilhão” para fazer a Humanidade progredir
mais depressa. Já vimos que, em situações imprevistas
e de efeitos danosos, a solidariedade (espiritual) se manifesta em
inúmeras criaturas, desde aquelas que, por vinculação
laboral, tenham compromisso com o trabalho de recuperação
ou salvamento, como inúmeros voluntários que participam
das atividades ou enviam donativos para minorar a dor alheia. Nestes
momentos, de adversidade, há um elemento aferidor do progresso
que podem experimentar distintos seres, rumo à regeneração:
o afeto e a piedade, a abnegação e o desinteresse, que
se convertem em ação efetiva. Quanto aos que experimentam,
diretamente, os suplícios, seu adiantamento decorrerá
da paciência e resignação ante os mesmos. Mesmo
assim, os flagelos, por piores que possam parecer ou representar,
são, pela dicção kardequiana, “passageiras
tempestades no destino do mundo”, ou instrumentos para o real
progresso (das individualidades e das coletividades, nestes e em outros
planos).
Que aproveitemos, então, o
estímulo decorrente da leitura, do estudo e da reflexão,
sob a inspiração espírita, para pensarmos nos
efeitos danosos de nossas ações e omissões em
relação à Natureza. E, que desta reflexão,
possa brotar a indignação do “bom combate”,
o compromisso de refrear nossas “más tendências”,
substituindo-as por práticas valorosas e qualificadas pelo
respeito ao meio-ambiente, aos seres que compõem nosso mundo,
aos nossos semelhantes e, por conseqüência, a nós
mesmos.