Foi em 2003, que a Organização
das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 9 de dezembro
como o dia internacional de combate à corrupção,
tendo, diversos países em Mérida (México) assinado
uma Convenção internacional a respeito.
Quando se fala em corrupção,
muitos pensam que é uma ocorrência que diz respeito, apenas,
a poderes e órgãos públicos, envolvendo pessoas
que ocupam cargos, funções ou atividades nos entes estatais
ou que, em órgãos privados, celebram algum tipo de negócio
ou possuem algum interesse que é tutelado pelo Estado.
Esquecem-se, os que pensam assim, que
a corrupção é um fenômeno decorrente da ação/omissão
humanas, provocado, intencional, desejado e concretizado (ainda que,
às vezes, seja apenas fruto de uma tentativa não concretizada,
caso se descubra a tempo, em investigações e ações
policiais ou judiciais, ou, ainda, que algum dos envolvidos rejeite
a proposta criminosa). Seu âmbito também pode alcançar
a vida privada, entre pessoas ou entre instituições, voltada
a obter (auferir) algum benefício (não necessariamente
financeiro), em uma relação interpessoal.
Para que haja a corrupção
é preciso, portanto, mais de um agente (pessoa) envolvida, compreendendo
aquele que promete a vantagem e o que a recebe, sendo que a ação
corruptiva pode ter origem em quem deseja obter algum benefício
e oferece a outrem uma promessa, como o que visa receber algo e oferece
a oportunidade a outro, para que este a beneficie.
Deste modo, corromper e ser corrompido
é circunstância que envolve dois vetores – o de dar
e o de receber – alcançando o contingente de Espíritos
que estejam encarnados neste Planeta e qualquer cenário onde
haja relações humanas. Por isto, os ambientes espíritas
também podem ser locais em que grassa a corrupção
ou em que, por determinada atitude, alguém se beneficie de algo,
por finalidade ilícita.
Um exemplo simples é o do atendimento
que as instituições espíritas prestam – espiritualmente
falando, embora possamos colocar neste “leque” também
as circunstâncias de materialidade, como a oferta de bens (remédios,
donativos, roupas, sapatos, livros e outros). Quando se desrespeita
a ordem de necessidade ou de entrada – a “fila” –
tem-se um ato de corrupção.
Outro segmento passível de ser
palco para a corrupção é aquele relacionado às
eleições para a diretoria de determinada agremiação
espírita. Em muitos casos, existem disputas entre chapas concorrentes,
pelo “voto” de confiança dos associados. Neste segmento,
as “promessas” para determinados “eleitores”
configura, igualmente, corrupção, porque desequilibra
a balança de escolha, que deveria se pautar, apenas e tão-somente,
em relação à avaliação da personalidade
dos membros da chapa e suas propostas (divulgadas e registradas).
Nas últimas décadas, ainda, tem surgido um outro tipo
de corrupção, igualmente lamentável, nos chamados
ambientes espíritas. E isto envolve as instituições
em geral que possuem determinados membros ou o patrocínio, por
parte de dada entidade ou grupo espírita, a pessoas para a “prestação
de um determinado serviço”. Falamos, em específico,
das comunicações mediúnicas e, neste contexto,
as cartas de entes queridos desencarnados.
Pode-se dizer que se formou uma verdadeira
“indústria de psicografias”, com grupos patrocinando
pretensos médiuns que receberiam comunicações voltadas
àquelas pessoas que procuram instituições espíritas
para receber notícias dos que partiram deste mundo. E o desespero
pela perda do ente querido é tanto que, além de buscarem
nos centros espíritas, também o fazem por meio eletrônico
(virtual) em grupos das redes sociais ou por meio dos sites das instituições.
E, onde há procura, há
oferta. Lei de mercado, portanto. Há “médiuns”
porque há os que querem o “serviço”. E há
o “serviço” porque surgem “médiuns”
para prestar o mesmo. Locupletam-se, portanto.
Evidentemente que há médiuns
reais e sérios. O nosso querido Chico Xavier foi historicamente
reconhecido por receber mensagens de desencarnados, dirigidas a seus
familiares e amigos mais próximos. Mas, com uma característica
marcante: a espontaneidade. Todas as semanas, a instituição
em que o médium mineiro atuava recebia caravanas de pessoas de
todo o país e do exterior. Nos grupos e excursões, haviam,
evidentemente, muitos que desejavam – de todo o coração
e Espírito – saber do “paradeiro” de seus mais
caros. Mas o Chico nada sabia disso. Sentava-se, proferia as suas falas
sobre o Evangelho e, depois, concentrado, passava a psicografar, sem
um “destinatário” previamente escolhido. Sua mediunidade,
dinâmica e prodigiosa, era espontânea e, em muitos casos,
vários dos presentes eram agraciados com as mensagens a eles
(nominalmente) direcionadas. Hoje em dia, há médiuns similares,
que, no instante do “transe mediúnico” e quase sempre
inconsciente, não sabem para quem a mensagem se dirige, até
que ela seja concluída, e nunca tiveram qualquer contato prévio
com os destinatários.
Entretanto, e isto está sendo inclusive objeto de investigação
dos entes policiais e judiciais federais brasileiros, há um grupo
de “médiuns” que possui um aparato de apoio grandioso,
com vários “funcionários” que vasculham as
redes sociais dos “interessados em receber mensagens mediúnicas”
anotando informações “valiosas” para buscar
dar uma aparência de verdade e fidedignidade à comunicação.
Ou seja, com base nas próprias informações dadas
pelo saudoso parente, em recordação aos momentos vividos,
cita-se um apelido, um animal de estimação, o nome de
outros parentes, o local onde residiu ou os lugares preferidos, assim
como hobbies, atividades ou gostos pessoais. Prato cheio, assim, para
os fraudadores e corruptos, que visam atrair a simpatia e auferir algum
tipo de vantagem.
É necessário salientar que não
é necessário que haja dinheiro ou bens (presentes e similares)
envolvido. A “fama”, a “divulgação”
do médium e a possibilidade de “venda casada” (oferecimento
de livros ou similares) já caracterizam, por si só, a
corrupção e a falsidade ideológica de quem a realiza
ou patrocina.
Lembremos, por fim, que nada disto é novidade.
Jesus, a seu tempo, já havia alertado para os “falsos profetas”,
nome dado à mediunidade daquele tempo. O dom de profetizar também
incluía a possibilidade da comunicação com pessoas
desencarnadas e o fornecimento de informações de caráter
pessoal, em todos os tempos.
Assim sendo, o espírita sensato, estudioso das
obras de Kardec, cônscio de suas responsabilidades e dentro da
chamada ética espiritual-espírita deve, de pronto, rechaçar
toda e qualquer atitude de corrupção em nosso meio, sobretudo
combater e denunciar aos órgãos competentes a existência
destes falsos médiuns que exploram a fé e a emoção
alheia. E, ainda, ao conhecer situações e personagens
deste “meio”, divulgar e esclarecer todos os que possam
vir a se interessar por este “comércio da fé”.
Por fim, e em sede de mediunidade, lembremos sempre
da advertência fraternal do homem de Nazaré: “será
muito cobrado daquele a quem muito for dado”.
Fonte: https://www.comkardec.net.br/sempre-contra-a-corrupcao-inclusive-entre-os-espiritas/
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