Certo dia, ao voltar do trabalho,
no início da noite, observei pela janela um curioso adesivo
estampado na traseira de um automóvel que seguia pelo mesmo
destino que eu, por sinal um táxi, com os seguintes dizeres:
Ora, que melhora! Não pude conter meu sorriso de admiração
em relação à inscrição e, ato contínuo,
minha mente passou a enquadrar a situação contida naquela
frase e suas repercussões em relação ao ser humano.
Evidentemente, em primeiro plano,
trata-se de um dizer “evangélico”, isto é,
com enorme probabilidade, fazem uso de tais máximas, chavões
ou prescrições, os adeptos das chamadas igrejas neo-pentecostais,
que, inegavelmente, trabalham o aspecto psicológico de seus
adeptos e, de maneira ainda mais evidente e marcante, impulsionam
seus seguidores para o cumprimento (nem sempre racional, é
verdade) de seus mandamentos ou orientações. Assim sendo,
operam transformações nas pessoas e é comum ouvirmos
depoimentos de indivíduos que se renovaram, mudaram de vida,
deixaram circunstâncias depreciativas e de fracasso e alcançaram
objetivos maiores, mesmo que a grande parte deles esteja relacionada
ao plano material (mudar de emprego, conseguir bens materiais, arrecadar
dinheiro, etc.). Eis aí, indubitavelmente, um ponto altamente
positivo em tal ideologia.
Secundariamente, devemos enquadrar
a assertiva dentro do contexto da filosofia de Jesus de Nazaré,
que, conforme a informação dos Evangelistas, teria dito,
em diversas situações: - “A tua fé te curou
(salvou)!” (Lc; 7:50), ou, “A fé remove montanhas.”
(Mt; 17:20). Neste sentido, o “ora que melhora” deve ser
relacionado ao esforço do ser que, ante as dificuldades da
vida, solicita amparo (ajuda) espiritual para a resolução
das mais distintas problemáticas que rondam o seu caminhar
diuturno. A rogativa, neste sentido, seria recepcionada no âmbito
do Céu e, ao ser analisada, poderia representar o envio de
alguém (um emissário espiritual) para atender às
preces do fiel.
No enquadramento espírita, todavia, vale muito mais a orientação:
“Ajuda-te que o Céu te ajudará” (Mt; 7:7-11),
que inclui, na equação da cura (solução
ou resposta) o merecimento do paciente (interessado) e o esforço
(ação) no sentido de “libertar-se” das amarras,
dos vícios, dos erros, comprometendo-se intimamente (e, na
continuidade, por suas palavras, gestos e atitudes) à real
mudança, à renovação, à espiritualização,
numa palavra. Novamente relembrando o Sublime Carpinteiro, após
seus ensinos e “milagres”, ele repetia: - “Vá
e não peques mais, para que não te suceda cousa pior”
(Jo; 5:14).
Por isto, meu amigo, mesmo que você adote a postura da oração
como “ferramenta” ou “instrumento” útil
para todas as horas, não se esqueça que apenas orar
não resolve nada, porque além da sintonia que se estabelece
entre nós e nossos amigos espirituais, no âmbito das
preces e petitórios de cada dia, é imprescindível
o seu comprometimento com a melhora na conduta, a ação
efetiva no Bem, o necessário esforço em operar a sua
“transformação moral” e em “domar
suas más inclinações”, como asseverou Kardec
(in O evangelho segundo o espiritismo, cap. XVII, item 4).