Marcelo Henrique Pereira

>    Ora, que melhora!

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Marcelo Henrique Pereira
>    Ora, que melhora!

 

Certo dia, ao voltar do trabalho, no início da noite, observei pela janela um curioso adesivo estampado na traseira de um automóvel que seguia pelo mesmo destino que eu, por sinal um táxi, com os seguintes dizeres: Ora, que melhora! Não pude conter meu sorriso de admiração em relação à inscrição e, ato contínuo, minha mente passou a enquadrar a situação contida naquela frase e suas repercussões em relação ao ser humano.

Evidentemente, em primeiro plano, trata-se de um dizer “evangélico”, isto é, com enorme probabilidade, fazem uso de tais máximas, chavões ou prescrições, os adeptos das chamadas igrejas neo-pentecostais, que, inegavelmente, trabalham o aspecto psicológico de seus adeptos e, de maneira ainda mais evidente e marcante, impulsionam seus seguidores para o cumprimento (nem sempre racional, é verdade) de seus mandamentos ou orientações. Assim sendo, operam transformações nas pessoas e é comum ouvirmos depoimentos de indivíduos que se renovaram, mudaram de vida, deixaram circunstâncias depreciativas e de fracasso e alcançaram objetivos maiores, mesmo que a grande parte deles esteja relacionada ao plano material (mudar de emprego, conseguir bens materiais, arrecadar dinheiro, etc.). Eis aí, indubitavelmente, um ponto altamente positivo em tal ideologia.

Secundariamente, devemos enquadrar a assertiva dentro do contexto da filosofia de Jesus de Nazaré, que, conforme a informação dos Evangelistas, teria dito, em diversas situações: - “A tua fé te curou (salvou)!” (Lc; 7:50), ou, “A fé remove montanhas.” (Mt; 17:20). Neste sentido, o “ora que melhora” deve ser relacionado ao esforço do ser que, ante as dificuldades da vida, solicita amparo (ajuda) espiritual para a resolução das mais distintas problemáticas que rondam o seu caminhar diuturno. A rogativa, neste sentido, seria recepcionada no âmbito do Céu e, ao ser analisada, poderia representar o envio de alguém (um emissário espiritual) para atender às preces do fiel.

No enquadramento espírita, todavia, vale muito mais a orientação: “Ajuda-te que o Céu te ajudará” (Mt; 7:7-11), que inclui, na equação da cura (solução ou resposta) o merecimento do paciente (interessado) e o esforço (ação) no sentido de “libertar-se” das amarras, dos vícios, dos erros, comprometendo-se intimamente (e, na continuidade, por suas palavras, gestos e atitudes) à real mudança, à renovação, à espiritualização, numa palavra. Novamente relembrando o Sublime Carpinteiro, após seus ensinos e “milagres”, ele repetia: - “Vá e não peques mais, para que não te suceda cousa pior” (Jo; 5:14).

Por isto, meu amigo, mesmo que você adote a postura da oração como “ferramenta” ou “instrumento” útil para todas as horas, não se esqueça que apenas orar não resolve nada, porque além da sintonia que se estabelece entre nós e nossos amigos espirituais, no âmbito das preces e petitórios de cada dia, é imprescindível o seu comprometimento com a melhora na conduta, a ação efetiva no Bem, o necessário esforço em operar a sua “transformação moral” e em “domar suas más inclinações”, como asseverou Kardec (in O evangelho segundo o espiritismo, cap. XVII, item 4).

 

Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)

 


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