Os diversos movimentos sociais de nosso tempo são marcados
por momentos de análise e reflexão. Nestas oportunidades,
é possível refletir conscienciosamente acerca da comparação
objetivos-resultados, e, neste aspecto, corrigir possíveis
distorções e erros e reavaliar condutas e compromissos,
é premissa fundamental para alcançar o êxito,
em momentos supervenientes.
Ficamos a pensar porque o movimento
espírita não toma tais medidas. Tomando por base a realidade
vivenciada nos Centros Espíritas, a regra geral acerca da possibilidade
da alteração de rota é visualizada apenas e tão-somente
na época dos pleitos eleitorais internos. Havendo ou não
disputas - entre pessoas e/ou grupos - a eleição de
uma instituição compreende a participação
dos sócios e a possibilidade de, sendo escolhidas outras pessoas
para gerir o grupo, seja possível perceber alterações
nas rotinas administrativas e nos objetivos institucionais.
Ampliando um pouco mais este espectro,
têm-se as entidades federativas, confederativas ou associativas
gerais. Estas - embora também exista, como nas primeiras, a
possibilidade de mudanças, com eleições diretas
ou colégios eleitorais - têm, em nossa visão,
um papel muito mais importante no aspecto de reformulação
de paradigmas, ou, em outros termos, na possibilidade de alcance de
melhores resultados na ação espírita.
Afinal de contas, observam - de fora
- a realidade de grupos, segmentos e instituições espíritas,
tendo a missão de coordenar eventos que possam resultar na
orientação, apoio, formação e reciclagem
daqueles que ocupam funções específicas nas sociedades
espíritas. Mas será somente isso?
Há muito tempo tem-se eventos
patrocinados por entes federativos ou congêneres, que reúnem
os "trabalhadores" das instituições de uma
ou mais regiões, para cursos, seminários ou encontros
"de discussão", onde, por meio de debates ou apresentação
de técnicas - com, às vezes, participação
de convidados ilustres, de outras partes do Brasil - explicitando
o "como fazer", apresentando fórmulas ou mecanismos
prontos para serem reproduzidos em qualquer parte, com qualquer público.
Assim, formam-se expositores, educadores
(?), divulgadores, médiuns, assistentes sociais (?) espíritas...
Ou, pelo menos, "pensa-se estar formando". Formar alguém
significa algo mais do que colocar (algumas) ferramentas ou simular
situações que possam vir a ocorrer no âmbito da
atividade espírita. A capacitação deve estar
voltada ao melhor preparo do indivíduo para raciocinar ante
questões novas, construir o seu presente - não apenas
vivê-lo - e, principalmente, tornar independente (mas não
auto-suficiente) o cooperador, de modo que ele possa ser o responsável
pela melhoria de sua vida, da do próximo, e da realidade da
instituição à qual se afeiçoou e a quem
dedica suas horas livres.
Um outro aspecto relevante
é a avaliação das necessidades do público.
Aliás, primeiramente, quem é o público que freqüenta
nossas instituições? Com base na percepção
diária das atividades espíritas públicas, temos
um contingente formado por trabalhadores, simpatizantes, religiosos
e curiosos. Isto porque o motivo que os traz à casa espírita
é variável. Quanto aos primeiros, entende-se que tais
estudam a doutrina, isto é, lêem cuidadosa-mente os textos
e livros afetos à área de atuação dentro
da instituição e, de uma forma geral, reciclam sempre
seus conhecimentos, aprendendo através da participação
em reuniões de estudo grupais. Os segundos ainda não
se consideram totalmente espíritas, mas, de uma forma geral,
sentem-se bem ao participar das atividades, gostam dos temas das palestras
e objetivam recompor-se energeticamente através dos passes.
Os terceiros entendem ser o centro espírita similar a um templo
de oração de qualquer agremiação religiosa
e participam das reuniões com a mesma motivação
e percepção de que se estivessem em uma igreja. Rezam
junto, procuram adotar uma postura apenas receptiva e habituam-se
a "ir ao centro" pelo menos uma vez por semana. Os últimos,
finalmente, desejam saber algo sobre o "tal" espiritismo,
ou então "sentem" algo diferente ou presenciam, principalmente
no núcleo familiar a fenomenologia mediúnica e, quase
sempre, após satisfeitas suas dúvidas, desaparecem do
centro.
Pergunta-se, então:
atende-se satisfatoriamente toda essa gama de freqüentadores?
Ou, mais especificamente, para que público estamos realmente
comprometidos a atender?
Partindo da premissa de que a condição
de trabalhador espírita realmente enquadra aquelas pessoas
que se esforçam por aprender a doutrina e alcançar os
melhores resultados possíveis dentro da atividade que abraçam,
em quaisquer das áreas específicas existentes numa instituição
espírita, nossa maior preocupação deve ser dirigida
à satisfação de suas necessidades. Então,
é necessário sempre reciclar atividades, fazer rodízios
entre os núcleos de trabalho, motivar os participantes, democratizar
as decisões, entre outros.
Em seguida, preocupar-nos-emos com
os simpatizantes, na exata proporção de seus interesses,
fomentando, sempre que possível, a superação
da posição passiva de mero expectador, facilitando o
engajamento em atividades já existentes, convidando-os para
o estudo e a prática dos ensinamentos espíritas.
Quanto aos terceiros, esclarecer que
a casa espírita não é um templo religioso na
exata acepção da palavra. Porque o espiritismo não
é em si uma religião, conforme o significado que se
pode colher de sua etimologia: religião é "(...)
instituição social que se caracteriza por uma comunidade
de pessoas unidas pelo cumprimento de rituais, pela crença
e pela fé em Deus" (1). Ao
menos no que concerne à primeira parte, o espiritismo não
é religião. Não possui dogmas, não tem
ritos ou sacramentos. Aliás, remontando à própria
definição de Kardec, sobre a Doutrina Espírita,
temos: "Doutrina filosófica de bases científicas
e conseqüências morais".
O que falta aos espíritas
é, sinceramente, mais ação, mais resultados e
menos contemplação. Caso contrário,
corremos o sério risco - e já vivemos tal fase - de
nos transformarmos em uma bela proposta temática de vida, no
campo da teoria sem nenhuma (ou pouca) aplicação prática.
Paralelamente, deve a instituição
espírita - ou, pelo menos, seus participantes ativos - preocupar-se
com o retorno social, em termos de mudança da realidade do
mundo, em termos de alcance da felicidade. A propósito,
o que tem feito a sua instituição no sentido de proporcionar
aos outros o conhecimento das verdades espirituais? Não se
trata, evidentemente, de fazermos proselitismo religioso, pregarmos
em locais públicos, ou sairmos de casa em casa oferecendo periódicos
ou mensagens. Falamos, em verdade, do necessário engajamento
do segmento espírita na discussão de alternativas para
minorar os problemas e mazelas sociais e, mais adiante, na participação
em projetos coletivos de melhoria da vida coletiva.
Muitas das pessoas que procuram as
casas espíritas de que participamos ou ouvem nossas palestras,
queixam-se da pouca (ou nenhuma) possibilidade
de fazer algo em benefício daqueles que não são
espíritas, seja na questão de levar adiante
o conhecimento das verdades espirituais, seja para contribuir na solução
dos problemas de sua comunidade. Isto acontece porque, via de regra,
as instituições vivem em função de si
mesmas, fazendo a "divulgação" do espiritismo
apenas para aqueles que já estão nas casas espíritas.
A questão de fundo
é essencialmente a do plano de ação.
Que objetivos sua instituição contempla? Para que foco
acha-se voltada? Será que contenta-se apenas em atender àqueles
que já conseguiram procurar apoio e esclarecimento num centro?
O que podemos fazer pelos demais, apenas pelo desejo de servir, de
fazer o bem? Pense, reflita... Comece a semear em sua instituição,
mesmo que, a princípio, suas idéias sejam combatidas
ou lhe apresentem "n" razões impeditivas. Tenho certeza
que você encontrará outras pessoas dispostas a começar
algo novo. E isto importa, racionalmente, em propor novos rumos para
o Espiritismo. Afinal, quando um certo Kardec começou a falar
de espiritismo, a expor suas idéias e publicar seus livros,
muitos também o desencorajaram ou ridicularizaram. Ele não
parou, não negou a fonte de água viva... Por que não
nós?