Marcelo Henrique Pereira

>    Comunicação e alteridade


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Marcelo Henrique Pereira
>    Comunicação e alteridade



Convenciona-se entender a alteridade como a relação que se trava com o outro de modo isonômico, com absoluto respeito pela identidade do outro, sua bagagem individual, sua intelectualidade e personalidade, bem como suas idéias e percepções. Em essência, não existem duas individualidades iguais no universo, de modo que os pontos de vista sempre serão distintos na totalidade, embora possa haver aproximações e concordâncias em alguns elementos. Diz-se, até, que no relacionamento interpessoal, à luz da alteridade, havendo consenso nos aspectos de mérito, nós nos esforçamos por entender as pequenas diferenças acessórias, compondo ajustes e realizações conjuntas.

O ser humano é comunicativo por excelência. Desde o momento em que precisou externar suas idéias, convencionou um conjunto de símbolos, aos quais chamou de linguagem, para diminuir a distância que o separava do outro, fazendo-se entender. A comunicação, assim, instaurou-se entre dois ou mais seres, fundada na possibilidade de emissão e recepção de mensagens e, deste modo, a partir da sintonia, construiu-se a relação.

O enfoque comunicativo, entretanto, alterou-se substancialmente. Da intenção de "convencer" o outro acerca de nossas idéias, ou cooptá-lo, atinge-se o estágio da comunicação alteritária, em que o que importa é a possibilidade da construção do diálogo e o investimento nas diferenças entre os seres comunicantes, que agregam valor a partir do contato com o universo do outro. Nesse patamar, é preciso valorizar as quatro premissas básicas da ética na comunicação: 1) o outro é uma individualidade; 2) como individualidade, o outro tem direito a expressar suas idéias; 3) na relação com o outro, comunicar-se entendendo as diferenças que existem entre ele e você; e, 4) a partir das diferenças, amar o outro como ele realmente é, em sua diferença, sem exigências de mudança ou adequação a seus conceitos particulares.

Na construção desse processo comunicativo, o cotidiano tem demonstrado o enriquecimento da bagagem espiritual dos seres que, em distintos ambientes e construindo diferentes relações, esforçam-se por adotar a mencionada ética, entendendo, ainda, que cada novo contato revela-se como um desafio ao exercício da alteridade. Em essência, cada nova oportunidade de ação alteritária agrega valor no sentido da descoberta de si mesmo, do intercâmbio com o outro e do crescimento a partir da diferença.

Referidos conceitos, todavia, provocam verdadeira revolução no contexto social, acostumado com a visão tradicional do processo comunicativo, que se baseia, apenas, na difusão de conceitos, no sentido de convencimento ou adesão. Em verdade, as mídias com vinculação filosófica ou religiosa (ou, mesmo, quando leigas, sendo utilizadas por adeptos) acabam girando em torno de si mesmas, destinando-se, em sua imensa maioria, para os prosélitos, adeptos ou simpatizantes, tão-somente. Com isso, perde-se excelente oportunidade de diálogo e interação, na essência da tese de "aprender com o outro", sem deixar-se, puramente, convencer.

Comunicação, em resumo, é uma via de mão dupla, em que ambos têm isonomia de tratamento, direitos e obrigações. A essência da comunicação, assim, é a própria interação "descompromissada", isto é, aquela que se funda na possibilidade da construção do diálogo interpessoal, e não se preocupa em fazer com que crenças ou ideologias particulares sejam absorvidas pelo interlocutor, como premissa. Se isso acontecer, fluirá naturalmente, até porque também absorveremos do contato com outrem aquilo que entendermos oportuno para nosso próprio crescimento pessoal.

 


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