Resgatar
a importância e o pioneirismo dos espíritas gaúchos,
na efetivação de um programa de estudo sistematizado
do Espiritismo,
verdadeira âncora do movimento espírita contemporâneo
Foi em 22 de julho de 1978, quando
Maurice Herbert Jones presidia a Federação Espírita
do Rio Grande do Sul e Salomão Benchaya era seu Diretor Doutrinário,
que se lançou naquele Estado a “Campanha de Estudo Sistematizado
da Doutrina Espírita - ESDE”. É bem verdade que
a (antiga) Sociedade Espírita Luz e Caridade - SELC (hoje Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre - CCEPA) já mantinha,
na década de 70, grupos de estudo sistematizado do Espiritismo,
mas a prática não era comum no movimento espírita.
As práticas pedagógicas nas instituições
espíritas, àquela época, em relação
aos adultos se baseavam na leitura seqüencial dos capítulos
das obras básicas, seguidas de interpretação
e alguma discussão entre os participantes. O ESDE, em seu nascedouro,
assim, buscou inspiração no COEM (Centro de Orientação
e Estudo da Mediunidade), uma exitosa iniciativa do Centro Espírita
Luz Eterna, de Curitiba (PR), e a SELC foi o verdadeiro laboratório
onde se concebeu e se aprimorou a Campanha de Estudo Sistematizado
da Doutrina Espírita. Vale dizer que o movimento espírita,
com a proposta da federativa gaúcha, iniciava uma nova e importante
fase: a da conscientização da necessidade do estudo.
Jones, deste modo, buscou apoio na Federação Espírita
Brasileira (FEB), para encampar o projeto e difundi-lo, oficialmente,
entre as instituições do Conselho Federativo Nacional
(CFN). O livro Da religião espírita ao laicismo,
de Benchaya registra, a propósito, as enormes dificuldades
enfrentadas pelo dirigente para a decisão de implantar semelhante
Campanha em âmbito nacional. Havia, conforme o autor, uma “surda
resistência” que obrigou o representante gaúcho
a forçar a votação de sua proposta que vinha
sendo sucessivamente adiada: “Argumentou Jones, na oportunidade,
que não podia entender aquela surda resistência a uma
Campanha de Estudo do Espiritismo em um movimento que já desenvolvia
uma intensa Campanha de Evangelização Infanto-juvenil.
Finalizou dizendo aguardar a votação, que era aberta,
pois apreciaria conhecer e registrar para a história, os dirigentes
de Federações Estaduais que se atrevessem a reprovar
uma campanha objetivando estimular o estudo do Espiritismo”.
O esforço dos pioneiros (Salomão, pela autoria e Jones
pela defesa) foi recompensado: na tarde de 6 de julho de 1980, um
domingo, a proposta gaúcha terminou aprovada pela unanimidade
dos representantes presentes em Brasília. A FEB, entretanto,
levaria mais de três anos para lançar oficialmente a
campanha, já com roteiros e programas de estudo reelaborados
por uma comissão específica.
A partir de 1990, no CCEPA, os neófitos são encaminhados
aos Cursos Básicos de Espiritismo voltados para a comunidade,
com a participação de expositores da Casa e convidados,
sendo os temas desenvolvidos sob a forma de palestras e, desde 2001,
há uma programação especialmente voltada para
os não-espíritas que desejem receber informações
básicas acerca do contexto histórico-cultural da época
de surgimento da Doutrina, bem como acerca de seus princípios
básicos. No âmbito do estudo sistematizado, há
o Ciclo Básico de Estudos Espíritas (CIBEE), que tem
a duração de um ano. Os grupos compostos por espíritas
experientes desenvolvem seus próprios programas, calcados em
pesquisa, debate e produção cultural, utilizando-se
os princípios do “estudo e problematização”.
Em complemento, as palestras públicas foram transformadas no
“grupo de conversação”, que privilegia o
formato interativo, não havendo dirigente nem expositor no
sentido tradicional, mas, um “provocador” previamente
designado que, após breve exposição, coloca e
coordena a discussão de um assunto para ser debatido à
luz do pensamento espírita.