Marcelo Henrique Pereira

>    Que seja Segundo o Espiritismo

Artigos, teses e publicações

Marcelo Henrique Pereira
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Em Defesa do Espiritismo

Houve um tempo em que se conheceu um homem cuja motivação era a defesa incondicional dos postulados espíritas.

Considerando que ele veio a conhecer a Doutrina dos Espíritos na fase de mocidade, foram em torno de quarenta anos, até o desencarne, de atuação firme, segura e inspirada, na divulgação das obras de Allan Kardec e na construção do pensamento filosófico espírita. Esse homem era (é) Herculano Pires.

Não foram poucas as vezes em que ele bradou contra as enxertias, as tentativas de adulteração, as ações de grupos inescrupulosos que publicaram livros tidos como espíritas, mas que apresentavam vícios de origem, maculados por apresentarem ideias ou teorias totalmente disformes e incompatíveis com o edifício espiritista.

Mesmo não possuindo mediunidade ostensiva mas, apenas, a de inspiração, quando se associava em pensamento às inteligências superiores desencarnadas e produzia textos, livros, programas radiofônicos e palestras, todos com o seu destacado e conhecido brilhantismo, nem por isso não deixava de conhecer a fundo o fenômeno mediúnico, os detalhes do intercâmbio entre “vivos” e “mortos”, e a distinção entre a produção mediúnica e a anímica, quando o médium se utilizava de nomes de personalidades desencarnadas, reais ou fictícias, com designações apócrifas ou apropriando-se da imagem de alguém que, por já estar do outro lado da vida, não poderia se defender da apropriação indébita de seu legado.

 

Noutros Flancos

Ele também alertava, a partir de uma sólida formação nas teses espíritas e da experimentação prática em grupos familiares de espiritismo, sobre a pontual necessidade de vigilância permanente, a fim de evitar que os médiuns, por mais bem-intencionados e moralmente estruturados que fossem, não sucumbissem ante o “canto da sereia” das manifestações recheadas de aforismos e retóricas, cujo conteúdo seria discutível e enganoso, apesar da forma aparentemente construída para o engano dos distraídos ou pouco letrados em matéria espiritista.


Herculano

Assim, por toda a sua trajetória espírita, manteve inabalável zelo pela Doutrina dos Espíritos, e bradou contra qualquer um que, encarnado ou desencarnado, agisse em desacordo com os princípios kardecianos, independentemente do peso e da credibilidade que o agente tivesse no meio espírita.

Lembremos que Allan Kardec não se deixou seduzir nem pelas assinaturas de fama, nem pela bela plumagem, com contornos e coloridos, das mensagens que lhe chegaram às mãos ou que foram produzidas em sua presença.


À distância, no primeiro plano

O Codificador do Espiritismo não poderia estar ciente da fenomenologia ocorrida, e a ausência de médiuns videntes, quando da produção das páginas, seja espontâneas, seja por evocação, não permitia, igualmente, a delimitação da imagem perispiritual dos comunicantes. Somente em situações específicas, Kardec obteve a confirmação da identidade espiritual com recursos medianímicos. Em todas as outras, valeu-se da lógica, do bom senso e da técnica de exame e comparação, a fundo, para identificar os traços personalísticos das entidades espirituais que se manifestavam, assim como o conteúdo e a sua vinculação (ou não) aos princípios espiritistas.


Após a morte do pioneiro francês

O movimento que já havia mostrado sinais de dissensão e personalismos vários, tornou-se ainda mais difuso e pleno em rachaduras, decorrentes estas das intenções e dos objetivos pessoais, e muito distantes da união que se fazia necessária e constante, quando da coordenação efetiva de Rivail nas reuniões e assembleias, assim como na produção das edições de seus livros e dos volumes da Revue Spirite, a ponto de ser formada uma nova instituição.

Como os homens defendem seus próprios interesses, em pouco tempo a viúva e os colaboradores mais diretos e confiáveis de Kardec foram sendo alijados dos processos decisórios, e o legado genuinamente espírita, deixado pelo professor lionês, foi sendo, aos poucos, ameaçado e dilapidado.

De outro lado, os que buscavam, assim, a satisfação de suas teses e preferências, muitos dos quais adeptos de teorias totalmente contraditórias em relação ao edifício espírita, não recuaram e produziram, sob a inspiração dos cismas e das dissensões, um crime que deixa sequelas até os dias hodiernos: a introdução de alterações (adulterações) na obra mais científica da Doutrina Espírita, o livro “A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo”, capazes de estigmatizar a obra, por patrocinar a malfadada tese que havia, ao tempo de Kardec, sido defendida por um conterrâneo seu, de Bordéus, acerca da natureza fluídica do corpo (material) de Jesus de Nazaré: Jean-Baptiste Roustaing e a sua obra, confusa e perturbada, “Os quatro evangelhos”. Vale dizer, enquanto Kardec ouviu centenas de espíritos, com comunicações mediúnicas utilizando número similar de médiuns, insuspeitos, sob o apanágio do Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos (CUEE), Roustaing se valeu de um espírito e um médium, representando, de pronto e por si só, a anulação do próprio método de aferição das mensagens, ponto fundamental do processo de composição da doutrina.


Como este grupo que se adonou do chamado “Espiritismo”

Com a titularidade de direitos autorais sobre as obras e a continuidade da produção da Revue, torna-se necessário continuar investigando, como se fez em relação à quinta e conspurcada edição de “A Gênese”, para alcançar eventuais reedições ou republicações de todos os livros de Kardec, após o desencarne deste, ou seja, posteriores a março de 1869, sobre os volumes deste ano, de maio a dezembro, os quais não foram escritos ou editados pelo Codificador, assim como sobre “Obras Póstumas” (publicada em janeiro de 1890, 21 anos, quase, da morte de Rivail).

As pesquisas, os estudos comparativos, o exame de correspondências e documentos que, a partir de agora, estão em nossa posse, graças ao esforço de vários espíritas sinceros e o apoio logístico e instrumental da Fundação Espírita André Luiz (FEAL), que recentemente assumiu o acervo de Canuto de Abreu, o qual, por sua vez, recebeu dos espíritas franceses os documentos originais que foram resgatados e guardados, inclusive escapando da primeira guerra mundial, irá nos permitir o resgate da autenticidade do pensamento de Kardec e repelir, assim como se fez em relação à “A Gênese”, as inverdades, os acréscimos, as supressões e a violência contra o patrimônio intelectual e ético do Codificador.


Causa assombro que esta mesma mediunidade, tão aferida e tratada com acuidade por Kardec, continue a servir outros interesses em pleno século XXI.

Mas, também, não se trata de nenhuma novidade, porquanto ao desembarcar no Brasil, no início do século passado, por iniciativa de Telles de Menezes, que pouco conhecia e que não era um espírita, mas um religioso católico, o Espiritismo em terras tupiniquins tivesse, desde cedo, abandonado os critérios de avaliação das produções medianímicas, para considerar válida toda e qualquer mensagem “oriunda de Espíritos”, confiando e valorizando, tão-somente, o “peso” da assinatura aposta no texto, o “colorido” de caráter moral da mensagem ou a (aparente) confiabilidade e “doçura” do médium que a produziu.


Minimamente, os critérios de aferição destacados em “O livro dos médiuns” e “O que é o espiritismo”, assim como as sucessivas e complementares orientações apresentadas por Kardec em obras como “Viagem Espírita em 1862” e nos doze volumes da Revue, foram totalmente abandonados e descartados pela religião espírita brasileira, seus guias oficiais, seus médiuns intocáveis e seus seguidores entusiasmados.

O maior médium em atividade em nosso país, Divaldo Franco, acaba de produzir mensagem (colocada ao final deste artigo) em que pontua, sob a assinatura de um espírita de escol, cuja militância quando em vida (1874-1926) apresentou fatos e atividades bastante relevantes por cerca de 30 anos (1896-1926), em que se considera válida a aludida quinta edição de “A Gênese”, afirmando, entre alguns elementos de caráter histórico que não guardam relação direta com a trajetória do Codificador e a produção deste livro, que Kardec teria, ele mesmo, revisto o livro, descartado a teoria que havia abraçado até então (acerca da natureza material do corpo de Jesus de Nazaré, condição inafastável da grandeza da missão que desempenhou em vida e dos feitos que estão abordados em vários textos da Codificação, inclusive em “O Evangelho segundo o Espiritismo” e “O Céu e o Inferno”) para afirmar, surpreendentemente: “Cuidada com carinho e examinada zelosamente pelo seu autor, revista em alguns pontos necessitados de maior clareza e atualidade, após a publicação de 1868, antes de sua desencarnação, deixa ilibada a obra, que é verdadeiro relicário de conforto e de instruções perfeitamente compatíveis com as leis então conhecidas” (nossas as marcações).


Um elemento preliminar, no entanto, merece acurada apreciação de todo espírita sensato e estudioso. Seria, mesmo, uma produção mediúnica?

Ou seria uma manifestação anímica do citado orador? Isto porque já se conhece a posição da federativa nacional acerca da “autenticidade kardeciana” da quinta edição do livro em tela e, portanto, como há uma ligação direta entre o personagem e a entidade, poderíamos estar diante de uma mensagem produzida pela perspicácia do primeiro e seu conhecimento das situações materiais e institucionais, ainda que pudesse ter sido assistido (acompanhado) por inteligências invisíveis, ainda que estas não tivessem, de fato, assinado a missiva. Assunto, portanto, de política institucional e não de filosofia doutrinária. Algo como a defesa de uma posição que, sabe-se, está vinculada à mantença do status quo diante, inclusive, da publicidade da alteração do texto original de Kardec, por seus sucessores “doutrinários”.


Que alterações seriam essas

Objeto da “revisão” tratada pela entidade e assinada em conjunto com o médium? Não outras, senão, mais de CEM alterações, entre acréscimos e supressões, bastante significativas no que se refere ao conteúdo doutrinário. Ao examinar-se, em comparativo, as duas versões (a de Kardec, isto é, a que está idêntica na forma entre as primeira, segunda, terceira e quarta edições, e a que foi maciçamente difundida no Brasil, a quinta, de autoria não suficientemente clara, mas atribuída aos seguidores de Kardec, entre os quais, Pierre-Gaëtan Leymarie e Armand Thèodore Desliens), há a modificação de diversos conteúdos que haviam sido diligentemente tratados por Kardec em volumes distintos da Revue, os quais foram, pela pesquisa sistemática do Codificador, confirmados segundo os “critérios espíritas”, tornando-se, por assim dizer, integrantes do “corpo doutrinário espírita”, alguns, até, responsáveis pela produção, pela pena de Kardec, de alterações em suas obras tidas como fundamentais.

Tal não aconteceu com “A Gênese”, e a citada e “derradeira” edição, a quinta, contém passagens com erros, inclusive doutrinários, com a inserção de temas e abordagens inclusive de caráter supersticioso, exatamente o oposto da natureza do trabalho do professor francês.


Do conjunto de violências perpetradas em relação à obra genuína de Rivail, há alterações em TODOS os capítulos da obra e nos seguintes itens:

Capítulo I (itens 1, 2, 6, 9, 14, 16, 17, 18, 20, 24 a 26, 18, 29, 34, 36, 38, 42, 44 a 46, 52 a 54, 56, 59 e 60 a 62); Capítulo II (itens 2 a 8, 13, 14, 20, 22 a a 27, 29 e 32 a 34); Capítulo III (itens 2, 3, 5 a 10, 12, 13 a 15, e 17 a 24); Capítulo IV (itens 2, 3, 7 a 9, e 13 a 17); Capítulo V (itens 2, 10 a 12 e 14); Capítulo VI (itens 4, 5, 8 a 10, 15, 16, 19, 25, 17 a 30, 34, 38, 40, 47, 50, 51 e 58); Capítulo VII (itens 7, 10, 11, 18, 20, 21, 23, 25, 27, 28, 30, 31, 32, 36, 41, 44 a 47 e 49); Capítulo VIII (itens 2, 3 e 5 a 7); Capítulo IX (itens 2, 4, 5 a 8, 11, 13 e 15); Capítulo X (itens 2, 4, 5, 7 a 9, 11, 13, 15, 18, 22, 23, 25 a 27 e 30); Capítulo XI (itens 1, 2, 3, 5, 10, 11, 16, 18, 20, 21, 23, 25, 26, 29 a 31, 33, 34, 39, 41 a 43 e 45 a 49); Capítulo XII (itens 7 a 9, 12, 14 a 19, 21 e 23 a 25); Capítulo XIII (itens 1, 2, 3, 15, 16 e 19); Capítulo XIV (itens 1, 2, 4, 6, 9, 10, 12 a 15, 17 a 20, 22, 28, 29, 31, 34, 35, 38 e 46); Capítulo XV (itens 2, 4, 11, 15, 25, 28, 31, 34, 36, 40, 46, 47, 49, 52, 59, 62 e 67); Capítulo XVI (itens 4, 6 a 9, 11 e 15 a 17); Capítulo XVII (itens 2, 21, 30, 32, 34, 37, 41, 42, 46, 49, 54, 55, 59, 60 e 67); e, finalmente, Capítulo XVIII (itens 2, 5, 6, 8 a 12, 14, 17 a 19, 23, 26 a 30 e 35).

Entre tais conteúdos estão elementos fundamentais e principiológicos da Doutrina dos Espíritos, entre os quais os seguintes temas: revelação espírita (Capítulo I); Providência (Capítulo II); visão de Deus (Capítulo II); destruição dos seres vivos uns pelos outros (Capítulo III); doutrina dos anjos caídos e da origem da raça adâmica (Capítulo XI); teoria da presciência (Capítulo XVI); sinais dos tempos (Capítulo XVIII); e a nova geração (Capítulo XVIII).

Isto sem falar na deplorável supressão do item 20, do Capítulo XVIII, um dos mais importantes da Filosofia Espírita porque é o que enfoca o considerável papel do espiritismo na regeneração da Humanidade, item, aliás, também confirmado pelo critério da concordância dos ensinos dos espíritos, posto que incluso no volume de outubro de 1866, da Revue.

Ainda assim, encontramos trechos voltados à satisfação da incompreensível, inadequada e inoportuna tese de que o homem Jesus, considerado como um dos avatares, um dos guias e modelos para a Humanidade em marcha neste orbe, teria tido uma existência fictícia, semimaterial, sob a contextura de um “corpo fluídico”, ou seja, um agênere, tese, aliás, que não é nova e não é de exclusividade daquele advogado contemporâneo de Rivail, na obra já citada. Séculos e séculos foram marcados pela apresentação desta teoria, abjeta e detestável, sob todos os aspectos, estabelecendo que os sofrimentos de natureza física, ao lado dos de caráter moral, suportados pelo filho de José e Maria, nascido na Galileia, teriam sido uma encenação, similares aos verificados em inúmeras películas cinematográficas, com a simulação de ferimentos e mortes, já que se trata de personagens em histórias encenadas e gravadas.

Kardec, a esse respeito, no texto original (primeira à quarta edição de “A Gênese”), mais especificamente no Capítulo XV, que é o que versa sobre os milagres do Evangelho, em que, na parte final se discute sobre o “desaparecimento do corpo de Jesus”. Na obra publicada por Kardec, há os itens 64 a 68, enquanto naquela que é tida como a quinta edição, póstuma, temos os itens 64 a 67. O que ocorreu foi que os que são responsáveis por esta última edição (a quinta, adulterada) suprimiram o item 67, que inicia deste modo: “Em que se transformou o corpo carnal?” (tratando do corpo material de Jesus de Nazaré, portanto).


Os homens são consequência de suas épocas e estas, as épocas, produzem os homens conforme seus ideais e objetivos.

Na atual ambiência espírita são visualizados, claramente, dois tipos de grupos espíritas: o primeiro, majoritário, proeminente, escudado na existência de um circuito de instituições, locais, regionais e nacional, para quem, o Espiritismo é a “religião de Deus”, o “cristianismo redivivo”, possuindo um aspecto de identificação similar às religiões existentes, embora, dizem, desprovidas dos elementos caracterizadores das crenças, como a hierarquia, os dogmas e os sacramentos; e o outro, minoritário, difuso, até mesmo desorganizado, pela ausência de um “órgão central”, que militam buscando resgatar o pensamento original de Kardec, ante tantas incursões e acréscimos decorrentes das ideias pessoais de homens, médiuns e espíritos, sem a preocupação de observância e respeito aos postulados originais.

Os primeiros tudo admitem – ou, quase – dizendo que os Espíritos continuam (o que é certo) a se comunicar com a Humanidade por meio dos médiuns, mas não adotam qualquer elemento de aferição da verdade e da pertinência das comunicações, permitindo, assim, que inverdades sejam incorporadas ao cenário e aos “costumes” espíritas.

Os segundos são céticos, como Kardec o foi, e como Erasto nos recomendou, sugerindo fraternalmente que deixássemos de lado, até, uma ou outra verdade, mas que jamais aceitássemos como verdadeira qualquer afirmação mentirosa.


Vejamos que Kardec pontua

Na própria Introdução de “A Gênese” tal cuidado e tal mecanismo de aferição: “O Livro dos Espíritos só viu seu crédito se consolidar porque é a expressão de um pensamento coletivo geral. Em abril de 1867 completou o seu primeiro decênio. Nesse período, os princípios fundamentais, a partir dos quais sua base foi formada, foram sucessivamente completados e desenvolvidos em consequência do ensino progressivo dos Espíritos. Nenhum foi desmentido pela experiência. Todos, sem exceção, têm permanecido de pé, mais vivos do que nunca, enquanto todas as ideias contraditórias que tentaram lhe opor, nenhuma prevaleceu, precisamente porque em todas as partes se ensinava o contrário” (destacamos).

Não foi Allan Kardec que alterou “A Gênese” para desfigurar o princípio da existência física, material, de todos os Espíritos que encarnam. Inclusive Jesus de Nazaré. Até a quarta edição, considerando que da primeira até esta última, todas publicadas em vida por Rivail, não houve qualquer alteração – nem de forma nem de conteúdo – e estava, ali, grafada a TEORIA DA NATUREZA CORPORAL MATERIAL DE JESUS”, somente na quinta, póstuma, é que, dentre muitas alterações sobrepostas àquela edição, foi inclusa a tese – já rechaçada pelo Codificador quando em vida – de que Jesus teria um corpo fluídico ou semimaterial.

E Kardec, ainda, finaliza na citada Introdução:

“Os mesmos escrúpulos, tendo presidido à redação de nossas demais obras, permitindo-nos, com absoluta verdade, dizer segundo o Espiritismo, porque estamos seguros de sua conformidade com o ensino geral dos Espíritos. O mesmo ocorre com esta obra [“A Gênese”], que, por motivos semelhantes, podemos apresentar como complemento das anteriores, com exceção, porém de alguma teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado indicar como tais, e que devem ser consideradas como opiniões pessoais, até que sejam confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese essa responsabilidade sobre a doutrina” (sublinhados nossos).


Magistralmente

Assim, o Codificador reitera a natureza sistêmica da Doutrina dos Espíritos e a impossibilidade de, numa obra posterior, se ver descaracterizada a principiologia adotada na(s) anterior(es), o que confere ao contexto de todas as obras editadas por Kardec como “de conformidade com o ensino geral dos Espíritos”, conforme ele mesmo no-lo disse. Não há, nos trechos contidos na quinta edição, e que são contraditórios e conflitantes tanto com a quarta edição, quanto com o conteúdo das demais obras que têm a assinatura deste luminar homem, qualquer afirmação quanto à natureza hipotética em relação à introdução da tese do corpo fluídico (na quinta edição, póstuma) e, em assim sendo, a aposição destas afirmações, pela dissensão em relação aos demais textos e ao conjunto de informações sobre a natureza do corpo material de Jesus, assim como os princípios correlacionados aos elementos do Universo (Deus, Espírito e Matéria) deve ser, de pronto, invalidada e combatida. O “corpo doutrinário espírita” assim, prospera em relação às adulterações que foram, infelizmente, introduzidas em 1872.

Poderia, uma vez mais, o tribuno-médium ter ficado silente, diante de polêmica injustificável. Soa a hora dolorosa, cantou o galo três vezes e ainda há os que preferem negar, a afirmar as verdades espirituais e espíritas. Que prossigamos na defesa do legado kardeciano e que as novas gerações recebam um “Espiritismo pacificado”, de vozes “segundo o Espiritismo” e não a algaravia das dissonâncias produzidas por homens ainda afetos e afeitos às suas próprias conformidades e interesses particulares!

 

A MENSAGEM

A GÊNESE
O LIVRO DA SABEDORIA
Vianna de Carvalho (Espírito)


Em todas as épocas da Humanidade, celebrizaram-se as tradições provindas do mundo espiritual, que posteriormente foram transformadas em fontes vivas de inspiração, qual ocorre com os livros famosos.

Desde os rolos de papiros às tabuinhas, aos tijolos de barro e pedaços de madeira, bem como às paredes de cavernas, gravaram-se os acontecimentos e as experiências vividas que se transformaram em páginas da fé religiosa, da ética, da guerra, da beleza, ao mesmo tempo portadores de sabedoria, conforme o pensamento da época…

Fizeram-se verdadeiros guias para o aformoseamento e a história das culturas dos povos e nações, algumas das quais hoje desaparecidas ou que sobrevivem sob outras condições.

Na Índia, o Vedanta e outros narram as sagas heroicas dos deuses e dos homens que construíram o mundo e o país.

No Egito, O livro dos mortos é repositório de revelações a respeito da imortalidade e dos deveres que são impostos aos homens para a vida espiritual.

Na Grécia, os diálogos de Platão e a Odisseia revelam princípios éticos dos mais significativos.

Em Israel, o Velho Testamento, depois a inclusão do Novo, que se apresentam como incomparáveis modelos de histórias e narrações lendárias.

Na Pérsia, o Zoroastrismo apresenta o Zend Avesta como a primeira revelação do monoteísmo ético.

O Corão procura renovar o pensamento cristão através de Mohamed e sucedem-se, através dos tempos e especialmente na Idade Média, obras de incomparável beleza, que servem até hoje de condutores das criaturas humanas.

Santo Agostinho, anteriormente, escreveu as suas Confissões, Dante Alighieri a sua Divina comédia, também surgindo o Imitação de Cristo, os Florilégios, de São Francisco, a Minha vida, de Santa Tereza…

Mesmo na atualidade, apesar das técnicas em que se apresenta, permanece o livro como o amigo mantenedor da criatura humana nos mais diferentes acontecimentos existenciais.

Suas páginas, memórias inapagáveis da época em que foram narradas, permanecem convidando ao conhecimento e ao aprofundamento da cultura nos mais diferentes ramos do pensamento.

O livro é o instrumento silencioso e discreto que fala quando consultado e cala-se, aguardando outro momento.

Uma civilização feliz é aquela que se permite a educação dos hábitos e costumes, traçando uma trajetória de beleza e de progresso, que o livro nobre proporciona.

Sempre atual, a sua mensagem vibra e motiva todos aqueles que lhe recorrem ao auxílio.

O Espiritismo não poderia desconsiderar tão formidável instrumento para a divulgação dos postulados da imortalidade.

Desde o início das informações e esclarecimentos luminosos oferecidos pela fenomenologia mediúnica, culmina a sua contribuição científica, moral e intelectual com a publicação de A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo.

O Codificador encontrava-se amadurecido pelas experiências e pesquisas, sentindo a necessidade de abordar palpitantes temas da cultura terrestre.

A Teologia havia dominado as mentes baseada em formulações filosóficas de homens e mulheres notáveis, seja no Catolicismo ou no Protestantismo, mas não conseguiu diminuir os conflitos existenciais e espirituais que dominavam a Humanidade. Multiplicavam-se desaires e correntes de pensamento díspares, quase todos firmados nas expressões do materialismo, tornando as dúvidas e os sofismas as armas culturais para aumentar a descrença que se assenhoreava das mentes humanas.

A lógica e a razão, no entanto, apresentavam-se nos laboratórios da investigação da mediunidade e a revelação clara, sem artifícios, ressumava de cada fato novo.

Nesse clima de afervorados debates, surgiu O livro dos espíritos, e logo sucederam-se as demais obras da Codificação Espírita com a sua força de bronze, eliminando as superstições vigentes, especialmente nas religiões, apoiando as conquistas da ciência, ao tempo em que propõem a investigação para o multimilenar quesito da imortalidade do ser e das suas experiências multifárias mediante a reencarnação.

Os pseudocientistas de ocasião, sem experiência de laboratório nem exame dos novos acontecimentos, dão-lhe as costas e zombam, utilizando-se do velho comportamento do desprezo por falta de argumentação capaz de enfrentar a razão face a face.

Outros, mais apaixonados, apelam para caducas teses de demonização, o que ainda mais confirma a imortalidade, e pensam atacar os idealistas por ausência de conhecimentos para rebater as ideias superiores em torno da vida e da sua excelência.

Os velhos tabus dominantes são vencidos pelo bom senso de Allan Kardec e pelas elucidações espirituais dos Mentores da Humanidade. A ética do Evangelho, sem dúvida a mais honorável, por dignificar o ser humano, é apresentada por modelo de conduta para todos os que sofrem, para quantos anelam por explicações libertadoras da ignorância, instalando-se o período espírita na cultura hodierna.

Outros complexos desafios, no entanto, permaneciam sob suspeita e descréditos quando o mestre de Lyon publicou A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo, referindo-se aos milagres de Jesus, às origens do Universo, aos dias da Criação, às leis dos fluidos, assim como ao futuro do planeta.

Cuidada com carinho e examinada zelosamente pelo seu autor, revista em alguns pontos necessitados de maior clareza e atualidade, 
após a publicação de 1868, antes da sua desencarnação, deixa ilibada a obra, que é verdadeiro relicário de conforto e de instruções
perfeitamente compatíveis com as leis então conhecidas
.

Cento e cinquenta anos após, ainda permanece como um manancial de bênçãos, orientando as multidões que se lhe abeiram e lhe penetram as inexauríveis nascentes.

Quando os sofrimentos de vária origem esmagam a sociedade contemporânea, essa obra de raro esplendor dá cumprimento à determinação de Jesus sobre o Consolador e proporciona a certeza inabalável sobre a indestrutibilidade da vida e da sua fatalidade na conquista da plenitude.

 

 

Fonte: https://www.comkardec.net/que-seja-segundo-o-espiritismo

 

(*)

Marcelo Henrique Pereira, Mestre em Ciência Jurídica, Presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina e Delegado da Confederação Espírita Pan-Americana para a Grande Florianópolis (SC)




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