Nos meios administrativos, é muito comum falar-se em oportunidades.
Na esfera pública ou na iniciativa privada, os termos “estágio”,
“aprendiz” e “primeiro emprego” são
caracteres da disponibilização de espaços para
quem está iniciando uma carreira profissional.
Transmudando-se o tema para a atividade espírita organizada,
podemos visualizar a execução de tarefas, em níveis
iniciais, por pessoas que estejam iniciando o seu processo de aprendizado
e/ou desenvolvimento. Como nem todos são “espíritas
de berço”, “de família”, grande parte
dos freqüentadores das reuniões públicas vai se
ambientando, aos poucos, com a dinâmica dos trabalhos, sendo
convidado ou buscando participar, por iniciativa própria de
determinadas reuniões, específicas e privativas. Geralmente,
então, os espíritas “mais experientes” funcionam
como tutores, orientadores ou monitores dos neófitos, os quais,
na esteira do tempo, vão assumindo, pouco a pouco, determinadas
funções, com base em suas capacidades e habilidades.
Em relação aos adultos, o processo é natural
e vem atingindo bons resultados nas instituições. Todavia,
o objetivo deste artigo é justamente o de enfocar a assunção
de tarefas por parte dos mais jovens, geralmente aqueles até
menores de idade, freqüentadores das juventudes e/ou mocidades.
A estes, a atenção dos dirigentes espíritas deve
ser mais ampla e cuidadosa. Afinal, via de regra, os jovens de hoje,
cedo ou tarde, substituirão os mais velhos, seja por competência
e dedicação, seja pela substituição natural
destes últimos, de vez que “ninguém fica para
semente”.
Há alguns anos, procuramos seguir à risca o exemplo
dado por determinados companheiros, líderes espíritas
de ontem, que sabiam valorizar e aproveitar o impulso e a energia
juvenil, catalisando-o para o desenvolvimento de grupos e tarefas.
Lembro-me, claramente, de ações específicas como:
autorização para funcionamento de juventude; iniciação
na tarefa expositiva; designação para realização
de atividades de evangelização; organização
e supervisão de biblioteca; confecção e coordenação
de mural de divulgação da casa; e, finalmente, recepção
de novos freqüentadores, realizando uma pequena triagem, encaminhando-os
para as atividades desejadas. Todas estas atividades realizamos, por
apoio incondicional dos experientes e lúcidos dirigentes de
nosso tempo. O aprendizado, nestes casos, foi fantástico, calcado
em três premissas fundamentais: 1) a liberdade de fazer; 2)
a confiança nas pessoas, até prova em contrário;
e, 3) o acompanhamento (próximo e direto), mas sem ofuscar
ou sufocar o brilho e a iniciativa dos jovens.
Com relação às oportunidades acima descritas,
gostaríamos de destacar uma delas: a formação
do jovem expositor. Em nosso caso particular, o processo de ensino-aprendizagem
foi completo, iniciando, no próprio grupo de estudo sistematizado,
com pequenas “palestras” de 10 ou 15 minutos. Assim ocorreu,
por alguns meses (não mais que quatro), já que as reuniões
eram semanais, até que, por convite do coordenador, fomos levados
a uma, depois mais três casas espíritas, para uma “exposição
em dupla”, calcada na seguinte sistemática: após
a apresentação pelo dirigente da casa do expositor principal,
este assume a palavra e explica, sucintamente, a atividade da noite,
introduzindo o jovem e o tema. Este, no tempo que for possível
(geralmente, os mesmos 10 ou 15 minutos do grupo de estudos), cumpre
sua tarefa e devolve a palavra ao primeiro, para a complementação,
o arremate e as considerações finais, agradecendo a
oportunidade e devolvendo a fala ao presidente da reunião.
Em verdade, o nervosismo dos primeiros dias, a falta de experiência
(que só advém com o tempo e com a freqüência
dos trabalhos) e a (possível) reação do público
ante um “palestrante” com pouca prática –
já que foi ao centro para presenciar a fala de alguém
“que sabe mais” – são superadas pelo apoio
e pelo carinho de quem tem a sensibilidade de perceber que os grandes
(de qualquer área) já foram pequenos, um dia. Recordamo-nos,
assim, dos inúmeros sorrisos, dos cumprimentos sinceros, ao
final da palestra, dos votos de incentivo e do reconhecimento de que,
ainda muito jovens, teríamos um “grande futuro pela frente”.
Hoje, em nossa casa, procuramos fazer o mesmo. Além de envolver,
sobremaneira, os jovens (desde a pré-juventude, ou seja, 11
anos de idade) em tarefas maiores, co-participando da própria
gestão da instituição, oportunizamos
talentos, repetindo a feliz iniciativa que nos levou à
trilha de exposições doutrinárias em diversas
cidades do Estado de Santa Catarina e fora dele. Agora, que nos preparamos
para nossa primeira incursão internacional, em nome do Espiritismo,
em conferência na vizinha Argentina, olhando para trás,
percebemos o quão importante foram os primeiros passos, o ombro
amigo dos primeiros dias, e a circunstância de ter encontrado
algumas pessoas fundamentais, que acreditaram em nossos potenciais.
E, num gesto de gratidão e reconhecimento, fazemos o mesmo
com vários dos nossos jovens, que precisam da “primeira
chance”, em duplas, ou individualmente, falando com o coração,
para o espírito de quem esteja na palestra. Amanhã,
com certeza, estes queridos companheiros, por sua vez, estarão
levando adiante esta iniciativa, abrindo portas para outros, na expressão
da confiança e do carinho que devem marcar nossas atividades
espíritas.
Que tal, também, você que lê este ensaio, sugerir
ou implementar, em sua seara, este processo? Só depende da
sua boa-vontade!