Nos últimos tempos tem-se acirrado a discussão entre
a adjetivação do Espiritismo como religião ou
não. No cerne do debate, figura a conotação
moral dos ensinos espíritas, e sua aplicabilidade prática
à conduta e ao comportamento dos indivíduos (espíritos),
que corresponde à idéia de uma ética espírita.
Religião, na acepção comum e tradicional, o Espiritismo,
convenhamos, não o é, de vez que não possui os
elementos formais que a caracterizam: culto, rituais, imagens, sacramentos,
dogmas e práticas religiosas, e organização hierarárquica.
Na pauta de nossas considerações, existem os chamados
princípios fundamentais do espiritismo: existência de
Deus, imortalidade da alma, reencarnação, pluralidade
dos mundos habitados, comunicabilidade entre os espíritos (mundo
material e mundo espiritual) e evolução. A diferença
de enquadramento destes (como dogmas ou leis) é exatamente
o mote deste artigo. Temos visto a absoluta passividade da grande
maioria dos espíritas, que não estuda e nem se interessa
na promoção do estudo sério e complementar do
trabalho dos Espíritos Superiores, assinado como "Codificação
Espírita". É bem verdade que existem vários
grupos renomados e conceituados, pelo Brasil afora, que excepcionam
a regra acima destacada. Mas, em linhas gerais, os grupos "de
estudo" das casas espíritas (independente da nomenclatura
que ostentem), visam, tão-somente, reproduzir o saber adquirido,
ou seja, repetir (à exaustão, ou, também, nem
tanto), as idéias contidas nos livros fundamentais da Doutrina
Espírita. Decora-se, repete-se, reproduz-se o que Kardec e
a Falange da Verdade tenham "revelado", deixando de promover
o desenvolvimento das idéias espíritas, em face do próprio
processo evolutivo (individual e coletivo) do planeta. Muitos, até,
pasmem, aguardam que novos espíritos "reveladores"
(e, somente eles) venham, se for o caso, acrescentar novos pontos,
necessários em função da modificação
dos temas de interesse da Humanidade (considerando, é claro,
a limitação do Prof. Rivail em função
do contexto histórico-social da Europa do século XIX,
o qual, claramente, é bem distinto dos "ares do século
XXI").
Em termos de Reencarnação, a história não
é nem um pouco diferente. Os espíritas "de carteirinha"
(e os que vão a reboque destes, também, abdicando do
direito-dever de estudar, pensar e construir seu próprio raciocínio
lógico), acabam tratando os principais temas como "artigos
de fé". Então, diz-se, comumente: "Eu sou
espírita; eu creio na reencarnação". Melhor,
no entanto, e mais apropriado, seria dizer: "Eu sou espírita,
e tenho certeza que a reencarnação existe!".
Por que certeza? Pelas evidências que estão ao nosso
derredor, e que saltam aos nossos olhos: 1) somente a reencarnação
pode explicar a origem da diversidade entre os espíritos -
e, em conseqüência, por que uns têm oportunidades
tão distintas em relação a outros; 2) a existência
de fenômenos (espontâneos ou artificialmente provocados),
como a regressão de memória, a terapia de vidas passadas
e o "déjà-vu" (a impressão de já
ter visto ou experimentado algo antes), demonstram a existência
de uma memória espiritual, pretérita, somente possível
em face das múltiplas existências; 3) a formação
e o desenvolvimento de nossa "inteligência espiritual",
não é obra de uma única vida, de vez que, seja
em relação aos gênios (que, desde tenra idade,
demonstram capacidades e habilidades inatas), seja em relação
ao homem comum, médio, todos nós resgatamos o aprendizado
de vivências anteriores, para continuá-lo, complementá-lo
ou aplicá-lo na atual encarnação). Assim, é
comum ver-mos que nossa "tendência" para esta ou aquela
área do conhecimento, estudo ou profissão, não
é uma escolha casual, mas uma decorrência de nossa afinidade
com tal matéria, egressa de outras existências.
O que nos falta, sinceramente, é tomar coragem e empreender
pesquisas e experimentos científicos sérios, nas principais
universidades, laboratórios e instituições análogas
deste país, para a formatação de teses que possam
ser demonstradas segundo critérios específicos, particulares
a uma "nova" ciência, a Ciência do Espírito.
Adotando, assim, objetivos, método e metodologia próprios
de uma ciência distinta das demais existentes (materiais), poderá
o Espiritismo adentrar ao ramo do conhecimento comum da Humanidade,
deixando de ser mera crença ou razão ideológica
com ligação religiosa.
Com isto, verdadeiramente, trataremos de desmistificar o Espiritismo,
cunhando-o com caracteres de respeitabilidade, permitindo sua divulgação
a todos aqueles que se sintam sensibilizados - pelo despertamento
de suas inteligências - em relação às teses
espíritas.
Se é comum, nas Instituições Espíritas,
rever, relembrar e acentuar certas "passagens evangélicas",
permita o leitor que usemos do mesmo artifício, em relação
à teoria filosófica espírita (e sua comprovação
prática, por meio de evidências científicas),
para asseverar: "veja quem tem olhos de ver, e ouça quem
tem ouvidos de ouvir".
Isto, é claro, não com olhos "religiosos",
mas, sim, filosófico-práticos, transformando a fé
espírita em certeza espírita.