Ainda que a
atividade de comunicação social espírita remonte
à publicação, por Rivail (Allan Kardec) da “Revue
Spirite” (Revista Espírita), de
1857 a 1869 – levando-se em conta que, a partir do seu desencarne
(março/1869) foram alguns espíritas próximos
de Kardec quem levaram o periódico até a última
edição, dezembro daquele mesmo ano, a organização
dos comunicadores, divulgadores e difusores da mensagem espírita
só se deu em 1976, com a fundação sob a direção
de Deolindo Amorim, da Associação Brasileira de Jornalistas
e Escritores Espíritas (ABRAJEE). Deolindo e José Herculano
Pires (este até 1979, quando voltou ao Mundo Espiritual) foram
os principais expoentes da atividade jornalística espírita,
notadamente. Os alicerces desta importante atividade permitiram não
só o surgimento de inúmeros veículos comunicativos
– que se expandiram (quase) ao infinito com as facilidades cibernéticas
– como a discussão e a maturação de temas
de indizível importância para o movimento espírita
e, por extensão, à própria Sociedade.
A ABRAJEE era uma instituição formada por pessoas físicas,
isto é, homens e mulheres que exercitavam a arte de escrever,
seja em periódicos impressos seja em brochuras e livros. Daí
o nome “jornalistas” e “escritores”, ambos
espíritas. Vale dizer, ainda, que a categorização
profissional como jornalista era o diferencial para
a identidade destes comunicadores, bem distante da polêmica
da exigência do diploma universitário, posto que a credencial
era apenas o registro profissional. Já para o quesito escritor
não havia a necessidade da qualificação trabalhista
bastando que o interessado em fazer parte da entidade pioneira demonstrasse
sua incursão no mundo das letras, juntando cópia de
exemplares onde um ou mais textos de sua autoria houvessem sido veiculados.
O mais importante, neste cenário, era a afirmação
como espírita, isto é, o descortino de temas
com a visão espírita, no livre exercício do pensar
e do escrever, à luz do Espiritismo. Atuei como inscrito na
ABRAJEE entre 1990 e 1995, colaborando diretamente na edição
de um periódico (Revista “Perfil”)
em Florianópolis (SC). Mas a ABRAJEE enquanto entidade “formal”
ia desaparecendo pouco a pouco, muito pela condição
de velhice e de desencarne dos que nela militavam e pela ausência
de espírito de liderança para promover encontros periódicos
de discussão de temas afetos à Comunicação
Social Espírita.
Em 1995, no entanto, este cenário se alterou significativamente.
Na verdade, um pouco antes. Com a participação significativa
de Ildefonso do Espírito Santo, médico e divulgador
do Espiritismo, na condução do elo de união entre
os espíritas militantes na comunicação, vários
deles passaram a trocar correspondência, reunirem-se periodicamente,
até que nesta data (15 de janeiro) era fundada a Associação
Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) que teve o fluminense
Wilson Longobucco, como primeiro presidente e Marcus Vinícius
Ferraz Pacheco, de Pernambuco, como secretário. Os contatos
iniciais de Ildefonso geraram frutos e a dinâmica empreendida
por Vinícius e Wilson logrou êxito: em pouco tempo havia
associações locais (estaduais e distrital) espalhadas
pelos quatro cantos do país, cognominadas como ADEs (Associações
de Divulgadores Espíritas). Vale dizer que hoje, além
destas entidades também existem ADEs municipais. Aí
estava consagrada a principal diferença entre a pioneira ABRAJEE
e a contemporânea ABRADE: enquanto a primeira congregava pessoas,
isolada e individualmente, na condição de “delegados”,
a segunda buscou formar, localmente, grupos de pessoas interessadas
na comunicação/divulgação espírita,
congregando-as em uma associação local e a reunião
destas, com seus representantes e colaboradores, formou a ABRADE.
Não é, portanto, a ABRADE quem deve “aglutinar”
os espíritas, individualmente, muito embora em momentos de
sua história – que alcança o décimo nono
ano – elas, as pessoas, estivessem em grande número e
em inúmeras atividades, vale lembrar, por exemplo, os dois
Congressos Brasileiros (COMBRADEs) realizados pela instituição
e a manutenção de quase duas dezenas de listas virtuais
espíritas, em plataformas específicas, para contato,
diálogo e debates. Foi a época do “boom”
das listas de e-mails, as quais, hoje, só funcionam com poucas
pessoas e para objetivos muito específicos, como é o
caso da lista que reúne, na Abrade, os representantes das entidades
filiadas de todo o Brasil, para a discussão e decisão
sobre os rumos e atividades institucionais. Depois vieram outras plataformas
comunicativas, sendo que atualmente aquela que está em evidência
é o FACEBOOK, permitindo uma interação instantânea
e a maior eficácia da própria comunicação
espírita e da difusão doutrinária. O endereço,
a propósito, da Abrade nesta mídia é (www.facebook.com/abrade.espiritismo).
Em meados da década passada, a Abrade consolidou um novo modelo
administrativo, deixando o antigo presidencialismo e adotando a gestão
colegiada, eliminando a função de presidente e compondo
um Colegiado Executivo, que hoje possui três funções
essenciais: assessor administrativo, assessor financeiro e secretário
executivo. Acima do colegiado, como órgão máximo
deliberativo está o Conselho Nacional dos Divulgadores Espíritas
(CNDE) que é formado por um representante de cada uma das entidades
filiadas. Democrática, plural e participativamente a Abrade
apresenta a sua proposta de organização institucional
para que possa inspirar outras entidades espíritas a buscarem
um maior dinamismo e igualdade entre as pessoas que as integram.
Merece destaque, também, a cooperação e parceria
que a ABRADE há algumas décadas mantém com o
movimento espírita federativo nacional e com a Federação
Espírita Brasileira (FEB). Pioneira como entidade espírita
especializada a colaborar com a FEB e a participar das reuniões
do Conselho Federativo Nacional (CFN-FEB), que congrega as vinte e
sete entidades estaduais e distrital que atuam unificadamente, a Abrade
tem sido responsável pela sugestão de atividades para
a FEB e para o próprio conjunto das especializadas, inicialmente
denominado de Fórum das Entidades Especializadas Espíritas
de Âmbito Nacional e que, recentemente (2013) foram transformadas
em Conselho Nacional das Entidades Especializadas Espíritas
(CNE-FEB), para atuar de forma oficial junto ao movimento. Também
a existência de quatro Comissões Temáticas (nas
áreas de Direito e Acompanhamento Legislativo, Saúde
e Espiritualidade, Educação, e Comunicação),
permitindo a discussão dos temas afetos a cada uma delas e
que interessam à comunidade espírita e a formulação
de diretrizes de ação a serem disponibilizadas para
todo o movimento espírita, bem como ações específicas
e efetivas para a difusão do pensamento espiritista no seio
social.
Considerando-se as diversificadas competências e habilidades
do “time abradeano” que é formado por pessoas que
atuam nas ADEs e outras, experientes em ramos comunicativos, mas que
não possuem vínculo associativo com estas últimas,
mas, apenas e verdadeiramente, o “espírito comunicativo”
que tanto interessa à Abrade, a entidade tem se colocado à
disposição das instituições espíritas
para o desenvolvimento de variada gama de instrumentos comunicativos,
a saber:
1) Formação de Palestrantes
e Divulgadores Orais do Espiritismo, seja para a apresentação
de ferramentas e técnicas de comunicação e oratória,
seja para a difusão dos princípios espiritistas;
2) Idealização e execução de periódicos
(impressos ou eletrônicos), compreendendo as diversas fases
da produção de mídia (projeto, diagramação,
montagem, escolha de textos, estilos literários e jornalísticos,
citações e apresentação – arte final);
3) Desenvolvimento de projetos comunicativos para o Rádio e
a TV, assim como seus correspondentes em ambiência virtual (WEB-TV
e WEB-Rádio);
4) Formatação de painéis, murais e espaços
de divulgação interna, nas entidades espíritas;
5)) Assessoria comunicativa para a atuação junto aos
públicos interno e externo, com ênfase, também,
para a mídia leiga;
6) Apoio na Produção de releases sobre matérias
e eventos espíritas;
7) Programação de eventos para debater a comunicação
social e a divulgação do espiritismo e assessoramento
para a realização de eventos gerais de debate e apresentação
de temas espiritistas;
8) Apoio na utilização de recursos audiovisuais na ambiência
espírita ou em eventos externos, otimizando recursos e aperfeiçoando
talentos;
9) Colaboração na área cinematográfica,
para a produção de filmes e outros produtos audiovisuais;
e,
10) Editoração de livros espíritas.
O rol não é exaustivo nem definitivo e a demanda por
produtos ou serviços comunicativos tem sido a tônica
para que pessoas ou instituições procurem o assessoramento
da Abrade, que é voluntário e colaborativo. O desenvolvimento
de projetos específicos parte das iniciativas locais e delas
deve prover os recursos necessários à sua materialização,
tanto humanos, quanto financeiros e de material.
A Abrade, por isto, coloca o seu “time” de especialistas
(em diferentes mídias e atividades voltadas à comunicação
social espírita) ao dispor do movimento espírita. Ela,
fora do seu ambiente institucional, só pode atuar quando efetivamente
solicitada, cabendo ao interessado contatar a entidade, expondo suas
necessidades e objetivos e/ou problemas e dificuldades, bem como suas
intenções e interesses, para que possa ser colocado
em contato direto com os colaboradores-especialistas, propiciando
o alcance de resultados positivos e efetivos, no menor lapso de tempo
possível.
A Abrade prossegue reunindo talentos. A parábola oportuna que
é atribuída a Jesus de Nazaré, neste particular,
não se resume a tratar de bens materiais ou recursos financeiros.
Muito pelo contrário. Trata, igualmente, dos talentos humanos,
a quem o Mestre Jesus nos pergunta: - que fizeste dos talentos que
Deus te confiou?
Marcelo Henrique Pereira, Doutorando
em Direito, Secretário Executivo da ABRADE, presidente do Centro
Cultural Espírita Herculano Pires, São José (SC).