Inegável o interesse pela imprensa leiga por questões
espirituais. As principais revistas de circulação nacional,
sobretudo as duas com maior tiragem e penetração (Veja
e IstoÉ), tem, volta e meia, se debruçado sobre temas
de indizível relação com a espiritualidade –
característica, aliás, peculiar à espécie
humana, afinal, todos somos espíritos, independentemente de
nossas crenças pessoais, sobretudo, se, ainda, negamos certas
realidades, por desconhecê-las. Costumo dizer, em palestras,
que muitos “sentem ojeriza e renegam até o fim, certas
questões”, mas, quando desencarnam e despertam no Plano
Espiritual, “sentem na pele a emoção” de
continuarem vivos, de manterem relações com os que ficaram
(“vivos”) e precisarão se preparar adequadamente
para o “retorno” (a reencarnação), cedo
ou tarde. É possível que, portanto, ao desembarcarem
no porto seguro da espiritualidade, tornem-se, lá, novamente,
“espíritas”, ou seja, não possam mais negar
aquilo que, durante a vida, se esmeraram em duvidar e repelir.
A revista do momento é a IstoÉ, em
sua edição de n. 1942, datada de 17 de janeiro de 2007.
Sua capa é, textualmente: “Crianças que
falam com espíritos – Mediunidade Infantil”,
com as seguintes descrições complementares: “Crescem
os relatos de meninos e meninas que conversam com os mortos. E atenção:
isso pode ser mais do que simples fantasia”, e “Paloma,
cinco anos, diz que se comunica com entidades espirituais: - Elas
vêm brincar comigo”. No interior do periódico,
seis páginas (38 a 43), com textos pontuais e imagens, sugestivas
ou casuais, com direito, inclusive à menção,
em quadro específico, a médiuns do passado e do presente,
com destaque para Chico Xavier, Yvonne Pereira e Divaldo Pereira Franco,
além dos espiritualistas Robério de Ogum e Benedicta
Gomes, a “Santa” Dica. No texto, assinado pelos repórteres
Camilo Vannuchi e Celina Côrtes, podemos perceber que a editoria
do veículo de comunicação “cercou-se”
de informações de fontes respeitáveis, tanto
no âmbito espírita como de especialistas clínicos,
como, por exemplo, pela ordem, Reinaldo Hiraoka, das Faculdades Integradas
“Espírita”, de Curitiba (PR), Agnes Henriques Leal
e Nazareno Tourinho, escritores espíritas (autores de, respectivamente,
Mediunidade em crianças e Experiências mediúnicas
com crianças e adolescentes), Sergio Felipe de Oliveira, da
Associação Médico-Espírita de São
Paulo, como, Ana Maria Sigal, psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae,
Leonardo Posternak e César de Moraes, ambos médicos,
um, pediatra, do Instituto da Família, e o outro, neurologista,
da Associação Brasileira de Neurologia e Pediatria Infantil,
e Athena A. Drewes, psicóloga infantil, consultora da Parapsychology
Foundation, de Nova Iorque.
Foi-se o tempo em que os meios de comunicação “economizavam”
na busca e consulta a fontes, seja por falta de tempo ou ausência
de recursos para viagens, etc., se bem que a vida moderna tem, é
verdade, facilitado um pouco as coisas. Os jornalistas, em geral,
apesar de suas crenças pessoais e cultura geral própria,
tem procurado dar às matérias – sobretudo as que
temos apreciado – um teor contributivo à informação
necessária às pessoas, e, costumeiramente, deixa ao
leitor a oportunidade de tirar “suas próprias conclusões”.
Com a matéria em comento, não é diferente.
Abro um parênteses para dizer que, aqui ou ali, certamente,
surgirão dados espíritas que irão “torcer
o nariz” para a reportagem, e, mais à frente, aparecerão
aqueles que, com pinça e lupa, irão encontrar uma ou
outra “inverdade” ou “atentado” à “pureza
doutrinária”. Tanto pelas colocações jornalísticas,
algumas opinativas ou conclusivamente pessoais, quanto pelas citações
ou paráfrases de depoimentos ou comentários dos especialistas
espíritas consultados. Esta gente, que assim procede, sinceramente,
de minha parte, não merece nenhum crédito. Estou, verdadeiramente,
farto dos chamados “guardiães do espiritismo”,
“leões de chácara” que estão ali,
à espreita, prontos para avançar ferozmente sobre suas
“presas”, como a apontar todos os dedos para os “defeitos”
dos outros (ou, como assaz acontece, para aquilo que “julgam”
ser defeitos ou falhas), e, em sua imensa maioria, não prestam
qualquer outro serviço relevante à disseminação
das idéias espíritas na Sociedade. Portanto, para que
não fiquemos, aqui, tergiversando sobre assuntos paralelos,
deixemos estes companheiros de lado.
Voltando ao tema principal – a divulgação
das idéias espíritas para o público leigo, através
de poderosos veículos de comunicação –
devemos, sinceramente, valorizar este momento. Com a revista, assim
como as novelas – ou, ainda, os filmes de cinema – o relevante
é que o assunto “está no ar”, motivando
leituras, comentários, conversas e, por que não, discussões
acaloradas, quando, em essência, sempre surgem os que (apaixonadamente)
defendem ou contrariam certas idéias. Tenho certeza de que,
de norte a sul deste país, a partir do “mote” sugerido
pela reportagem de capa da IstoÉ, aparecerão pessoas
que dirão: - Isto também aconteceu comigo (ou, com meu
filho, sobrinho, neto, o filho da vizinha, etc.). Eu vi com meus próprios
olhos. O “fulano” realmente dizia que falava com “amiguinhos”
(para nós) invisíveis.
E, como em todo contato interpessoal, no “calor” dos diálogos,
haverão os que se manifestarão de modo concorde à
existência de Espíritos, ao “retorno” dos
“mortos”, às relações travadas entre
encarnados e desencarnados, a influência destes últimos
nos acontecimentos da vida, e os que afirmarão tratar-se de
fantasia, imaginação fértil e continuação
de enredos de livros, filmes, ou coisas do gênero.
Da reportagem, pinço, outrossim, algumas considerações
muito válidas e oportunas:
a) a mediunidade, em caráter espontâneo, é circunstância
comum na infância, em face, principalmente, da proximidade (temporal)
do espírito encarnado com o período em que esteve no
Plano Espiritual, preparando-se para o (novo) regresso, e, portanto,
possui, como que uma “maior sensibilidade”, estando, muitas
vezes, mais do “lado de lá” do que “do de
cá”;
b) a referência ao inesquecível Chico Xavier, que teve
desabrochada sua mediunidade a partir dos cinco anos de idade, serve
como parâmetro para inúmeros casos da atualidade, em
que crianças vêem e conversam constantemente com pessoas
próximas ou familiares (conhecidos dela ou não, nesta
vida), e a relação que se trava é de caráter
valorativo positivo, seja porque os entes queridos só desejam
“proteger”, “amparar”, ou, até, “matar
saudades”, seja em função de que muitos, na espiritualidade,
recebem a incumbência de atuar como espíritos protetores
daqueles que se encontram vivendo na matéria. Ainda assim,
com a mediunidade é uma faculdade espiritual (todos a possuímos),
o exercício mediúnico irá determinar a tendência
para esta ou aquela “habilidade” mediúnica (psicografia,
vidência, audiência, intuição, clarividência,
incorporação, atendimento e assistência, etc.),
a qual, se educada e orientada, poderá resultar em visíveis
benefícios espirituais (tanto para o médium, pelo exercício
correto da tarefa, quanto por parte das pessoas que recorrerem àquele);
c) a comunidade científica ou médica, principalmente
no caso de especialistas que lidam, diariamente, com infantes, independentemente
de suas crenças íntimas, passa a ler e a estudar a matéria,
com olhos “clínicos”, para poder melhor atender
sua clientela. Antes, se percebíamos médicos céticos,
reticentes e combativos às idéias espíritas,
já constatamos que, embora em muitos casos, o ceticismo não
tenha desaparecido, – até por questões profissionais,
já que a teoria deve estar, sempre que possível, amparada
em experimentação – a “mera” desconfiança
ou o pontual descrédito (em decorrência do desconhecimento
ou de preconceitos) é substituída pela oportunidade
de agregação de informações e, na ponta,
a definição da melhor diagnose, acompanhamento e prescrição
clínica, considerando, ainda, que nenhuma ciência é
totalmente auto-suficiente, esbarrando em barreiras que, pela imprecisão
dos conceitos e pela insuficiência de informações
ou práticas, não se tenha, ainda, respostas a determinadas
questões de nossa atualidade;
d) o termo “possessão”, usado em alguns trechos,
pelos jornalistas, embora tecnicamente não adequado, já
que há, na imensa totalidade dos casos, uma “influenciação”,
um contato motivado pelo interesse recíproco, mas não
a nível de “dominação” de um (ou
uns, já que podem – e são – diversas as
entidades em contato com a criança) pelo outro, desde que,
os pais ou pessoas mais próximas, de modo diligente, possam
perceber, em diálogos com os infantes, quais as características
do “amigo invisível”, se é, realmente, amigo
ou não, já que, em alguns casos, “inimigos”
do passado, do outro lado da vida, buscam acompanhar aqueles que reencarnam,
para tentar influenciá-los, negativamente, ou até atrapalhar
seu livre desenvolvimento no curso da materialidade. Em todos os casos,
entretanto, de um modo mais ou menos consciente, é necessário
que o encarnado “queira” a simbiose, o envolvimento, estabeleça
a parceria, por sintonia mental-espiritual (não há “vítimas”,
portanto);
e) há uma linha distintiva entre ficção e realidade,
fantasia e verdade, que se estabelece a partir de certas “revelações”
que a criança, de modo espontâneo, possa indicar. Nomes
de pessoas, detalhes de lugares, descrição de objetos,
familiaridade com instrumentos musicais ou habilidades e competências
que só poderiam ser desenvolvidas com a experiência (trabalhar
com números, recitar poesias ou trechos de livros, falar outras
línguas, por exemplo), dão-nos conta de que “há
um passado” e este não pode ser desprezado, nem pela
criança, nem pelos circunstantes. Por detrás do “véu
do mistério” há, sim, contornos vívidos
da realidade da seqüência existencial, no conjunto das
vidas sucessivas, e o retorno à Terra configura, também,
a oportunidade de crescimento espiritual, mormente pela continuidade
de desenvolvimento de especialidades iniciadas em vidas pretéritas;
f) a procura por instituições espíritas sérias
e a freqüência a serviços de atendimento nelas existentes
é elemento importante, tanto para a compreensão da criança
e dos demais sobre o que realmente se passa com ela, quanto para,
se for o caso, o atendimento de entidades desencarnadas que, inadvertida
ou propositadamente, possam estar causando transtornos aos encarnados,
pela influência (ou presença) excessiva. Há, ainda,
quem ministre passes, como forma de esclarecimento (dos encarnados
e desencarnados), e, terapeuticamente como forma de aliviar as preocupações
e a angústia que, porventura, a familia esteja experimentando,
ainda mais se considerarmos que grande parte das pessoas não
tem familiaridade com a temática e não tem instrução
espiritual para “lidar” com tais questões; e,
g) do contrário a outras filosofias, embora as respeitemos,
o Espiritismo não advoga a idéia de que crianças
(e adolescentes) devam “exercer” a mediunidade em instituições
espíritas e seus trabalhos específicos, uma vez que
o organismo físico-psíquico ainda não plenamente
desenvolvido pode ser prejudicado, com risco de grandes abalos à
sua saúde. Salvo casos excepcionais – como o do próprio
Chico e sua dinâmica mediunidade – mesmo sendo uma faculdade
e, considerando a existência de “flancos” para o
desabrochar de ditas mediunidades, como as citadas antes – melhor
é, para a criança, a freqüência a ambientes
e atividades peculiares à sua faixa etária (educação
infantil, infanto-juvenil e estudos sistematizados), sem descurar
do acompanhamento da mesma por médiuns experientes, inclusive
com vidência, para que, em um momento mais adequado e, com o
preparo devido, possa aquele ser trabalhar com sua mediunidade, segundo
as balizas contidas na obra de Allan Kardec, para o benefício
de si mesmo e do próximo.
Finalizando este ensaio, dizemos estar alegres e satisfeitos com a
escolha da Editora Três (que publica a revista IstoÉ),
em abordar mais um assunto espírita-espiritual, com o respeito
ao conteúdo filosófico e à prática espírita,
consultando, inclusive, especialistas espíritas ligados ao
tema, contribuindo, decisivamente, para um jornalismo investigativo,
independente e construtivo, porque informa e abre perspectivas, não
“fecha questões”, e permite ao leitor o exame pessoal
e a seleção das informações que melhor
lhe sirvam para a vida. Parabéns à editora, aos jornalistas
e, também, a nós espíritas, que temos a oportunidade
de ver as idéias de nossa doutrina espalhadas sem a necessidade
de investimento financeiro de nossa parte.