O Jornal “Mundo Espírita”,
da Federação Espírita Paranaense (FEP), nos últimos
tempos, tem adotado uma linha editorial simplificada, com ênfase
para mensagens de teor doutrinário-religioso-moral e/ou divulgando
suas ações, eventos e iniciativa (passados e presentes).
Surpreendentemente, na edição de março de 2007
(n. 1.472), em matéria central, se visualiza a publicação
do artigo “As algemas do espírito”, de autoria
de Clayton Reis. A construção ideológica do pensamento
do articulista é oportuna e decisiva, não só
em termos espíritas, como no alcance na vida espiritual (incluída,
aí, a necessária peregrinação nas vestes
carnais). Pinço, do original, o seguinte trecho, valoroso e
indispensável: “A liberdade de ação da
pessoa livre de suas “algemas” dogmáticas, torna
o ser humano capaz de assimilar as extraordinárias riquezas
que se encontram presentes no Universo, bem como captar das esferas
superiores os eflúvios destinados à modelação
dos Espíritos e de nossas ações”. Felicidade
do autor em propugnar tais verdades, exatamente em sintonia com a
proposta pedagógico-cultural da Doutrina dos Espíritos,
que, relembrando Kardec, deve estar despida de todo e qualquer preconceito
(idéias preconcebidas) no cotejo com as ciências e filosofias
de todos os tempos.
Congratulamo-nos com a iniciativa do Conselho Editorial daquele veículo
pela veiculação de tais considerandos, apondo que, nos
dias atuais, de abertura, pluralismo ideológico, globalização
e alteridade, seria lamentável e inoportuna, portanto, observar,
no movimento espírita, qualquer atuação censora
ou delimitatória da liberdade, com algemas “doutrinárias”,
de vez que o Espiritismo não se circunscreve aos nossos cânones
e regramentos administrativos, sobretudo em sede de lineamentos organizacionais,
mas se agiganta com as perspectivas da expansão das consciências,
em sede de escolha daquilo que nos seja verossímil, adequado
e útil, a cada momento. Para perpetuar o Espiritismo –
inscrevendo-o, adequadamente, no curso da História, e não
circunscrevendo-o ao nosso estreito limitado círculo de relações
e expressões – no tempo, mister se faz que estejamos
aptos a, realmente, “encarar a razão, frontalmente, em
todas as épocas da Humanidade”. Esta razão, com
certeza, apela para o nosso bom senso e tirocínio, evitando
o dogmatismo e o estabelecimento de amarras incompatíveis com
a necessidade de vôos mais altos na compreensão das verdades
espirituais.
Por isso, imprescindível é acrescer, ao pensamento lúcido
do articulista, a idéia do livre-pensar como condição
inafastável à real e produtiva compreensão dos
balizamentos espirituais-espíritas (e, somente, eles) ao nosso
cotidiano de ações, deixando de lado nossa arrogância
e prepotência no sentido de fazermo-nos mais do que realmente
somos. Neste sentido só a aproximação (entre
nós e com os outros, de outras filosofias) traduz a evidência
da atualidade do pensamento de Kardec e, por isso, nos endereça
à relação alteritária – sem o intuito
de convencer ou o receio de ser convencido – com o outro.
Por fim, que este texto possa representar – para a FEP e para
o Jornal Mundo Espírita – a retomada do caminho de relação
fraterna (não impositiva de subserviência ou excludente),
solidária (no sentido de que todos, juntos, podemos agregar
valor ao edifício espírita) e tolerante (não
para ter piedade ou considerar inferior qualquer manifestação
distante de nossas idéias, mas inclusiva no sentido de aproveitar,
de tudo, a melhor parte).
O que é, então e neste sentido, a verdade? Sejamos livres
para procurá-la, para expressar nosso pensamento e nossa política
de ação, e, mais que isso, estejamos abertos para a
convivência plural, participativa e edificadora da Nova Sociedade.