Em comemoração
aos 12 anos do GEAE
Aula 17 :
O Laboratório da Pesquisa Espírita
1. LABORATÓRIO DE
PESQUISA ESPÍRITA
Nas últimas aulas falamos
sobre as vantagens de se preparar um projeto de pesquisa espírita
e do papel do orientador no trabalho de pesquisa. Enfatizamos a
necessidade do estudo básico do Espiritismo e que o hábito
regular na leitura de livros e artigos espíritas é
condição necessária para quem deseja contribuir
seus esforços na atividade de pesquisa espírita com
seriedade. Nesta aula, vamos comentar sobre a questão do
local onde realizar um trabalho de pesquisa espírita.
O ser humano sempre quis descobrir
e revelar os segredos da Natureza. A Filosofia, nos primeiros tempos
da cultura ocidental, significava a “busca pela verdade”
[1]. Para isso, aprendemos a observar
a Natureza de modo especial obtendo e registrando informações.
Com o desenvolvimento da Ciência, a forma pela qual o conhecimento
é obtido passou a envolver dois ingredientes fundamentais:
teoria e prática. Na primeira aula deste curso (Boletim 483),
ao introduzirmos o conceito de ciência, comentamos que em
todo trabalho de observação dos fatos é impossível
fazê-lo “sem ter uma hipótese ou idéia
pré-concebida” [2].
Isso mostra o grau de ligação entre o conhecimento
teórico e o fenômeno que se pretende estudar.
Hoje em dia, o volume de conhecimento
é bastante elevado. Basta dizer que é impossível
alguém se tornar especialista em várias áreas
do conhecimento ao mesmo tempo. Mesmo dentro de uma mesma área,
existem tantos tópicos de estudo que é muito difícil
uma pessoa conhecer bem a todos eles. Isso é algo tão
real que mesmo dentro de um mesmo tópico de uma mesma área
de pesquisa existem pessoas que se tornam especialistas em uma das
seguintes frentes de trabalho fundamentais: 1) teoria e
2) prática. Vamos rever alguns conceitos mais gerais
sobre essas duas frentes:
Em teoria, os cientistas
desenvolvem o formalismo e trabalham com os modelos que representam
a realidade. No casos das ciências exatas, eles usam as regras
e leis matemáticas para obter novos resultados e assim pesquisar
as consequências dos conceitos e definições
já conhecidas. Busca-se, por exemplo, a previsão de
diversos fenômenos novos que serão objeto de interesse
de outros cientistas que trabalham com a prática. Aqui, os
cientistas buscam aprimorar os modelos criados por outros cientistas
para que eles expliquem cada vez melhor o conjunto de fenômenos
de cada disciplina científica. Na aula 1 (Boletim 483) comentamos
a respeito das hipóteses auxiliares que tinham a função
de “complementar e fazer o contacto ou a conexão
entre os dados experimentais ou fatos observados e o núcleo
teórico principal” [2].
Boa parte do trabalho teórico se situa nessa parte das hipóteses
auxiliares. Os cientistas se informam sobre os novos trabalhos experimentais
e buscam maneiras de ligá-los aos conceitos básicos
da teoria que compõe a disciplina científica em questão.
Ou, imaginam novas aplicações e sugerem aos experimentalistas
novas idéias práticas.
Em prática,
os cientistas trabalham com os fenômenos. Os fenômenos
significam a mensagem da Natureza. Ao longo do tempo, os cientistas
perceberam que os fenômenos naturais ocorrem de acordo com
determinadas regras ou seguem determinados mecanismos. Para testar
essas regras e mecanismos, os cientistas tentam reproduzir os fenômenos
naturais em locais onde eles podem controlá-los e isolá-los
da influência de outros fatores. Eles fazem isso para verificar
as propriedades e características do fenômeno que está
sendo estudado. Isso permite que o conhecimento a respeito do fenômeno
se consolide e possa ser usado para desenvolver novas aplicações.
A Ciência confere ao experimento uma importância bem
grande. Em geral, é a prática que deve dar a última
palavra sobre a validade de determinada teoria. Apesar da Ciência
possuir regras de “proteção” às
teorias básicas, a parte experimental é a única
capaz de gerar a crise nas teorias proporcionando o surgimento de
novos paradigmas [2]. Kardec reconhecia
o valor da prática, o que pode ser verificado no ítem
VII da Introdução do Livro dos Espíritos [3]:
“Desde que a Ciência sai da observação
material dos fatos, em se tratando de os apreciar e explicar,
o campo está aberto às conjeturas. Cada um arquiteta
o seu sistemazinho, disposto a sustentá-lo com fervor, para
fazê-lo prevalecer. (...) Os fatos, eis o verdadeiro
critério dos nossos juízos, o argumento sem réplica.
Na ausência dos fatos, a dúvida se justifica no homem
ponderado.” (grifos nossos)
O Prof. Aécio P.
Chagas em sua obra Introdução à
Ciência Espírita [4]
diz que a palavra laboratório significa simplesmente
“local de trabalho”. Entretanto, vamos usar
a palavra laboratório no sentido em que é mais empregada:
o local onde um fenômeno é isolado do resto do mundo
para ser analisado e estudado de forma independente e por meio de
diversos aparelhos. Enfim, o laboratório é o lugar
da realização da pesquisa prática. Vamos diferenciar
esse conceito da idéia comum de “local de trabalho”
com fins didáticos sobre a diferença entre o trabalho
teórico e prático.
O local de trabalho
de um cientista ou pesquisador teórico consiste do seu gabinete
ou escritório e de uma boa Biblioteca. Hoje em dia, com o
avanço e o conforto proporcionado pela internet, a Biblioteca
tem se tornado algo virtual e acessível do próprio
escritório de trabalho. Não podemos deixar de lembrar
da lanchonete onde o momento do cafézinho tem se tornado
comum pelo enorme ensejo de troca de idéias entre os cientistas.
Brincadeiras a parte, o local de trabalho de um pesquisador em teoria
é algo tão simples que, em alguns casos, pode ser
transferido para a casa do pesquisador.
O local de trabalho
de um cientista ou pesquisador prático ou experimental consiste
não somente do seu gabinete ou escritório, da Biblioteca
e da lanchonete, mas também de um recinto comumente conhecido
como laboratório. O laboratório consiste num local
onde diversos aparelhos são utilizados para realizar-se testes
controlados e organizados sobre determinado fenômeno natural.
Em alguns casos, o laboratório pode ser algo não restrito
a quatro paredes e tão extenso quanto uma reserva ecológica
[4]. Um observatório astronômico não é
bem um local onde se pode isolar os fenômenos que a Astronomia
estuda, nem se pode isolá-los do resto do mundo, mas é
considerado o laboratório onde o astrônomo observa
e estuda o comportamento das estrelas. Para vermos a abrangência
do assunto, podemos dizer que o conjunto de escolas estaduais de
uma determinada cidade pode ser considerado um laboratório
de pesquisas na área de Educação, enquanto
que um bairro pode ser um laboratório de pesquisas na área
de ciências humanas e sociais. O mais interessante em todos
esses exemplos é que a idéia de laboratório
está ligada à idéia de prática
ou de observação da realidade, ou ainda,
de observação dos fatos.
O local do trabalho
de pesquisa espírita depende, logicamente, do gênero
de pesquisa que está sendo feito. Se o trabalho de pesquisa
for teórico, o pesquisador vai precisar de um lugar tranquilo
para ler e estudar a literatura e um escritório para fazer
anotações e escrever as idéias que surgirem.
Um exemplo de trabalho de pesquisa teórico é a obra
de Ney S. Pinheiro, Prontuário das obras
de Allan Kardec [5].
Se o trabalho de pesquisa for prático
o local de trabalho depende do tópico de pesquisa. Por exemplo,
o trabalho de pesquisa realizado pelo Dr. Hernani G. Andrade,
divulgado na obra Reencarnação no Brasil
[6], exigiu a visita do pesquisador
a diversas localizações para entrevistas e verificações
das informações colhidas. Na obra Diálogo
Com as Sombras, Teoria e Prática da Doutrinação
[7], o local de trabalho de pesquisa
foi a casa espírita e a sala de reunião mediúnica
onde a reunião de desobsessão ocorria (deixamos
para o leitor a leitura dos livros acima para se inteirar dos detalhes).
O Prof. Aécio P.
Chagas afirma que “o laboratório da ciência
espírita é o centro espírita” [4].
Segundo ele o centro espírita é o local onde as pessoas
que conhecem a “teoria” (a Doutrina Espírita)
realizam a “prática” que consiste nos fenômenos
que ocorrem sob controle e orientação doutrinária.
O centro espírita, além de possuir as pessoas que
conhecem a “teoria”, conta com o apoio dos bons espíritos.
Se um projeto de pesquisa tiver objetivos nobres, certamente os
bons espíritos farão o que for possível do
“lado” deles para que o projeto tenha sucesso.
A referência [7] é um
exemplo bem sucedido desse tipo de trabalho de pesquisa.
Seria a Universidade um
local apropriado para a realização de trabalhos de
pesquisa espírita? O Prof. Aécio acredita
que dentro de uma ideologia positivista que caracteriza as universidades
ainda não é possível a realização
de um trabalho de pesquisa espírita [4].
Nós acreditamos que na medida que os espíritas ocuparem
naturalmente mais espaços no meio acadêmico, é
possível reduzir o preconceito iniciando a introduzir assuntos
de interesse espírita dentro das universidades. Na verdade
isso já vem ocorrendo como mencionamos na aula 13 (ver Boletim
495) onde algumas teses de mestrado e doutorado envolvendo temática
espírita foram concluídas com o mesmo êxito
das teses envolvendo assunto não-espírita. Isso nos
traz um sentimento de esperança no futuro.
Independente do Espiritismo ocupar
um maior espaço dentro da Universidade, é preciso
que o Movimento Espírita se organize para oferecer cada vez
mais melhores condições de realização
e divulgação dos trabalhos de pesquisa espírita.
Individualmente, todos os que desejam contribuir para o progresso
do conhecimento espírita devem se conscientizar da importância
do estudo constante tanto da base do conhecimento espírita
(a Doutrina Espírita) quanto das obras complementares. Não
devem se esquecer do esforço pela reforma íntima que
caracteriza o verdadeiro espírita. Além disso, é
preciso estar constantemente lendo os periódicos espíritas
para estar ciente dos trabalhos de pesquisa atuais que vém
sendo realizado por outros pesquisadores, bem como ter conhecimento
de quem está trabalhando em determinados assuntos.
Aos poucos as casas espíritas
compreenderão que além de tudo de bom que já
fazem pela divulgação do Espiritismo e pelas pessoas
em geral, elas poderão contribuir com um tijolinho
no processo de desenvolvimento dos conhecimentos espíritas.
Tudo o que temos de bom, hoje, na Humanidade, decorreu de uma série
de estudos e pesquisas pequenos, muitas vezes, realizadas em diversos
lugares e que juntos permitiram os bens do progresso. Acreditamos
que podemos aproveitar o melhor desse esquema para progredirmos
em nossos objetivos maiores de progresso moral da Humanidade.