Uma nova descoberta
da Física está chacoalhando os cientistas. Trata-se
da constatação definitiva de que o neutrino
[1] possui
massa. Isso implicará numa completa revisão
da teoria fundamental que descreve os tijolos básicos do Universo,
o chamado Modelo Padrão. Além disso, essa constatação
tem implicações importantíssimas em Cosmologia.
A chamada matéria escura [2],
que muito tem incomodado os cientistas, poderia ser explicada como
sendo formada pela soma da massa de todos os neutrinos. A notícia
foi publicada no caderno Folha Ciência do jornal Folha de São
Paulo, edição de 12 de dezembro de 2002, página
A21 e o respectivo artigo científico foi publicado na conceituada
revista “Physical Review Letters”(http://prl.aps.org).
Não é a toa que os espíritos, na questão
22 de O Livro dos Espíritos, disseram a Kardec que “...
a matéria existe em estados que não conheceis. Ela pode
ser, ..., tão etérea e sutil que não produza
nenhuma impressão nos vossos sentidos: entretanto, será
sempre matéria, ...”. Mencionamos isso pois, curiosamente,
nosso organismo é atravessado, num único segundo, por
50 bilhões de neutrinos gerados pelas fontes radioativas do
nosso planeta, mais 100 bilhões saídos de reatores nucleares
e por mais de 100 trilhões vindos do sol [3].
Neste momento eu não senti nenhum neutrino me atravessado,
o leitor sentiu? Mas a verdade é que eles existem e foram confirmados
em laboratório, o que confere com a afirmativa dos espíritos.
Porém, não é sobre essa afirmativa que desejamos
falar. Aliás, ela já é do conhecimento do leitor
estudioso e não é preciso maiores comentários
a respeito dos resultados científicos que estão de acordo
com ela. Desejamos sim destacar uma certa fragilidade das construções
teóricas da ciência frente à realidade das coisas
e os cuidados que o pesquisador espírita deve ter ao relacioná-las
com o Espiritismo.
Uma das questões mais fundamentais que a Doutrina Espírita
trouxe é a definição do Fluido Universal.
Um trecho do ítem 3 do capítulo VI de A Gênese
esclarece o tema:
“(...)
podemos colocar, como princípio absoluto, que todas as substâncias,
conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam,
seja sob o ponto de vista de sua constituição íntima,
seja sob o aspecto de sua ação recíproca, não
são, de fato, mais do que modos diversos sob os quais a matéria
se apresenta; senão variedades, nas quais se transformam,
sob direção das forças inumeráveis que
a governam (...)”.
O texto acima
foi escrito em 1868. Impossível enumerar as conquistas da ciência
desde o ano da publicação do citado livro até
os dias atuais. No entanto, o que prevalece é que esse
e os outros princípios fundamentais do Espiritismo permanecem
inalterados mesmo diante de tantas revoluções no conhecimento
científico como o surgimento da Física Moderna que abala
qualquer um com suas visões da realidade. Aprendemos
com os espíritos que o Fluido Universal, princípio elementar
material emanado do Criador, possibilita todas as transformações
da matéria em suas diversas manifestações (incluindo-se
aí o neutrino!).
O leitor poderia se perguntar: por quê os fundamentos básicos
do Espiritismo permanecem inalterados e atuais após quase 150
anos enquanto que o Modelo Padrão, comentado anteriormente,
que possui alguns anos de vida, terá que passar por sérias
revisões? Alguém poderá dizer que isso reflete
a sabedoria dos espíritos superiores. Isso está correto,
mas ainda não responde à questão.
Quem elucida o assunto é o professor Silvio Chibeni no artigo
da referência [4].
A característica que faz a diferença é o fato
de que os princípios fundamentais do Espiritismo se encontram
próximos do nível fenomênico, o que permite que
a teoria espírita possa ser classificada como fenomenológica
[4]. No caso
do Modelo Padrão, o “grau de teoricidade” é
muito maior devido à grande dificuldade em obter informações
através de experiências diretas. Já com o Espiritismo,
vemos que a maioria dos seus princípios fundamentais são
constantemente verificados cotidianamente. Chibeni cita, como exemplo,
a Termodinâmica, que é uma teoria física fenomenológica
desenvolvida no século XIX que passou incólume por todas
as descobertas revolucionárias do século passado.
É preciso,
portanto, enfatizar o cuidado que os estudiosos e pesquisadores espíritas
devem ter ao buscarem nas ciências básicas confirmações
para os princípios espíritas. O exemplo ocorrido com
os neutrinos reflete, como dissemos, a fragilidade das teorias científicas,
mormente, as da Física Moderna. Existem exemplos de enganos
sérios na literatura espírita como o caso discutido
pelo prof. Ademir Xavier Jr. na referência [5].
Agora, um exemplo que nos chamou a atenção pelo fato
de ser conhecido de todos nós é o que está acontecendo
com o famoso livro “O Tao da Física” [6].
A crítica a esse livro foi divulgada pelo filósofo Ken
Wilber, no livro “Quantum Questions” [7].
Segundo Wilber, Capra baseou seu livro sobre os paralelos entre a
física de partículas e o Budismo numa teoria em particular
conhecida como a Teoria do Bootstrap. Essa teoria diz que não
existem objetos irredutíveis e sim relações auto-consistentes
entre eles. Porém, hoje em dia, a maioria dos físicos
acredita nos objetos irredutíveis (quarks, leptons, bosons),
e o Modelo Padrão é a teoria que os descrevem mais aceita
na atualidade. Por melhor que tenha sido a intenção
de Fritjof Capra, o conteúdo de “O Tao da Física”
simplesmente não pode ser mais considerado um “Tao”
de acordo com o significado da palavra [8].
Podemos concluir daí que a sabedoria dos espíritos e,
também, a de Allan Kardec foi além do que imaginávamos.
Kardec poderia ter desejado formular propostas teóricas para,
por exemplo, explicar a natureza dos fluidos espirituais ou do perispírito
e, ainda, os mecanismos da interação com a matéria.
Porém, se limitou a discutir a necessidade da sua existência
e importância na relação entre espírito
e matéria. Se Kardec tivesse tentado formular uma teoria dessas,
com base nos conhecimentos da época, provavelmente a Doutrina
Espírita teria caído no esquecimento como tendo sido
mais uma teoria sem comprovação prática que utilizou
princípios teóricos ultrapassados. Porém, ao
situar-se bem próximo aos fenômenos, ele selou o Espiritismo
com a garantia de resistência a qualquer crítica futura.
Como Kardec mesmo disse no ítem VII da Introdução
do Livro dos Espíritos “Na ausência de fatos, a
dúvida é a opinião do homem prudente”[9].
Por isso, caros irmãos espíritas, cuidado na formulação
de teorias desta ou daquela natureza!
Concluindo, devemos ter cuidado ao utilizarmos as
teorias modernas das várias ciências na tentativa de
validar o Espiritismo porque enquanto a maioria delas ainda passa
por Permanentes mudanças algumas outras, incluindo-se o Espiritismo,
possui um conjunto de princípios básicos Permanentes,
devido ao fato de estarem mais ligados aos fatos. A conseqüência
direta dessa análise é o fortalecimento de nossa fé
(com base nos raciocínios) nessa Doutrina que nos esclarece
e orienta sobre a nossa verdadeira origem e o nosso verdadeiro destino.