A 6ª questão do nosso
projeto é sobre o passe: as técnicas empregadas no
passe têm base doutrinária? SIM ( ) NÃO ( X
). Por “técnicas empregadas no passe”, estamos
nos referindo a todo e qualquer procedimento de natureza exterior
de posicionamento e movimentos de mãos, pernas ou de outras
partes do corpo, sejam do passista, sejam do assistido. Infelizmente,
não há base doutrinária que dê suporte
a movimentos ou técnicas do passe.
Embora a possível estranheza
do leitor, isso não é novidade. Herculano Pires, em
sua obra Obsessão, o passe, a doutrinação,
já houvera dito isso. Nesta matéria, para compreender
a incoerência doutrinária do uso de técnicas
no passe, vamos analisar 3 coisas: i) o significado de “ter
base doutrinária”; ii) a principal razão
para concluirmos que nenhuma técnica do passe tem base
doutrinária; e iii) as afirmativas de Herculano Pires
em apoio a essa conclusão.
Nos próximos números da revista Dirigente Espírita,
analisaremos, sob à luz da Doutrina Espírita, a incoerência
doutrinária de alguns tipos específicos de técnicas
do passe como fechar ou abrir as mãos em determinados momentos
do passe, a velocidade e direção de movimentos do
tipo longitudinal, etc.
Uma coisa é dita “ter
base doutrinária” quando se pode aplicá-la
com os conceitos fundamentais da Doutrina Espírita. Isso
é diferente de “estar escrito nas obras de Kardec”.
Por exemplo, as palavras “castigo” e “punição”
estão escritas em mais de uma obra de Kardec. Mas o fato
de estarem escritas nas obras de Kardec, não as
tornam conceitos espíritas ou corretos. Quando se estuda
a expiação, por exemplo, entendemos que ela significa
um processo de (re)educação moral, e não de
punição ou castigo. Que o sofrimento proporcionado
por uma expiação é uma forma de despertar o
Espírito para o bem, e não punição ou
castigo pelo mal praticado. Assim, o conceito de expiação
tem base doutrinária, mas o de castigo ou punição
não tem base doutrinária. Isso é importante
porque as técnicas ensinadas em vários cursos de passe
não têm base doutrinária, embora encontremos
nas obras de Kardec comentários em favor da antiga ciência
do Magnetismo, que as propõe.
A principal razão para que
técnicas de passe não tenham nenhuma base doutrinária
decorre da definição simples de passe (uma doação
ou troca de fluidos) e da forma como a Doutrina ensina sobre como
os fluidos “funcionam”. Do item 14 do capítulo
XIV de A Gênese (GE) temos:
“14. Os Espíritos agem
sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os
homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento
e da vontade.” (Grifos em negrito,
meus).
Segundo a Doutrina Espírita,
é somente pela ação do pensamento
e da vontade que os Espíritos conseguem manipular os fluidos,
modificar as qualidades do fluido cósmico universal e imprimir
neles “esta ou aquela direção”
(item 14, cap. XIV da GE). Kardec mostra
que as qualidades dos fluidos dependem das qualidades do pensamento
que age sobre eles (item 15, cap. XIV da GE). Nem mesmo a simples
imposição de mãos é necessária,
embora seja aceitável por ser um gesto simples. Pensemos:
de outro modo, uma pessoa sem as mãos ou sem os braços
não poderia aplicar passes? Não poderia usar nenhuma
técnica do passe, mas consegue imprimir qualidades aos fluidos
e direcioná-los a qualquer pessoa que esteja necessitada.
A Doutrina Espírita, portanto, não fornece bases para
o uso de gestos e o uso da imposição simples das mãos
ou mesmo menos que isso, decorre apenas do bom senso. Mesmo a imposição
simples das mãos não terá nenhum efeito se
não estiver acompanhada de pensamentos elevados e de um forte
e ardente desejo de ajudar o irmão necessitado.
Quem usa técnicas do passe
está prejudicando alguém? Não. Mas o que a
Doutrina diz é que quem usa técnicas do passe, mas
mantém pensamentos elevados e um forte e ardente desejo de
ajudar o próximo, aplicará um passe tão bom
quanto aquele que não usa nenhuma técnica, mas igualmente
mantém os mesmos pensamentos.
Por fim, vejamos o que Herculano
Pires pensa sobre o passe:
“O passe espírita é
simplesmente a imposição das mãos, usada e
ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos.”
“O passe espírita não
comporta as encenações e gesticulações
em que hoje o envolveram alguns teóricos improvisados.”
“Todo o poder e toda a eficácia
do passe espírita dependem do Espírito e não
da matéria, da assistência espiritual do médium
passista e não dele mesmo.”
“Os passes padronizados e
classificados derivam de teorias e práticas mesméricas,
magnéticas e hipnóticas de um passado já há
muito superado. Os Espíritos realmente elevados não
aprovam nem ensinam essas coisas, mas a prece e a imposição
das mãos.”
“Toda a beleza espiritual
do passe espírita, que provém da fé racional
no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas
e ridículas gesticulações.”
“O passe espírita é
prece, concentração e doação. Quem reconhece
que não pode dar de si mesmo, suplica a doação
dos Espíritos.”
As afirmações acima
estão em total sintonia com o que Kardec ensina no capítulo
XIV da GE, isto é, elas têm base doutrinária.
Não foi à toa que Herculano foi considerado por Emmanuel
“o metro que melhor mediu Kardec”.
A próxima questão,
em prosseguimento ao nosso estudo sobre o passe, segundo o Espiritismo,
é sobre o movimento longitudinal e/ou transversal seja para
infundir fluidos ou dispersar fluidos no assistido. Isso têm
base doutrinária? Sim ou não ?.