A idéia
de Simetria presente na Natureza tem profunda ligação
com as Leis Naturais.
Recentemente, na Revista Internacional de Espiritismo (RIE) do mês
de agosto de 2003, foi publicada uma interessante matéria
intitulada “Das Simetrias da Vida à
Supersimetria do Ser” [1].
Nessa matéria, o autor expõe algumas características
da idéia de Simetria e tenta relacioná-las ao Espiritismo.
Motivados pela questão, apresentaremos um outro enfoque usando
uma importante correlação entre Simetria
e Leis de Conservação
que a Física nos apresenta e o que isso contribui no entendimento
das Leis Morais.
Existem três tipos de simetria
extremamente básicos que estão relacionados com outras
três importantes Leis de Conservação
em Física. São elas:
i) Simetria de Translação Espacial; ii) Simetria de
Rotação Espacial e iii) Simetria de Translação
Temporal. Cada uma delas está ligada a uma lei de conservação:
i) de Momento Linear; ii) de Momento Angular e iii) Energia Total,
respectivamente [2].
A seguir explicaremos cada uma delas.
Simetrias de Translação Espacial, Rotacional e Temporal
A homogeneidade e isotropia do espaço significam que cada
ponto do espaço é indistinguível dos outros
e que todas as direções são equivalentes. Isso
faz com que as propriedades de qualquer objeto físico ou
sistema fechado permaneçam as mesmas quando ele é
transladado de uma posição para outra ou quando sofre
uma rotação. Como conseqüência, as grandezas
chamadas Momento Linear e Angular são conservadas, ou seja,
elas são constantes. Os Momentos Linear e Angular são
grandezas que representam uma medida da “quantidade de movimento”
de um objeto. O leitor não deve se preocupar em entender
profundamente esses conceitos técnicos. O ponto mais importante
é o fato da simetria de translação estar associada
à uma Lei de Conservação
[3].
Como o tempo é homogêneo, todos os instantes são
equivalentes para um observador num mesmo referencial, e por isso
se um evento ocorre num determinado intervalo de tempo, ele ocorrerá
de forma idêntica num outro intervalo de tempo. Por exemplo,
o cozimento de um ovo pode ser feito a qualquer hora do dia ou da
noite, hoje ou amanhã ou, ainda, em qualquer dia do ano.
A conseqüência desta simetria é a Lei de Conservação
da Energia total do objeto ou sistema. A idéia de Energia
é algo mais comum a todos nós
[3].
Outras simetrias existem, mas é
suficiente para nós aqui ficarmos com essas três relações
mais básicas entre simetrias e leis de conservação.
Estamos agora em condições de analisar a nossa proposta
a respeito de um tipo de simetria relacionada ao Espírito
e a que Lei Moral ela corresponde.
Simetria de Sentimentos do Espírito
Sem pretender dar a última palavra sobre o assunto, propomos
a idéia da simetria de sentimentos do Espírito.
Estamos querendo falar a respeito das igualdades a que todos nós
estamos sujeitos. Fazendo uma pesquisa no Prontuário da Obra
de Allan Kadec [5] encontramos duas
menções à palavra igualdade que nos interessa
aqui.
A primeira menção é encontrada na questão
803 do Livro dos Espíritos [4]:
803. Perante Deus são iguais
todos os homens?
“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez Suas leis para
todos. Dizeis freqüentemente: “O Sol luz para todos”
e enunciais assim uma verdade maior e mais geral do que pensais.”
Comentário de Kardec: Todos os homens estão submetidos
às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos,
acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói
como o do pobre. Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural,
nem pelo nascimento, nem pela morte: todos, aos Seus olhos, são
iguais.
A segunda menção é encontrada no ítem
7 do capítulo XVII do Evangelho Segundo o Espiritismo [6]:
“A
igualdade em face da dor é uma sublime providência
de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela
experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância
de seus efeitos.”
Se todos os Espíritos foram
criados da mesma forma, tendem para o mesmo fim, estão submetidos
às mesmas leis da Natureza e sofrem pelas mesmas causas,
então existe uma simetria de sentimentos do Espírito
que diz que cada individualidade terá os mesmos sentimentos
perante as mesmas causas e circunstâncias. Por exemplo, a
felicidade devido à prática da caridade é um
sentimento que todos podem ter. O sofrimento devido a um ato em
desacordo com as Leis Morais é conseqüência natural
para todos. O princípio de Causa e Efeito (Evangelho Segundo
o Espiritismo, cap. V [6]) age de forma
igual para com todos.
A questão que surge é
qual ou quais seriam as Leis Morais associadas a essa simetria de
sentimentos do Espírito? A primeira resposta que se nos depara
é: a Lei de Igualdade e a Lei de Justiça, de Amor
e de Caridade (capítulos IX e XI da parte terceira do Livro
dos Espíritos, respectivamente). Mas, analisando o conjunto
das Leis Naturais, vemos que todas elas se ligam a idéia
de simetria de sentimentos que propomos aqui já que todos
os Espíritos estão sujeitos a elas.
Num ponto de vista mais prático,
observamos outro tipo de simetria importantíssimo para o
movimento espírita: a concordância
universal dos ensinos dos Espíritos (ítem II
da Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo
[6]). Citando
Kardec:
“Uma só garantia séria
existe para o ensino dos Espíritos: a concordância
que haja entre as revelações que eles façam
espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares.”
Apenas os ensinos que forem
apresentados em vários lugares, por espíritos diversos,
é que podem ser considerados válidos. No
caso, a Lei associada a esta simetria estaria ligada à Verdade,
mesmo que relativa ao nosso grau de adiantamento. Numa época
em que o movimento espírita clama por mudanças e que
usa a palavra Paradigma como conceito básico para as necessidades
de mudanças, todo o cuidado é pouco com relação
a mensagens mediúnicas, mesmo aquelas que são assinadas
por espíritos conhecidos e respeitados. Mudanças são
sempre necessárias e fazem parte da Lei de Progresso. Mas
isso não significa que as mudanças devam ser feitas
sem critério. Kardec, na referência em destaque acima
nos apresenta o melhor critério nestes casos.
Desejamos ainda, fazer um último
comentário a respeito da conclusão apresentada pelo
autor na matéria da RIE de agosto [1].
Ele menciona que, segundo teorias mais modernas da Física,
uma partícula de um determinado tipo pode se transformar
em outra se receber uma grande quantidade de energia. Em seguida
ele expõe um pensamento na forma de pergunta que transcreveremos
aqui: “(...) não seria a ação do princípio
inteligente experimentada pela matéria como um excesso de
energia?” Respeitamos a opinião do autor mas discordamos
dela por duas razões: uma espírita e outra científica.
A razão espírita se dá devido às seguintes
questões do Livro dos Espíritos [4]:
60. É a mesma a força
que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos
e nos inorgânicos?
“Sim, a lei de atração é a mesma para
todos.”
61. Há diferença entre a matéria dos corpos
orgânicos e a dos inorgânicos?
“A matéria é sempre a mesma, porém nos
corpos orgânicos está animalizada.”
62. Qual a causa da animalização da matéria?
“Sua união com o princípio vital.”
Segundo os Espíritos as forças que agem sobre a matéria
nos corpos orgânicos e inorgânicos são as mesmas,
sendo que a matéria, essencialmente falando é a mesma.
Em seguida eles afirmam que no caso dos corpos orgânicos a
matéria está animalizada pela ação do
princípio vital, que por sua vez, tem sua origem no Fluido
Universal (questão 64 do Livro dos Espíritos [4]).
Portanto, segundo os Espíritos, a matéria não
recebe energia do princípio inteligente. O que torna a matéria
passível de servir ao fenômeno da vida é o fato
dela se juntar ao princípio vital. Quando os seres morrem,
a matéria retorna à Natureza sem ter sido alterada
em suas propriedades mais íntimas. Portanto, a matéria
não sofre ação que a transforme em outra coisa.
Seja ainda qual for a forma pela qual o Espírito comanda
a matéria, isso deve ocorrer de forma muito sutil já
que isso passa despercebido aos instrumentos materiais.
A razão científica
é que a afirmativa do autor de que a matéria experimenta
a ação do princípio inteligente como um excesso
de energia viola a Lei de Conservação de Energia.
Se isso fosse verdade, seria fácil testar em laboratório
se cada ser vivo está recebendo energia de uma fonte não
conhecida. Porém, até onde se sabe atualmente, os
seres vivos só recebem energia de uma fonte externa (alimentação
ou luz do sol). Se o autor quisesse dizer que o princípio
inteligente, no seu processo evolutivo, sofre transformações
que dependem de algo análogo à energia que as partículas
necessitam para se transformarem, aí tudo bem porque, de
fato, o progresso depende do esforço próprio e o esforço
faria o papel análogo ao “excesso de energia”.
Mas isso não significa que o princípio inteligente
necessite de energia material para evoluir.