Aula 3 : A Ciência Espírita
e a divulgação dos trabalhos científicos
1. CIÊNCIA ESPÍRITA
Nas aulas anteriores, falamos sobre
os conceitos básicos que definem uma ciência
e sua forma de trabalho e desenvolvimento. Vimos o que
é e para que serve o método científico e discutimos
como ele deve ser considerado em pesquisas de caráter multidisciplinar.
No entanto, é comum enxergar
valor científico apenas em textos que contém conceitos
e análises oriundos de outras ciências como a Física,
a Química ou a Biologia, por exemplo. Imagina-se, equivocadamente,
que um trabalho só é científico se conter termos
e conceitos modernos, técnicos ou científicos e alguns
pensam que para ressaltar o valor científico e a atualidade
da Doutrina dos Espíritos, é preciso fazer o mesmo.
Com base nas aulas anteriores, compreendemos que o Espiritismo
é uma ciência legítima, não
necessitando do emprego de conceitos de outras disciplinas científicas.
Nesta aula, conversaremos sobre
como produzir conhecimento de valor científico trabalhando,
apenas, dentro do paradigma espírita. Em
O Livro dos Espíritos [1], encontramos
o núcleo teórico central do Espiritismo [2].
Como diz Chibeni, “o estudo dessa obra revela a adequação
da teoria com os fatos, sua consistência e seu alto grau de
coesão e simplicidade, bem como a amplitude de seu escopo.”
Retiramos do artigo da referência [3]
as seguintes sugestões de áreas de investigação
espíritas:
1. Evolução
do espírito: o elemento espiritual dos seres dos
reinos inferiores; origem dos espíritos humanos; encarnação
e reencarnação; pluralidade dos mundos habitados.
2. O mundo espiritual.
3. Interação espírito-corpo:
perispírito, efeitos psicossomáticos, mediunidade.
4. Implicações morais (uma área
científica e filosófica): livre-arbítrio, lei
de causa e efeito.
Esses ítens são exemplos de grandes temas de estudo
que podem ser analisados e pesquisados sem a necessidade de introduzirem-se
conceitos e teorias de outras ciências. O estudo teórico
(análise das obras espíritas) e prático (análise
dos fenômenos espíritas), pode ser realizado sem a
necessidade de usarmos conceitos de Física, Química
ou Biologia. Isso não significa que não se pode estudar
esses tópicos de forma multidisciplinar, isto é, de
forma conjunta com alguma outra ciência. Vamos discutir esse
lado multidisciplinar da pesquisa espírita nas próximas
aulas. Aqui, nossa ênfase será dizer que é possível
fazer pesquisa científica de qualidade sem apelar para métodos
e terminologias de outras ciências.
Um importante exemplo de trabalho
de pesquisa espírita que merece o adjetivo científico,
é a obra de Hermínio C. Miranda,
intitulada Diálogo Com as Sombras [4].
Nesta obra, o autor apresenta os resultados de suas vivências
e pesquisas em uma atividade genuinamente espírita: o esclarecimento
de espíritos em desequilíbrio.
Os estudos sobre a obsessão,
o evangelho, os efeitos das influências dos espíritos
sobre nossas vidas, etc. são também assuntos legítimos
que são de enorme interesse para o Movimento Espírita.
Como exemplo recente, no boletim do GEAE n. 484, Jader Sampaio
apresentou uma cópia da assinatura de Leon Denis, para ser
comparado com a psicografia de Divaldo P. Franco feita por ocasião
do 4º. Congresso Internacional de Espiritismo em Paris, 2004.
Esse tipo de trabalho de pesquisa tem um valor científico
muito grande pois contribui com um resultado positivo a favor da
realidade da existência e sobrevivência da alma. Chibeni
[3] ressalta que além desses
fenômenos espíritas propriamente ditos, o Espiritismo
se apoia em vários fenômenos ordinários relacionados
ao nosso cotidiano como, por exemplo, os nossos sentimentos, os
acontecimentos marcantes da vida, sonhos, efeitos psicossomáticos,
etc.
É digno de nota a citação
de alguns trabalhos que servem de referência para o pesquisador
espírita. São elas os prontuários das obras
de Kardec [5] e de André Luiz
[6], e outros menos conhecidos como
um trabalho intitulado O Indicador de João Gonçalves
[7]. Alguns trabalhos de revisão,
ou seja, de análise de todos os estudos e pesquisas feitos
até então sobre um assunto, também merecem
destaque onde temos como exemplos os livros Perispírito,
do Prof. Zalmino Zimmermann [8], O
Passe, do Sr. Jacob Melo [9] e Darwin
e Kardec, Um Diálogo Possível, (multidisciplinar)
da Profa. Hebe Laghi de Souza [10].
Recentemente, foi publicada a obra Introdução à
Ciência Espírita, do Prof. Aécio Chagas [11].
O leitor encontrará nessas obras um importante material de
pesquisa e referência bibliográfica. Certamente, outras
obras também merecem destaque mas a limitação
de espaço não permite que citemos todas.
Devido à grande ênfase
que o movimento espírita tem dado à pesquisa multidisciplinar
envolvendo o Espiritismo, as próximas aulas serão
dedicadas à análise das condições para
que os resultados desses estudos e pesquisas tenham valor científico,
sem deixarem de satisfazer os critérios necessários
para serem espíritas.
2. DIVULGAÇÃO
DOS TRABALHOS CIENTÍFICOS
Nesta aula vamos, ainda, introduzir
o leitor à questão sobre a forma pela qual os trabalhos
científicos são divulgados. Isto ocorre, em sua granda
maioria, através dos periódicos científicos.
Nesse aspecto, como em outros, Allan Kardec demonstrou estar bem
à frente de seu tempo. Numa época em que a ciência
estava longe da organização que possui hoje, além
de agir de forma científica no trabalho de codificação,
Kardec propôs a criação da Revista Espírita
que teve um grande papel na propagação do Espiritismo,
na unificação dos grupos espíritas e no desenvolvimento
do conhecimento espírita.
Os periódicos ditos científicos
são destinados à publicação de artigos
científicos que além de possuírem um formato
geral padronizado, seguem um método de seleção
para publicação que se constitui no coração
da atividade de divulgação científica profissional.
Discutiremos, em detalhes, essa metodologia de publicação
e seus valores na próxima aula. Aqui, descreveremos as partes
que compõem um artigo científico: 1) Título;
2) Autores; 3) Endereço ou afiliação dos autores;
4) Resumo; 5) Palavras chave; 6) Texto principal do artigo subdividido
em: a) Introdução; b) Seções descritivas
e c) Discussões ou Conclusões finais; d) Apêndice
(quando necessário); 7) Bibliografia ou Referências.
Veja abaixo uma curta explicação de cada parte:
1. Título:
Frase que apresenta o trabalho de pesquisa descrito no artigo. Deve
ser, ao mesmo tempo, informativa e suscinta.
2. Autor(es): Nome e sobrenome de cada autor ou
co-autor do artigo. A ordem dos autores pode refletir a importância
de cada um para o artigo, mas isso não é regra geral.
Pode-se abreviar os primeiros nomes. O último sobrenome deve
ser escrito por extenso.
3. Endereço ou Afiliação:
O objetivo é divulgar as instituições dos autores.
Isso ajuda a valorizar os centros de pesquisas tornando-os internacionalmente
conhecidos.
4. Resumo: Um parágrafo deve ser preparado
com um resumo do trabalho de pesquisa apresentado no artigo, os
métodos empregados e as conclusões principais. O objetivo
é fornecer informações básicas para
os leitores discernirem se o artigo lhes interessa à leitura.
5. Palavras chave: algumas expressões que
definem o tópico de pesquisa a que se refere o artigo. Isso
é destinado à classificação do artigo
facilitando os serviços de informação e busca
científica.
6. Texto: Texto propriamente dito do artigo.
6.1 - Introdução: A introdução
deve apresentar um pequeno histórico das pesquisas sobre
o assunto contendo sucessos e insucessos das pesquisas realizadas
a respeito. Deve conter também as motivações
do trabalho. As referências de cada pesquisa ou informação
usadas na descrição acima devem ser feitas ao longo
do texto e colocadas em sequência no final do artigo.
6.2 - Seções: Após a introdução,
seções contendo os dados medidos, a teoria básica
empregada, os cálculos realizados, as novas equações
obtidas, as explicações necessárias, etc. devem
ser preparadas de forma clara e didática. Figuras e tabelas
que ilustram e mostram os resultados da pesquisa são, geralmente,
colocadas nestas seções.
6.3 - Discussão ou conclusão: A análise
final do trabalho de pesquisa que está sendo divulgado no
artigo deve ser feita e apresentada nesta última seção
e consiste na apresentação dos resultados do mesmo
dentro dos objetivos previstos pelos autores.
6.4 - Apêndice: Detalhes demasiadamente técnicos
que sobrecarregariam a leitura do artigo, mas que são necessários
para a avaliação do trabalho realizado. São
colocados ao final, após as conclusões, antes das
referências.
7. Bibliografia ou Referência: Uma lista
com todos os artigos, livros e demais obras citadas ao longo do
texto. Cada ítem da lista deve conter: nomes dos autores;
nome do periódico (se for artigo), do livro ou da mídia
onde a referência foi publicada; dados sobre a editora e edição
(para livros); número e volume (para periódicos);
páginas e ano da publicação. Existem vários
padrões para a formação desta lista como por
ordem alfabética (de sobrenomes) ou ordem numérica
de citação ao longo do texto.