O jornal O Estado de São Paulo,
no dia 21 de Março de 2004, dedicou uma página inteira
à uma reportagem sobre o professor titular de Neurobiologia
da Duke University, Carolina do Norte, Prof. Miguel Nicolelis, brasileiro
radicado nos EUA.
Em artigos científicos recentes [1,2],
o Prof. Nicolelis apresentou alguns resultados de uma pesquisa extraordinária
com a implantação de chips em cérebros de macacos.
Esses chips permitem que o cérebro do animal controle dispositivos
eletro-mecânicos a distância. Essas pesquisas certamente
possuem implicações para o tratamento e, talvez, cura
de pessoas que sofrem de algum tipo de paralisia. Veremos que essas
pesquisas são de interesse espírita, analisando os seus
limites diante do conhecimento da existência do espírito.
O Prof. Nicolelis e sua equipe desenvolveram um sistema que converte
impulsos cerebrais em sinais elétricos que são interpretados
e analisados por computador. Em artigo publicado em 2003 [2],
o experimento com macacos foi realizado mostrando que é possível
obter e registrar os pulsos cerebrais relacionados ao comportamento.
Vários chips foram implantados em regiões específicas
do cérebro registrando, ao mesmo tempo, os impulsos cerebrais
e emitindo outros pulsos de acordo com o experimento. Em [1],
Nicolelis afirma que não apenas é possível obter
informação sobre como o conjunto de neurônios
codificam os sinais para a execução de uma determinada
tarefa, como mover as mãos, mas também é possível
ao cérebro se adaptar ao novo “implante”. Se os
chips estiverem ligados a um computador que “interpreta”
e converte os sinais cerebrais em sinais elétricos apropriados
ao movimento de um robô, o indivíduo pode aprender a
mover e controlar esse robô como se ele fosse parte de seu corpo.
Figura 1: Esquema representativo do experimento
realizado com macacos pelo Prof. Nicolelis. Um chip implantado no
cérebro é conectado a um computador que interpreta os
impulsos cerebrais e os converte em sinais de controle para um robô.
Veja o texto para maiores detalhes.
O Prof. Nicolelis, na reportagem do jornal O Estado de São
Paulo, explica como isso seria possível: “você
compra um carro novinho e, por algum tempo, não se sente à
vontade ao volante, mas após alguns dias a plasticidade cerebral
faz com que ele pareça parte de você.” Isso significa
que o cérebro, com o exercício, se adapta ao novo implante
cerebral e, por conseguinte, ao robô que pode servir como braço,
mãos ou pernas mecânicas auxiliares.
Apesar de que, à primeira vista, essas pesquisas parecerem
reforçar teses materialistas sobre a vida, para nós
espíritas, que temos a certeza da existência e sobrevivência
da alma, essas pesquisas mostram a grande versatilidade do instrumento
chamado cérebro além de nos oferecer uma grande analogia
para a influência do espírito sobre o corpo físico.
O ponto principal é que essas pesquisas não dizem nada
a respeito da origem, fonte ou causa inicial dos impulsos cerebrais.
O primeiro impulso dentro do cérebro é conseqüência
da influência do espírito que é, por isso, responsável
por seus atos e pensamentos, conferindo ao indivíduo sua identidade
particular, não determinada pelo corpo físico [3].
Vejamos o que dizem Kardec e os Espíritos
[4]:
369. O livre exercício das faculdades da alma está subordinado
ao desenvolvimento dos órgãos?
“Os órgãos são os instrumentos da manifestação
das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada
ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos,
como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta
própria à sua execução.”
370. Da influência dos órgãos se pode inferir
a existência de uma relação entre o desenvolvimento
dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?
“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito
dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias.
Ora, não são os órgãos que dão
as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”
a) - Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões
entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito?
“O termo - unicamente - não exprime com toda a exatidão
o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades
do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre,
porém, se leve em conta a influência da matéria,
que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.”
(Grifos nossos).
Comentário de Kardec: Encarnado, traz o Espírito certas
predisposições e, se se admitir que a cada uma corresponda
no cérebro um órgão, o desenvolvimento desses
órgãos será efeito e não causa. Se nos
órgãos estivesse o princípio das faculdades,
o homem seria máquina sem livrearbítrio e sem a responsabilidade
de seus atos. (...)
Percebe-se pelas respostas dos espíritos
às questões 369 e 370 que a causa dos impulsos cerebrais
que levam o indivíduo a realizar um ato ou pensamento reside
no espírito. O desenvolvimento e o grau de perfeição
dos órgãos do corpo físico impõem um limite
à completa manifestação das faculdades do espírito.
É interessante verificar
que os resultados das pesquisas do Prof. Nicolelis confirmam as seguintes
palavras de Kardec: “Se nos órgãos estivesse o
princípio das faculdades, o homem seria máquina sem
livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos”.
O robô ligado ao cérebro do indivíduo, via um
chip implantado no mesmo, não tem livre-arbítrio para
se movimentar sozinho. Se uma pessoa desavisada chegar ao laboratório
do Prof. Nicolelis e olhar o robô fazendo alguma atividade,
ele vai achar que o robô está vivo. Mas sabemos que o
comando vindo do indivíduo é que faz o robô se
movimentar. É exatamente nesse sentido que se deve entender
as palavras de Kardec com relação ao espírito.
Os orgãos sozinhos não possuem livre-arbítrio
e isso significa que eles obedecem a ordem que vém do espírito.
O perispírito, em interação com o cérebro
e o sistema nervoso, é responsável pela “ponte”
entre o princípio inteligente do universo, essência da
vida, e a sua manifestação no mundo material, o corpo
físico. Ambos, o perispírito e o cérebro, são
elementos oriundos do princípio material. Assim como o chip
e o computador, no experimento do Prof. Nicolelis, são elementos
intermediários imprescindíveis, o perispírito
em contato com o cérebro é imprescindível para
que o espírito controle seu corpo e atue no mundo material.
Figura 2: Esquema
representando o papel intermediário
do Perispírito entre o espírito e o corpo físico.
Essa ligação é possível graças
a existência do Perispírito e do desenvolvimento do cérebro
e do sistema nervoso.
Essas pesquisas abrem campo para algumas conjecturas espíritas.
Como a intensidade de energia necessária para a interação
cérebro-chip é pequena, podemos imaginar que com a ajuda
dos fluidos animalizados de um médium de efeitos físicos,
seria possível a um espírito desencarnado controlar
os movimentos de um robô utilizando os recursos tecnológicos
análogos aos que o Prof. Nicolelis desenvolveu e utilizou em
suas pesquisas.
Uma outra questão que só o futuro responderá
é se a capacidade de adaptação do cérebro
ao chip é uma característica do espírito ou puramente
a versatilidade do cérebro. Arrisco dizer que a capacidade
do espírito deve ter um papel fundamental para o processo.
Mas em ciência, a opinião de um cientista é apenas
o ponto de partida. Somente os trabalhos de pesquisa futuras irão
responder com segurança essa questão. Abririam essas
experiências do Prof. Nicolelis, uma “brecha” para
demonstrarmos a existência de “algo” além
da matéria? O passo inicial está dado. O mais difícil
aguarda o esforço dos pesquisadores.
Concluimos com uma prece de agradecimento ao Criador por permitir
que a inteligência humana possa ir vencendo barreiras para o
desenvolvimento de novas formas de tratamento de doenças e
limitações humanas.