Aula 6 :
Física e Espiritismo I : propriedades da matéria -
A diferença entre livros e artigos.
1. FÍSICA
E ESPIRITISMO I: PROPRIEDADES DA MATÉRIA
Nas aulas anteriores, falamos sobre
o conceito de Ciência, sobre pesquisas puramente espíritas
e pesquisas multidisciplinares, isto é, que envolvem conceitos
de alguma disciplina científica e o Espiritismo. Hoje, iniciaremos
uma série de aulas sobre as contribuições e
problemas, acertos e equívocos no uso de conceitos da Física
na tentativa de explicar ou entender alguns conceitos Espíritas.
Na aula de hoje, falaremos sobre as afirmativas dos Espíritos
Superiores, contidas no Livro dos Espíritos [1], que só
podem ser entendidas com o intermédio da teoria conhecida
como Mecânica Quântica.
Vejamos as seguintes questões
do Livro dos Espíritos [1]:
22. Define-se geralmente
a matéria como sendo o que tem extensão, o que é
capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável.
São exatas estas definições?
“Do vosso ponto de vista,
elas o são, porque não falais senão do que
conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais.
Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma
impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é
sempre matéria. Para vós, porém, não
o seria.” (Grifos nossos).
Como exemplo do que está
grifado acima, sabemos hoje da existência de um tipo de partícula
subatômica chamada neutrino. Essa partícula foi descoberta
quando se estudou o chamado decaimento1 de um neutron em um proton
mais um elétron. Ela é tão leve e interage
tão pouco com a matéria densa que em um único
segundo mais de 100 trilhões de neutrinos vindos do sol atravessam
nosso corpo sem percebermos. Portanto, como os Espíritos
disseram acima, a matéria pode ser tão sutil que nenhuma
impressão nos causa.
34. As moléculas
têm forma determinada?
“Certamente, as moléculas
têm uma forma, porém não sois capazes
de apreciá-la.”
a) - Essa forma é constante ou variável?
“Constante a das moléculas
elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias,
que mais não são do que aglomerações
das primeiras porque, o que chamais molécula longe
ainda está da molécula elementar.”
(Grifos nossos). A questão sobre a forma de átomos
e moléculas é, de fato, algo impossível de
se resolver com precisão. Portanto, mesmo com todo o avanço
científico, somos incapazes de apreciá-la. A ciência
possui modelos para a estrutura e forma dos átomos e moléculas
(como o modelo do átomo de Rutherford, que é formado
por pequenas esferas (elétrons) que circulam em torno do
núcleo, de forma similar a um sistema solar), mas por razões
que a teoria quântica apresenta, é impossível
determinar com precisão absoluta a forma, o tamanho ou as
dimensões de um átomo ou partícula.
A partícula que delimita a fronteira do átomo é
o elétron. Segundo a teoria quântica, é possível
calcular a chamada densidade de probabilidade da posição
de um elétron em um átomo. Nos locais onde essa densidade
de probabilidade é maior, temos maior chance de encontrarmos
um elétron. Portanto, a região espacial onde essa
densidade de probabilidade atinge seus valores máximos pode
ser usada como definição para os limites espaciais
de um átomo. Por exemplo, a região espacial onde há
maior probabilidade de encontrarmos o elétron quando ele
está na chamada camada K (que representa o estado quântico
em que o elétron possui menor energia) possui a forma de
uma casca esférica. Na camada L, temos outro tipo de formato
para essa região e assim por diante. O conjunto de todas
as regiões onde os elétrons tem mais probabilidade
de serem encontrados é chamado de nuvem eletrônica
de um átomo. Através dela podemos definir a forma
espacial do átomo. Notem que isso define apenas a forma mais
provável pois, na verdade, os elétrons em torno de
um núcleo podem ocupar regiões diferentes do espaço.
Quanto mais primitiva, ou melhor, mais simples é uma molécula,
mais simples é a função densidade de probabilidade
associada à sua núvem eletrônica o que, por
sua vez, torna mais simples a sua forma de acordo com a definição
apresentada. Moléculas mais complexas como as proteínas,
por exemplo, admitem muitos tipos de formas, onde cada uma delas
corresponde a algum tipo de função química
ou biológica.
36. O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço
universal?
“Não, não há
o vácuo. O que te parece vazio está ocupado
por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”
(Grifos nossos).
O neutrino que é produzido em reações nucleares
dentro de uma estrela viaja por enormes distâncias no Universo
sem quase interagir com nenhum outro objeto físico. Só
isso já bastaria para confirmar o fato de que o que nos parece
o vazio (o espaço interestelar) está ocupado por matéria
que escapa aos nossos intrumentos.
Mas o chamado Princípio de
Incerteza de Heisenberg levou a uma descoberta ainda mais fascinante:
é possível a ocorrência de processos de criação
e destruição de partículas em um curto intervalo
de tempo. Nas proximidades de um núcleo pesado, partículas
surgem e desaparecem literalmente do nada desde que esse processo
seja suficientemente rápido. Portanto, em regiões
que deveriam estar vazias de matéria, ocorre constantemente
esse processo de criação e destruição
de partículas “enchendo” o vazio com partículas
de matéria que, a rigor, escapa aos nossos sentidos.
2. DIFERENÇA CIENTÍFICA
ENTRE LIVROS E ARTIGOS
No Movimento Espírita, o
livro possui um papel extremamente importante na difusão
dos conhecimentos espíritas. Obras mediúnicas psicografadas
por Chico Xavier, Divaldo P. Franco, Raul Teixeira e outros, se
tornaram leitura necessária a todo aquele que deseja não
só estudar aprofundadamente os conceitos espíritas,
mas também trabalhar na seara espírita de modo eficiente.
Já em Ciência, o livro
também possui um papel importante tanto na divulgação
quanto no ensino. No entanto, livros de divulgação
e livros texto destinados aos estudantes possuem status diferentes
e se originam de forma diferente. Livros de divulgação
como, por exemplo, aqueles que o famoso físico Stephen Hawking
e outros cientistas escrevem, têm como objetivo esclarecer
o público leigo sobre um determinado assunto científico.
Um livro texto é aquele que resultou de muitos trabalhos
de pesquisa em determinada área e que de tanto serem confirmados,
se tornaram básicos a ponto de fazerem parte da grade curricular
de um curso científico. O livro texto, apesar de possuir
uma forma didática de expor o conhecimento, não se
dedica ao público leigo e quase sempre requer do leitor (o
estudante) algum conhecimento adquirido em determinados métodos
de análise. Por exemplo, os livros texto de Física
requerem que o estudante já tenha algum domínio em
cálculo diferencial e integral. Mas o ponto mais importante
é que os livros texto sobre determinado assunto só
surgem após a publicação de inúmeros
artigos científicos sobre um determinado assunto
demonstrando que o mesmo está bem estabelecido e possui muitas
aplicações. O livro texto não
contém opiniões de seus autores pois deve refletir
apenas o conhecimento científico em sua forma mais simples
e segura. Já o livro de divulgação,
se por um lado possui algumas informações científicas,
por outro, contém muitas opiniões, pensamentos próprios
e toda uma série de reflexões pertencentes ao autor
e que não constituem resultados de algum trabalho de pesquisa.
Portanto, o valor de um livro de
divulgação científica é muito menor
do que o de um livro texto no tocante ao conteúdo científico
ou a validade do conteúdo científico. Ao escrever
um conceito científico em termos compreensíveis ao
leitor leigo em ciência, importantes partes do próprio
conceito se perdem pelo simples fato de que a linguagem técnica,
muitas vezes, é a única que o representa de forma
precisa. As editoras, quase sempre, publicam esses livros com objetivo
de obter lucros e não estão preocupadas (nem são
obrigadas a tal) com a veracidade científica do que é
publicado. Já para publicar um livro texto, há que
verificar se os autores seguiram a risca os resultados científicos
confirmados pela comunidade científica através de
diversas publicações científicas.
Como exposto em aula anterior (aula
4, Boletim 486), os artigos científicos passam por um processo
de avaliação conhecido como análise
por pares. Nesse processo, cada artigo é submetido
a um ou mais árbitros anônimos para apreciação
e emissão de um parecer positivo ou negativo quanto
à publicação do mesmo de acordo com critérios
exclusivamente científicos. Isso permite que os resultados
dos artigos publicados tenham alguma validade dentro de determinados
limites científicos. Com o tempo, as pesquisas são
confirmadas ou refutadas através de novos artigos, de autoria
de outros cientistas e isso vai consolidando o conhecimento a respeito
de determinada área ou assunto.
Em contrapartida, existem os
periódicos destinados a publicação de artigos
de divulgação científica, isto é,
destinados ao público leigo. Temos, por exemplo, a revista
Scientific American [2], com sua versão em português
[3], a seríssima revista Pesquisa FAPESP [4] e outras mais
antigas e conhecidas como a Super Interessante [5], etc. Apesar
da subjetividade referente às opiniões dos autores
ser um pouco menor nesses artigos de divulgação do
que num livro de divulgação, as explicações
dos conceitos científicos são feitas, também,
de forma “mastigada” o que as tornam explicações
incompletas. Portanto, artigos científicos têm
muito mais valor científico do que artigos de divulgação
científica. Raramente artigos de divulgação
científica são citados em artigos científicos
e, mesmo assim, isso acontece apenas com algumas poucas revistas
de divulgação como a prestigiada Scientific American.
Portanto, em Ciência, podemos
hierarquizar as publicações de acordo com
o seu valor científico em:
1) livros texto;
2) artigos científicos;
3) artigos de divulgação científica e;
4) livros de divulgação científica.