Em comemoração aos 12
anos do GEAE
Aula 16 :
O Estudo e a orientação no trabalho de pesquisa espírita
1. ESTUDO E ORIENTAÇÃO
Um dos fatores importantíssimos
no progresso da Ciência é aquilo que chamamos de colaboração
onde dois ou mais cientistas se juntam para estudar e resolver um
problema. Esse processo não envolve apenas cientistas já
formados e experientes. Ele envolve o processo de formação
de novos pesquisadores onde os mais experientes orientam os jovens
estudantes no estudo e prática científicas.
O Movimento Espírita
desenvolve seus estudos de várias formas. Muitos
centros espíritas possuem cursos introdutórios de
Espiritismo e sobre a Mediunidade. Esses cursos, em geral, objetivam
esclarecer os iniciantes sobre os principais conceitos da Doutrina
Espírita e oferecem a oportunidade da realização
de atividades mediúnicas sob orientação dos
companheiros mais experientes, e de acordo com a Doutrina Espírita.
Nesses cursos, os aspectos doutrinários (filosófico,
científico e religioso) são ensinados de modo que
o iniciante tenha uma visão mais ampla do Espiritismo. Muitas
casas espíritas oferecem diversos cursos adicionais de modo
que o trabalhador espírita que já conhece os conceitos
básicos do Espiritismo, permaneça em constante aprendizado.
Outro veículo de
divulgação e estudo é o livro espírita.
A literatura espírita, hoje, é muito extensa e os
diversos gêneros de leitura oferecem aprendizado em linguagem
acessível a todas as pessoas.
Além disso, o Movimento Espírita
conta com muitos periódicos (jornais, boletins
e revistas) que trazem aos leitores muitas informações
espíritas, divulgam eventos, apresentam estudos específicos
a luz do Espiritismo, e muito mais. O detalhe que desejamos ressaltar
na aula de hoje é que a grande maioria do que é divulgado
nesses periódicos é assinado por um único autor.
Como vamos falar de colaboração,
gostaríamos de deixar claro que o conteúdo desta aula
deve ser entendido no sentido da realização da atividade
de pesquisa espírita, onde idéias e conhecimentos
novos são obtidos como frutos do trabalho de pesquisa. Portanto,
não estamos falando das matérias espíritas
tão importantes quanto necessárias no processo de
divulgação da Doutrina Espírita. Também
não estamos questionando a publicação de opiniões
pessoais sobre qualquer assunto espírita. Estamos falando
da divulgação dos trabalhos de pesquisa de interesse
espírita que precisam satisfazer muitos critérios
de seriedade para que seus resultados possam ser usados com confiança
em futuros estudos e pesquisas.
Ao falar em colaboração,
não estamos querendo dizer que uma pesquisa não pode
ser realizada por uma única pessoa. Esta aula objetiva orientar
tantos os mais experientes quanto os iniciantes em estudos espíritas,
a canalizar o potencial de ambos no desenvolvimento dos conhecimentos
espíritas.
Ninguém inicia o aprendizado
científico sem conhecer a disciplina básica com a
qual pretende trabalhar. Um pesquisador físico, por exemplo,
precisa ter o conhecimento básico da Física, enquanto
um pesquisador médico precisa ter o conhecimento básico
da Medicina. Não é de se esperar, portanto, que o
pesquisador espírita precisa ter um bom conhecimento do Espiritismo
e isso não ocorre do dia para a noite. Isso requer não
somente a participação em cursos onde o indivíduo
pode trocar idéias com outros companheiros, mas também
a leitura das obras básicas da codificação
e de outras obras espíritas para além de formar uma
visão ampla do Espiritismo, ter boa noção do
que já existe em matéria de estudos espíritas.
Uma vez que uma pessoa já
possui, com segurança, o conhecimento básico do Espiritismo
e tem vontade de trabalhar no desenvolvimento dos conhecimentos
espíritas, o momento é de escolha por algum tópico.
A leitura de vários livros espíritas tem um papel
fundamental neste momento pois para escolher é preciso conhecer
as opções. Existem muitos tópicos de estudo
e pesquisa de interesse espírita. Existem assuntos multidisciplinares
(aula 4, Boletim 486) em que tópicos de interesse espírita
são analisados sob a luz da Doutrina Espírita e sob
alguma outra ciência ou área do conhecimento. Existem
também assuntos puramente espíritas (aula 3, Boletim
485) onde usa-se apenas o paradigma espírita no trabalho
de pesquisa.
Após a escolha de um assunto
de seu interesse, o jovem iniciante em trabalhos de pesquisa tem,
de uma forma geral, dois caminhos possíveis a seguir: 1)
realizar todo o trabalho sozinho ou 2) realizar o trabalho de pesquisa
sob orientação.
1) No primeiro caminho,
o iniciante em atividades de pesquisa deve buscar relacionar toda
a bibliografia disponível sobre o assunto. Por exemplo, se
o assunto escolhido é Perispírito, todos (ou o máximo
possível) os livros e artigos espíritas sobre o perispírito
devem ser reunidos para o inicio do estudo. O iniciante, então,
deve le-los de modo a ficar ciente do que já foi feito e
estudado (em Ciência jamais repete-se o trabalho já
feito para não prejudicar o progresso).
Várias idéias podem
surgir com a leitura e, por isso, o iniciante deve ir anotando todas
elas de modo a analisá-las posteriormente. Pode acontecer
da leitura apresentar algum conceito ou afirmativa estranha, diferente
ou nova, sem a devida explicação. O iniciante pode,
então, desejar demonstrá-la a luz do Espiritismo e
de acordo com o tópico científico associado ao mesmo.
O importante da leitura é não somente obter os conhecimentos
básicos sobre o assunto, mas também se certificar
de que a idéia que veio à mente não foi trabalhada
em nenhum outro livro ou artigo e, portanto, é algo inédito
que trará alguma contribuição no progresso
do conhecimento. Se a idéia já foi abordada por outro(a)
pesquisador(a), o iniciante pode, se desejar, dar prosseguimento
à idéia inicial imaginando algum aspecto do assunto
que ainda não foi analisado.
Uma vez escolhida a idéia
(ou as idéias) que deseja trabalhar, é importante
escrever um projeto de pesquisa ou algo similar (aulas 14 e 15,
Boletins 496 e 497, respectivamente). Isso é importante para
organizar as atividades que serão realizadas, bem como fornecer
uma visão global da idéia, das motivações
ligadas a ela, que benefícios o trabalho de pesquisa trará,
etc. O projeto de pesquisa também serve como referência
das idéias imaginadas, métodos empregados e objetivos
propostos, para futuras consultas.
Esse caminho possui algumas desvantagens.
Em geral, todo trabalho de pesquisa possui critérios gerais
e específicos que garantem que os resultados possam ser considerados
válidos. Se o iniciante na atividade de pesquisa espírita
não tiver experiência ou conhecimento sobre o processo
de trabalho de pesquisa, ele pode perder tempo realizando análises
sem o rigor necessário. Nossas aulas sobre Ciência
e Espiritismo podem ajudar um pouco nesse esclarecimento, mas elas
não possuem todas as informações possíveis.
Outra desvantagem é a falta de experiência com relação
a divulgação dos resultados de pesquisa. Questões
como “qual a linguagem deve ser empregada?” e “em
que periódico (ou livro) divulgar os resultados da pesquisa?”
são fundamentais e, nesse caso, o ítem 2) a seguir
é de grande ajuda.
A vantagem principal desse caminho
é o fato de não ter que depender da disponibilidade
de ninguém para desenvolver o projeto de pesquisa. Muitas
vezes, as pessoas que possuem experiência são geralmente
muito ocupadas. Em geral, pesquisadores mais experientes são
mais capazes de realizar trabalhos de modo mais independente. Porém,
muitos possuem colaboração com outros pesquisadores
não somente porque duas ou mais cabeças sempre pensam
melhor que uma, mas também porque o conhecimento tem progredido
tanto que se tornou impossível a uma única pessoa
ter base sólida em muitas áreas do conhecimento ao
mesmo tempo.
Através do e-mail: editor@geae.inf.br,
qualquer companheiro(a) pode pedir orientação sobre
qualquer assunto. Os Editores farão todo o esforço
possível para encontrar o esclarecimento das dúvidas.
2) No segundo caminho,
através da leitura prévia dos livros espíritas
mencionada nos parágrafos anteriores, o iniciante deve juntar
as idéias que o interessam. Porém, aqui, ele pode
procurar entrar em contato com algum autor ou estudioso do tema
escolhido para pedir sugestões e orientação.
Nesse caminho, o iniciante pode
aproveitar a experiência do estudioso para perguntar se as
suas idéias são interessantes, se ele conhece outras
bibliografias que já trataram do assunto, se existem outras
idéias, etc.
Da mesma forma, um projeto de pesquisa
deve ser preparado. A ajuda do estudioso será importante
pois além da experiência no tópico de pesquisa,
ele possui uma visão mais ampla das relações
entre o Espiritismo e o assunto a ser pesquisado.
A principal vantagem é aproveitar
a experiência do estudioso para não perder tempo com
tópicos de menor interesse ou que já foram trabalhados
exaustivamente. O estudioso certamente ajudará o iniciante
nos critérios a serem seguidos para validar as suas pesquisas
além de orientar sobre as melhores formas de divulgação
do trabalho.
Uma grande vantagem que existe nesse
caminho é a orientação sobre a confiabilidade
das referências (livros ou artigos). Muitos autores escrevem
suas opiniões e pensamentos particulares sobre assuntos ainda
pouco desenvolvidos e se basear em opiniões é algo
muito perigoso para a validade dos resultados da pesquisa (ver aulas
6 e 7, Boletins 488 e 489, respectivamente). É muito díficil
para o iniciante em atividades de pesquisa discernir a validade
ou confiabilidade das fontes de pesquisa e a ajuda de um estudioso
mais experiente é muito importante.
A principal desvantagem é
a disponibilidade de tempo do orientador para as discussões
sobre as atividades do projeto. Porém, essa desvantagem não
é tão importante tendo em mente que nós buscamos,
antes de mais nada, a qualidade do trabalho de pesquisa. Não
importa se um estudo demorar um tempo maior. O importante é
que ele seja concluído de modo completo e satisfatório.
Nesta aula, objetivamos ressaltar o valor do estudo e da orientação
na realização de trabalhos de pesquisa e na ajuda
aos iniciantes. O estudo é importante para nos informar tudo
o que foi desenvolvido até o momento sobre determinados assuntos.
A orientação é importante pois permite a troca
de experiência e o aproveitamento do tempo tanto no trabalho
de pesquisa qunto no aprimoramento dos pesquisadores. Aqui vale
lembrar a recomendação do Espírito de Verdade
no ítem 5 do capítulo VI de O Evangelho Segundo o
Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro
ensinamento; instrui-vos, este o segundo”. A colaboração
e orientação no trabalho de pesquisa espírita
satisfazem ao mesmo tempo as duas recomendações acima.