Recentes pesquisas indicam regiões
cerebrais relacionadas aos nossos sentimentos religiosos e à
mediunidade. Eis uma interessante notícia.
No dia 4 de abril de 2004, no programa Fantástico,
da Rede Globo de Televisão, foi ao ar uma interessante reportagem
sobre os poderes, considerados extraordinários, do cérebro.
O Dr. Drauzio Varella apresentou teses científicas
para explicar determinados comportamentos como o fanatismo religioso
e as experiências místicas. Varella associa tais comportamentos
a determinadas reações físico-químicas
em algumas regiões do cérebro. A reportagem mostra
exemplos de pessoas comuns e famosas, que apresentam comportamentos
esquisitos e alterações significativas em suas personalidades,
portadoras de epilepsia (descarga nervosa em que os neurônios
emitem pulsos ao mesmo tempo) em determinadas áreas do cérebro.
Como um exemplo famoso, a reportagem mostrou que o grande gênio
da pintura, Vincent Van Gogh, sofria de epilepsia e que, no auge
da doença, ele foi demitido da função de pastor
por causa de um intenso fanatismo religioso.
Varella admite que não se
pode provar que a epilepsia seja a causa do sentimento de fanatismo
ou misticismo nas pessoas mas ele afirma que está comprovada
a existência de uma relação entre essa doença
e o que ele denominou de “hiper-religiosidade”.
Neste artigo pretendemos discutir
a questão sob a óptica espírita aproveitando
uma interessante pesquisa, divulgada na reportagem acima, sobre
um experimento que pretende simular uma visão espiritual.
Veremos que essa pesquisa, ao invés de reforçar argumentos
materialistas, pode contribuir com os estudos espíritas sobre
os mecanismos da mediunidade.
O EXPERIMENTO:
Cientistas canadenses criaram um instrumento (um capacete) que contem
diversas bobinas elétricas dispostas em posições
pré-estabelecidas, a ser colocado sobre a cabeça de
um indivíduo com os olhos vendados. A passagem de determinadas
correntes elétricas através dessas bobinas cria um
campo magnético de intensidade suficiente para estimular
pulsos nervosos em regiões específicas do cérebro
dos indivíduos sob teste, gerando pensamentos e sensações.
Através deste experimento, os cientistas desejam simular,
artificialmente, as chamadas experiências espirituais.
O Prof. Michael Persinger,
pesquisador responsável por essas pesquisas, apresenta, em
sua “homepage” [1], os
interessantes resultados de seus testes. Quando determinadas regiões
do cérebro são estimuladas, as pessoas disseram sentir
a presença de entidades, Deus ou disseram estar vendo determinadas
“formas”. Segundo a reportagem do Fantástico,
essas experiências não reproduziram, ainda, uma autêntica
visão espiritual. E, como diz Persinger, os cientistas não
estão preocupados em saber se a origem das experiências
místicas ou espirituais é Deus ou os espíritos.
Eles acreditam que estão descobrindo como essas sensações
ocorrem dentro do cérebro [1].
Essa experiência e a opinião
dos cientistas nos fazem lembrar a questão 370 de
O Livro dos Espíritos [2]:
370. Da influência
dos órgãos se pode inferir a existência de uma
relação entre o desenvolvimento dos do cérebro
e o das faculdades morais e intelectuais?
“Não confundais
o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das
faculdades que lhe são próprias. Ora, não são
os órgãos que dão as faculdades, e sim estas
que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”.
Destacamos que a pergunta de Kardec
é análoga à questão sobre a relação
entre o funcionamento do cérebro e a personalidade de uma
pessoa. E para responder essa questão de forma mais precisa
transcrevemos a pergunta número 372 a):
372. a) - Não
há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos
nada influem sobre as faculdades?
“Nunca dissemos
que os órgãos não têm influência.
Têm-na muito grande sobre a manifestação das
faculdades, mas não são eles a origem destas. Aqui
está a diferença. Um músico excelente, com
um instrumento defeituoso, não dará a ouvir boa música,
o que não fará que deixe de ser bom músico.”
“Aqui está a
diferença”, disseram os espíritos. A causa das
faculdades ou da personalidade de um indivíduo não
está nos órgãos, mas sim no espírito.
Mas os órgãos limitam a manifestação
dessas faculdades. A causa dos fenômenos mediúnicos
não reside no cérebro, mas sim no espírito
comunicante. Mas os órgãos impõem limites para
o fenômeno mediúnico. Assim, concluímos que
os resultados dessas pesquisas apenas indicam, ainda que de forma
bastante rudimentar, onde e, talvez, como as influências espirituais
se manifestam no cérebro. Elas não podem ser usadas
para afirmar que a causa do fenômeno reside no cérebro.
Esses experimentos não são capazes de trazer informações
precisas sobre os mecanismos da interação mente-corpo,
mas elas indicam um caminho ao verificarem que os neurônios
estão sujeitos à influências de origem eletromagnética.
Essas pesquisas são, no fundo, muito mais interessantes
para nós espíritas pois elas trazem alguma luz para
o estudo dos mecanismos da mediunidade.
Ilustração do esquema experimental
utilizado pelo Prof. Michael Persinger para testar a sensibilidade
do cérebro à aplicação de determinados
campos eletromagnéticos. Cada bobina é localizada
de acordo com a região cerebral cuja sensibilidade se deseja
estudar.
Podemos formular algumas questões científicas. Teriam
as regiões cerebrais onde os cientistas conseguiram simular
as visões espirituais alguma ligação especial
com a glândula pineal que, segundo André
Luiz [3], representa a “glândula
da vida mental”?
No capítulo sobre Assimilação
de correntes mentais, em Nos Domínios da
Mediunidade [4], lemos a seguinte
descrição:
(...) A emissão mental de
Clementino (espírito), condensando-lhe o pensamento e a vontade,
envolve Raul Silva (encarnado) em profusão de raios que lhe
alcançam o campo interior, (...). Essas impressões
apóiam-se nos centros do corpo espiritual, que funcionam
à guisa de condensadores, atingem, de imediato, os cabos
do sistema nervoso, a desempenharem o papel de preciosas bobinas
de indução, acumulando-se aí num átimo
e reconstituindo-se, automaticamente, no cérebro, onde possuímos
centenas de centros motores, semelhante a milagroso teclado de eletroímãs,
ligados uns aos outros e em cujos fulcros dinâmicos se processam
as ações e as reações mentais, (...),
considerando-se o encéfalo como poderosa estação
emissora e receptora (...).
Essa explicação do
assistente Áulus é muito oportuna. Sendo o encéfalo
uma estação emissora e receptora, nada mais lógico
o resultado obtido pelos cientistas canadenses de que os indivíduos
tiveram sensações e até visões. Mas
desde que os sinais eletromagnéticos, gerados
pelas bobinas, não são capazes de produzir pulsos
cerebrais relacionados a verdadeiros pensamentos e sentimentos,
é de se esperar, como mencionado pela reportagem do Fantástico,
que as visões obtidas não sejam tão reais quanto
as visões espirituais.
Outras questões surgem ao
pesquisador espírita: que relação existiria
entre a epilepsia (em qualquer grau) e a chamada “hiper-religiosidade”
em algumas pessoas? A resposta completa a essa questão certamente
ainda tardará mas temos, de novo, em André Luiz alguma
informação (cap. 8 da referência [5]):
(...) o fenômeno epileptóide
(...) mui raramente ocorre por meras alterações no
encéfalo, como sejam as que procedem de golpes na cabeça
– (...) – e, geralmente, é enfermidade da alma,
independente do corpo físico, que apenas registra, nesse
caso, as ações reflexas.
Adiante, no mesmo capítulo,
o instrutor explica:
(...) Contudo, logo que se lhe consolidou
a posse do patrimônio físico, ultrapassados os catorze
anos de idade, Marcelo, com a organização perispiritual
plenamente identificada com o invólucro fisiológico,
passou a rememorar os fenômenos vividos, e surgiram-lhe as
chamadas convulsões epilépticas com certa intensidade.
Vemos que André Luiz
expõe uma relação entre a epilepsia e razões
de ordem espiritual. Apesar disso não ser suficiente
para explicar a relação entre esta doença e
os comportamentos religiosamente fanatizados, André Luiz
afirma que a epilepsia tem ligação com problemas espirituais.
Aguardaremos futuras pesquisas nessa área.
Essas questões, portanto,
são verdadeiros desafios para pesquisadores espíritas
com especialidade em diversas áreas, não somente em
Neurociência. Além de tentar realizar experimentos
semelhantes, será preciso verificar como as pesquisas do
Prof. Michael Persinger [1] estão
sendo recebidas pela comunidade científica. Estão
elas sendo reproduzidas? Existem questionamentos por parte de outros
cientistas da mesma área?
Concluindo, estamos tendo notícias
de um experimento controlado em laboratório, desenvolvido
com o intuito de pesquisar os efeitos de determinados tipos de influências
externas no cérebro. Essas pesquisas, que relacionam atividade
cerebral com alguns tipos de sensações e comportamentos,
ao contrário do que se poderia pensar, não servem
de apoio ao materialismo. Muito pelo contrário, elas podem
contribuir para o estudo dos mecanismos da mediunidade.