Nos últimos meses, estivemos
discutindo questões ligadas ao tema Universidade e Espiritismo.
Destacamos a importância da vivência cristã nos
ambientes acadêmicos e discutimos alguns cuidados perante
a inserção de projetos espíritas nas universidades.
Analisamos, por outro lado, as possíveis funções
e características dos componentes de uma Universidade que
tenha o adjetivo espírita [1]
propondo critérios de avaliação justos para
que ela cumpra seu papel social, educativo, doutrinário e
moral junto à sociedade. Na presente matéria, desejamos
discutir a questão sobre os temas de pesquisa que uma Universidade
Espírita pode e deve incentivar, patrocinar e realizar.
Em matéria anterior [1] afirmamos
que a Universidade Espírita deve realizar, além das
pesquisas espíritas, pesquisas de caráter usual, isto
é, de interesse puramente acadêmico e material para
que ela possa conquistar o seu espaço como uma verdadeira
universidade. Antes que alguém possa questionar,
lembramos que a Universidade Espírita deve estar atenta para
não patrocinar nenhum tipo de pesquisa acadêmica que
tenha motivação bélica ou menos digna.
Pretendemos discutir a importância e o caráter do outro
tipo de pesquisas que a Universidade Espírita, por definição,
pode e deve se dedicar: as pesquisas espíritas.
O que seria, então, uma pesquisa espírita? Os cientistas
e estudiosos, em geral, tem uma idéia bastante precisa sobre
o que significa um trabalho de pesquisa. Mas, que valores o adjetivo
espírita carrega consigo? Para responder essa questão,
analisaremos o que se pode entender por pesquisas doutrinariamente
espíritas (redundância proposital) e, em seguida,
analisaremos a legitimidade e utilidade, dentro das Universidades
Espíritas, de trabalhos de pesquisa espiritualistas, isto
é, de interesse ou motivados por outras filosofias e doutrinas
espiritualistas.
PESQUISA
DOUTRINARIAMENTE ESPÍRITA
A redundância presente no título desta seção
enfatiza a essência da idéia que queremos transmitir.
Uma Universidade Espírita deve honrar o adjetivo espírita
de sua denominação. Para isso, não é
suficiente que ela apenas ofereça cursos livres sobre o Espiritismo.
Os centros espíritas já fazem isso com grande eficiência
e aproveitamento. Muito menos, deve a Universidade Espírita
inserir cursos obrigatórios de Espiritismo dentro da grade
curricular dos cursos superiores que ela oferece (o Espiritismo
não deve, ao nosso ver, se tornar um curso com notas e diplomas).
Ela deve sempre destinar parte de seu tempo e recursos
para realizar pesquisas espíritas, isto é, pesquisas
cujos temas estejam dentro do escopo da Doutrina dos Espíritos
vigiando para não realizar, por engano, pesquisas “pseudo-científicas”
ou de caráter puramente místico em nome de modismos
ou de interesse financeiro.
Caso seus dirigentes pensem de forma diferente, o que respeitamos,
é preferível que a Universidade não se chame
“Espírita” por uma razão muito séria.
Sendo a divulgação do Espiritismo um dos maiores objetivos
do movimento espírita, devemos zelar pelo que está
sendo divulgado como espírita. As pessoas que buscam os eventos
e instituições espíritas realizados
pelo Movimento Espírita têm o direito de receber orientação
segura e genuína sobre o que é o Espiritismo. No caso
de uma Universidade Espírita, a responsabilidade é
muito grande pois a idéia de universidade para as
pessoas é de “local de conhecimento”.
É preciso, então, que esse local de conhecimento espírita
não se esqueça de trabalhar assuntos espíritas.
A preocupação é que existem muitos temas paralelos
que parecem espíritas, mas pertencem a outras filosofias
espiritualistas. Como “local de conhecimento”,
a Universidade Espírita deve ser firme na postura verdadeiramente
científica e espírita para que ela possa cumprir seu
papel no progresso da humanidade. Para isso, a Universidade Espírita
tem o dever de separar e discernir os seus temas de trabalho espíritas
de modo a preservar o Espiritismo de idéias “pseudo-científicas”
muito comuns nos dias de hoje. Quem não me deixa mentir é
Bezerra de Menezes em mensagem psicografada por Divaldo P. Franco
e reproduzida em número recente da revista Reformador [2]:
“É necessário
preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador,
mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos,
não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que
somente irá confundir os incautos e os menos conhecedores
das suas diretrizes.”
Vemos nessas palavras uma síntese
do que significa honrar o adjetivo espírita.
Para não ficar circunscrito a idéias próprias,
citaremos alguns tópicos de pesquisa espíritas que
possuem caráter genuinamente científico, propostos
pelo Prof. Silvio S. Chibeni [3,4]:
Evolução do espírito: o elemento espiritual
dos seres dos reinos inferiores; origem dos espíritos humanos;
encarnação e reencarnação; pluralidade
dos mundos habitados.
O mundo
espiritual.
Interação espírito-corpo: perispírito,
efeitos psicossomáticos, mediunidade.
Implicações morais (uma área científica
e filosófica): livre-arbítrio, lei de causa e efeito.
Esses são alguns exemplos importantíssimos de áreas
que são perfeitamente válidas cujo desenvolvimento
trará muitos benefícios a toda sociedade. Podemos
acrescentar as pesquisas sobre a História do Movimento Espírita;
o estudo profissional dos pontos de contato entre as ciências
materiais e o Espiritismo; a Educação sob o prisma
espírita; etc. Os temas não param por aqui.
PESQUISA ESPIRITUALISTA
Comentamos em matéria anterior [1]
que a Universidade Espírita deve dedicar parte de seu esforço
a pesquisas usuais. Por quê, então, discernir e buscar
separar os assuntos qualificados como místicos? Essa é
uma boa questão que precisa ser bem esclarecida para que
não caiamos no erro do extremismo e da intolerância
que tantos autores, encarnados e desencarnados, insistem em alertar.
Separando e colocando de lado o que é exagero e puro misticismo
em todas as questões espiritualistas, todo assunto de pesquisa
é legítimo e pode ser trabalhado em acordo com seu
campo paradigmático. Porém, cumpre lembrar que a Universidade
Espírita deve buscar o estudo e pesquisa sérios sobre
esses assuntos buscando as bases não somente espiritualistas
mas também materiais dos fenômenos para explicá-los
corretamente. Por exemplo, quando se estuda o efeito da ação
de lasers em tecidos biológicos, está sendo feito
uma pesquisa cromoterápica já que a frequência
da radiação luminosa é um fator importante.
Neste caso, temos uma pesquisa científica livre de aspectos
místicos envolvendo conhecimentos da Física e Biologia.
Somente após conhecer profundamente os efeitos materiais
da interação entre a luz e os tecidos vivos é
que poderemos analisar e discernir quanto aos efeitos de ordem fluídica
da luz. O mesmo é válido para as pesquisas sobre terapias
alternativas. A realização de trabalhos de pesquisa
sobre temas espiritualistas sob a luz do Espiritismo seria de proveito
“... para vossa instrução”, como
disseram os espíritos em resposta à questão
628 do Livro dos Espíritos [5].
Desejamos destacar, também, que alguns assuntos que atraem
o interesse do imaginário popular, (cristais, vida extraterrestre,
doutrinas secretas, cura quântica, gnomos e fadas, etc.) não
são científicos somente porque seus títulos
usam palavras científicas.
A Universidade Espírita deverá divulgar a demonstração
de que assuntos puramente doutrinários são completamente
científicos [3,4]. Ela deve
ajudar as pessoas a perceberem o que Kardec sempre disse, e nem
todos se deram conta: o Espiritismo tem valor científico;
os ensinamentos dos espíritos superiores tem respaldo nos
fatos; as leis morais são tão naturais quanto as leis
materiais.
“Ao Espiritismo, pois, tem cabido a tarefa de colocar
Jesus no centro das aspirações humanas, em considerando
a Lei de Amor de que Ele se fez especial modelo para viger entre
todas criaturas.”
Aproveitando ainda a mensagem da referência [2],
transcrevemos as seguintes palavras de Bezerra sobre o papel do
Espiritismo:
A Universidade Espírita não pode perder de vista esta
tarefa. Ela deve aproveitar o aspecto científico do Espiritismo
para concretizar a Lei de Amor como lei da natureza tão ou
mais importante do que qualquer outra lei dita científica.
Adiante, Bezerra acrescenta:
“Não revidar ofensas,
manter a consciência do dever acima de quaisquer conjunturas,
perseverar quando outros abandonam ou são vítimas
de defecções, porfiar no bem comum e viver a caridade
sob todos os aspectos possíveis, dominados pelo amor que
deflui do incomparável Amigo e Benfeitor, são as diretrizes
de ontem como de hoje.”
A Universidade Espírita, assim como todos os setores de atuação
do Movimento Espírita, devem se esforçar por demonstrar
às pessoas que as diretrizes acimas constituem na melhor
solução para os males da sociedade. Particularmente,
a Universidade Espírita terá um poder de opinião
por representar o trabalho e esforço do pensamento humano.
E nos dias de hoje onde os intelectuais se crêem superiores
ao sentimento, a Universidade Espírita será uma voz
ante o ruído e uma luz na escuridão a transmitir a
Lei de Amor não mais como mero objeto de crença, mas
como solução científica para o progresso da
humanidade.
Referências
[1] A. F. da Fonseca, Universidade Espírita:
Função e Componentes (2004), Jornal Alavanca 492,
p. 3.
[2] B. de Menezes, psicografado por D. P. Franco, Brilhe a vossa
luz 2004, Reformador n. 2102-a, Maio, p. 30-31.
[3] Os artigos do Prof. Chibeni e colaboradores podem ser obtidos
na seguinte homepage: http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/
[4] S. S. Chibeni, Ciência Espírita 1991, Revista Internacional
de Espiritismo Março, p. 45-52.
[5] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a. Edição,
(1995).
Fonte: Publicado
no Jornal Alavanca 494, Agosto de 2004, p. 3.
http://aeradoespirito..sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs/PESQUISA_ESP_E_ESPIRIT_AF.html