Aula 7 :
Física e Espiritismo II: energia e matéria. Referências
científicas na pesquisa espírita
1. FÍSICA E ESPIRITISMO II: ENERGIA
E MATÉRIA
Na aula anterior comentamos sobre
como a teoria quântica da matéria confirma algumas
afirmativas feitas pelos espíritos sobre as propriedades
da matéria, em resposta a algumas questões do Livro
dos Espíritos [1]. Aqui comentaremos sobre um conceito associado
à matéria, frequentemente lembrado em textos espíritas:
a energia. Ao tempo de Kardec, energia e matéria eram conceitos
dissociados e somente no início do século passado,
ambos os conceitos foram conectados. Isso decorre da Teoria da Relatividade,
ilustrada pela célebre equação de Albert Einstein:
E = mc². Essa equação demonstra a equivalência
em energia de determinada porção de matéria
cuja massa vale m¹. Como c² é um número
relativamente elevado (da ordem de 10¹¹ km²s-²
em unidades do Sistema Internacional), uma pequena quantidade de
massa contém uma grande quantidade de energia.
Ao tempo de Kardec, o conceito
de energia era algo independente do conceito de matéria.
Isso pode ser verificado através dos teoremas ou leis de
conservação, em Física Clássica, para
a energia total e para a quantidade de massa em um sistema isolado.
Energia e massa eram conservados de forma separada em cada fenômeno
físico. Contudo, com a Teoria da Relatividade, energia e
matéria se tornaram ligadas, e um novo teorema
surgiu: a lei de conservação de massa-energia.
Além da energia associada ao movimento, a chamada energia
de repouso de um objeto tem que ser levada em consideração
nos fenômenos em que a teoria clássica não vale.
Experimentos modernos constataram que tanto a matéria pode
ser transformada em energia quanto a energia pode se transformar
em matéria. Isso demonstra que a matéria não
é, em sua essência, algo sólido e denso como
os nossos cinco sentidos nos fazem pensar. Ela tem que ser algo
muito mais sutil e dinâmico para que possa se transformar
em algo que é, por natureza, sutil e dinâmico.
É mais apropriado dizer,
portanto, que energia e matéria são dois “estados”
de um mesmo elemento universal. O Espiritismo fornece uma informação
que se encaixa perfeitamente a isso ao dizer que toda a matéria
que conhecemos decorre de um elemento primitivo batizado de Fluido
Universal. Desde que matéria pode se transformar
em energia e vice-versa, concluímos diretamente que a energia
também é algo que decorre de alguma transformação
do Fluido Universal.
Isso nos leva a uma interessante
conclusão espírita: se energia é
algo de natureza material, a essência do Espírito (ou
princípio inteligente) não pode ser energética.
Segundo os espíritos (questões 27 e 79 do Livro dos
Espíritos [1]), existem dois
princípios gerais no Universo: um elemento primitivo material
(Fluido Universal) do qual decorre tudo o que chamamos de matéria;
e um princípio inteligente do qual se individualizam os espíritos.
Como o princípio inteligente não pode estar sujeito
às leis que regem o comportamento da matéria, ele
não pode ter natureza energética pois estaria suscetível
às leis que regem as diversas transformações
de energia. Em outras palavras, se o espírito fosse, em sua
essência, uma outra forma de energia ele estaria sujeito à
processos que poderiam transformá-lo em outras formas de
energia ou mesmo em matéria já que, como vimos, energia
pode ser transformada em matéria. Este comentário
serve de apoio para analisarmos uma afirmativa do nosso amigo Chico
Xavier: “espírito e energia são
a mesma coisa” (ver página 25 da referência
[2]). Como podemos verificar, perante
conhecimentos atuais em Física, essa afirmativa está
em desacordo com a Doutrina Espírita e a recomendação
de Emmanuel é ficarmos com o Espiritismo.
Um ponto muito importante sobre
a idéia de energia e matéria é que a realidade
material que os nossos sentidos nos fazem perceber à nossa
volta é verdadeiramente ilusória. A matéria
possui uma estrutura cujas partes possuem propriedades diferentes
do que estamos acostumados a perceber. Para nós espíritas,
a matéria é uma transformação de uma
dada porção de Fluido Universal que, por natureza,
é o elemento material mais sutil disseminado pelo Universo.
Para os cientistas, a matéria é algo misterioso.
Levando-se em conta o desenvolvimento da teoria quântica da
matéria, os cientistas não podem mais dizer com precisão
o que é ou em que consiste aquilo que se chama matéria.
O que é um elétron ou um quark? Ninguém sabe
por enquanto. Apenas sabemos que eles existem, possuem determinadas
propriedades físicas e obedecem a determinadas leis. A visão
científica do mundo material se alterou bastante desde o
tempo de Kardec e essa mudança é positiva pois a matéria,
hoje, é vista como algo mais dinâmico e sutil.
Nas próximas aulas, iniciaremos
a discutir se os fenômenos mediúnicos podem ou não
ser chamados de quânticos.
2. REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS NA PESQUISA ESPÍRITA
Na aula anterior comentamos sobre
a diferença de valor científico entre um livro texto,
um artigo científico, um artigo de divulgação
e um livro de divulgação. A partir desta aula, iniciaremos
a falar sobre o uso dessas fontes de informação na
pesquisa espírita.
Pretendemos analizar o valor científico²
de um trabalho de pesquisa espírita que utiliza conceitos
de outras áreas do conhecimento. Em outras palavras, desejamos
desenvolver critérios que possam guiar os estudiosos e pesquisadores
espíritas em seus trabalhos. Não estamos considerando
os trabalhos que apenas citam ou retransmitam os resultados recentes
de outras pesquisas. Muito menos, estamos considerando aqui as idéias
e especulações baseadas na opinião pessoal
(mesmo a de um cientista) ou com base em alguma intuição
pessoal. Estamos considerando o caso em que um trabalho de pesquisa
resultará em conhecimento novo, mesmo que simples, ou em
uma nova análise de um assunto já conhecido. Em outras
palavras, estamos tratando de uma contribuição real
ao conhecimento espírita, mesmo que seja algo simples (a
simplicidade é amiga da ciência). Além de estarem
em acordo com o Espiritismo e com as ciências básicas
que foram utilizadas, as idéias decorrentes de um trabalho
de pesquisa espírita devem ser úteis para o progresso
da Humanidade, mesmo que, repetimos, se trate de algo simples.
Por essa razão, é
extremamente importante saber se a base que estamos estudando e
usando para construir o conhecimento é sólida. Se
o assunto de estudo espírita envolver questões de
ordem científica, as diferenças de valor científico
entre livros e artigos, apresentadas na aula anterior (Boletim 488)
pode determinar o grau de validade ou utilidade daquilo que produzimos.
Se, por exemplo, utilizarmos somente livros de divulgação
como base de nossas pesquisas, aumentamos a probabilidade de ter
o valor dos nossos resultados reduzido a mera especulação
pois o conteúdo desses livros é bastante mesclado
de opiniões e pontos de vista de seus autores. Se, ao menos,
conhecermos profundamente a área científica relacionada
com o(s) livro(s) de divulgação utilizado(s), poderemos
separar o que é opinião do autor dos conceitos científicos
presentes no(s) livro(s). Certamente, que isso transparecerá
no trabalho e precisamos estar seguros do nosso conhecimento para
não cometer equívocos de ordem científica.
Essa é, apenas, uma face
do problema sobre conhecer a fundo aquilo que pretendemos estudar.
Muitas vezes nos interessamos em estudar coisas que não são
de nossa especialidade e apesar de termos capacidade de aprender
qualquer coisa, não será com fontes bibliográficas
destinadas à divulgação pública (livros
e artigos de divulgação) que nos tornaremos especialistas
e conhecedores profundos de uma área qualquer do conhecimento.
Por isso recomendamos aos que pretendem
escrever artigos ou livros para o público espírita
sobre temas ligados a tópicos científicos que desconhecem,
que procurem fontes básicas de reconhecido valor científico
(livros texto e artigos científicos) para embasar o seu estudo;
ou procure profissionais cientistas na área do assunto que
se deseja estudar para consulta, ajuda e orientação.
Vejamos o ponto de vista de Kardec:
Kardec, ao dizer que um
cientista não tem autoridade para ajuizar se a Doutrina Espírita
é correta ou não, simplesmente, por ser um cientista,
sem querer nos fornece um valioso argumento com relação
aos cuidados com os trabalhos de ordem científica.
No ítem VII da Introdução do Livro dos Espíritos
[1] Kardec diz: “Com relação
às coisas notórias, a opinião dos sábios
é, com toda razão, fidedigna, porquanto eles sabem
mais e melhor do que o vulgo.” Mais adiante, nesse mesmo parágrafo,
ele diz: “Assim, pois, consultarei, do melhor grado e com
a maior confiança, um químico sobre uma questão
de análise, um físico sobre a potência elétrica,
um mecânico sobre uma força motriz.” Diante do
grande desenvolvimento e da enorme complexidade atingida em todas
as áreas do conhecimento, é mais prudente que os especialistas
de cada área analisem como os conceitos de sua área
se ligam (ou não) com o Espiritismo.
Muitas vezes somos incapazes de
ler e entender os livros texto por causa da linguagem técnica
e do emprego de notação especializada. É mais
fácil para nós lermos artigos ou livros de divulgação.
Certamente, há muitas informações úteis
em livros e artigos de divulgação, que podem servir
de insight para algumas idéias espíritas. Mas o trabalho
científico requer algo mais do que apenas o primeiro insight.
Além disso, em face do volume do conhecimento adquirido e
da enorme tendência mundial para justificar atividades místicas
de forma científica, a situação pode ser comparada
a um campo onde procuramos determinada erva sem conhecermos quase
nada sobre ela e sobre outras plantas. A chance de colhermos um
joio acreditando ser a erva é muito grande quando consultamos
livros de divulgação sem termos base mais aprofundada
sobre o assunto. E, se não temos condições
de avaliar se algo é cientificamente correto ou não,
a recomendação espírita é que “mais
vale repelir 10 verdades que admitir uma só mentira, uma
só teoria falsa”
(Espírito de Erasto no ítem
230 da ref. [3], e ref. [4]).
Notem que os comentários
acima não sugerem que não se deve ler essa ou aquela
obra; esse ou aquele determinado tipo de publicação.
A recomendação que estamos fazendo aqui diz respeito
ao significado da palavra “discernir” presente na seguinte
afirmativa de Paulo de Tarso “Discerni
tudo e ficai com o que é bom” (1 Ts 5,21).
A dificuldade é que em matéria de ciência, em
geral, não temos base segura para “discernir tudo”.