Jesus é considerado no meio
espírita como o Espírito mais evoluído que
já encarnou em nosso mundo. Embora haja quem afirme que Jesus
seja um Espírito Puro, o próprio Kardec deixou
claro no item 2 do Cap. XV de A Gênese (GE), que
a natureza do Cristo não seria analisada na obra. Kardec
considera que Jesus seja, pelo menos, um Espírito superior,
e “um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes,
muitíssimo acima da humanidade terrestre”. De
fato, ao ler as questões 111, 112 e 113 de O Livro dos
Espíritos (LE), vemos que Kardec foi sábio em
abster-se de julgar se Jesus seria ou não um Espírito
puro, já que nosso conhecimento a respeito das características
que determinam a superioridade dos Espíritos é pequena,
em vista da nossa inferioridade. Não foi a toa que os bons
Espíritos foram unânimes em declarar, como na questão
625 do LE, que Jesus é o mais perfeito guia e modelo para
os homens. Por essa razão, O Evangelho Segundo o Espiritismo
(ESE), que é uma obra inteiramente destinada ao estudo e
aprofundamento dos ensinamentos morais de Jesus, deve ser constantemente
consultada, lida, estudada, meditada por todo aquele que se diz
espírita e deseja, com sinceridade, crescer espiritualmente.
Assim, alguém poderia perguntar quem, em sã consciência,
ousaria questionar Jesus ou algum de seus ensinamentos? Não
estamos aqui mencionando os detratores, os materialistas, os céticos
e os “Pilatos” de todos os tempos que questionam, condenam
ou ignoram o Cristo por razões e interesses pessoais. Aqui,
desejamos apresentar a única pessoa que, pela sua enorme
capacidade intelectual e moral, foi capaz de questionar alguns ensinamentos
atribuídos a Jesus. Essa personalidade, considerada por nós
uma das mais importantes da história da Humanidade, é
Allan Kardec!
O ESE é uma obra que estuda e analisa os ensinamentos de
Jesus e dos apóstolos, à luz dos ensinamentos espíritas.
No Cap. XIX dessa obra, encontramos a análise espírita
da fé, suas características e, em especial, a condição
da fé inabalável: “Fé inabalável
só o é a que pode encarar de frente a razão,
em todas as épocas da Humanidade” (Kardec,
item 7 do Cap. XIX do ESE). Baseado na importância
da fé ser raciocinada que no Cap. XXIII intitulado “Estranha
Moral”, Kardec questiona a interpretação
literal de certas palavras atribuídas a Jesus, e vai além
oferencendo, sob inspiração dos bons Espíritos,
uma interpretação e significado morais por trás
da letra que lhe pareceu inapropriada. Kardec, se baseando na lógica
dos próprios conceitos da moral cristã, mostra qual
o melhor sentido de interpretação para passagens tão
estranhas como, por exemplo, “não vim trazer a
paz, mas a espada; - porquanto vim separar de seu pai o filho, de
sua mãe a filha, de sua sogra a nora; - e o homem terá
por inimigos os de sua própria casa” (Mateus
10:34 a 36). O leitor encontrará no referido capítulo
do ESE a interpretação espírita dessas passagens
estranhas.
Esse é um exemplo muito valioso de Kardec para com relação
às nossas crenças. Graças à postura
de nada aceitar sem reflexão e entendimento, foi possível
a Kardec separar o supérfluo do essencial com relação
a conceitos sobre a vida e a morte, por muito tempo considerados
místicos, e nos deixar uma doutrina sólida e racional,
cujos fundamentos possuem respaldo tanto nos fenômenos e fatos
da vida após a morte, quanto na moral cristã, a única
capaz de promover o progresso da nossa Humanidade. E o exemplo de
questionamento e análise até mesmo de algumas palavras
de Jesus, mostra a postura que devemos ter perante o surgimento
de novidades no movimento espírita.
Se para analisar as estranhas afirmativas de Jesus, Kardec usou
a própria mensagem cristã de amor e caridade, para
analisar novidades no tocante à
teorias e práticas espíritas e mediúnicas,
devemos utilizar tanto a moral Cristã quanto os ensinamentos
dos Espíritos contidos na Doutrina Espírita.
Tudo o que conflitar com a mensagem de Jesus e/ou com o Espiritismo,
pode e deve ser rejeitado. No máximo, e apenas quando possível,
temas espiritualistas devem ser interpretados num sentido que esteja
de acordo com o Espiritismo. Lembramos a questão 628 do LE,
onde os bons Espíritos ao mesmo tempo que reconhecem a existência
de verdades esparsas em teorias e doutrinas da Antiguidade, deixam
claro que essas verdades só se tornam claras e coordenáveis
“graças à explicação que o
Espiritismo dá.”
Quando não temos conhecimentos que permitam analisar a validade
das novidades ou teorias antigas, a recomendação espírita
encontra-se nas seguintes palavras de Erasto (item 230, Cap. XX,
O Livro dos Médiuns): “Melhor é repelir
dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só
teoria errônea.”
Para concluir, lembremos a orientação de Paulo de
Tarso: “Examinai tudo. Retende o que é bom”
(I Tessalonicenses 5:21). Mas não
nos esqueçamos de que o critério de discernimento
do que é bom requer uma referência
sólida do que é algo bom. Para nós
espíritas, a referência do que é bom é
a Doutrina Espírita.
Alexandre Fontes da Fonseca – Campinas
– SP