Diversos grupos espiritualistas
estão afirmando que a sensação do ‘tempo
estar passando mais rápido’ tem explicação
científica baseada no fenômeno físico conhecido
como Ressonância de Schumann (RS).
O fenômeno RS foi concebido
e previsto pelo físico alemão, Dr. W. O. Schumann
em 1952 [1]. Schumann propôs
que a região espacial formada pela superfície da Terra
e a ionosfera pode ser considerada como uma cavidade ressonante
conforme a ilustração da Figura 1 abaixo.

Figura 1: Cavidade ressonante esférica
definida por Schumann [1].
A região espacial que compõe a cavidade é formada
pela superfície da Terra e a Ionosfera. Todos os elementos
que compõem a Atmosfera,
dentro da região acima, estão sujeitos à radiação
eletromagnética nas freqüências do fenômeno
de Ressonância Schumann (RS).
Os seres vivos na superfície do planeta estão incluídos
nessa região.
Uma cavidade ressonante é
uma região espacial limitada cuja forma e volume determinam
as freqüências em que uma onda repercute dentro da mesma.
Um instrumento musical que possui uma câmara sonora é
um exemplo de cavidade ressonante. Pequenas alterações
no volume ou na forma do instrumento alteram a freqüência
sonora emitida por ele. A flauta é um tipo de instrumento
que possui cavidade ressonante.
No caso da região atmosférica da Figura 1, a cavidade
ressonante não é ativada por vibrações
sonoras (ou vibrações de pressão do ar) mas,
sim, por ondas eletromagnéticas. Raios e descargas elétricas
entre as nuvens, que ocorrem na proporção de 200 por
segundo em todo o planeta, geram radiações eletromagnéticas
que fornecem energia para que as freqüências de ressonância
da cavidade sejam intensificadas e propagadas ao redor do planeta.
A freqüência fundamental da cavidade formada pela atmosfera
pode ser grosseiramente estimada a partir da informação
de que a luz leva aproximadamente 1/8 de segundo para dar uma volta
completa no planeta. Isso nos leva a um valor estimativo de 8Hz
para a freqüência dessa radiação. Experimentos
mostraram que a freqüência fundamental da RS é
aproximadamente igual a 7.8Hz, e as freqüências harmônicas
superiores são 14, 20, 26, 33, 39, 45 e 51Hz [2].
O artigo da referência [2]
apresenta um estudo interessante onde se propõe que a radiação
eletromagnética devido à RS seja um mecanismo biofísico
plausível (destacamos essa palavra) que resolveria
o problema da correlação entre a atividade Solar e
Geomagnética (distúrbios magnéticos de origem
solar ou terrestre que afetam o campo magnético da Terra)
com efeitos na saúde de algumas pessoas. A proposta é
de que a radiação eletromagnética de Schumann
interagiria com o cérebro determinando ou coordenando os
pulsos elétricos que controlam os níveis de serotonina
e melatonina no organismo, duas substâncias reguladoras do
ciclo diurno e noturno do ser humano com conseqüências
em diversas funções vitais como a pressão sanguínea,
respiração, sistema imunológico e os processos
cardíacos e neurológicos, entre outros.
O que reforçaria a hipótese da interação
entre o cérebro e a radiação eletromagnética
na freqüência da RS é o fato de que as ondas nervosas
vibram em faixas de freqüências semelhantes às
da RS. A existência de dados que correlacionam as atividades
solares e geomagnéticas a determinados distúrbios
da saúde reforça a possível (ou plausível)
idéia de interação entre a radiação
na freqüência da RS com o cérebro.
Destacamos a palavra plausível nos parágrafos
anteriores para mostrar que essas idéias ainda são
hipóteses não comprovadas cientificamente. Elas são
interessantes e merecem a atenção dos cientistas.
Mas não se pode dizer, ainda, que existe comprovação
científica de que a RS influencia o equilíbrio da
saúde do ser humano através da interação
com as ondas cerebrais.
Até aqui, divulgamos o significado do fenômeno de RS
e as idéias principais de um trabalho de pesquisa em que
se propõe a correlação entre esse fenômeno
e a regulação dos níveis de serotonina e melatonia
nos seres humanos. Em nenhum destes trabalhos encontramos qualquer
menção à sensação de que o
tempo está passando mais rápido.
Um dos argumentos usados em defesa da idéia da variação
da sensação de passagem do tempo foi a afirmativa
de que a freqüência fundamental da RS estaria variando
nas últimas décadas de, aproximadamente, 7.8Hz para
11Hz ou 13Hz. Em todos os trabalhos científicos de pesquisa
sobre o assunto encontramos, apenas, a informação
de que a freqüência de ressonância de Schumann
oscila entre os valores de 7.7 e 7.9Hz e isso ocorre em função
de diversos fatores como a posição no planeta, o período
do ano, a ocorrência de explosões solares, etc. Portanto,
o argumento de que a freqüência de Schumann tem se alterado
de 7.8 para 11 ou 13Hz não tem base científica.
Possivelmente, houve um engano ao
associar o fato das ondas mentais influenciarem os níveis
de serotonina e melatonina, influenciando os ritmos diurnos e noturnos,
com a idéia da sensação de passagem do
tempo. Não se pode descartar outras causas para a sensação
de rapidez na passagem do tempo, como fatores psicológicos
e sociais.
Aproveitando o assunto, há
os que dizem que a Teoria da Relatividade sustenta a idéia
da variação na sensação de passagem
do tempo. Este é outro erro básico que revela
o desconhecimento científico de quem o defende. É,
justamente, a Teoria da Relatividade que mostra que é impossível
um observador perceber que o seu tempo, medido em seu referencial,
esteja fluindo mais rápido ou mais devagar do que em períodos
anteriores. Um observador pode, apenas, verificar que o tempo flui
mais rápido ou mais devagar para outro indivíduo que
esteja se movendo com determinada velocidade em relação
a ele.
Por essas razões, concluímos
que a proposta de que a RS é a causa da sensação
de rapidez na passagem do tempo, por mais bem intencionada com respeito
à defesa da ecologia e da espiritualidade de forma geral,
não tem base científica. Respeitamos seu(s) autor(es)
mas verificamos que essa proposta possui apenas valor místico
de como recentemente analisamos com relação aos cristais
da água [3].
Com certeza, é bem plausível
que o fenômeno da RS influencie a saúde do ser humano
conforme a proposta apresentada no artigo da referência [2].
Isso reforça a importância nos cuidados com o meio-ambiente
já que as freqüências de Schumann são sensíveis
às suas condições. Mas a conclusão de
que precisamos nos tornar mais amorosos e fraternos uns com os outros
por causa desse tipo de fenômeno é um argumento, do
ponto de vista científico, muito fraco. A Doutrina Espírita
não precisou de argumentos baseados em outras ciências
para nos mostrar os benefícios particulares e coletivos do
esforço pessoal em nos tornarmos homens de bem. E nem por
isso a Doutrina Espírita deixa de ter valor científico.
Certamente que a ciência um
dia “vai chegar lá”, comprovando que a prática
do Amor, como exemplificado por Jesus, proporcionará saúde
para o corpo, equilíbrio para a alma e progresso para a sociedade.
Cabe a todos nós darmos nossa humilde, mas real, contribuição
vivenciando tudo o que aprendemos com o Espiritismo.
Referências
[1] W. O. Schumann, On the characteristic
oscillations of a conducting sphere which is surrounded by an air
layer and an ionospheric shell (em Alemão) 1952, Zeitschrift
fur Naturforschung 7a, p. 149.
[2] N. Cherry, Schumann Resonances, a plausible biophysical mechanism
for the human health effects of Solar/Geomagnetic Activity 2002,
Natural Harzards 26, p. 279.
[3] A. F. da Fonseca, “Mensagem” dos cristais da água:
cientificamente não comprovado! 2004, Jornal Alavanca 489,
p. 3.