Resumo:
A questão sobre o pensamento ser matéria
é analisada aqui sob enfoque doutrinário e científico.
Analisaremos os conceitos associados à palavra “pensamento”
distinguindo a idéia de informação associada
à origem do pensamento, da idéia de matéria associada
ao produto e veículo de transmissão do mesmo. Explicaremos
a afirmativa de André Luiz de que o pensamento é matéria.
Mostraremos, com base na Doutrina Espírita, que o processo
de transmissão de pensamento não é um fenômeno
quântico no sentido da não-localidade.
Boa parte das dúvidas e polêmicas sobre determinado assunto
decorre do entendimento diversificado que as pessoas possuem sobre
o que está sendo estudado ou debatido. Isso nos remete à
questão sobre a clareza da linguagem enfatizada por Kardec
e pelos Espíritos superiores na Codificação.
No ítem I da Introdução de O Livro dos Espíritos
[1], a respeito dos vocábulos
espírita e espiritismo, Kardec diz: “Para se
designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o
exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente
à variedade de sentidos das mesmas palavras.”
(Grifos nossos). Os Espíritos
superiores, em resposta à questão número 28 de
O Livro dos Espíritos [1], disseram
que “As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós
formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas
controvérsias provêm, quase sempre, de não vos
entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a
vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.”
(Grifos nossos)
Neste artigo, sob a orientação acima dos Espíritos
superiores, pretendemos analisar uma questão de enorme interesse
no Movimento Espírita que é o pensamento.
Analisaremos diversas explicações dadas pelo codificador
para o pensamento e sua forma de transmissão. Explicaremos
com base na Doutrina Espírita, a afirmativa de André
Luiz de que o pensamento é matéria. Discutiremos se
o pensamento ou sua forma de transmissão seriam quânticos
no sentido de possuirem características não-locais.
O “PENSAMENTO”
SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA
Na Codificação, podemos distinguir dois significados
diferentes para a palavra “pensamento”. Um
deles relaciona a palavra pensamento à idéia de informação
enquanto que o outro relaciona o pensamento à idéia
de matéria. Ambas situações não
significam que o pensamento apareça definido como sendo somente
informação ou somente matéria. Ressaltamos a
existência dessas duas características do pensamento
(informação ou matéria) em diversos comentários
e explicações doutrinárias, e apesar da diferença
substancial entre elas, analisamos a origem de cada uma esclarecendo
as controvérsias decorrentes do entendimento equivocado dessa
questão. Transcreveremos algumas citações de
Kardec separando-as em dois grupos de acordo com o conceito associado
à palavra pensamento.
1 – PENSAMENTO –
INFORMAÇÃO
Do Livro dos Espíritos [1]
destacamos as seguintes passagens:
Ítem V da Introdução: “Em certos casos,
as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade;
exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que
não podem emanar senão de uma Inteligência superior,
impregnada da mais pura moralidade.”.
Ítem XIII da Introdução: “Os Espíritos
superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para
eles, o fundo do pensamento é tudo.”.
Frase contida no primeiro parágrafo da questão 100 sobre
Escala Espírita: “Para eles, o pensamento é tudo.”
Comentário de Kardec à questão 462: “Se
fora útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos
pensamentos próprios dos que nos são sugeridos, Deus
nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu
o de diferençarmos o dia da noite. (...)”
Comentário de Kardec à questão 662: “O
pensamento e a vontade representam em nós um poder de ação
que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal.
(...)”
Questão 835: “835. Será a liberdade de
consciência uma conseqüência da de pensar?
“A consciência é um pensamento íntimo, que
pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.”
Do Livro A Gênese
[2], destacamos as seguintes passagens:
Ítem 14 do Cap. XIV: “Para os Espíritos, o pensamento
e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo
pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção,
os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos
que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração
determinadas; (...). É a grande oficina ou laboratório
da vida espiritual. (...) Por análogo efeito, o pensamento
do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado
a usar.”
Ítem 16 do Cap. XIV: “Sendo esses fluidos o veículo
do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é
evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou
más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela
pureza ou impureza dos sentimentos.”
Todos os grifos em negrito foram feitos por nós.
2 – PENSAMENTO –
MATÉRIA
Do Livro dos Espíritos [1]
destacamos as seguintes passagens:
Ítem XIV da Introdução: “Livres da matéria,
a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento,
porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam
sem intermediário.”
Questão 89: “89. Os
Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
“Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.”
Comentário de Kardec à questão 92a: “Cada
Espírito é uma unidade indivisível, mas cada
um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que
se fracione para tal efeito. Nesse sentido unicamente é que
se deve entender o dom da ubiqüidade atribuído aos Espíritos.
(...)”
Questão 282: “282. Como se comunicam entre si
os Espíritos?
“Eles se vêem e se compreendem. A palavra é material:
é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece
entre eles constante comunicação; é o veículo
da transmissão de seus pensamentos, como, para vós,
o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo
universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos
se correspondam de um mundo a outro.”
Questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam
de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui
o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam
como se estivessem ao lado uma da outra.”
Nono parágrafo da questão 455 sobre o resumo teórico
do sonambulismo, do êxtase a da dupla vista: “(...) comunicação
que se estabelece pelo contacto dos fluidos, que compõem os
perispíritos e servem de transmissão ao pensamento,
como o fio elétrico. (...)”
Do Livro A Gênese [2],
destacamos as seguintes passagens:
Ítem 40 do Cap. I: “O estudo das propriedades do perispírito,
dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma
abre novos horizontes à Ciência (...). Tais são,
entre muitos, os fenômenos (...), da transmissão do pensamento,
(...)”.
Ítem 23 do Cap. II: “As propriedades do fluido perispirítico
dão-nos disso uma idéia. Ele não é de
si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve
de veículo ao pensamento, às sensações
e percepções do Espírito. Esse fluido não
é o pensamento do Espírito; é, porém,
o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite,
fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade
em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o
pensamento, faz corro com o fluido, que com este se confunde, como
sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo.
Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando
o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.”
Ítem 17 do Cap. XI: “O fluido perispirítico constitui,
pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria.
Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo
ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes
do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade
e para fazer que repercutam no Espírito as sensações
que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fioscondutores os
nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve
de condutor o fio metálico.”
Ítem 13 do Cap. XIV: “Os fluidos espirituais, que constituem
um dos estados do fluido cósmico universal, são, (...),
a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os
materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos
especiais, perceptíveis à visão e à audição
do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis
somente à matéria tangível; o meio onde se forma
a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos
efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento,
como o ar o é do som.”
Ítem 15 do Cap. XIV: “Sendo os fluidos o veículo
do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles
nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se pois dizer,
sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios
de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no
ar ondas e raios sonoros. Há mais: criando imagens fluídicas,
o pensamento se reflete no envoltório perispirítico,
como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa.
(...) Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma
repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode
ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível
aos olhos do corpo.”
Ítem 20 do Cap. XIV: “É que, com efeito, o pensamento
é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais
e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem
precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior.”
Ítem 9 do Cap. XV: “Em muitos passos do Evangelho se
lê: «Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos,
lhes diz...» Ora, como poderia ele conhecer os pensamentos dos
seus interlocutores, senão pelas irradiações
fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista
espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo?”
Todos os grifos em negrito foram feitos por nós. A seguir analisaremos
cada um dos grupos 1) e 2) sobre o significado do pensamento empregado
nos mesmos.
A ANÁLISE DO PENSAMENTO:
INFORMAÇÃO VS. MATÉRIA
Uma análise cuidadosa das citações apresentadas
nas seções 1 e 2 mostra a dificuldade em definir-se,
de modo preciso, o que é o pensamento. Quando, por exemplo,
lemos o comentário de Kardec à questão 662 (LE)
em que: “O pensamento e a vontade representam em nós
um poder de ação (...)” e lemos a resposta
dos Espíritos para a questão 835: “A consciência
é um pensamento íntimo, que pertence ao homem, como
todos os outros pensamentos.”, vemos que o pensamento
é um atributo do princípio inteligente do Universo que
se exterioriza como “um poder de ação”,
ou uma força que, diferente das outras forças da natureza,
está associada à uma consciência. O mesmo pode
ser inferido do comentário de Kardec feito no ítem 14
do Cap. XIV de A Gênese: “Para os Espíritos, o
pensamento e a vontade são o que é a mão para
o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal
ou qual direção, (...)”. Ou seja, o pensamento
é uma força que além de representar a consciência,
imprime direção aos fluidos. Não pretendemos,
neste artigo, analisar o que seria o pensamento ao nível do
princípio inteligente, ou imaginar que tipo de força
o pensamento poderia ser. Vamos, aqui, analisar o aspecto inteligente
(informação) e fluídico (material) associado
ao pensamento.
Quando lemos na Introdução do Livro dos Espíritos
que os Espíritos superiores exprimem “pensamentos elevados”
e que para eles o “fundo do pensamento é tudo”,
percebemos que o significado da palavra pensamento poderia ser substituída,
sem perda de significado, pela palavra idéia ou informação:
“idéias ou informações elevadas”;
“o fundo da idéia é tudo”.
Portanto, quando a palavra “pensamento” tem significado
de “informação”, ela representa,
simplesmente, a exteriorização da inteligência
que é um atributo exclusivo do princípio inteligente
do Universo: o Espírito.
Por outro lado, quando lemos na Introdução
do Livro dos Espíritos que para os espíritos livres
da matéria: “são os próprios pensamentos
que se comunicam sem intermediário.”, a idéia
de informação começa a dar lugar para uma idéia
de “objeto” ou “algo” que pode interagir mutuamente.
Nas palavras de Kardec, em comentário à questão
92a: “Cada Espírito é uma unidade indivisível,
mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados,
(...)”, vemos que a idéia de informação
está acompanhada da idéia de “algo” que
pode ser lançado “para diversos lados”. Em princípio,
poderíamos pensar que esse “algo” é a própria
informação, mas a expressão “para diversos
lados” transmite uma idéia de espaço que não
faz sentido para um objeto abstrato como o conceito isolado de informação.
Informação, em si, não é uma coisa que
ocupa espaço. O que ocupa espaço e pode ser “lançado”
em qualquer direção é algo físico que
contém e transmite uma informação.
A explicação para essa sutileza nos conceitos pode ser
encontrada na resposta à questão 282:
“(...) A palavra é material:
é o reflexo do Espírito. O fluido universal
estabelece entre eles constante comunicação; é
o veículo da transmissão de seus pensamentos,
como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie
de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite
que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.”
Nas questões 437 e 455 encontramos uma explicação
ainda mais explícita da característica material do pensamento:
questão 437: “(...) Quando duas pessoas se comunicam
de uma cidade para outra, por meio da eletricidade, esta constitui
o laço que lhes liga os pensamentos. Daí vem que confabulam
como se estivessem ao lado uma da outra.” Nono parágrafo
da questão 455: “(...) comunicação que
se estabelece pelo contacto dos fluidos, que compõem os perispíritos
e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico.
(...)”. Agora sim, percebemos claramente esse outro significado
associado à palavra “pensamento”. O pensamento,
em sua origem, consiste na idéia ou informação
íntima do Espírito, fruto de sua inteligência,
que pretende, então, transmití-la a outro(s) Espírito(s).
Para atingir esse objetivo, através de sua vontade, ele age
sobre os fluidos, alterando-os. O Fluido Universal faz o papel de
meio de propagação desses fluidos assim como “o
ar o é o do som” ou como “o fio elétrico”
faz com a comunicação via eletricidade. O que ocupa
o espaço e pode ser “lançado para diversos lados”
é o fluido alterado ou influenciado pelo pensamento do Espírito.
Esse fluido contém a informação ou idéia
gerados pelo Espírito através de sua inteligência
e o Fluido Universal o transporta de um lugar para outro.
É o próprio Kardec quem conclui o assunto no ítem
23 do Cap. II de A Gênese: “As propriedades
do fluido perispirítico dão-nos disso uma idéia.
Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é
matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às
sensações e percepções do Espírito.
Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é,
porém, o agente e o intermediário desse pensamento.
Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento
transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a
nós nos parece que ele, o pensamento, faz corpo com o fluido,
que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira
que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos
que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela
causa, dizer que o fluido se torna inteligente.” Estas duas
últimas frases são bem claras: podemos “dizer
que o fluido se torna inteligente” ou “que podemos, a
bem dizer, materializar o pensamento”. Kardec fez essa análise
que ora enfatizamos nesse artigo ao dizer que “Esse
fluido não é o pensamento do Espírito; é
porém, o agente e o intermediário desse pensamento.”
Porém, sabendo que é impossível separar a idéia
de informação gerada na mente de um Espírito
do fluido que o transmite para outros Espíritos, Kardec explica
porque os pensamentos podem ser chamados de materiais.
Lembrando dos comentários de Kardec e dos Espíritos
superiores destacados na Introdução deste artigo, é
preciso que nós tenhamos em mente toda essa discussão
sobre a diferença entre informação e veículo
de transmissão da informação para entendermos
porque podemos dizer que o pensamento é matéria. Assim,
toda vez que lermos ou ouvirmos alguém comentar essa afirmativa,
lembraremos que não é a informação em
si que é material, mas o veículo que a transporta para
todos os lugares.
Assim, se torna fácil compreender o sentido usado por André
Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade [3],
ao dizer no item “Corpúsculos Mentais”
do Cap. IV que: “Como alicerce vivo de todas as realizações
nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento
por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria,
(...)”. Portanto, André Luiz fala das características
dos fluidos que transportam o pensamento e as aplica no estudo dos
processos mediúnicos.
AFINAL, O PENSAMENTO É
QUÂNTICO?
Aproveitando a temática sempre atual sobre o pensamento, vamos
analisar aqui se o pensamento teria propriedades quânticas.
André Luiz, na obra acima referida [3],
afirma que a matéria fluídica se estrutura de modo análogo
à matéria densa cujos átomos, por sua vez, são
formados por partículas subatômicas. Ele propõe
a título de analogia que ocorrem com os fluidos processos análogos
aos que ocorrem com a matéria densa. Assim, André Luiz
afirma que os princípios de emissão de luz espiritual
são análogos aos da emissão da luz material,
que decorre de determinadas propriedades quânticas. Até
aqui, não temos nenhuma objeção lembrando, apenas,
que André Luiz foi muito cuidadoso no prefácio do seu
livro [3] ao dizer que estava tomando emprestado os conceitos científicos
terrestres sabendo que a ciência do amanhã pode substituir
a ciência conhecida hoje.
Em uma série de “aulas” sobre Ciência
e Espiritismo que temos publicado no Boletim do GEAE [4]
(Boletins números de 483 até o atual), analisamos algumas
possíveis contribuições que a Física pode
oferecer a alguns temas de interesse para o Movimento Espírita,
apontando algumas dificuldades e equívocos comuns em matéria
de Ciência. Todo o material do Boletim do GEAE [4] pode ser
consultado e estudado gratuitamente e convidamos os leitores a analisarem
o material que expusemos nas aulas de número 6 até 12
(Boletins do GEAE de números 488 a 494). O leitor encontrará
nessas referências alguns conceitos básicos para poder
analisar melhor a questão que apresentaremos a seguir.
Vamos analisar a proposta de que o processo de transmissão
de pensamento é não-local. De modo a facilitar
o entendimento, resumiremos as características e propriedades
da chamada não-localidade entre duas ou mais partes de um sistema
quântico:
Instantaneidade (cuja idéia
é diferente de muito rápido);
Não depende da distância entre os objetos;
Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som se
utiliza do ar para ser transmitido;
Não serve, isoladamente, para enviar informação
de um lugar a outro;
Somente se verifica em sistemas isolados do resto do mundo.
Um fenômeno de ligação entre dois objetos será
não-local se todos esses ítens forem satisfeitos ao
mesmo tempo. Segundo Kardec na questão 282 do Livro
dos Espíritos, “O fluido universal estabelece
entre eles constante comunicação; é o veículo
da transmissão de seus pensamentos, como, para vós,
o ar o é do som.” Portanto, o iítem 3 não
é satisfeito no processo de transmissão do pensamento.
Como o objetivo dos fluidos é servir de veículo de transmissão
da informação contida no pensamento (Kardec, ítem
23 do Cap. II de A Gênese: “Esse fluido não
é o pensamento do Espírito; é, porém,
o agente e o intermediário desse pensamento.”)
o ítem 4 acima também não é satisfeito.
Como todos os Espíritos estão imersos no Fluido Universal,
emitindo e recebendo os pensamentos de outros Espíritos, de
acordo com a sintonia de cada um, o processo de transmissão
de pensamento não é um fenômeno que ocorre entre
dois ou mais Espíritos isolados do resto do Universo. Portanto,
o item 5 também não é satisfeito. De modo a vermos
que a velocidade do pensamento não é infinita e, portanto,
não se transmite de modo instantâneo, vamos analisar
a questão 89 do Livro dos Espíritos,
a respeito da velocidade de deslocamento dos Espíritos: “89.
Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento.” (Grifos em negrito
são nossos). Ao dizer que os Espíritos “gastam,
SIM, algum tempo para percorrer o espaço”, os Espíritos
dizem que seu deslocamento não é instantâneo.
Ao comparar a rapidez dos Espíritos com a do pensamento, deduz-se
que o pensamento não pode ser transmitido de modo instantâneo
porque senão os Espíritos não gastariam tempo
nenhum para percorrer o espaço e a resposta seria auto-contraditória.
Portanto, o item 1 acima não se verifica. Apenas o item 2 seria
verificado já que podemos, pelo pensamento, transmitir nossas
idéias ou informações a qualquer lugar no Universo
já que, segundo os Espíritos superiores, o Fluido Universal
está presente em todo o Universo.
Desde que é necessário que todas as características
enumeradas acima sejam verificadas de modo que um dado fenômeno
possa ser considerado não-local, concluímos
que o fenômeno da transmissão de pensamentos não
é um fenômeno quântico no sentido da não-localidade.
CONCLUSÕES
Neste artigo, analisamos as características do pensamento sob
aspectos doutrinários e científicos. Destacamos na Codificação
diversas citações de Kardec e dos Espíritos superiores
que enfatizam tanto o significado de informação como
o significado de matéria para a palavra pensamento. Verificamos
que a informação contida no pensamento é
o produto da utilização do Espírito do atributo
da sua inteligência. No entanto, para transmitir essa
informação à outros Espíritos, a informação
deve se associar a fluidos que, então, são transmitidos
pelo Fluido Universal assim como o som é transmitido
pelo ar. Nesse aspecto, o pensamento se torna algo material pois apenas
os fluidos podem ter a propriedade de ocupar espaço e serem
transmitidos.
Aproveitamos o ensejo para analisar se o fenômeno de transmissão
do pensamento possui a propriedade quântica de não-localidade.
Com base na Codificação, mostramos que esse fenômeno
não é não-local porque não satisfaz a
todas as condições necessárias para que um fenômeno
tenha essa característica.
É relativamente comum a idéia de que os efeitos físicos
são os fenômenos que irão comprovar a existência
da alma e a realidade espiritual para a Humanidade. Contudo, sem discordar
em absoluto dessa idéia, acreditamos que os efeitos
inteligentes podem realizar um papel muito mais importante
nesse aspecto do que imaginamos. A inteligência humana é
eficiente na invenção de formas de simular qualquer
tipo de fenômeno mas questões de ordem inteligente e
do sentimento jamais podem ser imitadas por meio de truques. Por essa
razão, o aspecto – informação associado
aos fenômenos espíritas devem ser mais explorados pois
através dos valores da informação obtida nos
fenômenos espíritas é que poderemos discernir
o fruto da inteligência humana de outras inteligências
superiores. Sugerimos, a respeito disso, a leitura do interessantíssimo
artigo de Ademir Xavier Jr. [5]
sobre o papel da informação na estruturação
do Universo.