Para os que lêem a Bíblia,
sem nenhum espírito pré-concebido e, principalmente,
sem se apegar aos dogmas teológicos do passado, verá
que nela a figura da mulher é sempre de inferioridade em relação
ao homem. É óbvio que debitamos isso aos homens, portanto
nada de ser a vontade de Deus.
Por ser, naquele tempo, uma sociedade
extremamente machista, ou ao menos muito mais que a atual, a mulher
está retratada, no Livro Sagrado, sempre como uma personagem
inexpressiva. Refletindo, pois, a nosso ver, e até que nos
provem o contrário, apenas a fatores culturais de um povo,
ou talvez até mesmo de toda uma época, onde o machismo
era o fator que preponderava nas relações entre homens
e mulheres.
Fizemos uma pesquisa, e, por ela,
chegamos à conclusão que a Bíblia é
um livro no qual o machismo é colocado de forma bem evidente.
Causa-nos estranheza é o comportamento da mulher, pois apesar
disso é ela quem mais se apega a esse livro.
Vejamos então os seguintes
questionamentos: Quem foi criado em primeiro lugar, o homem ou a mulher?
A mulher sendo tirada da costela do homem não induz a pensarmos
(ou, quem sabe, é o que querem que pensemos) que a mulher estaria
em condições de inferioridade em relação
ao homem? A quem normalmente se atribui a "culpa" pelo pecado
"original", ao homem ou à mulher? Todas as genealogias
constantes da Bíblia são feitas em relação
aos homens ou em relação às mulheres? A maioria
dos personagens em destaque na Bíblia são homens ou
mulheres? Entre os 12 discípulos de Jesus tinha algum que não
era homem?
Para confirmar o que estamos dizendo,
vejamos, nas passagens bíblicas a seguir, alguns exemplos que
nos comprovam o evidente machismo impregnado nela:
Deuteronômio
5, 21: Não cobice a mulher do próximo.
(mandamento para os homens).
Deuteronômio
22, 13-15: Se um homem se casa com uma mulher e
começa a detestá-la depois de ter tido relações
com ela, acusando-a de atos vergonhosos e difamando-a publicamente,
dizendo: ‘Casei-me com esta mulher mas, quando me aproximei
dela, descobri que não era virgem, o pai e a mãe da
jovem pegarão a prova da virgindade dela e levarão
a prova aos anciãos da cidade para que julguem o caso.
Deuteronômio 24, 1:
Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio,
se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma
coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio
e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade.
Eclesiastes 7, 26:
Então descobri que a mulher é mais amarga do que a
morte, porque ela é uma armadilha, o seu coração
é uma rede e os seus braços são cadeias. Quem
agrada a Deus consegue dela escapar, mas o pecador se deixa prender
por ela.
Eclesiástico 7, 25:
Arrume casamento para sua filha, e terá realizado uma grande
tarefa, mas faça que ela se casa com homem sensato.
Eclesiástico 9, 2:
Não se entregue a uma mulher, para que ela não o domine.
Eclesiástico 25,
24: Foi pela mulher que começou o pecado, e é
por culpa dela que todos morremos.
Eclesiástico 42,
14: É melhor a maldade do homem do que a bondade
da mulher: a mulher cobre de vergonha e chega a expor ao insulto.
E para que não fiquemos somente no Antigo Testamento,
já que alguém pode alegar que isso é coisa do
"Velho", vejamos também no Novo:
1 Coríntios 11, 7-9:
O homem não deve cobrir a cabeça, porque ele é
a imagem e o reflexo de Deus, a mulher, no entanto, é o reflexo
do homem. Porque o homem não foi tirado da mulher, mas a
mulher do homem. Nem o homem foi criado para a mulher, mas a mulher
para o homem.
1 Coríntios 14, 34-35:
Que as mulheres fiquem caladas nas assembléias, como se faz
em todas as igrejas dos cristãos, pois não lhes é
permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também
a lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos
em casa; não é conveniente que a mulher fale nas assembléias.
Colossenses 3, 18:
Mulheres, sejam submissas a seus maridos, pois assim convém
a mulheres cristãs.
1 Timóteo 2, 9-14:
Quanto às mulheres, que elas tenham roupas decentes e se
enfeitem com pudor e modéstia. Não usem tranças,
nem objetos de ouro, pérolas ou vestuário suntuoso;
pelo contrário, enfeitem-se com boas obras, como convém
a mulheres que dizem ser piedosas. Durante a instrução,
a mulher deve ficar em silêncio, com toda a submissão.
Eu não permito que a mulher ensine ou domine o homem. Portanto,
que ela conserve o silêncio. Porque primeiro foi formado Adão,
depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido, mas a
mulher que, seduzida, pecou. Entretanto, ela será salva pela
sua maternidade, desde que permaneça com modéstia
na fé, no amor e na santidade.
Todos nós conhecemos aquela passagem em que os escribas e fariseus
apresentando a Jesus uma mulher surpreendida em adultério perguntaram-Lhe
se deveriam cumprir a Lei de Moisés que exigia
o apedrejamento dela. É bom que ressaltemos que se trata realmente
de uma Lei de Moisés, pois se fosse Lei de Deus todos os que
se dizem seguidores da Bíblia ou os que acham ser ela de capa
a capa a palavra de Deus a cumpririam, não é mesmo?
Como não vemos, nos dias de hoje, ninguém matando homens
ou mulheres que cometeram adultério, fica evidente não
se tratar mesmo de uma Lei Divina. Mas, chamamos a sua atenção
ao que consta dessa Lei: estabelecia que tanto o adúltero quanto
a adúltera deveriam ser punidos com a morte (Levítico
20, 10). Perguntamos, então, aonde foi parar o adúltero?
Temos que convir que uma mulher não tem como adulterar sozinha
já que, para isso, é necessário um homem. É
a velha questão, numa sociedade machista em que também
os homens é que julgavam, será que iriam condenar um
homem adúltero? Achamos muito difícil. Assim, a pena
cabia apenas às pobres mulheres que cometessem tal delito,
contrariando, portanto, o que consta na Bíblia.
E, para que você, caro leitor,
possa ter uma visão do que a Doutrina Espírita
diz sobre a mulher, colocaremos algumas questões de
"O Livro dos Espíritos", cujas respostas
foram dadas pelos Espíritos Superiores a Kardec. São
elas:
202 – Quando se é
Espírito, prefere-se encarnar no corpo de um homem ou de uma
mulher?
- Isso pouco importa ao Espírito;
ele escolhe segundo as provas que deve suportar.
Os Espíritos se encarnam homens
ou mulheres porque eles não têm sexos. Como devem progredir
em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhe oferece
provas e deveres especiais, além da oportunidade de adquirir
experiência. Aquele que fosse sempre homem não saberia
senão o que sabem os homens.
817 – Diante de Deus,
o homem e a mulher são iguais e têm os mesmos direitos?
- Deus não deu a ambos a inteligência
do bem e do mal e a faculdade de progredir?
818 – De onde se origina
a inferioridade moral da mulher em certos países?
- Do império injusto e cruel
que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições
sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens
pouco avançados do ponto de vista moral, a força faz
o direito.
819 – Com que objetivo
a mulher é fisicamente mais fraca que o homem?
- Para lhe assinalar funções
particulares. O homem é para os trabalhos rudes, por ser o
mais forte; a mulher para os trabalhos suaves, e ambos para se entreajudarem
nas provas de uma vida plena de amargura.
820 – A fraqueza física
da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência
do homem?
- Deus deu a uns a força para
proteger o fraco, e não para se servir dele.
Deus conformou a organização
de cada ser às funções que deve cumprir. Se deu
à mulher uma força física menor, dotou-a, ao
mesmo tempo, de maior sensibilidade, relacionada com a delicadeza
das funções maternais e a fraqueza dos seres confiados
aos seus cuidados.
821 – As funções
para as quais a mulher está destinada pela Natureza, têm
uma importância tão grande quanto às dos homens?
- Sim, e maiores; é ela que
lhe dá as primeiras noções da vida.
822 – Os homens, sendo
iguais diante da lei de Deus, devem sê-lo, igualmente, diante
da lei dos homens?
- É o primeiro princípio
de justiça: Não façais aos outros o que não
quereríeis que vos fizessem.
- Segundo isso, uma legislação,
para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos
entre o homem e a mulher?
- De direitos, sim: de funções
não. É preciso que cada um esteja colocado no seu lugar.
Que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um segundo
a sua aptidão. A lei humana, para ser eqüitativa, deve
consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher, pois
todo privilégio concedido a um, ou a outro, é contrário
à justiça. A emancipação da mulher segue
o progresso da civilização, sua subjugação
caminha com a barbárie. Os sexos, aliás, não
existem senão pela organização física,
visto que os Espíritos podem tomar um e outro, não havendo
diferença entre eles sob esse aspecto, e, por conseguinte,
devem gozar dos mesmos direitos.
A Filosofia Espírita nos deixa bem claro que
a condição de se ser mulher não indica que o
homem deve subjugá-la, quer física ou moralmente, já
que ambos possuem os mesmos direitos, apenas são diferentes
as suas funções, que estão intimamente relacionadas
à natureza da organização física de cada
um.
Mas, é bem interessante que,
muito antes de qualquer tipo de movimento pela emancipação
da mulher sair a "campo" para lutar pela sua igualdade com
o homem, o Espiritismo tratava desta questão de forma clara
e objetiva, dizendo sobre a igualdade entre ambos, como fruto
das orientações dos Espíritos Superiores. Se
a própria sociedade como um todo vem pregando isso, temos um
questionamento aos que dizem coisas sobre o Espiritismo que ele não
é, qual seja: Será que todos os Espíritos que
se manifestam nas Casas Espíritas são mesmo demônios
como sempre apregoam determinadas correntes religiosas? Se o são,
temos que convir, que devem ter se tornado bonzinhos, pelo menos os
"demônios" que se manifestam nos dias de hoje, pois
aconselham exatamente o que a própria sociedade vem fazendo
e, diga-se de passagem, todos concordamos que isso representa mesmo
uma evolução dessa sociedade, ou seja, a igualdade entre
todos, até mesmo entre homens e mulheres.
Out/2002.
Fonte: Publicado na Revista Universo
Espírita, nº 01, junho/2003, Ed. Universo
A Bíblia Sagrada, Edição Pastoral,
Paulus, São Paulo, SP, 43ª Edição, 2001.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, IDE, Araras,
SP, 37ª Edição, 1987.