Paulo
da Silva Neto Sobrinho
> Os espíritos se comunicam na Igreja Católica
(as almas
do purgatório se manifestam a fiéis)
*
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Ora, ninguém, dotado de senso comum
e que saiba racionar, pode ignorar
a existência de uma comunidade e de uma comunhão
entre os que vivem, com os que faleceram.
Golo Mann, 1909-1994
Estamos rodeados por pessoas falecidas
que,
indizivelmente tristes, querem comunicar-se conosco
enquanto olhamos unicamente para o mundo terreno.
Oh! que miserável escravidão em que nos metem os sentidos!
Dr. Peter Gehring, 1953-2003
Introdução
Embora, num esforço inaudito,
se tente provar que os mortos não se comunicam, a verdade é
que eles não estão nem aí para isso e se comunicam
assim mesmo. Podemos ver que, dentro da Igreja Católica, a
manifestação dos defuntos é coisa comum, apesar
de fazerem de tudo para que isso não venha à tona, porquanto
haverá de se mudar dogmas impostos à força, o
que poderá abalar a sua credibilidade como uma instituição
religiosa.
É evidente a contradição dos católicos,
pois, apesar de dizerem que os mortos não se comunicam, mesmo
assim não deixam de fazer seus pedidos ao santo ao qual dedicam
a sua devoção. O pobre do Santo Antônio então,
coitado, desde quando foi elevado a esse status de santo, não
tem mais paz, tantos os petitórios que lhe fazem as solteironas,
que não largam de sua batina, em súplica desesperada
para conseguirem um bom marido. Ele faz cada “milagre”
que espanta a qualquer um.
Quando lhes demonstramos que também eles evocam os mortos (já
que santo vivo, só o Santo Padre, o Papa), nos apresentam o
argumento de que não “evocam”, mas “invocam”.
Diante disso é bom socorrer-nos com o Houaiss:
evocar:
1 t.d. chamar (algo, ger. sobrenatural), fazendo com que apareça
“evocou todos os santos que conhecia para ajudá-lo
naquela hora”; 2 t.d. tornar (algo) presente pelo exercício
da memória e/ou da imaginação; lembrar “saudoso,
evocava a infância com freqüência”, “apaixonado,
evocava o rosto da amada”; 3 t.d. JUR passar (causa judicial)
de um tribunal a outro.
Invocar: 1.t.d. chamar em auxílio, pedir
a proteção de (falando ger. de seres ou forças
divinas, sobrenaturais); suplicar “i. os santos”; 2
t.d. pedir auxílio, assistência; recorrer “i.
a ajuda dos amigos”; 3 t.d. evocar (quaisquer forças
sobrenaturais, ocultas) “i. os espíritos de antepassados”;
4 t.d. B infrm. causar irritação a; provocar (alguém)
“a conversa mole dele invoca qualquer um”; 5 t.d. B
infrm. deixar cismado; dar o que pensar a, intrigar “ele o
invocou quando evitou o assunto do relógio roubado”;
6 t.i. e pron. B infrm. não simpatizar; antipatizar com “invocou(-se)
com a cara dele logo de saída”; 7 t.d. JUR alegar a
seu favor, aduzir como prova do que se diz “i. leis, precedentes,
testemunhos”.
Todos os dois verbos poderão ser usados
indistintamente, já que ambos podem assumir o mesmo significado,
que é chamar por algo sobrenatural, uma vez que é assim
que todos vêem os fenômenos de aparição
de um santo; dessa mesma forma é que também vêem
a manifestação de qualquer outro espírito. Somente
a Doutrina Espírita é que procura demonstrar que tais
coisas estão estritamente dentro das leis divinas; conseqüentemente,
são leis naturais, que ainda não são vistas assim,
porquanto prevalecem a ignorância e o preconceito diante delas.
Seriam as comunicações com os mortos algo abominável
a Deus (Dt 18,12)?
A questão é: Deus faria uma lei que pudesse levar a
algo contrário ao que ele deseja ou que viesse a aborrecê-Lo?
Certamente que não! Portanto, se existe a possibilidade de
se comunicar com os mortos, é porque Deus criou uma lei para
que isso aconteça, sem nenhuma dúvida. Mas, e a proibição?
Reputamo-la provinda da vontade de Moisés, que não queria
que se evocassem os mortos para fins de adivinhação,
pois o que ele proibiu foi a necromancia, que é exatamente
isso. Só que espertamente alguns teólogos querem fazer
dessa proibição mosaica seu cavalo de batalha, ou seja,
uma proibição divina, porquanto, morrem de medo de que
os “mortos” venham a revelar outra verdade, da qual nem
querem ouvir falar.
Vejamos o que Kardec falou a respeito disso, no Cap. XI, de O
Céu e o Inferno:
Da proibição
de evocar os mortos
1. - A Igreja de modo algum nega a realidade das manifestações.
Ao contrário, como vimos nas citações precedentes,
admite-as totalmente, atribuindo-as à exclusiva intervenção
dos demônios. É debalde invocar os Evangelhos como
fazem alguns para justificar a sua interdição, visto
que os Evangelhos nada dizem a esse respeito. O supremo argumento
que prevalece é a proibição de Moisés.
A seguir damos os termos nos quais se refere ao assunto a mesma
pastoral que citamos nos capítulos precedentes:
"Não é permitido entreter relações
com eles (os Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio
dos que os evocam e interrogam. A lei moisaica punia os gentios.
Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem
procureis saber coisa alguma dos adivinhos, de maneira a vos contaminardes
por meio deles. (Cap. XIX, v. 31.) Morra de morte o homem ou a mulher
em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados
e sobre eles recaia seu sangue. (Cap. XX, v. 27.) O Deuteronômio
diz: Nunca exista entre vós quem consulte adivinhos, quem
observe sonhos e agouros, quem use de malefícios, sortilégios,
encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico
e se dão a práticas de adivinhação interrogando
os mortos. O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá,
à vossa entrada, as nações que cometem tais
crimes." (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12.)
2. - É útil, para melhor compreensão do verdadeiro
sentido das palavras de Moisés, reproduzir por completo o
texto um tanto abreviado na citação antecedente. Ei-lo:
"Não vos desvieis do vosso Deus para procurar mágicos;
não consulteis os adivinhos, e receai que vos contamineis
dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vosso Deus." (Levítico,
cap. XIX, v. 31.) O homem ou a mulher
que tiver Espírito pitônico, ou de adivinho, morra
de morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairá
sobre eles." (Idem, cap. XX, v. 27.) Quando houverdes entrado
na terra que o Senhor vosso Deus vos há de dar, guardai-vos;
tomai cuidado em não imitar as abominações
de tais povos; - e entre vós ninguém haja que pretenda
purificar filho ou filha passando-os pelo fogo; que use de malefícios,
sortilégios e encantamentos: que consulte os que têm
o Espírito de Píton e se propõem adivinhar,
interrogando os mortos para saber a verdade. O Senhor abomina todas
essas coisas e exterminará todos esses povos, à vossa
entrada, por causa dos crimes que têm cometido.
(Deuteronômio, cap. XVIII, vv.
9, 10, 11 e 12.)
3. - Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente
observada neste ponto, força é que o seja igualmente
em todos os outros. Por que seria ela boa no tocante às evocações
e má em outras de suas partes? É preciso ser conseqüente.
Desde que se reconhece que a lei moisaica não está
mais de acordo com a nossa época e costumes em dados casos,
a mesma razão procede para a proibição de que
tratamos.
Demais, é preciso expender os motivos que justificavam essa
proibição e que hoje se anularam completamente. O
legislador hebreu queria que o seu povo abandonasse todos os costumes
adquiridos no Egito, onde as evocações estavam em
uso e facilitavam abusos, como se infere destas palavras de Isaías:
"O Espírito do Egito se aniquilará de si mesmo
e eu precipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos,
seus adivinhos, seus pítons e seus mágicos."
(Cap. XIX, v. 3.)
Os israelitas não deviam contratar alianças com as
nações estrangeiras, e sabido era que naquelas nações
que iam combater encontrariam as mesmas práticas.
Moisés devia, pois, por política, inspirar aos hebreus
aversão a todos os costumes que pudessem ter semelhanças
e pontos de contacto com o inimigo. Para justificar essa aversão,
preciso era que apresentasse tais práticas como reprovadas
pelo próprio Deus, e dai estas palavras: - "O Senhor
abomina todas essas coisas e destruirá, à vossa chegada,
as nações que cometem tais crimes."
4. - A proibição de Moisés era assaz justa,
porque a evocação dos mortos não se originava
nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para
com eles, sendo antes um recurso para adivinhações,
tal como nos augúrios e presságios explorados pelo
charlatanismo e pela superstição. Essas práticas,
ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés,
por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las
dos costumes populares.
As seguintes palavras do profeta justificam o asserto: - "Quando
vos disserem: Consultai os mágicos e adivinhos que balbuciam
encantamentos, respondei: -Não consulta cada povo ao seu
Deus? E aos mortos se fala do que compete aos vivos?" (Isaías,
cap. VIII, v. 19.) "Sou eu quem aponta a falsidade dos prodígios
mágicos; quem enlouquece os que se propõem adivinhar,
quem transtorna o espírito dos sábios e confunde a
sua ciência vã." (Cap. XLIV, v. 25.)
"Que esses adivinhos, que estudam o céu, contemplam
os astros e contam os meses para fazer predições,
dizendo revelar-vos o futuro, venham agora salvar-vos. - Eles tornaram-se
como a palha, e o fogo os devorou; não poderão livrar
suas almas do fogo ardente; não restarão das chamas
que despedirem, nem carvões que possam aquecer, nem fogo
ao qual se possam sentar. - Eis ao que ficarão reduzidas
todas essas coisas das quais vos tendes ocupado com tanto afinco:
os traficantes que convosco traficam desde a infância foram-se,
cada qual para seu lado, sem que um só deles se encontre
que vos tire os vossos males." (Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15.)
Neste capítulo Isaías dirige-se aos babilônios
sob a figura alegórica "da virgem filha de Babilônia,
filha de caldeus" (v. 1). Diz ele que os adivinhos não
impedirão a ruína da monarquia. No seguinte capítulo
dirige-se diretamente aos israelitas.
"Vinde aqui vós outros, filhos de uma agoureira, raça
dum homem adúltero e de uma mulher prostituída. -
De quem vos rides vós? Contra quem abristes a boca e mostrastes
ferinas línguas? Não sois vós filhos perversos
de bastarda raça - vós que procurais conforto em vossos
deuses debaixo de todas as frontes, sacrificando-lhes os tenros
filhinhos nas torrentes, sob os rochedos sobranceiros? Depositastes
a vossa confiança nas pedras da torrente, espalhastes e bebestes
licores em sua honra, oferecestes sacrifícios. Depois disso
como não se acender a minha indignação?"
(Cap. LVII, vv. 3, 4, 5 e 6.)
Estas palavras são inequívocas e provam claramente
que nesse tempo as evocações tinham por fim a adivinhação,
ao mesmo tempo que constituíam comércio, associadas
às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas
até de sacrifícios humanos. Moisés tinha razão,
portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as abominava.
Essas práticas supersticiosas perpetuaram-se até à
Idade Média, mas hoje a razão predomina, ao mesmo
tempo em que o Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral,
consolador e religioso das relações de além-túmulo.
Uma vez, porém, que os espíritas não sacrificam
criancinhas nem fazem libações para honrar deuses;
uma vez que não interrogam astros, mortos e augures para
adivinhar a verdade sabiamente velada aos homens; uma vez que repudiam
traficar com a faculdade de comunicar com os Espíritos; uma
vez que os não movem a curiosidade nem a cupidez, mas um
sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e melhorar-se, aliviando
as almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é
- a proibição de Moisés não lhes pode
ser extensiva.
Se os que clamam injustamente contra os espíritas se aprofundassem
mais no sentido das palavras bíblicas, reconheceriam que
nada existe de análogo, nos princípios do Espiritismo,
com o que se passava entre os hebreus. A verdade é que o
Espiritismo condena tudo que motivou a interdição
de Moisés; mas os seus adversários, no afã
de encontrar argumentos com que rebatam as novas idéias,
nem se apercebem de que tais argumentos são negativos, por
serem completamente falsos.
A lei civil contemporânea pune todos os abusos que Moisés
tinha em vista reprimir.
Contudo, se ele pronunciou a pena última contra os delinqüentes,
é porque lhe faleciam meios brandos para governar um povo
tão indisciplinado. Esta pena, ao demais, era muito prodigalizada
na legislação moisaica, pois não havia muito
onde escolher nos meios de repressão. Sem prisões
nem casas de correção no deserto, Moisés não
podia graduar a penalidade como se faz em nossos dias, além
de que o seu povo não era de natureza a atemorizar-se com
penas puramente disciplinares. Carecem portanto de razão
os que se apóiam na severidade do castigo para provar o grau
de culpabilidade da evocação dos mortos. Conviria,
por consideração à lei de Moisés, manter
a pena capital em todos os casos nos quais ele a prescrevia? Por
que, então, reviver com tanta insistência este artigo,
silenciando ao mesmo tempo o princípio do capítulo
que proíbe aos sacerdotes a posse de bens terrenos e partilhar
de qualquer herança, porque o Senhor é a sua própria
herança?
(Deuteronômio, cap. XXVIII,
vv. 1 e 2.)
5. - Há duas partes distintas na lei de Moisés: a
lei de Deus propriamente dita, promulgada sobre o Sinai, e a lei
civil ou disciplinar, apropriada aos costumes e caráter do
povo. Uma dessas leis é invariável, ao passo que a
outra se modifica com o tempo, e a ninguém ocorre que possamos
ser governados pelos mesmos meios por que o eram os judeus no deserto
e tampouco que os capitulares de Carlos Magno se moldem à
França do século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo,
em reviver este artigo da lei mosaica: "Se um boi escornar
um homem ou mulher, que disso morram, seja o boi apedrejado e ninguém
coma de sua carne; mas o dono do boi será julgado inocente"?
(Êxodo, cap. XXI, vv. 28 e seguintes.)
Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha,
no entanto, outro objetivo que o de punir o boi e inocentar o dono,
equivalendo simplesmente à confiscação do animal,
causa do acidente, para obrigar o proprietário a maior vigilância.
A perda do boi era a punição que devia ser bem sensível
para um povo de pastores, a ponto de dispensar outra qualquer; entretanto,
essa perda a ninguém aproveitava, por ser proibido comer
a carne. Outros artigos prescrevem o caso em que o proprietário
é responsável.
Tudo tinha sua razão de ser na legislação de
Moisés, uma vez que tudo ela prevê em seus mínimos
detalhes, mas a forma, bem como o fundo, adaptavam-se às
circunstâncias ocasionais. Se Moisés voltasse em nossos
dias para legislar sobre uma nação civilizada, decerto
não lhe daria um código igual ao dos hebreus.
6. - A esta objeção opõem a afirmativa de que
todas as leis de Moisés foram ditadas em nome de Deus, assim
como as do Sinai. Mas julgando-as todas de fonte divina, por que
ao decálogo limitam os mandamentos? Qual a razão de
ser da diferença? Pois não é certo que se todas
essas leis emanam de Deus, deveriam todas ser igualmente obrigatórias?
E por que não conservaram a circuncisão, à
qual Jesus se submeteu e não aboliu? Ah! esquecem que, para
dar autoridade às suas leis, todos os legisladores antigos
lhes atribuíam uma origem divina. Pois bem: Moisés,
mais que nenhum outro, tinha necessidade desse recurso, atento ao
caráter do seu povo; e se, a despeito disso, ele teve dificuldade
em se fazer obedecer, o que não sucederia se as leis fossem
promulgadas em seu próprio nome!
Não veio Jesus modificar a lei mosaica, fazendo da sua lei
o código dos cristãos?
Não disse ele: - "Vós sabeis o que foi dito aos
antigos, tal e tal coisa, e eu vos digo tal outra coisa?" Entretanto,
Jesus não proscreveu, antes sancionou a lei do Sinai, da
qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus
nunca aludiu em parte alguma à proibição de
evocar os mortos, quando este era um assunto bastante grave para
ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo ele tratado
de outros assuntos secundários.
7. - Finalmente, convém saber se a Igreja coloca a lei mosaica
acima da evangélica, ou por outra, se é mais judia
que cristã. Convém também notar que, de todas
as religiões, precisamente a judia é que faz menos
oposição ao Espiritismo, porquanto não invoca
a lei de Moisés contrária às relações
com os mortos, como fazem as seitas cristãs.
8. - Mas temos ainda outra contradição: - Se Moisés
proibiu evocar os mortos, é que estes podiam vir, pois do
contrário inútil fora a proibição. Ora,
se os mortos podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje;
e se são Espíritos de mortos os que vêm, não
são exclusivamente demônios. Demais, Moisés
de modo algum fala nesses últimos.
É duplo, portanto, o motivo pelo qual não se pode
aceitar logicamente a autoridade de Moisés na espécie,
a saber: - primeiro, porque a sua lei não rege o Cristianismo;
e, segundo, porque é imprópria aos costumes da nossa
época. Mas, suponhamos que essa lei tem a plenitude da autoridade
por alguns outorgada, e ainda assim ela não poderá,
como vimos, aplicar-se ao Espiritismo. É verdade que a proibição
de Moisés abrange a interrogação dos mortos,
porém de modo secundário, como acessória às
práticas da feitiçaria.
O próprio vocábulo interrogação, junto
aos de adivinho e agoureiro, prova que entre os hebreus as evocações
eram um meio de adivinhar; entretanto, os espíritas só
evocam mortos para receber sábios conselhos e obter alívio
em favor dos que sofrem, nunca para conseguir revelações
ilícitas. Certo, se os hebreus usassem das comunicações
como fazem os espíritas, longe de as proibir, Moisés
acoroçoá-las-ia, porque o seu povo só teria
que lucrar.
9. - É certo que alguns críticos jucundos ou mal-intencionados
têm descrito as reuniões espíritas como assembléias
de nigromantes ou feiticeiros, e os médiuns como astrólogos
e ciganos, isto porque talvez quaisquer charlatães tenham
afeiçoado tais nomes às suas práticas, que
o Espiritismo não pode, aliás, aprovar.
Em compensação, há também muita gente
que faz justiça e testemunha o caráter essencialmente
moral e grave das reuniões sérias. Além disso,
a Doutrina, em livros ao alcance de todo o mundo, protesta bem alto
contra os abusos, para que a calúnia recaia sobre quem merece.
10. - A evocação, dizem, é uma falta de consideração
para com os mortos, cujas cinzas devem ser respeitadas. Mas quem
é que diz tal coisa? São os antagonistas de dois campos
opostos, isto é, os incrédulos que nas almas não
crêem, e os crédulos que pretendem que só os
demônios, e não as almas, podem vir.
Quando a evocação é feita com recolhimento
e religiosamente; quando os Espíritos são chamados,
não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição
e simpatia, com desejo sincero de instrução e progresso,
não vemos nada de irreverente em apelar-se para as pessoas
mortas, como se fizera com os vivos. Há, contudo, uma outra
resposta peremptória a essa objeção, é
que os Espíritos se apresentam espontaneamente, sem constrangimento,
muitas vezes mesmo sem que sejam chamados. Eles também dão
testemunho da satisfação que experimentam por comunicar-se
com os homens, e queixam-se às vezes do esquecimento em que
os deixam. Se os Espíritos se perturbassem ou se agastassem
com os nossos chamados, certo o diriam e não retornariam;
porém, nessas evocações, livres como são,
se se manifestam, é porque lhes convém.
11. - Ainda uma outra razão é alegada: - As almas
permanecem na morada que a justiça divina lhes designa -
o que equivale dizer no céu ou no inferno. Assim, as que
estão no inferno, de lá não podem sair, posto
que para tanto a mais ampla liberdade seja outorgada aos demônios.
As do céu, inteiramente entregues à sua beatitude,
estão muito superiores aos mortais para deles se ocuparem,
e são bastantemente felizes para não voltarem a esta
terra de misérias, no interesse de parentes e amigos que
aqui deixassem. Então essas almas podem ser comparadas aos
nababos que dos pobres desviam a vista com receio de perturbar a
digestão? Mas se assim fora, essas almas se mostrariam pouco
dignas da suprema bem-aventurança, transformando-se em padrão
de egoísmo!
Restam ainda as almas do purgatório, porém, estas,
sofredoras como devem ser, antes que de outra coisa, devem cuidar
da sua salvação. Deste modo, não podendo nem
umas nem outras almas corresponder ao nosso apelo, somente o demônio
se apresenta em seu lugar.
Então é o caso de dizer: se as almas não podem
vir, não há de que recear pela perturbação
do seu repouso.
12. - Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se as almas bem-aventuradas
não podem deixar a mansão gloriosa para socorrer os
mortais, por que invoca a Igreja a assistência dos santos
que devem fruir ainda maior soma de beatitude? Por que aconselha
invocá-los em casos de moléstia, de aflição,
de flagelos? Por que razão e segundo essa mesma Igreja os
santos e a própria Virgem aparecem aos homens e fazem milagres?
Estes deixam o céu para baixar à Terra; entretanto,
os que estão menos elevados não o podem fazer!
13. - Que os cépticos neguem a manifestação
das almas, vá, visto que nelas não acreditam; mas
o que se torna estranhável é ver encarniçar-se
contra os meios de provar a sua existência, esforçando-se
por demonstrar a impossibilidade desses meios, aqueles mesmos cujas
crenças repousam na existência e no futuro das almas!
Parece que seria mais natural acolherem como benefício da
Providência os meios de confundir os cépticos com provas
irrecusáveis, pois que são os negadores da própria
religião. Os que têm interesse na existência
da alma deploram constantemente a avalancha da incredulidade que
invade, dizimando o rebanho de fiéis: entretanto, quando
se lhes apresenta o meio mais poderoso de combatê-la, recusam-no
com tanta ou mais obstinação que os próprios
incrédulos. Depois, quando as provas avultam de modo a não
deixar dúvidas, eis que procuram como recurso de supremo
argumento a interdição do assunto, buscando, para
justificá-la, um artigo da lei mosaica do qual ninguém
cogitara, emprestando-lhe, à força, um sentido e aplicação
inexistentes. E tão felizes se julgam com a descoberta, que
não percebem que esse artigo é ainda uma justificativa
da Doutrina Espírita.
14. - Todas as razões alegadas para condenar as relações
com os Espíritos não resistem a um exame sério.
Pelo ardor com que se combate nesse sentido é fácil
deduzir o grande interesse ligado ao assunto. Daí a insistência.
Em vendo esta cruzada de todos os cultos contra as manifestações,
dir-se-ia que delas se atemorizam.
O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de que os Espíritos
muito esclarecidos viessem instruir os homens sobre pontos que se
pretende obscurecer, dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, da
certeza de um outro mundo, a par das verdadeiras condições
para nele serem felizes ou desgraçados. A razão deve
ser a mesma por que se diz à criança: - "Não
vá lá, que há lobisomens." Ao homem dizem:
- "Não chameis os Espíritos: - São o diabo."
- Não importa, porém: - impedem os homens de os evocar,
mas não poderão impedi-los de vir aos homens para
levantar a lâmpada de sob o alqueire.
O culto que estiver com a verdade absoluta nada terá que
temer da luz, pois a luz faz brilhar a verdade e o demônio
nada pode contra esta.
15. - Repelir as comunicações de além-túmulo
é repudiar o meio mais poderoso de instruir-se, já
pela iniciação nos conhecimentos da vida futura, já
pelos exemplos que tais comunicações nos fornecem.
A experiência nos ensina, além disso, o bem que podemos
fazer, desviando do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando
os que sofrem a desprenderem-se da matéria e a se aperfeiçoarem.
Interdizer as comunicações é, portanto, privar
as almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos
dispensar.
As seguintes palavras de um Espírito resumem admiravelmente
as conseqüências da evocação, quando praticada
com fim caritativo:
"Todo Espírito
sofredor e desolado vos contará a causa da sua queda, os
desvarios que o perderam. Esperanças, combates e terrores;
remorsos, desesperos e dores, tudo vos dirá, mostrando
Deus justamente irritado a punir o culpado com toda a severidade.
Ao ouvi-lo, dois sentimentos vos acometerão: o da compaixão
e o do temor! Compaixão por ele, temor por vós mesmos.
E se o seguirdes nos seus queixumes, vereis então que Deus
jamais o perde de vista, esperando o pecador arrependido e estendendo-lhe
os braços logo que procure regenerar-se. Do culpado vereis,
enfim, os progressos benéficos para os quais tereis a felicidade
e a glória de contribuir, com a solicitude e o carinho
do cirurgião acompanhando a cicatrização
da ferida que pensa diariamente." (Bordéus, 1861.)
KARDEC, 1995, pp. 155-165
O texto de Kardec é claro
por demais, não necessitando, portanto, de nossa parte, de
nenhum comentário adicional.
O contato dos católicos com
os mortos
Ao liberar os relatos de aparições e manifestações,
a Igreja Católica, mesmo que não tenha sido essa a sua
intenção, e, talvez, nem seja do agrado de seus líderes,
acabou abrindo espaço para que tais fenômenos viessem
a público. Acreditamos que alguns deles vão se arder
por conta disso. São os ortodoxos que não abrem mão
das tradições antigas, vivem num mundo da lua, sem qualquer
sintonia com os tempos modernos de liberdade de expressão e
pensamento. Esses, certamente, são os que dariam tudo para
restabelecer os tempos negros da Inquisição, pois se
sentiriam felizes em ver as pessoas, que não pensam como eles,
provando, ainda no plano físico, do gostinho do inferno, nas
chamas da intolerância. Oh! desculpe-nos, da fogueira! Ora,
é tudo a mesma coisa!
Transcrevemos, para conhecimento do nosso leitor, essa declaração
constante da Edições Boa Nova, uma publicação
portuguesa de fonte católica:
Depois de terem sido ab-rogados
os cânones 1399 e 2318 do C.D.C., mercê da intervenção
de Paulo VI em AAS 58 (1966) 1186, os escritos referentes a novas
aparições, manifestações, milagres,
etc., podem ser espalhados e lidos pelos fiéis, mesmo sem
licença expressa da autoridade eclesiástica, contanto
que se observe a moral cristã em geral.
(LINDMAYR, 2003, p. 4).
1º Caso –
Maria-Ana Lindmayr (1657-1726)
O primeiro caso que iremos apresentar é de Maria-Ana Lindmayr,
carmelita descalça do Convento da Trindade, em Munique (Alemanha).
Ela, ao longo de suas experiências, foi escrevendo um diário,
no qual relatava o seu contato com as almas do purgatório.
Segundo o que consta desse livro, ela possuía o dom da profecia.
Suas palavras:
Para fortificar a minha alma,
aprendi por experiências que força há no Nome
de Jesus. Deus seja louvado por me ter assim fortificado e a tal
ponto instruído, fazendo-me muitíssimas vezes experimentar
como é importante pronunciar o Santíssimo Nome de
Jesus com uma grande confiança. Por este Nome Santíssimo,
eu mesma beneficiei de um auxílio especial, na presença
dos maus espíritos que tantas vezes me atacavam visivelmente,
olhando-me como se fossem fazer-me em pedaços. Quando pronunciava
o Santíssimo Nome de Jesus, eles punham-se logo em fuga.
(LINDMAYR, 2003, pp. 10-11). (grifo
nosso).
Observamos que a nobre freira era alvo de espíritos
obsessores que lhe queriam mal; contudo, como era muito fervorosa,
conseguia afastá-los apenas pronunciando o nome de Jesus. Isso
prova que a fé é um elemento substancial para nos livrarmos
das ações desses espíritos ignorantes que ainda
se comprazem na prática da maldade. Nada de novo em relação
ao que acontece por todos os lados, mas que, infelizmente, somente
os Espíritas parecem ser os únicos acordados para tais
ocorrências. Quantas pessoas não foram tomadas como loucas,
quando, na verdade, apenas estavam subjugadas por espíritos
maus? Infelizmente, a ignorância sobre esses fenômenos
fazia com que se relacionassem tais casos à perda de juízo
da pessoa que sofria as suas nefastas influências.
Nas experiências, dizia Maria-Ana, que passava períodos
de êxtase, dos quais havia três espécies. Conta-nos:
No princípio, quando ainda não tinha
nenhuma experiência destas três espécies de êxtases,
preparava-me para a morte. No decurso destes êxtases, recebi
a garantia (e a experiência ensinou-mo) de que o espírito
ou a alma saía completamente do corpo e abandonava-o completamente.
Este êxtase produziu sempre, como conseqüência,
uma tal força, que me é impossível descrevê-la...
mas o corpo é que ficava mais fortemente surpreendido, quando
a alma volta a entrar nele. Muitas vezes, durante três dias,
eu não podia aquecer-me; os meus membros estavam tão
adormecidos, e inutilizados, como os de um corpo morto”.
(LINDMAYR, 2003, p. 15). (grifo nosso).
Não é outra coisa senão
aquilo que denominamos de desdobramento, fenômeno pelo qual
o espírito se afasta do corpo, mas ainda não completamente
desligado dele, e entra na dimensão espiritual, onde passa
a viver temporariamente enquanto durar essa situação.
Kardec o chamou de emancipação da alma. Nessa situação,
pode o corpo ficar totalmente enrijecido, mantendo-se numa atividade
mínima que lhe permite conservar-se vivo. Durante o período
do sono, é comum passarmos por isso; o grande problema é
termos a consciência dele. Inclusive, diga-se de passagem, que
Lindmayr os comparava a essa fala de Paulo: “Conheço
um homem em Cristo que, há catorze anos – ignoro se no
corpo ou fora dele, Deus o sabe -, foi arrebatado até o terceiro
céu” (2Cor 12,2).
No caso dessa freira, veja o que ela fez: “pedi ao Senhor que
me fizesse perceber o desenrolar do êxtase, mantendo-me o pleno
uso da minha razão,... Esta graça foi-me concedida...”.
(LINDMAYR, 2003, p. 16). Tal fato, que
acontece com muitas pessoas, é conhecido como desdobramento
consciente, pois a pessoa, sabe e retém na memória os
fatos acontecidos na dimensão espiritual, durante o período
em que ela lá permaneceu.
E deste modo,
já alguns anos antes que Deus Se dignasse conceder-me a graça
de comunicar com as ALMAS DO PURGATÓRIO, eu lhes fui dando
testemunho ou prova da minha afeição por elas. Aprendi
muito com esta prática das virtudes, e precisamente porque
as próprias almas me avisavam e aconselhavam com todo o cuidado,
não caía facilmente numa falta. Mas, em tudo
isso, eu não pensava em nenhuma outra coisa e muito menos
ainda eu poderia sonhar com libertar assim as ALMAS DO PURGATÓRIO.
(LINDMAYR, 2003, p. 27). (grifo nosso).
Não muito diferente do que
acontece nas casas espíritas, onde os médiuns, em contato
com os espíritos, aprendem com eles, e a alguns deles, dependendo
da condição evolutiva em que se encontram, transmitem-lhes
seus conselhos, exortando-os à prática das virtudes
e do bem. Não raro podem, os medianeiros, pela dedicação
e amor aos espíritos, libertá-los de suas prisões
mentais, proporcionando-lhes a luz do entendimento, para que continuem
a sua caminhada evolutiva em busca da LUZ PLENA.
Observe, caro leitor, que Maria-Ana considerou uma graça a
possibilidade de comunicar-se com os mortos; entretanto os que nunca
passaram por uma experiência desse tipo, dizem coisas absurdas,
até mesmo atribuindo-as como sendo demoníacas. A quem
assiste a razão? Nem precisa responder, tão óbvia
é a resposta.
Contando como tudo começou, diz ela:
Há já alguns anos
que eu recebo, da parte das ALMAS DO PURGATÓRIO, muitos avisos
e isso de diversos modos, isto é, na medida em que eu mesma
progrido na prática das virtudes. Sempre pedi a Deus
que me libertasse de tais manifestações, com receio
de que o Maligno se intrometesse nelas e assim me enganasse.
(LINDMAYR, 2003, p. 28). (grifo nosso).
O sentimento
da freira é o mesmo de tantos que são médiuns
sem o saberem e que muito menos conhecimento possuem do fenômeno,
situação que os leva a sofrer as influências dos
espíritos, muitas das vezes, maus; outras, dos viciados de
ordem geral (sexo, bebida, prazeres, etc). Por temor, fruto do desconhecimento,
pedem a Deus que lhes retirem tal “dom”, como se isso
fosse possível. Quantos, no início do afloramento de
sua mediunidade, não foram confundidos como tomados de possessão
demoníaca... Infelizmente, a ignorância tem mantido a
idéia de que não se pode utilizar-se de tais dons, o
que impede de se levar ajuda a muitos espíritos, para que encontrem
o seu caminho, de um lado, e, de outro, o restabelecimento emocional
do próprio médium.
Seu primeiro contato:
As minhas relações
mais estreitas com as ALMAS DO PURGATÓRIO começaram
pouco depois da morte de meu pai. Uma jovem, Maria Pecher, deu-me
a entender que tinha uma grande confiança em mim e desejava
falar-me. Mas como ela era doente, não podia vir a minha
casa. Até então, eu não tinha ainda tido qualquer
relação amistosa com ela, mas soube que ela queria,
já antes, encontrar-se comigo, e que tinha então sido
impedida de o fazer por sua mãe, com medo de que eu viesse
a meter a sua filha em beatices ou na vida religiosa. Depois da
morte de sua mãe, Maria Pecher continuou a comportar-se de
uma forma exemplar e digna de elogio, uma ótima jovem. Estava
então noiva de um jovem de nome Hufnagel.
Tive de escusar-me, alegando que não podia sair de casa,
antes que as cerimônias religiosas pela alma de meu pai tivessem
sido celebradas, mas prometi-lhe ir nessa mesma semana. Ora, justamente
na festa de Santa Catarina, virgem (25 de novembro), um sábado,
fui ver essa jovem, na sua casa. Ela falou-me com toda a franqueza,
pediu-me que rezasse por ela, para que pudesse morrer virgem. Passados
dois dias, depois de ter posto em ordem todos os seus assuntos e
de ter feito tudo quanto era necessário a um feliz fim, morreu,
no dia 28 de novembro de 1690. Fiquei espantada com esta rápida
morte e o Maligno sujeitou-me a verdadeiras angústias, como
se eu tivesse rezado realmente para que ela morresse. Por isso,
fiquei mesmo contente pelo fato de ninguém ter sabido daquilo
que nós tínhamos dito uma à outra. Eu não
tinha a menor idéia de que ela viria a minha casa, depois
de sua morte. Mas bem depressa vários sinais me fizeram
perceber a sua presença. Todavia, como não
tinha experiência alguma de tais fenômenos,
e muito menos os poderia imaginar, pouco auxílio conseguiu
obter de mim.
Alguns dias mais tarde, no dia 1º de dezembro, uma sexta-feira,
enquanto eu fazia as minhas orações da noite, diante
do meu quadro da Santíssima Virgem, foi-me dito,
em alta voz: “Reza por mim!”. Foi como se tivesse
ouvido um cântico fúnebre. Depois, arejou-me o rosto
com um vento frio e puxou-me pelo hábito. Seguidamente, quando
andava de noite com uma lanterna, via como que uma sombra, a caminhar
diante de mim. Mas verdade é que, apesar de tudo isto, eu
não pensava em coisa alguma de especial.
(LINDMAYR, 2003, pp. 28-30). (grifo nosso).
Uma observação se faz
necessária: é que o espírito se manifestou sem
ter sido evocado, provando, peremptoriamente, que as manifestações
só acontecem mesmo porque Deus as permite. A tão alegada
proibição bíblica, tomada à conta de divina
é, na realidade, fruto da observação de Moisés,
quando via, na prática da necromancia, que era a evocação
dos mortos para fins de adivinhação, um completo desrespeito
aos mortos. Isto também é proibido no âmbito do
Espiritismo, conforme nos orientou o codificador: “A verdade
é que o Espiritismo condena tudo que motivou a interdição
de Moisés;...”. (KARDEC, 1995,
p. 159). Reforça também a famosa frase de Chico
Xavier: “o telefone toca de lá para cá”.
A primeira visita:
Por fim, no dia da festa da Imaculada
Conceição (8 de Dezembro de 1690), eis o que me aconteceu:
tinha por costume, em todas as festas da Santíssima Virgem,
sempre que não estava doente, assistir à Missa das
4 horas ou das 4,30, na nossa capela da Santíssima Virgem.
Inteiramente só, pelo caminho, munida de uma pequena lanterna,
ia apressadamente à Missa. No meio da rua chamada ”Allée
des Carmes”, vi diante de mim uma pessoa vestida de
branco. Tinha a estatura e talha de Maria Pecher. Eu não
pensava em nada de especial e seguramente por isso mesmo não
senti pavor algum. Esta forma branca vai à minha
frente ao longo de toda a caminhada de que já falei, ao longo
das ruas e até à igreja dos jesuítas.
Mas aí mesmo, quando quis ver exatamente o que era, não
pude descobrir ninguém.
Apenas o consegui depois, uma vez na capela, quando me veio à
mente quem tinha caminhado diante de mim e tive então o conhecimento
interior disso mesmo. Mais tarde, Maria fez-se uma vez mais reconhecer
também de noite. E criei por ela uma terna afeição
e, na minha oração da noite, diante do quadro da Santíssima
Virgem, perguntei com uma grande confiança, se era para glória
de Deus e salvação desta alma que ela vinha e se dava
a conhecer, a fim de que não fosse enganada.
Ora, esta mesma noite, à meia-noite, uma alma apresentou-se.
Era como se alguém me calcasse o pé com um dedo ardente,
como uma agulha no fogo. Era tão doloroso como se
uma perna se me tivesse partido. Levantei-me imediatamente e dirigi-me
para o meu altar. Ali, Deus levou-me, por três horas, a um
estado tal, que não era senhora de mim, sem que, no entanto,
tivesse perdido os sentidos. Tinha verdadeiramente de acautelar-me.
Foi-me claramente mostrado o que faltava a esta minha alma.
Foi-me mostrado também que tinha sido chamada no estado de
virgindade e que o único motivo pelo qual o Senhor a tinha
levado para Si tão depressa, era o fato de ser noiva. Ora,
ela devia morrer virgem. Jamais teria podido imaginar que o Além
se poderia mostrar tão severo. Não, ninguém
seria capaz de o compreender. Mas eu fui afinal instruída
por esta alma e, deste modo, pude seguidamente acreditar em coisas
que, de outra forma, jamais teria acreditado. Eu não
me tinha enganado: a sua mãe, que veio no dia seguinte, deu-me
uma sua confirmação tangível. Ela queimou-me
ainda muito mais fortemente. Tive também de passar três
horas em oração, junto dela, e notar o que lhe faltava.
Foi-me então manifestado que a mamã Pecher havia também
ela morrido tão depressa unicamente porque tudo tinha feito
para impedir a sua filha de abraçar o estado religioso. Era
também por este motivo que ela tinha de sofrer muito no Purgatório.
Esta alma indicou-me também muitas outras faltas que tinha
cometido, comendo e bebendo boas coisas, sem que se tenha querido
moderar. Porque não gostava de dar esmolas, durante a sua
vida, ela disse-me que seu marido, ainda vivo (morreu apenas em
15 de Junho de 1700), me enviaria um pouco de dinheiro, que eu deveria
distribuir pelos pobres da região. E de fato, o dinheiro
foi-me entregue. Esta alma custou-me muito. Tive também de
jejuar por ela a pão e água. Quatro semanas mais tarde,
ainda eu via as marcas dessas queimaduras, porque a forma
da mão e do dedo com que esta alma me tinha tocado o pé
ainda continuavam visíveis. Quanto mais consolação
eu experimentava ou sentia com estas aparições, tanto
mais estas almas me custavam. Logo que ofereci todas as satisfações
ou reparações por elas, a mãe e a filha vieram
uma vez mais ao meu quarto, no dia 13 de Dezembro de 1690, dia da
festa de Santa Luzia, virgem e mártir. Ressoou um belíssimo
canto, tirado do Salmo.
“Que alegria, quando me disseram: vamos para a casa do Senhor!”.
Isso encheu-me de uma alegria, que jamais serei capaz de descrever.
(LINDMAYR, 2003, pp. 31-33). (grifo nosso).
O importante
aqui é registrar as queimaduras provocadas no corpo da freira
pelo contato desse espírito. Fatos como esse, mas em objetos,
poderão ser vistos no Museu do Santo Sufrágio em Roma,
assunto que iremos falar mais à frente. Ao que tudo indica,
estamos diante de fenômenos de efeitos físicos, comuns
outrora, mas hoje são raros, não sabemos por qual motivo.
Digna, também, é a informação de que o
espírito lhe passou informações para que acreditasse
no que lhe estava acontecendo.
Deus deu-me
também muitas luzes a respeito das almas dos que
viveram e morreram no luteranismo. Um grandíssimo
número delas não são reprovadas e vão
mesmo para a Bem-Aventurança eterna, porque não
tiveram suficiente compreensão do seu erro ou foram completamente
inocentes.
(LINDMAYR, 2003, p. 48). (grifo nosso).
Fantástica
a confirmação de que Deus não faz mesmo acepção
de pessoas. A freira católica comprova isso ao ver algumas
almas, que “morreram no luteranismo”, indo para a bem-aventurança
eterna, dando a explicação: “porque não
tiveram suficiente compreensão do seu erro” (aqui reflete
o pensamento eclesiástico de que só quem está
na Igreja Católica é que se salva) “ou foram completamente
inocentes” (quer dizer sem pecado, ainda no conceito Católico).
As pobres
almas mostraram-me que, no outro mundo, tudo está
calculado com uma exatidão absoluta e que, nesta
vida, dificilmente se pode fazer uma idéia perfeita dessa
duração... A permanência no Purgatório
dura muitas vezes algumas centenas de anos. Tudo isso me fez ver
como é grande a ofensa feita a Deus pelo pecado e que tudo
quanto não foi expiado nesta vida o deve ser na outra.
(LINDMAYR, 2003, p. 51). (grifo nosso).
Embora agindo
dentro dos padrões católicos, e nem poderíamos
esperar algo diferente, é certo que “tudo quanto não
foi expiado nesta vida o deve ser na outra”, confirmando que
não há “perdão”, puro e simples,
mas pagamento, exatamente o que disse Jesus: “... a cada
um segundo suas obras” (Mt
16,27) e “... dali não
sairás, enquanto não pagares o último centavo”
(Mt 5,26).
As pobres Almas do Purgatório
fizeram-me ver que no outro mundo tudo é tão exatamente
contado e examinado, que quase se não pode fazer uma idéia
disso mesmo, nesta vida, e que no Além tudo veremos
de uma forma absolutamente diferente daquela que poderemos imaginar
neste mundo.
(LINDMAYR, 2003, p. 54). (grifo nosso).
São quase
que as mesmas palavras dos Espíritos Superiores, prepostos
de Jesus, que disseram que nossa percepção no plano
espiritual realmente irá mudar. Na condição de
espíritos a nossa visão se amplia, de tal forma que
perceberemos muitas coisas de um jeito bem mais claro do que imaginávamos
aqui, quando encarnados, e acontecerá, certamente, que muitas
outras nem sonhávamos existir.
Apareceram-lhe vários sacerdotes e bispos; sobre um deles a
freira disse:
A este respeito,
foi-me dada uma bem maravilhosa comparação. Vi, ao
lado deste sacerdote, uma lâmpada. Uma lâmpada ordinária.
Estava toda suja, cheia de gotas de sebo e não havia no interior
mais que um pequeno coto de vela. E foi-me dito: “A lâmpada
é a imagem da alma e do corpo. A alma deve dar o bom exemplo
e iluminar, como uma luz. O corpo, em que habita a alma, deve dirigir-se
segundo a alma; é necessário que não seja uma
lâmpada suja, a fim de que a luz ilumine a lâmpada e
a lâmpada seja para a luz um ornamento. Eu devia interrogar-me
se colocaríamos uma lâmpada assim tão suja,
sobre a mesa, diante de um homem todo limpinho e respeitável.
E foi-me dito: “Tal como se não metem belas velas de
cera branca numa lanterna ordinária e suja de cozinha, assim
Deus já não dá a Sua Graça a
um homem que, colocando no candelabro, deveria iluminar, mas que
já não dá luz, já não dá
bom exemplo. É antes uma pequenina e má luz,
pronta a apagar-se, aquilo que convém a uma lanterna deste
gênero.
(LINDMAYR, 2003, p. 67). (grifo nosso).
Jesus já alertara de que “a
quem muito foi dado, muito será exigido” (Lc
12,48). Se os líderes meditassem mesmo na missão
que lhes cabe em conduzir os fiéis à verdade, deixariam
o egoísmo e o orgulho de lado, assumiriam de vez a sua condição
de cristãos, informando-os desses fatos. Aos infratores da
Lei, não importa quem, será exigida a prestação
de contas; aos líderes que muito sabiam, mais ainda.
No dia 19
de Outubro de 1716, festa de São Pedro de Alcântara,
indo à igreja, à noite, para rezar o Ângelus,
vi uma figura a caminhar à minha frente.
Era como que uma sombra de uma brancura de neve e de grande estatura.
Recomendei a sua alma a meu Bem-Amado. No dia 21 de Outubro, chegou-me
a notícia da morte de meu antigo confessor, o Padre
Inácio Wagner, S.J., falecido no dia 15 de Outubro,
em Regensbourg.
Este confessor tinha-me dito outrora, para que
eu pudesse dormir sem ser incomodada pelas ALMAS DO PURGATORIO e
assim pudesse descansar melhor, que, das 8 horas da noite às
4 horas da manhã, nenhuma ALMA DO PURGATÓRIO deveria
apresentar-se em minha casa. Quando eu perguntei a esta alma por
que razão ela se não havia feito anunciar mais cedo,
ela respondeu-me: “Minha querida filha, eu não
pude manifestar-me mais cedo porque Deus queria que a notícia
da minha morte te não chegasse senão pelos homens.
Como isso já aconteceu, eu posso já fazer-me reconhecer
por ti e falar-te. Minha filha! Só agora eu vejo
o que significa estar no Purgatório. Anuncio-te que a minha
proibição feita às ALMAS DO PURGATÓRIO,
de se apresentarem em tua casa, de noite, não tem valor algum.
Di-lo ao Padre Provincial e ao teu confessor. Minha querida filha,
quanto eu gostaria de vir, mesmo durante a noite, se isso
me não tivesse sido proibido, por causa dessa minha proibição.
Ah! Que nos seja, pois, consenti vir de novo a tua casa,
porque o próprio Deus o permite e só a obediência
aos homens aqui está posta em causa. Eu não
pensei que agi mal, fazendo-te uma tal proibição,
e as almas sofredoras mostraram-se obedientes.
Mas quanto as penas do Purgatório são pesadas, isso
só o sabem aqueles que as experimentaram”.
E eu disse a esta alma: “Em que posso eu, pobre como sou,
prestar-te algum auxílio?”
A alma disse-me: “Minha filha, como acontece aí,
convosco, na terra? Acaso não gostam as pessoas de estar
com os seus amigos e benfeitores? Pois dessa mesma forma eu gosto
de estar contigo”.
(LINDMAYR, 2003, pp. 79-80). (grifo
nosso).
Aqui se confirma
o que foi informado pelas almas do purgatório, ou seja, que
a visão da pessoa muda, quando ela passa para o mundo espiritual.
O seu confessor, que antes proibia o contato com as almas, vem, do
mundo espiritual, dizer que estava enganado. Vai mais longe ainda,
quando disse que essas coisas só acontecem “porque o
próprio Deus o permite”, derrubando toda e qualquer citação
bíblica contrária; para nós de Moisés,
para os fanáticos de Deus. E o próprio Moisés,
depois de morto, também muda de opinião, pois aparece
a Jesus e a três de seus discípulos (Lc
9,29-36). Assim, o padre confessor vem
por os pingos nos is, colocando tudo no devido lugar. Se os fundamentalistas
tivessem a coragem de ler isso, será que mudariam de opinião?
Como se diz popularmente: “sei não...”.
Na condição de espírito, reconheceu humildemente,
o padre-confessor, que a proibição que fizera, de as
almas não se apresentarem à freira, não tinha
valor algum; obviamente porque passou a ter conhecimento de que ele
não tinha esse poder, que somente a Deus pertence. A explicação
que ele deu para estar junto à freira (ao final do trecho acima)
é muito interessante; merece reflexão profunda dos contrários
às comunicações com os mortos: “... se
nós gostamos de estar junto aos amigos, por que os mortos também
não gostariam?” Perguntamos, por nossa vez: seria uma
coisa má deixar que isso acontecesse? Se tivermos um Deus de
amor, certamente, que deixará isso acontecer, pois tal atitude
revelará o seu amor por nós. O nosso Deus é assim;
e o seu, caro leitor, como é?...
Nenhum
período da minha vida foi mais feliz e mais cheio de graças
do que o tempo que eu passei com e pelas ALMAS DO PURGATÓRIO.
Aprendi também que, amando as ALMAS DO PURGATÓRIO,
se dá a Deus o maior prazer, porque estas
Almas O têm muito a peito e O amam de verdade, mas são
também as mais pobres e não podem já conseguir
em nada o mais pequeno alívio para elas próprias.
O próprio Deus as não pode já ajudar
a elas, por mais forte que seja o Seu amor por elas, porque, pelas
faltas cometidas durante a sua vida, elas caíram sob o golpe
da Justiça Divina. Então, não é
já o tempo da graça, mas o da estrita justiça.
(LINDMAYR, 2003, p. 94).
Os que acreditam
que se comunicar com os mortos é “algo abominável
a Deus” ficarão sem saída para explicar como uma
coisa dessa natureza venha fazer feliz uma pessoa que passou a vida
se dedicando às coisas de Deus, como é o caso dessa
freira.
Se as que foram para o lado de lá não podem ser ajudadas
por Deus, porquanto, caíram “sob o golpe da justiça
Divina”, por que então se crê no perdão
puro e simples de nossas faltas, que, de igual modo como as das nossas
almas, são cometidas quando estamos vivos?
2º Caso: Eugênia von der
Leyen (1867-1929)
Informa-nos Arnold Guillet, editor do livro Conversando com as Almas
do Purgatório, que Eugênia era uma princesa da dinastia
germânica dos “von der Leyen”, do lado materno,
da estirpe dos Thyurn e Taxis, de cuja família o papa Pio XII
foi amigo íntimo, e que, no período de 1921 a 1929,
teve contato com as almas do purgatório, apresentando o pároco
Sebastião Wieser, seu diretor espiritual, que testemunha:
Conheci a vidente nos últimos
doze anos de sua vida e todos os dias eu ficava ciente dos
acontecimentos que se davam com ela e das aparições
que lhe surgiam... A vidente levava uma vida santa; sua
caridade não conhecia limites; era prestativa e sempre solícita
em ajudar a quem quer que fosse. Era querida por Deus e
pelos homens. É verdade que levei a princesa a anotar
os fatos que com ela aconteciam; declaro, porém, sob palavra
de honra, que nunca, em ocasião alguma, lhe sugeri qualquer
opinião minha. Responsabilizo-me, pela veracidade
de seu diário, que é totalmente digno de fé...
(VON DER LEYEN, 1994, p. 7).
Aqui, temos
um padre atestando, sem o mínimo constrangimento, que os fatos
são verdadeiros; isso é importante, pois, muitas vezes,
os que ficam preocupados em ter as provas científicas dos fenômenos,
se esquecem de que o testemunho de pessoas idôneas deve também
ser levado em conta. Nos outros casos que citamos, isso também
acontece, ou seja, a própria liderança religiosa afirma
da veracidade dos fenômenos.
A informação que o pároco nos dá de que
Eugênia “era querida por Deus”, nos remete à
questão sempre levantada por alguns fundamentalistas, de que
a comunicação com os mortos é coisa abominável
a Deus. Se fosse, como uma pessoa que estava em contato com as almas
“do outro mundo” poderia ser querida por Deus, conforme
atesta o seu pároco? Aliás, como em todos os casos aqui
citados, as aparições desses espíritos sempre
se iniciavam sem que nenhuma das pessoas envolvidas, por algum ato
de vontade própria, as tivessem provocado, confirmando, portanto,
que as coisas só acontecem com a permissão e por vontade
de Deus. Por que, nesses casos, são almas do purgatório
e as que aparecem aos espíritas são os demônios?
Por qual privilégio e desgraça isso se dá?
Eugênia
von der Leyen teve de levar uma vida opressiva entre dois mundos,
tão pesada que lhe comprimia o coração. Unicamente
o pequeno príncipe herdeiro Wolfram e os animais domésticos
viram algumas de suas aparições, e mais ninguém.
E com ninguém podia conversar sobre esses assuntos, a não
ser com seu diretor espiritual. Deve ter sido para essa
mulher algo de obscuro e confuso: uma invasão do sobrenatural
que só foi possível por especial permissão
de Deus. Algo tão espantoso, que não se compara
com banalidades,... O contato com o Além é
incomparavelmente mais profundo, pois fica ligado, por
assim dizer, a uma corrente de alta tensão, impossível
de ser suportado, até fisicamente, por qualquer criatura.
Só graças especiais de Deus podem sustentar
uma tal sobrecarga do Além, sem conseqüências
letais para o ente que a recebe.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 17).
Realmente para
uma pessoa que não tem conhecimento nenhum do plano espiritual
a coisa pode se complicar. Quantos não foram taxados de loucos
por conta disso? Sabemos que os animais, algumas vezes, percebem os
espíritos, fato confirmado aqui.
As pessoas que podem receber essa “sobrecarga do Além”,
nós as denominamos simplesmente de médiuns.
Dizem que
em tempos passados reinava entre o povo uma forte crença
em aparições de espíritos. Pois bem, tal crença,
antigamente, era geral em toda parte e entre todos os povos. A
parapsicologia tem demonstrado, por meio de provas, que tal crença
tem razão de ser; baseia-se em fatos reais. (VON
DER LEYEN, 1994, p. 19).
Mas é
exatamente isso que estamos falando o tempo todo. O que nos causa
estranheza é que os contrários são, invariavelmente,
os que não estudam e nem pesquisam nada; por isso, ficam presos
aos dogmas teológicos de antanho, que foram impostos a ferro
e fogo.
E para finalizar as colocações do editor Arnold Guillet,
citaremos apenas mais duas coisas do que ele disse. A primeira diz
respeito ao que apresenta como autenticidade da atuação
divina desses casos:
Na sexta-feira santa de 1949, morria
em Gerlachscheim, Baden, após 68 anos de sofrimentos expiatórios
pelas Almas do Purgatório, com a idade de 86 anos, Margarete
Schäffner. Como escreve o professor Georg Seigmund, ela pedira
“a Deus um sinal de que ela não era vítima de
um engano, de sua própria fantasia ou de um logro diabólico.
Apareceram-lhe então, duas vezes, Almas do Purgatório,
que deixaram gravada num pano a marca dos dedos da mão, que
parece ter estado em fogo, fornecendo, pois, um sinal visível
que ela havia pedido. O Ordinariato de Freiburg exigiu
e recebeu para exame aqueles panos...” (VON
DER LEYEN, 1994, p. 29). (grifo nosso).
A segunda é
como essas coisas são vistas pelo público, culpando
os pregadores por não o esclarecer sobre isso:
Seremos
tolos, se não nos convencermos destas verdades. Se os nossos
pregadores, em vez de se dedicarem tanto à psicologia
e a obras sociais, dissessem aos homens as verdades sobre
as Almas do Purgatório e sobre as outras grandes realidades
da religião, em breve, as nossas igrejas vazias
se encheriam de fiéis, ávidos de ouvirem e meditarem
sobre essas verdades, ao invés de reduzidas, como se encontram
hoje, a uma existência meramente museológica. (VON
DER LEYEN, 1994, p. 33). (grifo nosso).
Agora, iremos
transcrever um trecho da fala do Dr. Peter Gehring, prefaciador desse
livro com o diário de Eugênia:
Sabe-se,
no entanto, que os mortos continuam a viver no Além. A experiência
dá testemunho de que os falecidos continuam vivos. Nunca
se ignorou que os seres humanos têm uma vida eterna e pode-se
dizer que as relações com os mortos não
se trata de uma crença, mas de um saber, de conhecimentos
de todos os povos e de todas as comunidades tribais. (VON
DER LEYEN, 1994, p.40). (grifo nosso).
E ainda há os teimosos que
querem negar tudo. Infelizmente, também encontramos os que
sabem de tudo e preferem esconder do povo, cujos interesses próprios
sobressaem à mensagem de conforto e consolação
que deveriam proporcionar, pela função que exercem,
junto a seus fiéis.
Cabe-nos aqui provar que o Dr. Peter Gehring está coberto de
razão, porquanto, a relação com os mortos é
de conhecimento de todos os povos. Traremos uma informação
obtida de um documento escrito no ano de 1319 a.C. Transcrevemos do
artigo de Paulo Henrique, editor da Revista Universo Espírita:
Há 4 mil anos, o sumo sacerdote
de Amon, a mais importante autoridade a serviço do faraó
Mentuhotep II do Egito, estava preocupado com uma influência
espiritual que o afligia. Mas ele estava determinado a, quando chegasse
à noite em sua casa, resolver essa questão. Para os
egípcios, os mortos podiam interferir em suas vidas.
Depois de dar as ordens aos servos e cuidar de sua higiene, subiu
ao terraço de sua luxuosa residência e estendeu suas
mãos para o céu estrelado fazendo uma evocação,
pedindo auxílio dos Espíritos protetores: “Invoco
os deuses do céu, os deuses da Terra, os do Sul, os do Norte,
os do Ocidente, os do Oriente, os deuses do outro mundo”;
então fez a eles um pedido: “Fazei com que venha até
mim o Espírito”.
O Espírito veio, e lhe disse: “Eu sou aquele que vem
para dormir em seu túmulo”.
O sumo sacerdote de Amon pediu que o Espírito se identificasse
para que pudesse oferecer um sacrifício no nome dele, trazendo-lhe,
assim, a paz. O Espírito respondeu: “Meu nome é
Niutbusemekh, meu pai é Ankhmen e minha mãe é
Taemchas”.
O sumo sacerdote então afirmou: “Diz-me o que desejas
e farei com que isso se cumpra para ti. Não se preocupe,
pois vou ajudá-lo. Meu coração ficará
agitado com o Nilo... Não vou te abandonar, se fosse essa
minha intenção não teria me ocupado com este
assunto”.
O Espírito respondeu firme: “Chega de palavras”.
Khonsuemheb, o experiente e poderoso sacerdote, com prestígio
apenas superado pelo faraó, sentou-se a chorar ao lado do
Espírito, e disse-lhe: “Ficarei então aqui sem
comer e sem beber, as trevas cairão sobre mim cada dia, não
sairei daqui”.
O Espírito conta então, sua história: “Quando
eu estava vivo sobre a terra, era o chefe do tesouro do faraó
e também oficial do exército. Quando morri, meu soberano
mandou preparar minha tumba, os quatro vasos de embalsamento e o
meu sarcófago de alabastro. Mas o tempo passou, o túmulo
caiu, o vento e a areia arruinaram tudo. Em outras épocas,
por quatro vezes já me evocaram e prometeram uma nova sepultura.
Mas até agora nada. Como posso acreditar em novas promessas?
Somente com conversas não atingirei meu objetivo”.
O sumo sacerdote mandou três homens atravessarem o rio Nilo
até a região funerária de Tebas. Escolheram
um bom lugar e, além de uma nova tumba, o sumo sacerdote
mandou que dez servos se dedicassem a fazer oferendas diárias
de água e trigo ao espírito. Depois de todo esse trabalho,
o sumo sacerdote ficou cheio de alegria por ter atendido aos desejos
do Espírito.
Esse texto, em hieróglifo, foi encontrado em diversos pedaços
de louça, chamados óstracos (com forma semelhante
à da ostra; usado no Egito antigo como substituto do papiro
para se desenhar ou escrever rascunhos), que hoje estão espalhados
em museus da Europa. Eles foram traduzidos por diversos egiptólogos.
É o mais antigo relato de um encontro entre um vivo e um
morto. Apesar de conter dados e personagens reais da história
do Egito, os pesquisadores consideraram o texto apenas como uma
lenda fantasiosa...
(FIGUEIREDO, 2007, pp. 32-33).
Podemos ler esse relato no livro Mitos
e Lendas do Antigo Egito, Luís Manuel (pp. 195-198). Aliás,
é muito interessante esse caso por ser muito antigo, o que
retira dele qualquer relação com alguma das religiões
tradicionais, para trazê-lo à conta de registro histórico,
longe das arengas dogmáticas atuais.
Voltando ao caso de Eugênia. O seu diário tem muitas
coisas interessantes, das quais apenas iremos destacar algumas, para
não tornar esse estudo muito extenso. A forma pela qual que
nele colocou os seus contatos com as almas do purgatório é
do tipo de um histórico, relacionando cada uma com o respectivo
registro do diálogo que teve com ela, em suas várias
aparições. As datas, que serão citadas nas transcrições,
não obedecem a uma ordem cronológica geral, mas aos
casos particulares; por isso, não serão importantes;
podem ser desconsideradas; estaremos colocando-as para manter fidelidade
ao texto original.
3 de dezembro – Primeiro
veio Henrique; em seguida, Catarina. Perguntei-lhe: - “Ainda
não enxergas a alma que está contigo?” - “Não”.
- “E por que não”. - “Não estou
mais na fase dele”.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 85).
A expressão “não
estou mais na fase dele” é singular, pois reflete exatamente
o que vemos nas várias obras espíritas, que nos dão
conta de que os espíritos que estão em faixas vibracionais
diferentes podem não se ver uns aos outros, especialmente,
quando essa variação das vibrações deles
é muito significativa.
Como é fraco o meu amor
para com esse pobrezinho. Sinto tanta repugnância diante dele.
Eis que, no instante em que quis ceder ao impulso de me retrair,
Catarina apareceu à minha frente. Ela apontou para sua boca
e que ainda há pouco se assemelhava ao corpo do “Miserável”.
E ela mudara tanto! Estava linda, mas tão linda! e sorria
para mim. Alegrei-me com ela e perguntei-lhe: “Ainda ficas
comigo?” - “Não”. - “E por que vieste
agora?” - “Porque ficaste fraca”. - “Sim,
sempre enfraqueço... Mas tenha dó! Olha para ele!
Vê como está! Tenho que ter medo dele. Não o
vês?” - “Não. Essa fase de minha existência
passou.” Com isso desapareceu.
Que visão linda que ela oferece! Sou
grata quando as Almas do Purgatório me ajudam para mudar
para melhor.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 93). (grifo nosso).
Sim, podemos aprender e muito no relacionamento
com as almas do purgatório; porém, mais poderíamos
com os espíritos superiores, já que a missão
deles é exatamente essa: de nos ajudar em nossa evolução.
Lembramo-nos de uma passagem bíblica que diz: “Consulte
as gerações passadas e observe a experiência de
nossos antepassados... vão instruí-lo e falar a você
com palavras tiradas da experiência deles” (Jo
8,8-9). É fácil, agora, entender que as “gerações
passadas” do texto são as almas (espíritos) de
nossos familiares e amigos.
26 de fevereiro
– Ele entrou aos gritos. Perguntei-lhe: “O que queres?
Estou pronta a ajudar-te?” - “Por que não me
aceitastes?” - “Porque não quis. Procura outras
pessoas que se interessam em ajudar as almas”. - “Só
tenho permissão de me dirigir a ti.” - “Quem
és?” - “Reinaldo”. “Por que não
encontra paz?” - “Enganei gente”. - “Por
que abriste a gaveta?” - “Por causa do dinheiro”.
- “Como posso ajudar-te?” - “Furtei. Manda rezar
uma missa”. - E se foi.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 108). (grifo
nosso).
Mais uma alma diz sobre a questão
de ser permitido vir se comunicar com os vivos. Colheremos o que houvermos
plantado, essa é a Lei para todos; pena que ignoramos tal coisa
e por isso cometemos muitos desatinos, os quais a nossa consciência
cobrará, mais hoje mais amanhã. No plano espiritual,
com nossa visão mais ampliada, é comum já percebermos
o mal que praticamos e tomamos resolução de repará-los.
15 de março
– Durante muito tempo, ela ficou comigo. Não
pertence essa alma àquela classe que amedronta;
por ela sinto apenas comiseração. Deve ter sido muito
bela, só a boca está torta. Não falou, mas
de bom grado rezou comigo.
16 de março – Alguns religiosos passaram a noite no
castelo. Quando Hermengarda veio, disse-lhe: - “Vai aos padres
que podem rezar por ti melhor do que eu”. - Estive
com eles, mas não enxergam”. - “Então
é preciso enxergar-te para te ajudar?” - “Ofereces
algo aos pobres se eles não te estendem a mão?”
- Passaste a vida aqui?” - “Não. Mas aqui eu
pequei”. Ela traz consigo tamanha tristeza como jamais observei
em outras almas.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 110). (grifo
nosso).
Sabemos que existem no plano espiritual
espíritos de variados níveis evolutivos, não
faltando entre eles os que se comprazem em amedrontar as pessoas,
enquanto outros buscam mesmo é prejudicá-las, normalmente,
por motivo de vingança.
Nem todos poderem ver os espíritos, é um fato; por isso,
é que os “cegos” dizem não haver vida após
a morte. Só mesmo a morte para provar-lhes isso, caso ainda
não permaneçam com essa cegueira do lado de lá.
25 de maio
– Houve uma barulheira horrorosa em meu quarto, estrondo e
gemidos, embora eu não visse nada. Perguntei: “Quem
está aí?” - “Muitos”. - “É
Fridolino quem fala?” - “Sim, sou eu”. - “Por
que não te posso ver?” - “Porque estás
doente.” - “As tuas faculdades sofrem também.”
- “Poderias ajudar-me?” - “Não!”
- “Como percebes que estou enferma?” - “Tu não
tens poder de nos atrair.” - “Mas então, por
que ainda estás aí?” - “O caminho
que devemos tomar nos é prescrito”. O barulho
continuou, mas não mais responderam. Por muito tempo tive
a sensação de não estar só; é
bastante desagradável tal situação.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 122). (grifo
nosso).
Essa é
uma realidade mesmo; quando os médiuns estão doentes
a sua mediunidade fica prejudicada. E, novamente, é falado
a respeito de que os espíritos não podem fazer o que
querem, mas o que foi prescrito, mostrando que tudo está sob
controle, no caso, certamente, de Deus. Tanto é que, questionada
uma alma: “'Dize-me, é por vontade de Deus que tu
vens a mim?' - 'É-nos permitido por ele'”. (VON
DER LEYEN, 1994, p. 123).
Acho, porém,
que suas palavras se ligam com aquela sensação maravilhosa
que agora está crescendo, pois quando a sinto, tenho
a impressão de estar livre de mim mesma e viver num mundo
diferente. Observei que meu corpo perde a faculdade de se locomover
quando me sobrevém aquele estado, pois ao sentir
chegar essa sensação, quis trancar a porta, mas já
não o conseguia; veio a luz e tudo ficou indiferente para
mim, que queria apenas gozar aquele inefável estado.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 132). (grifo
nosso).
Kardec abordou
a questão do estado de emancipação da alma; é
o que aconteceu com Eugênia; aliás, o número dos
que conseguem fazer isso é enorme. Popularmente se diz “desdobramento”,
“viagem astral”, “experiência extracorpórea”,
etc., ou seja, tudo o que acontece no dia-a-dia das pessoas; não
sendo nada diferente do que se explica na Doutrina Espírita.
Para nós, fatos naturais; para outros, sobrenaturais; questão
de ponto de vista, apenas. Mais à frente, Eugênia diz:
“Hoje, durante meia hora, estive fora de mim. Não sei
onde estive; tenho a certeza de que estive fora de mim mesma”.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 136).
É a segunda pessoa, relatada aqui neste estudo, que passa por
isso.
24 de abril
– Faz três noites que me visita toda noite um
animal todo preto, intermediário entre búfalo e carneiro.
Fiquei muito assustada. Pulou no meu leito. Para remediar minha
covardia, recorri à água batismal, e o quadrúpede
me deixou em paz.
26 de abril – Ele veio de dia. Tem agora um rosto
humano, mas todo preto, e provoca arrepios. Poderia até
tratar-se do demônio. Mas não quero, de modo algum,
pensar em tal possibilidade.
(VON DER LEYEN, 1994, p. 140). (grifo
nosso).
Para explicar
esse tipo de aparição vamos recorrer ao dicionário:
Zoantropia – delírio no qual um indivíduo pensa
ter sido transformado em animal. Assim, utilizando o mesmo sentido
do vernáculo, na linguagem espírita é o fenômeno
pelo qual os espíritos devotados ao mal se tornam visíveis
aos encarnados sob formas animalescas, as quais demonstram sua degradação
tanto moral quanto espiritual. Aparecem sob diversas formas, até
mesmo assumindo uma aparência “diabólica”;
obviamente serão tal e qual se acredita nele: cara de homem,
chifres, rabo e pés de bode, com direito a tridente e tudo;
é capaz de trazer uma fogueirinha portátil.
29 de setembro
– Três vezes tenho visto a alma de uma velhinha diante
do altar de Nossa Senhora. Não a conheço. O dominicano
deteve-se comigo longamente. Indaguei: - “Como é
que a gente pode salvar-se? Ensina-me, por favor”. - “Crendo
firmemente e sendo bem humilde”. - “Posso
fazer alguma coisa para que as Almas do Purgatório não
me procurem mais?” - “Não podes'”. -
“Posso chamar uma alma se eu quisesse saber alguma coisa
por intermédio ou a respeito dela?” - “Não
tens nenhum poder sobre ela”. (32).
__________
(32) Os espíritas afirmam que se pode forçar os
espíritos a aparecer. Se nem essa santa princesa, que via
as almas em formas diversas e convivia com elas, possuía
o poder que os espíritas pretendem, como o conseguiriam
eles só para satisfazer sua curiosidade? Ou perguntemos
mais realisticamente: quem é que aparece nas sessões
espíritas?
(VON DER LEYEN, 1994, p. 150).
Quem possui algum
tipo de mediunidade, o tem por vontade divina; não há
nada que o médium possa fazer para alterar isso. Temos conhecimento
de casos em que alguns médiuns “perderam” a mediunidade
pelo motivo de não trabalharem com ela. Nessa situação,
acreditamos que a missão que ele tinha foi passada a uma outra
pessoa, motivo pelo qual será responsabilizado por isso, quando
chegar o momento oportuno, segundo o estabelecido por Deus.
O que esse espírito disse sobre ninguém ter poder sobre
uma alma é absolutamente verdadeiro; nenhum médium pode
garantir a presença de um espírito, seja ele lá
quem for, porquanto, tudo funciona de acordo com as regras estabelecidas
de lá para cá, ou seja, tudo ocorre pelo interesse do
plano espiritual, obedecendo, obviamente, às leis divinas para
as manifestações espirituais. Mas isso estamos cansados
de saber; inclusive, há uma frase de Chico Xavier, que vale
a pena citá-la novamente: “o telefone toca de lá
para cá”.
Em relação ao conteúdo da nota, constante do
livro, o que se percebe claramente é que as pessoas sempre
estão a falar daquilo que não conhecem. Nunca ouvimos,
em nosso meio, alguém dizer que teria poder para fazer um espírito
aparecer; isso é puro desconhecimento de quem fala uma barbaridade
dessa ou má-fé de algum sabichão.
Um espírito pode ser evocado sem problema algum, mas nada há
que o faça aparecer se não houver a permissão
de Deus, conforme fica bem claro no que estamos vendo aqui, que não
é diferente do que sabemos pela Doutrina Espírita. A
prova de que a evocação funciona pode ser vista em 1Sm
28,3-25, onde Saul vai à necromante de Endor para que ela evocasse
o espírito de Samuel, o que de fato aconteceu. Tem-se muito
dito a respeito dessa passagem, visando descaracterizá-la como
uma verdadeira sessão espírita, dizendo que quem apareceu
foi o demônio ou um pseudo-Samuel, mas não é honroso
torcer os textos bíblicos à nossa conveniência.
Obviamente, que não aprovamos o motivo pelo qual ela foi realizada;
entretanto, o que interessa, aqui no caso, é que o espírito
Samuel atendeu a evocação.
E nós não evocamos espíritos por curiosidade;
isso pode até acontecer por aí, mas não é
o nosso caso, o que prova que o autor da nota não entende mesmo
de Espiritismo; talvez seja um daqueles que ouviu o galo cantar e
não sabe onde.
A sugestão sobre quem se manifesta nas sessões espíritas
é mais um erro lamentável, produto da ignorância
do assunto por parte de quem se propôs a falar sobre ele, de
um lado, e uma forma de amedrontar os fiéis, de outro. Senão,
como mantê-los encabrestados? Usam e abusam desse recurso, enganando
os seus adeptos com uma figura mitológica da cultura persa,
que foi apropriada pelos teólogos do passado, mais apegados
a superstições, crendices e a coisas sobrenaturais.
3º
Caso – Maria Ágata Simma (1915-2004)
O nosso terceiro caso é de Maria Simma (1915-2004), nasceu
em Sonntag (Vorarlberg), na Áustria. A partir de 1940 as almas
vieram, algumas vezes, pedir-lhe orações. As informações
sobre ela foram dadas pelo Pe. Alfonso Matt, pároco da cidade.
As almas do
purgatório se mostram de várias formas e modos. Algumas
batem à porta, outras surgem de súbito. Umas se manifestam
em aparência humana, claramente visíveis como em sua
vida mortal, vestidas comumente, outras se apresentam de modo evanescente.
(ALBANO, 2004, P. 9). (grifo nosso).
Novamente temos
a prova de que não há evocação dessas
almas, sinal que elas vêm de livre vontade, certamente com permissão
para fazerem isso. É um ponto importante nesses fenômenos,
razão pela qual estamos repetindo-o.
Aqui também se nota que a forma, em que se apresentam, é
a que tinham em vida mortal, exatamente conforme diz a Doutrina Espírita.
Inclusive, aparecem vestidas; isso é bom, pois alguém
poderia, por gozação, dizer que são “almas
peladas”, ao invés de “almas penadas”.
Interessante esta frase no livro: “Sem dúvida, é
agradável a Deus que os parentes se preocupem com seus mortos”
(p. 14), à qual poderíamos acrescentar: “por isso,
é, também, agradável a Deus que nos comuniquemos
com eles.
“O purgatório
encontra-se em vários lugares”, respondeu um dia Maria
Simma. “As almas nunca estão 'fora' do purgatório,
e sim ‘com’ o purgatório”. Ela viu o purgatório
de várias maneiras. Há ali uma multidão de
almas; é um contínuo vaivém. Viu, certo dia,
um número de almas na totalidade desconhecidas para ela.
As que pecaram contra a fé tinham sobre o coração
uma chama escura; as que pecaram contra a pureza, uma chama vermelha.
Depois viu as almas em grupos: padres, religiosos,
religiosas; viu católicos, protestantes, pagãos. Os
católicos sofriam mais que os protestantes. Os pagãos,
ao contrário, têm um purgatório mais suave,
e como recebem menos socorros sua pena dura mais. Os católicos,
favorecidos com socorros, são libertados mais rapidamente.
Viu também muitos religiosos e religiosas, que ali estavam
por causa de sua tibieza na fé e sua falta de caridade. Crianças
de apenas seis anos podem ser levadas a sofrer por longo tempo no
purgatório.
Foi revelado a Maria Simma a maravilhosa harmonia que existe entre
o amor e a justiça divinos. Cada alma é punida
de acordo com a natureza de suas culpas e o grau de apego
ao pecado cometido
A intensidade dos sofrimentos não é a mesma
para todas. Algumas têm que sofrer como se sofre
na terra quando se vive uma vida dura, e devem esperar para contemplar
Deus. Um dia de purgatório rigoroso é mais terrível
que dez anos de purgatório leve. A duração
das penas varia muito. O padre de Colônia ficou no purgatório
desde 555 até a festa da Ascensão de 1954 e se não
fosse liberto pelos sofrimentos aceitos por Maria Simma, continuaria
ali por longo tempo.
Há também almas que têm de padecer terrivelmente
até o Juízo final. Outras têm apenas meia hora
de sofrimento, ou até menos: apenas “atravessam o purgatório”,
por assim dizer.
O demônio pode torturar as almas do purgatório,
sobretudo as que foram causa de perdição eterna de
outras.
As almas do purgatório sofrem com paciência admirável
e louvam a misericórdia divina, graças à qual
escaparam ao inferno. Sabem que merecem sofrer e deplorar suas culpas.
Suplicam a Maria, Mãe da misericórdia.
(ALBANO, 2004, p. 19-20). (grifo nosso).
Certamente, descontando-se
o excesso, em virtude de sua crença religiosa, muitas coisas
são bem semelhantes ao que sabemos em relação
aos espíritos desencarnados. A lei de afinidade, por exemplo,
faz com que sejam agrupados numa mesma faixa vibracional os espíritos
que possuem os mesmos sentimentos e gostos, fazendo com que, na dimensão
espiritual contígua à Terra, haja várias faixas,
compatíveis ao nível evolutivo e vibracional dos milhares
de espíritos que lá estão aguardando a sua vez
de reencarnar, porquanto, ainda não têm evolução
para ir para outros mundos mais evoluídos que a Terra.
Se cada alma é punida de acordo com o que ela fez, e se a intensidade
do sofrimento não é igual para todos, estamos, inevitavelmente,
diante do “... a cada um segundo a suas obras” (Mt
16,27), conforme dissera Jesus. E prevalecendo
isso, no que de fato acreditamos, então as crianças
de apenas seis anos que “podem ser levadas a sofrer por longo
tempo no purgatório”, terão que, necessariamente,
ter pecado em outra vida, uma vez que, nem nós, os homens,
por justiça, punimos com tanto rigor crianças de tão
tenra idade.
Nessa dimensão há espíritos ainda tão
trevosos, que é natural confundi-los com os demônios,
especialmente para quem acredita neles.
E conforme já vimos em caso anterior, nessa dimensão
há padres, religiosos e religiosas, deixando-nos tranqüilos
quanto à questão da justiça divina atingir a
todos indistintamente. Mas ainda prevalece o alerta de Jesus de que
“a quem muito foi dado muito será pedido; a quem
muito foi confiado, muito será exigido” (Lc
12,48); é o que podemos ver, quando
se fala que os pagãos sofrem menos; claro que é por
saberem menos; não é mesmo?
Muitas vezes
me perguntei como poderia mandar uma alma do purgatório a
uma pessoa. Pensava: “Por que elas não se dirigem diretamente
a seus parentes? Seria muito mais simples para mim do que ter eu
de fazer isto”. Então veio uma alma que me fez esta
correção severa:
“Não peque contra as decisões divinas!
Deus distribui as graças a quem quer. Você não
teria nunca o poder de enviar uma alma a outra pessoa. Não
é por seus méritos que Deus lhe concede estas graças.
Considerando os méritos, muitos outros poderiam ser preferidos
a você. É verdade que, desde pequena, tem ajudado muito
as almas; mas também isto é graça. Essa graça,
em outra pessoa, renderia muito mais do que em você. Junto
aos santos que operam grandes milagres na terra estavam santos ainda
maiores que não tiveram tal poder, e, no entanto, alcançaram
santidade maior do que a daqueles aos quais Deus concedeu o poder
dos milagres. Não se pode esquecer: EXIGE-SE MAIS DE QUEM
RECEBE MAIS GRAÇAS. Deus quer que lhe peçamos as graças;
uma prece perseverante ultrapassa as nuvens; ela é sempre
atendida da melhor maneira em favor de quem a faz”.
(ALBANO, 2004, p. 26). (grifo nosso).
Traduzindo para uma linguagem espírita,
diríamos que cada pessoa, portadora de mediunidade, vem com
ela para uma determinada missão. Por ser missão atribuída
pelos espíritos superiores, visando o progresso daquele indivíduo,
nenhum médium tem o poder de passá-la a uma outra pessoa.
Daí, a coisa fica cada vez mais clara: tudo acontece com a
permissão de Deus. Nesse caso, por que Deus dotaria uma pessoa
da faculdade de comunicar-se com os espíritos para, imediatamente,
proibi-la de fazer isso? Para nós, isso não tem sentido
algum.
Esse caso de Maria Simma tem uma particularidade interessante; é
que ela fez várias considerações pessoais sobre
o seu contato com as almas do purgatório, que teve lugar na
segunda parte do livro. Vejamos alguns tópicos:
Por que Deus o permite?
Muitos se perguntam: “É
possível que Deus permita aos mortos aparecerem aos vivos?”
Admitindo que tudo seja possível à sua bondade, por
que Deus permite coisas tão extraordinárias? Certamente
não é para satisfazer nossa curiosidade: se, pela
misericórdia de Deus, acontecem fatos extraordinários,
é porque fazem parte do plano divino da salvação.
Este é o ponto de vista que devemos ter para um
juízo e para proveito espiritual. Estes fatos são
de grande consolação para os falecidos, porque permite
que sejam libertados dos sofrimentos, e incitam os vivos a rezarem
mais pelas almas do purgatório e a se desapegarem do que
é terreno.
O maior perigo hoje é que nas coisas materiais tudo vai muito
bem. Devemos estar alerta e preocupar-nos mais com a vida eterna,
que dura para sempre. Não apeguemos nossos corações
ao que é temporal: de tudo o que passa, nada levaremos. Propriedades,
negócios, belas casas, tudo isso passa e mais rápido
do que imaginamos. Só levaremos as boas obras. É evidente
que precisamos dos bens terrenos para viver, mas a questão
é não apegar a eles o coração: eis o
problema. Tal é o sentido e o escopo das aparições
das almas do purgatório, como de todas as demais revelações
particulares. E o único motivo pelo qual Deus permite
esses contatos sobrenaturais. Que o bom Deus misericordioso
se digne dar-nos sua bênção e a sua graça,
para podermos tirar proveito.
A alma a quem Deus quer conceder uma graça particular tem
tal graça desde o nascimento, mas não é raro
que seja concedida mais tarde. Os caminhos do Senhor são
admiráveis, insondáveis. Um pecador pode tornar-se
um grande santo, como o prova Santo Agostinho. Saulo, se tornou
São Paulo de repente.
Prudência no que concerne
às revelações particulares
Seguido (sic) as pessoas se admiram
da grande reserva da Igreja Católica em relação
às revelações particulares. Ela tem seus motivos,
como guardiã que é da verdade: é melhor
não reconhecer como autênticos dez casos verdadeiros
que reconhecer um só não verdadeiro. Mas,
quando os fatos estão de pleno acordo com os ensinamentos
de Cristo, a Igreja não pode rejeitá-los, mesmo no
caso de não terem sido ainda objeto de um exame teológico
mais profundo.
O bispo D. Bruno Wechner convocou-me para me dizer:
“Duvido que seja da vontade de Deus que você pergunte
às almas do purgatório a respeito de outros mortos”.
Eu lhe respondi: “Perguntei a uma alma: ‘Como podes
dar-me conselhos a respeito das almas sobre as quais vos faço
perguntas?’ E recebi a seguinte resposta: “Por meio
de Maria, Mãe da misericórdia, nós sabemos”.”
O bispo então ponderou que a gente não deve
imiscuir-se nestes fatos, já que entre céu e terra
há coisas que ainda não foram entendidas do ponto
de vista teológico, e que, contudo, existem. Declarou,
por fim, que eu não devia esperar ver reconhecido o caso,
como verdadeiro; que a Igreja não poderia jamais fazê-lo
enquanto eu vivesse, e que a Igreja era muito severa (devemos reconhecê-lo),
por que mesmo uma pessoa favorecida por graças extraordinárias
pode ser infiel à graça, e que nada está fora
do alcance do inimigo. Por isso, tal alma devia ter um bom guia
espiritual como proteção contra os enganos do demônio.
É necessário
conhecer estes fatos? ou é melhor calar?
“Por que as almas do purgatório
vêm até você?”
Eis uma pergunta que me fazem seguidamente. Com certeza não
é por causa da minha devoção: há pessoas
mais devotas que eu. Contudo, as almas não se dirigem a elas.
Os fenômenos sobrenaturais não são “termômetros
de santidade”: a pedra de comparação da perfeição
é a caridade desinteressada - sofrer pelos outros por amor,
imitando Cristo. Não podemos levar uma vida terrena
sem cruzes e sofrimentos. Uma alma do purgatório me disse
um dia:
“O que tem maior eficácia é o sofrimento,
quando suportado com paciência e colocado como oferta nas
mãos da Mãe de Deus, a fim de que dele se sirva em
favor de quem o desejar, onde será melhor e mais necessariamente
utilizado”.
Custa menos, evidentemente, exortar uma pessoa que sofre a suportar
a sua dor com paciência, do que nós mesmos sofrermos
com coragem. Sei o que significa sofrer, mas justo porque o sofrimento
é penoso que tem tanto valor.
Não saberia dizer exatamente por que as almas do
purgatório vêm a mim. Certamente podem dirigir-se
a outras pessoas. Em Voralberg conheci duas, já falecidas,
com as quais elas se comunicavam. Atualmente, com certeza,
há ainda muitas outras às quais as almas vêm
pedir ajuda, mas são menos conhecidas. A missão
delas é diversa da minha.
Seria bem mais fácil, eu sei, manter estas coisas encobertas
ao público, porque isso traz incompreensões e desprezo,
muitas vezes por parte até do clero. Muitos padres
se consideram tão sábios que pretendem entender de
tudo. Mas os caminhos de Deus são insondáveis:
requer-se grande humildade, e isto falta muito em nossos dias.
(ALBANO, 2004, pp. 27-30). (grifo nosso).
Realmente Simma está coberta
de razão; a permissão de Deus é dada para proveito
nosso e dos espíritos. Provando que a vida continua após
a morte, concentraremos mais nossos objetivos às coisas “aonde
não chega ladrão e a traça não rói”
(Lc 12,33). Tudo quanto ela falou para
justificar o porquê Deus permite, se encaixa no que os Espíritos
Superiores disseram. Inclusive, há uma frase dita por ela cujo
sentido é o mesmo dessa orientação do espírito
Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir
uma única falsidade, uma só teoria errônea”.
(KARDEC, 1996, p. 292).
O bispo que a chamou para explicar-se, reconhece que há fatos
ainda não explicados pelos teólogos; mas que eles existem,
existem! Enfim, mesmo que seja a contragosto, reconhece a realidade
dos fatos. O grande problema sempre é: como dar o braço
a torcer...
Os espíritos também disseram que ser médium não
é nenhum privilégio, não coloca ninguém
no pedestal de santo; ao contrário, trata-se de uma necessidade
evolutiva daquele que é o intermediário entre os dois
planos da vida. A sintonia dos espíritos com os médiuns
se faz obedecendo à lei de afinidade vibracional, uma lei fora
da alçada do médium.
Se a pedra de comparação da perfeição
é a caridade desinteressada, então a máxima da
Doutrina Espírita – FORA DA CARIDADE NÃO HÁ
SALVAÇÃO – está corretíssima.
E vamos parabenizá-la pela oportuna frase: “Muitos padres
se consideram tão sábios que pretendem entender tudo”.
Sem pestanejar, assinaremos embaixo!
As mensagens das almas
tornam conhecidas estas aparições
Em 1954 – ano mariano – vinham almas todas as noites.
Às vezes revelavam quem eram e me encarregavam de transmitir
várias tarefas para seus parentes.
Deste modo, o caso (o contato com as almas) tornou-se público;
isso me desagradou muito, pois eu não falaria a ninguém
a não se ao meu pai espiritual.
Tive de transmitir alguns recados até em certos
lugares que me eram desconhecidos. Acontecia-me de ter que anunciar
aos parentes a devolução de bens mal adquiridos,
o que era claramente indicado. Houve casos em que os membros da
família não sabiam de nada; contudo, era verdade.
(ALBANO, 2004, p. 33). (grifo nosso).
Quem tem a oportunidade de servir-se
de intermediário, como no caso de Simma, não tem dúvida
alguma de que tudo é verdadeiro, uma vez que a experiência
é mais forte que qualquer argumento teológico dogmático.
Vamos mais longe ainda: até mesmo da Ciência, pois essa
sempre anda a reboque dos acontecimentos para estudá-los, visando
descobrir-lhes, se possível, as leis que os fazem funcionar.
E se ela, por puro preconceito, não descobriu o espírito,
muito menos a sua sobrevivência, após a morte do corpo
físico, como, então, aceitar que eles se comuniquem?
É certo que, hoje em dia, alguns renomados cientistas estão
aceitando essa realidade, como, por exemplo, é caso do físico
quântico Amit Goswami, que, usando a física quântica,
explica a realidade da sobrevivência do espírito em seu
livro A física da Alma, Editora Aleph.
Tudo, quanto aconteceu com ela, acontece com vários médiuns
nos dias atuais. Entretanto, se um deles é Espírita,
bom; aí as coisa são: “fruto da mente”,
“truque”, “é satanás”, etc,
qualquer opção é válida, menos que os
fatos sejam verdadeiros. Intolerância, incoerência e ignorância?!
O que sabem de nós
as almas do purgatório?
As almas sabem a nosso
respeito e o que nos acontece, mais do que pensamos. Sabem,
por exemplo, quem foi ao funeral delas, se se reza ou apenas se
vai para marcar presença, sem rezar, o que acontece com freqüência.
Sabem se a pessoa sai após o ofertório, sem participar
da Missa que está sendo celebrada por elas.
As almas sabem tudo o que se diz a seu respeito e o que
se faz em seu favor; acham-se muito mais próximas de nós
do que podemos imaginar.
(ALBANO, 2004, pp. 34-35). (grifo nosso).
Embora não
possamos generalizar como a Simma fez, realmente, alguns espíritos
sabem mesmo tudo de nós; quiçá até mais
que nós mesmos. Segundo os Espíritos Superiores, estamos
literalmente num “mar de espíritos”, já
que o número deles é bem maior do que o daqueles que
se encontram encarnados.
O
que sofrem as almas do purgatório?
Sofrem de
mil maneiras. Há tantos tipos de purgatório
quantas são as almas. Cada uma sente saudade de
Deus e esta é a dor mais lancinante. Além disso, cada
alma é punida naquilo e por aquilo que a fez pecar.
Acontece também na terra, quando a punição
segue uma má ação: quem come demais sofre dor
de estômago; quem muito fuma fica intoxicado pela nicotina
e corre o perigo de ter câncer nos pulmões.
Nenhuma alma gostaria de retornar à terra para viver
como antes, nas trevas deste mundo, porque conhece coisas das quais
não temos sequer idéia.
(ALBANO, 2004, p. 37). (grifo nosso).
No umbral, dimensão
espiritual onde os espíritos ficam retidos até cumprirem
toda a evolução possível na Terra, há
mesmo várias faixas vibracionais, que, para simplificar, podemos
dizer que são várias regiões. Os que lá
se encontram, conforme já falamos, se agrupam por interesses
e vibrações semelhantes. Os poucos que conseguem ver
um plano superior ao nosso, realmente, não têm a mínima
vontade de voltar aqui para reencarnar novamente.
4º Caso: Dr. Lino Sardos Albertini
(1915-2005)
Embora esse caso não seja tratado
como manifestação de almas do purgatório, mas
como de um espírito, vamos colocá-lo neste rol, porquanto,
sendo de origem católica não há outro lugar para
onde essa alma tenha ido senão este; não é mesmo?
Dr. Lino Sardos Albertini foi um advogado católico, morou em
Trieste, Itália, autor do livro O Além Existe,
no qual narra várias mensagens que recebeu de seu filho André.
Foi presidente da Academia de Estudos Jurídicos e Econômicos
“Cenáculo Triestino” e também da Junta Diocesana
de Ação Católica de Trieste. Foi vice-presidente
nacional da União Pan-européia Italiana, presidente
do Arqueoclube de Trieste e autor de vários ensaios. Transcrevemos
o texto da contracapa do livro citado:
Este livro
é a crônica de um diálogo incomum, entre duas
diferentes dimensões, entre o aquém e o além,
entre um pai que chama e um filho, morto em circunstâncias
dramáticas, que responde. O diálogo ocorre através
de uma sensitiva que categoricamente exclui qualquer recompensa
e se recusa a desenvolver uma atividade pública.
Ela pratica um tipo de escrita automática por meio da qual
desemaranha o fio que mantém unidos o advogado e seu filho,
André.
Crítico e descrente no começo, Lino Sardos Albertini
teve de resignar-se aos fatos inexplicáveis que André
apresentava, a lógica severa das respostas, a sua coerência.
Extraordinária é a maneira da transmissão das
mensagens.
Envolvente como um romance, impregnado – mesmo na situação
dolosa – de fé e esperança, este livro há
de induzir os seus leitores a uma meditação profunda.
Resumindo o caso:
o desaparecimento de André, nascido a 29.07.1955, o caçula
de seis filhos, se deu em 09.06.1981; portanto, aos 26 anos de idade;
na época estava cursando o último ano de Direito, após
ter saído para uma viagem para alguns dias de férias.
Como nunca mais aparecia, seus pais ficaram em extrema aflição,
iniciaram uma desesperada busca para ver se o encontravam, mas nada.
Foi como se ele tivesse sumido do mapa.
A família já estava perdendo as esperanças, quando
uma nova cliente sugere ao Dr. Lino procurar a médium D. Anita
(nome fictício). Recusou-se, no início; porém,
diante da situação, acabou por marcar um encontro com
ela. Por essa médium ele ficou sabendo da morte de seu filho,
vítima de um assalto, obtendo provas incontestáveis
que ele estava mais vivo que nunca, só que na dimensão
espiritual. A grande questão era o porquê isso veio a
acontecer com ele; mas o próprio André disse, da outra
dimensão da vida, o motivo a seu pai:
Depois de
nos ter dado espontaneamente notícias da condição
privilegiada em que se encontrava no além, pelas tarefas
recebidas e pela possibilidade de comunicar-se conosco, André
disse-nos ter nascido e morrido para executar uma missão
especial, isto é, fornecer as provas da existência
da vida após a morte, de modo que muitas pessoas
acreditem mais em Deus e respeitem a sua lei. É inútil
dizer que sua mensagem nos chocou e nos emocionou profundamente”.
(ALBERTINI, 1989, pp. 24-25). (grifo
nosso).
Veja bem, caro
leitor: o espírito reencarnou apenas para cumprir a missão
de se manifestar depois de morto, visando provar que a vida continua.
Mas quem lhe deu essa missão senão Deus? E ainda dizem
que a comunicação com os mortos é abominável
a Ele. Até quando irão manter as pessoas nessa ignorância
mediante o terror dos dogmas?
Vejamos como o Dr. Lino descreve como D. Anita procedia para escrever
as mensagens de André:
Sem qualquer
aparato ou encenação, com a máxima simplicidade,
a qualquer hora e em qualquer ambiente, põe a mão
esquerda aberta perpendicularmente e um pouco erguida sobre um papel.
Apóia perpendicularmente um pincel atômico ou uma caneta
qualquer (uma vez usou até um batom). O pincel, ao invés
de escorregar, como aconteceria com qualquer outra pessoa, fica
colado à mão.
Pergunta mentalmente a seu pai, falecido, se a assiste. Obtida a
resposta afirmativa, passa a fazer perguntas.
D. Anita não é canhota, porém, usa exclusivamente
a mão esquerda quando desenvolve sua atividade mediúnica.
O pincel, ao dar as respostas, se move não da esquerda para
a direita, mas de cima para baixo. Às vezes o pincel procede
vagarosamente ao escrever as respostas; em outros momentos, de repente,
acelera muito a ponto de D. Anita ter dificuldade de segui-lo com
a mão. Outras vezes, o pincel, inesperadamente, ao invés
de continuar escrevendo, força a mão para distanciar-se
da linha e começa e fazer sinais, deixando todos os presentes
surpresos.

Enquanto o
pincel escreve, D. Anita pode até se distrair: fuma, assiste
à televisão, conversa com os presentes sobre diversos
assuntos.
Acrescento que, ao receber as respostas, D. Anita nunca sabe do
seu conteúdo, quer por estarem escritas de cima para baixo,
quer por ela se distrair freqüentemente. Só no fim,
a folha é girada tornando possível ler a resposta
da esquerda para direita.
D. Anita pode escrever assim a qualquer momento: fê-lo, por
exemplo, mais de uma vez num hall de hotel, dentro de um carro e
em muitos outros lugares, fechados ou ao ar livre.
Ela rejeita de maneira categórica qualquer recompensa e não
quer, de modo algum, que o fato seja difundido, para evitar toda
publicidade e, também, o descrédito que poderia recair
sobre quem exerce tão estranha atividade.
D. Anita fica muito perplexa com os resultados que obtém
e está aberta a todas as interpretações.
Diante dos extraordinários resultados obtidos comigo, ela
amadureceu um natural interesse em compreender melhor o fenômeno
e mais nada.
Ela é do lar e só cursou o 1º grau. Inteligente,
lê jornais e revistas normalmente, como as senhoras de sua
idade e posição. Não acompanha as publicações
especializadas em parapsicologia: nunca leu livros que tratem dessa
matéria. No máximo, lê, quando lhe aparece a
oportunidade, um ou outro artigo de revista ou acompanha algum programa
na televisão, e sempre por acaso. Em outras palavras, ela
não é, por nada, uma fanática.
(ALBERTINI, 1989, p. 18-20).
Com isso, o Dr.
Lino nos deixa a par de como ocorreu o fenômeno, o que nos dá
a oportunidade de podermos avaliar a sua autenticidade, porquanto
ele não tinha nenhum motivo para mentir sobre a forma pela
qual D. Anita escrevia as mensagens de seu filho André.
Convém ressaltar que o livro, que temos em mãos, é
uma tradução da 12ª edição italiana,
o que o faz, na Itália, um best-seller, sem dúvida alguma.
O lamentável nisso é que a editora brasileira, de orientação
católica, publicou somente uma edição desse livro,
preferindo empurrar a verdade para debaixo do tapete de forma a manter
os dogmas da Igreja, como se isso bastasse para que ela não
venha à tona.
Dr. Lino dá o seu testemunho pessoal:
Acredito ser
necessário e oportuno antepor as razões, absolutamente
extraordinárias, que me levaram a escrever este livro e a
dar-lhe o título que tem.
Antes de tudo declaro que, sendo convictamente católico,
nunca duvidei da existência do além, verdade que constitui
um pressuposto para a minha fé e para todas as religiões
que não sejam mero sistema filosófico. No entanto,
nem de longe pensei que uma tal verdade pudesse ser confirmada pelos
fatos.
Como católico sempre acreditei na comunhão dos santos,
na possibilidade de a Igreja militante, nós viventes nesta
terra, poder comunicar-se com a Igreja purgante e com a Igreja triunfante,
isto é, todos os nossos mortos. Com este espírito
sempre rezei pelas almas dos meus familiares, pedindo a eles e aos
santos pertencentes à Igreja triunfante ajuda para as necessidades
materiais e espirituais dos meus familiares e minhas. Porém,
mesmo nutrindo tais convicções, nunca pensei em poder
ou dever fornecer provas dessa verdade dogmática.
Devo acrescentar que, de minha, parte, nunca me interessei pelos
problemas da parapsicologia, termo que nem mesmo conhecia, antes
– dada a mentalidade positivista dos meus estudos clássicos
e da minha atividade profissional e o rigor religioso com que fui
educado – considerava aquele pouco que havia ouvido falar
sobre os fenômenos mediúnicos, mágicos, espíritas,
etc., como fruto de enganos, artifícios, exaltações
e até intervenções diabólicas.
Nunca em minha vida havia pensado em escrever e publicar uma obra
como esta, e se alguém houvesse predito, eu o teria desmentido
categoricamente.
Se, no entanto, cheguei a esse ponto, é porque fui e sou
testemunha de uma série de fatos extraordinários que
me causaram dúvidas e resistências, e obrigaram-me
a seguir um caminho que nunca cogitara percorrer.
Se disser ter sido impulsionado a isto pelas mensagens de meu filho
falecido, quem ler estas minhas linhas, terá todo o direito
de pensar logo que eu me tenha enlouquecido pela dor. Mais ainda
o pensará quem tem uma postura semelhante à minha,
nos momentos iniciais.
Estou, porém, certo de que, após conhecerem as minhas
experiências, confirmadas com fatos cientificamente
documentados e ocorridos no passado, no presente e que,
com certeza, ocorrerão no futuro, se lerem o meu livro com
espírito aberto, sereno e sem preconceitos, julgarão
bem diferente os fatos de que fui testemunha.
(ALBERTINI, 1989, p. 15-16). (grifo
nosso).
Testemunho inquestionável,
porquanto é um católico que vem provar a autenticidade
da comunicação entre os planos físico e espiritual,
inclusive mencionando provas científicas para sustentar isso.
Uma atitude louvável do Dr. Lino foi a de pedir a opinião
de dois padres, cujos textos iremos apresentá-los mais à
frente, em outro item.
Em 23 de novembro de 1985, no grande salão do Círculo
da Cultura e das Artes de Trieste, o livro do Dr. Lino foi lançado,
ocasião em que D. Anita recebeu essa mensagem:
Sorria com
quem sorri. Chore com quem chore. Ame sem ser amado porque a luz
infinita é amor. Aquele que permanece no amor permanece na
luz infinita e a luz infinita permanece nele. Obrigado a todos.
André.
(ALBERTINI, 1989, P. 151).
5º
Caso: Maria Gómez Cámara (1919-2004)
Na localidade de Bélmez de la Moraleda, província de
Jaén, Espanha, nos fins do mês de agosto de 1971, a família
de Maria Gómez Cámara, passou a presenciar fenômenos
insólitos. No chão da cozinha de sua casa começaram
a aparecer “caras humanas”, depois chamadas de “As
caras de Bélmez”. Esses fatos aconteceram até
a ocasião de sua morte, em fevereiro de 2004.
Vários pesquisadores e Institutos de Pesquisas estiveram no
local, entre os quais citamos o parapsicólogo Germán
de Argumosa e S.E.I.P. – Sociedad Española de Investigaciones
Parapsicológicas, que comprovaram a sua autenticidade.
Descobriu-se que, antigamente, no local onde foi construída
a casa de Maria Gómez existia um cemitério católico,
fato comprovado pelos ossos encontrados numa pequena escavação
feita em busca das causas do fenômeno. Mesmo assim, ainda aparecem
alguns padres jesuítas, para negarem o fenômeno; tentando
colocá-lo à conta de efeitos do inconsciente, mas nunca
provaram cientificamente essa sua hipótese.
Quem quiser ver maiores detalhes desses fenômenos, recomendamos
o livro Las Caras de la Discordia – El fenómeno paranormal
más importante de la história, publicação
em espanhol da Editora Nowtilus.
6º Caso: Museu
das almas do purgatório
Esse item estava nos deixando muito preocupado de como iríamos
apresentá-lo, visto ser um assunto mantido sobre sete chaves.
Mas tivemos a grata satisfação de vê-lo sendo
tratado no livro Maria Simma e as Almas do Purgatório,
do qual transcrevemos o seu Apêndice:
Uma
janela para o além
O museu. Se já na antigüidade - (Egito, Roma, Grécia)
- havia coleções de obras de arte, porém, é
relativamente recente o museu visto como lugar destinado a acolher
e conservar obras de arte e objetos de interesse histórico-científico.
De fato, somente em meados de 1400 é que se deu vida e desenvolvimento
ao embrião desta instituição a que chamamos
museu (do grego = lugar sagrado das musas), devido
ao nascimento da arte de colecionar, brotado da consciência
do valor autônomo da arte.
Hoje, ao lado de inúmeros lugares de cultura e de estudo,
abertos ao público em todos os continentes, que se ramificam
em museus de arte, históricos, científicos, de história
natural e etnográfica, surgiram os museus escolásticos,
navais, das peças de cera, gesso, etc.
Roma, rica em museus de grande valor - museus “clássicos”,
que vão desde os dedicados às pinturas, esculturas,
até os dedicados aos manuscritos, tapetes, troféus
e armas - com o tempo foi enriquecida de museus qualificados como
“originais”: do folclore e dos poetas romanescos, do
fonógrafo e dos instrumentos musicais, da eletricidade e
do pão.
Mas em Roma entre os museus originais, o mais original é
o que contém uma documentação excepcional:
uma coletânea de “provas” da imortalidade da alma,
ou seja, da existência de um dos três reinos do além-túmulo:
o purgatório.
No Lungotevere Prati, nas proximidades do Castelo Santo Anjo, numa
igreja de estilo gótico dedicada ao Sagrado Coração
do Sufrágio, está sediado o “museu das
almas do purgatório”. É uma pequena
abertura pela qual é possível vislumbrar algo da misteriosa
vida dos mortos.
Esta janela - a única do mundo - foi aberta (com a aprovação
do papa Bento XV) pelo padre Vítor Jouet, missionário
francês do Sagrado Coração.
Mas o que levou o padre Jouet - fervoroso apóstolo da devoção
às almas do purgatório (fundara uma associação
para o sufrágio das santas almas) - a recolher a modesta
mas impressionante documentação que constitui o museu?
Foi um acontecimento extraordinário, sensacional, que se
deu em 15 de novembro de 1897, numa capela dedicada a N. Senhora
do Rosário. Nesta, havia um pequeno oratório, que
o próprio padre mandara fazer em maio de 1893. Naquele dia,
no altar da capela, se alastrou, de repente, um misterioso incêndio,
no qual os fiéis ali presentes puderam ver, entre as chamas,
a imagem de uma pessoa padecendo. Passado o incêndio, a silhueta
daquela pessoa ficou delineada no painel de madeira que estava à
esquerda do altar. Visto que todos consideraram o fato como aparição
de uma alma do purgatório, a notícia do acontecido
na capela de N. Senhora do Rosário de Lungotevere espalhou-se
repentinamente pela cidade, como sendo um milagre.
O afluxo de gente para ver a silhueta impressa e as conseqüentes
cenas de exaltação e fervor foram tais que as autoridades
eclesiásticas, por prudência, decidiram tirar o painel.
Recordar-se
dos defuntos
Padre Jouet,
levando em conta a grande devoção às santas
almas do purgatório, suscitada pela suposta ou real aparição
daquela figura humana sofredora, empregou suas energias na construção
de uma igreja, ponderando também o acontecimento como um
meio usado pela Providência para convidar os vivos a se lembrarem
dos falecidos, ou seja, um misterioso pedido de orações
pelas almas da Igreja padecente, dirigido à Igreja militante.
Essa igreja - a atual - deve recordar às gerações
futuras - além do misterioso acontecido de 15 de novembro
de 1897 - a existência de um lugar onde os falecidos, sofrendo
sem mérito, esperam dos vivos a caridade dos sufrágios
(orações, Missas e obras de caridade) capazes de aliviar
e abreviar seus sofrimentos.
Na nova igreja, dedicada ao Sagrado Coração do Sufrágio,
foi colocado o painel no qual se encontra impresso o que parece
ser a figura humana sofredora. Para protegê-lo das intempéries,
decidiu-se escondê-lo com um tríptico representando
Nossa Senhora entre os anjos (mas uma reprodução do
painel é visível numa parede da sala usada como museu).
Padre Jouet, ardente apóstolo do sufrágio das almas
do purgatório, movido pelo interesse e devoção
suscitados nos fiéis pelo misterioso evento, pensou realizar
o que denominou “Museu Cristão do além-túmulo”.
Para concretizar sua idéia, pôs-se em busca de testemunhos
e documentos que, de certa maneira, pudessem chamar atenção
dos fiéis sobre a realidade do purgatório. O resultado
de suas buscas forma o mais original e - por que não? - interessante
museu do planeta.
Valor e elenco dos cimélios
O pequeno museu não tem, obviamente, objetivos especulativos.
Muito menos de lucro. O autêntico fim desta original, e única
coletânea de objetos raros (cimélios) foi e é
fazer pensar na vida pós-morte; e também lembrar aos
distraídos mortais que existe uma prisão - o purgatório
- da qual não se sai até pagar o último centavo.
Ademais, os próprios religiosos, missionários do Sagrado
Coração, aos quais está confiada a guarda dos
cimélios, esclarecem que a documentação do
museu tem valor apenas humano. Não podem constituir uma prova
a respeito da fé. Mesmo se tratando de testemunhos de fatos
que têm a garantia de pessoas dignas de crédito, a
fé no além baseia-se em motivos bem acima de provas
deste gênero.
Os cimélios expostos no museu foram recolhidos para manter
viva nos fiéis a lembrança das almas dos mortos. Portanto,
cumprem o papel específico de todos os elementos sensíveis
e aptos a suscitar a devoção e alimentar a piedade
religiosa.
Os visitantes, como não devem assumir atitudes céticas
a priori, também não devem condicionar a fé
na outra vida ao que observam. Os documentos do museu deveriam ser
objeto de investigação e de estudo para se aceitar,
ou não, seu valor. (Para alguns estudiosos de parapsicologia,
estes cimélios são um testemunho de transformação
e exteriorização da energia somática dos vivos,
e não apresentam indícios de provirem do além.
Seriam os vivos, em virtude do fenômeno definidos pelos parapsicólogos
como “dramatização”, a provocarem, inconscientemente,
aquelas marcas atribuídas às almas do purgatório).
Antes de elencar os cimélios, considero útil citar
as palavras de Monsenhor Benedetti primeiro sucessor e continuador
da obra do padre Jouet:
“Há
pessoas que, a priori, erguem os ombros e dão uma risadinha
diante das manifestações sensíveis do além,
e negam totalmente o fato, e alguns até a possibilidade
do fato... Não é justo rejeitar, sem examinar, os
testemunhos de pessoas respeitáveis, dignas de fé,
cuja virtude, de algumas, foi reconhecida oficialmente pela Igreja.
E claro que se precisa ter cautela, avaliar e estudar, mas nem
nos critérios humanos e científicos se admite o
apriorismo da negação, quando um fato não
se explica de outra forma, senão pela intervenção
do sobrenatural. Este existe e, assuste-nos ou não, se
existe deve poder manifestar-se. A vida das almas padecentes é
‘vida’, e, portanto, admite manifestações
tais, cujo âmbito nos escapa, mas que não se pode
racionalmente negar. Deus é senhor do espírito e
da matéria, criador de um e de outro. Que maravilha se
ele quiser - sempre em favor de suas criaturas - servir-se de
uma e de outra por meios a nós desconhecidos! As negações
sistemáticas, as risadinhas desdenhosas não têm
sentido: deixemos límpida a fé e não perturbemos
a verdadeira ciência”.
Cimélios
especiais
Os dez objetos raros conservados no museu, bem
em evidência numa grande vitrina, são elencados por
ordem de disposição. Ei-los:
1 - Reprodução fotográfica do altar de N. Senhora
do Rosário, de uma capela existente antes de 1900, entre
a igreja atual e a casa religiosa. É visível a marca
deixada na parede, após o pequeno incêndio de 15 de
novembro de 1897.
2 - Marca de três dedos deixada no dia 5 de março de
1871, no livro de orações de Maria Zaganti, da paróquia
de Santo André de Poggio Berni (Rimini) pela falecida Palmira
Rastelli, irmã do pároco, morta em 28 de dezembro
de 1870, a qual, por meio da amiga, pedia ao irmão, padre
Santo Rastelli, a celebração de Missa.
3 - Aparição, em 1875, de Luísa Le Sénèchal,
nascida em Chanvrières, morta em 7 de maio de 1873, a seu
marido Luís Le Sénèchal, em sua casa em Ducey
(Manche - França), para pedir-lhe orações:
deixou como sinal a marca dos cinco dedos sobre um gorro. Segundo
a narração autêntica da aparição,
o queimado no gorro foi feito pela falecida para que o marido documentasse
com sinal visível à sua filha o pedido de celebração
de santas Missas.
4 - Fac-símile fotográfico (o original está
em Winnenberg) de uma marca de fogo deixada, em 13 de outubro de
1696, sobre o avental de Irmã Maria Herendorps, do mosteiro
beneditino de Winnenberg, perto de Warendorf (Vestfalia), da mão
da falecida Irmã Clara Schoelers, religiosa da mesma Gidem,
morta pela peste de 1637. Na parte inferior da foto vê-se
a marca queimada de duas mãos, deixada pela Irmã sobre
uma tira de tecido.
5 - Fotografia de uma marca deixada pela falecida senhora Leleux
na manga da camisa de seu filho José, em sua aparição,
em Wodecq (Bélgica). Segundo a narração deste,
a mãe, morta há 27 anos, apareceu-lhe na noite de
21 de junho de 1789, após onze noites em que ele ouvia rumores
que o assustaram e o deixaram doente. A mãe lembrou-o da
obrigação de santas Missas, como constava no testamento
paterno, e chamava-lhe seriamente atenção pela vida
dissipada que estava levando, pedindo-lhe para mudar de conduta
e trabalhar pela igreja. E pôs a mão sobre a manga
de sua camisa, deixando uma marca bem visível. José
Leleux mudou de vida e fundou uma Congregação de leigos
piedosos. Morreu com fama de santidade em 19 de abril de 1825.
6 - Marca de fogo de um dedo, deixada pela piedosa Irmã Maria
de São Luís Gonzaga, numa aparição à
Irmã Margarida do Sagrado Coração, na noite
entre 5 e 6 de junho de 1894. O relato, guardado no mosteiro de
Santa Clara do Menino Jesus de Bastia (Perugia - Itália),
conta como a Irmã Maria de São Luís Gonzaga,
sofrendo por dois anos de tuberculose com grandes febres, tosse,
asma e hemoptises, ficara desalentada e, portanto, desejosa de morrer
logo para não mais sofrer. Porém, sendo bastante fervorosa,
ante a exortação da Madre superiora, entregou-se à
vontade divina. Dias depois, na manhã de 5 de junho de 1894,
faleceu santamente. Apareceu na noite entre 5 e 6 de junho, vestida
como clarissa, circundada de sombras, mas reconhecível.
Irmã Margarida, maravilhada, perguntou onde se encontrava;
respondeu que no purgatório, tendo de sofrer pela sua impaciência
para com a vontade divina. Pediu orações de sufrágio
e, para atestar a realidade de sua aparição, colocou
o dedo indicador sobre a fronha do travesseiro e prometeu voltar.
Reapareceu-lhe nos dias 20 e 25 de junho para agradecer e dar avisos
espirituais à Comunidade, antes de voar ao paraíso.
7 - Marcas deixadas numa mesinha de madeira, na manga da túnica
e forro da venerável Isabel Fornari, abadessa das clarissas
do mosteiro de S. Francisco, em Todi, pelo falecido abade Panzini
de Mântua, no dia 10 de novembro de 1731. São quatro
marcas: uma da mão esquerda sobre uma mesinha da qual se
servia a venerável abadessa para seu trabalho (é bem
visível o sinal da cruz impresso profundamente na madeira).
A segunda é da mão esquerda numa folha de papel. Outra
marca, da mão direita, na manga da túnica. A quarta
é a mesma marca que, furando a túnica da Irmã,
queimou o pano que estava sob a túnica, manchado de sangue.
O relato é do padre Isidoro Gazala do Santíssimo Crucificado,
confessor da venerável, a quem ordenou por obediência,
cortar pedaços da túnica, da outra veste e da mesinha,
para que lhe fossem entregues e conservados.
8 - Marca deixada num livro de Margarida Demmerlé, da paróquia
de Ellinghen (diocese de Metz), pela sogra, que lhe apareceu trinta
anos após a morte (1785-1815). Vestia as roupas da região,
como uma peregrina: descia a escada do celeiro, gemendo e olhando
a nora com tristeza, como a lhe pedir alguma coisa. Margarida, aconselhada
pelo pároco, na aparição seguinte dirigiu-lhe
a palavra e teve esta resposta: “Sou tua sogra, morta de parto
há 30 anos. Vá em peregrinação ao santuário
de N. Senhora de Mariental e mande celebrar ali duas santas Missas
por mim”. Após a peregrinação, a aparição
se mostrou novamente para anunciar sua libertação
do purgatório. Margarida, orientada pelo pároco, pediu
um sinal e a falecida o deixou, pondo a mão sobre o seu livro
“A Imitação de Cristo”.
9 - Marca de fogo que o falecido José Schitz deixou tocando
com a ponta dos cinco dedos da mão direita num livro de oração
em língua alemã pertencente a seu irmão Jorge,
no dia 21 de dezembro de 1838, em Sarralbe (Lorena). O falecido
pedia orações para reparar sua pouca piedade em vida.
10 - Fotocópia de uma nota de 10 liras. Entre 2 de setembro
de 1918 e 9 de novembro de 1919, foram deixadas 30 delas no mosteiro
de São Leonardo, em Montefalco, por um padre falecido que
pedia Missas. (A cédula original foi restituída ao
mosteiro, onde se conserva).
(ALBANO, 2004, pp.
67-74).
Algumas das provas
que as almas do purgatório deixaram, para atestar a sua presença,
existentes no Museu:

O cientista, orador, jornalista
e escritor Henrique Rodrigues (1921-2002), foi presidente do Centro
de Estudos Psicobiofísicos de Belo Horizonte, que visitou esse
museu, disse que lá existem 280 peças comprobatórias,
com identificação de nomes, datas, lugares em que os
fatos aconteceram. Uma coisa curiosa delas é que “pelos
próprios relatos os fenômenos foram passados dentro dos
conventos e igrejas, com freiras, irmãs, confessores e até
padres e bispos, eles vinham suplicar socorro, em preces, orações
e missas” (RODRIGUES,
1998, pp. 12-15).
Sobre o Museu das Almas do Purgatório e suas conseqüências,
trazemos esse depoimento:
A
vida após a morte
Encerro este escrito sobre o museu das almas do purgatório
com as palavras do notório estudioso de fenômenos ocultos,
Alois Gatterer, de Innsbruck, o qual, ao ser questionado se o estudo
das aparições ocultas pode esclarecer com segurança
o destino das almas após a morte, disse: “Para responder
a tal questão, interessante do ponto de vista científico,
mas extraordinariamente importante para a práxis de vida,
são de grande valor muitos fenômenos ocultos espontâneos,
pertencentes à categoria das manifestações
benignas, como as aparições das almas padecentes.
Só uma hipercrítica insana pode rejeitar totalmente
estes fatos e negar-lhes qualquer valor científico, só
por causa da dificuldade de demonstrar a identidade”.
Se a opinião de Gatterer é importante em razão
de suas muitas experiências no campo das aparições
ocultas, as manifestações e aparições
espontâneas por mim elencadas - por gentil concessão
dos responsáveis do museu - deveriam representar um importante
subsídio para aqueles que, prescindindo em boa-fé
do ensinamento da Igreja, procuram provas da continuação
da vida após a morte”.
(1).
_________
(1) Artigo de Salvador
Nofri, em “Sinal do Sobrenatural”, n. 31, de novembro
de 1990.
(ALBANO, 2004, p. 74) (grifo nosso).
Então,
infelizmente, estamos vendo, até os dias de hoje, só
hipercríticos insanos.
7º Caso: aparição
para a Irmã Ana Felícia (?-?)
Caso importante, porquanto sua veracidade é atestada por um
líder da Igreja Católica, que visitou o local do acontecimento.
Vejamos:
Este fato
portentoso é narrado por Monsenhor de Segur, que visitou
o Convento das Terceiras Regulares Franciscanas daquela cidade,
foi submetido a um rigoroso processo ordenado pelo Bispo de Foligno,
em 23 de novembro de 1859:
Em 1870, diz o piedoso prelado, eu vi e toquei em Foligno, perto
de Assis, na Itália, uma destas terríveis provas do
fogo pelas quais as Almas do Purgatório, por permissão
de DEUS, às vezes atestam que o fogo do Purgatório
é um fogo real. Em 1859 morreu de uma apoplexia fulminante
a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra
das noviças. Doze dias depois, em 16 de novembro, uma Irmã
chamada Ana Felícia, estava na rouparia quando ouviu um angustioso
e triste gemido: - JESUS! Maria! Assustada a Irmã exclamou:
— Que é isto? Não havia acabado de falar, quando
ouviu uma queixa: Ai! Meu DEUS! Meu DEUS! Quanto sofro! Irmã
Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro
sufocante de fumaça encheu toda a rouparia e percebeu-se
o vulto da Irmã Teresa que dirigia-se para a porta
e tocava a mesma com a mão direita, dizendo: Aqui fica a
prova da misericórdia de DEUS. E na madeira da porta ficou
carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu.
Irmã Ana pôs-se a gritar numa grande excitação
nervosa. A comunidade correu para a acudir e sentia-se um cheiro
sufocante de fumaça. A Irmã conta o que se passou
e todas reconhecem, na mão pequenina gravada no portal,
a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito
pela sua pequenez e delicadeza. As Irmãs comovidas, vão
à capela e oram pela defunta. Passam a noite em oração
e penitências em sufrágios da saudosa mestra de noviças.
No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela Alma.
Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê
depois Irmã Teresa radiante de glória, toda bela,
que lhe diz com doce voz: “Vou para a glória! Sede
fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz!” E
desapareceu numa luz brilhantíssima...
(Livreto Sufrágio,
Belo Horizonte: Divina Misericórdia, 1996, pp. 12-13). (grifo
nosso).
Mais um caso
que se poderia juntar às provas do Museu das Almas do Purgatório.
8º Caso: Padre
Miguel Martins
Em Sobradinho, uma das
cidades satélites do Distrito Federal, o sacerdote católico
Padre Miguel, após celebrar sua missa e retirar seus paramentos,
incorpora o espírito chamado de Frei Fabiano de Cristo e, ainda
dentro da Igreja, passa a atender aos fiéis, que ali vão
em busca de alento espiritual.
Numa entrevista ao apresentador de TV Alamar Régis, ele disse
que tudo começou no ano de 1969, quando o espírito Frei
Fabiano aparece-lhe dizendo que tinha que trabalhar com ele. Fez de
tudo para que isso não acontecesse; mas, vencido pelas evidências
e a bondade do Frei, acabou cedendo e hoje é, talvez, o único
Padre que, assumidamente, se diz médium. Vejamos um pouco dessa
sua entrevista:
Alamar:
Mas a mediunidade em um padre, é uma coisa muito esquisita,
do ponto de vista tradicional, considerando os dogmas da Igreja.
O senhor não fica sem jeito quando enfrenta os seus próprios
companheiros de doutrina?
Padre Miguel: Não é que eu tenha vergonha
da minha espiritualidade – vocês chamam de mediunidade,
mas eu chamo de espiritualidade. Eu venho aceitando a ela porque
eu só tenho visto caridade no Espiritismo. Eu tenho visto
pessoas que não acreditavam em Deus e passaram a acreditar,
pessoas que se afastaram por muito tempo de Deus e voltaram, pessoas
que nunca leram o Evangelho e passaram a ler, porque o Frei deu
o Evangelho Kardecista(?), porque ele não aceita outro Evangelho.
Eu até brigo com ele porque ele diz que o “Evangelho
Segundo o Espiritismo” é muito mais explicado e mais
profundo que o da Igreja Católica. Apesar de eu não
ver dessa maneira, ele acha isso.
Hoje até uma briga feia que dois padres pegaram comigo, falando
sobre o Evangelho. Foi uma confusão muito grande, e eu tive
de explicar que era uma opinião do Frei Fabiano, e pedi para
que eles maneirassem um pouco, porque aquilo já estava causando
um sofrimento enorme.
Eu fui parar numa reunião só de bispos e padres. Me
chamaram de charlatão, de vigarista, macumbeiro e de tudo
quanto é nome.
Eu percebo que tenho um gênio muito forte, e nessa briga estava
para reagir, quando o Frei Fabiano me encostou e disse:
- Não diga uma palavra, não fale nada. Assim como
Jesus ficou calado diante de Pilatos, fique também diante
desse tribunal”.
Aí, quando terminou, um dos participantes dessa reunião,
que eu chamo de Inquisição, falou assim:
- “Você não vai se defender não?”
A resposta foi a que o Frei mandou que eu desse:
- “O tempo é que dirá e julgará o que
eu faço em Sobradinho”.
Alamar: No nível moral, como o senhor define
o espírito Frei Fabiano?
Padre Miguel: A ele devo muita coisa. Ele mudou minha vida toda.
Eu gostava de tomar uma “brahmazinha”, escondido, hoje
não tomo mais. Eu saía muito, hoje não saio
mais; fiquei caseiro; rezo muito. Eu não era de ler o Evangelho,
era meio relaxado, hoje já estudo e procuro vivenciá-lo
muito mais. Depois dele a minha vida mudou completamente.
Alamar: Quais as orientações mais significativas que
o Frei Fabiano lhe tem dado?
Padre Miguel: Só boas orientações.
Ele só fala das coisas do Alto. Para ele falar das coisas
daqui, eu tenho que insistir. Ele tem uma coisa de que eu gosto
muito, a sinceridade. Se alguém estiver para morrer, ele
diz mesmo. Agora ele até já parou um pouco de dizer.
Prefere não tocar no assunto porque o mundo não compreende
a morte e as pessoas sofrem muito quando é revelada antes.
A entrevista
completa poderá ser vista na Revista Visão nº 1,
abril/1998, pp. 40-43, e na nº 2, maio/1998, pp. 36-37. E já
que estamos falando de padre, vejamos o que alguns deles dizem, no
próximo item.
Padres Católicos que acreditam no intercâmbio com os
mortos
1º – Pe. Pascoal Magni
Como prometemos anteriormente, quando falamos do livro do Dr. Lino,
O Além Existe, vamos apresentar a opinião do
Pe. Pascoal Magni, que fez a sua apresentação:
Apresentação
Falando em
meio a cristãos praticantes sobre os riscos que a Fé
acarreta, freqüentemente, esquece-se de um que consiste na
perda de dimensão. Esse esquecimento, sob o pretexto
de fidelidade, tornou míopes teólogos da época
de Galileu. Daí ter acontecido tudo aquilo.
Essa miopia, há um século intacta, nós a reencontramos
diante da profundidade do fenômeno da vida. Ainda hoje, ela
domina mesmo diante de um novo fenômeno que lembra a profundidade
meta-histórica da vida, tudo o que ultrapassa as dimensões
do espaço-tempo. O católico praticante, todo domingo,
conclui seu “Ato de Fé” com aquele admirável
“pentagrama” que tem na “vida além da vida”
– Creio na Vida Eterna – seu foco, sua plenitude.
Mas quando ele deixa o recinto sagrado e entra no mundo, parece
se esquecer daquilo que professou.
Entre o ato de fé na Vida Imortal – a vida no sentido
pleno – e os atos existenciais, corriqueiros ou extraordinários,
interpõe-se não uma porta de comunicação,
mas uma barreira.
O véu do templo que, nos diz o Evangelho, se rasgou na morte
de Cristo, está se reconstruindo em muitas pessoas como uma
membrana, bem diferente da membrana acústica, feita exatamente
para por em comunicação dois mundo distintos, mas
não estanques: o mundo exterior, sensorial por definição,
e o mundo da interioridade, por natureza espiritual e imortal.
A perda das dimensões “do alto e do profundo”
– conforme imagem paulina – torna surdos, para não
dizer obtusos, muitos incrédulos e não poucos fiéis.
O contato com este livro e com os acontecimentos que constituem
a sua essência provocará, com certeza, duas reações
imediatas e opostas, análogas a um choque elétrico
não muito forte. A reação de quem teme e solta
imediatamente a tomada e a reação de quem pede: “Luz!
Mais luz!”.
Aos míopes geralmente se atribui o medo: “Não
me arrisco”, dirá sempre o bom positivista, fiel ao
pentagrama dos sentidos. Mas como é possível viver
segundo o pentagrama, quando a ciência moderna já escreve
a própria partitura acima e abaixo das clássicas linhas?
“Não me arrisco”, dirão a mulher, o homem
de fé, repetindo fórmulas que já viraram chavões
e que, como todo lugar-comum, resistem à dinâmica do
processo vital: são como pedras dificilmente biodegradáveis.
A circularidade a que se referia Paulo VI, falando de “Evangelho
e cultura moderna”, exige adoração e, ao mesmo
tempo, comunhão: tal como a Eucaristia, ato vital por excelência.
O típico processo vital do homem “criatura de Deus”
não é o conhecimento articulado ao amor?
Esse livro fala do amor de um pai que perdeu o filho, sem saber
como nem onde.
A sua procura do “como” e do “onde” levou-o
para uma dimensão com a qual nunca sonhara. Ele acredita
na Vida Eterna. Repetia, como todos os praticantes, as palavras
do Creio. Como dirigente da Ação Católica de
uma cidade de fronteira, até ajudava os outros a praticar
as obras da fé. E, no entanto, não imaginava encontrar-se
na fronteira da vida além da vida. Foi preciso que
seu filho desaparecesse na noite para que em sua alma pudesse surgir
o alvorecer.
Nós, ouvintes e leitores, encontramo-nos ante um drama humano
que nos envolve. A comoção é como uma onda
do mar agitada pelo vento. Vive as suas modulações
de freqüência que são, também, o sinal
de participação direta.
Mas o autor deste livro não nos pede compaixão. Pede
participação: participação numa Fé
que se tornou certeza. Seu filho vive, além da fronteira
cercada pelo arame que chamamos de morte.
Não é mais um coração ferido que nos
pede uma gota de óleo para suavizar a ferida. É um
coração iluminado, como se aquela gota de óleo
se tivesse transformado num feixe de luz, como bem o sabiam os cristãos
das catacumbas.
“Será?”, diz o cético, voltando para a
rotina da mediocridade. Às vezes, o coração
paterno sabe inventar milagres. Quem recebe as mensagens senão
o coração de pai, para transformar a ponta pungente
do espinho em um botão de rosa?”
Nossas explicações permanecem autógenas. Mas
o homem insiste. E nos convida a considerar as circunstâncias
desse reencontro, num plano bem diverso do que inicialmente
previmos: não estaria ele buscando consolação
segundo as razões do coração, ou ainda,
investigar segundo os hábitos culturais da era da televisão?
Nada disso. Trata-se de outra dimensão, da dimensão
de uma existência que se faz presença através
de uma mediação, às vezes chamada de inspiração.
A mão escreve de modo incomum. A pessoa transcreve mensagens
que, realmente, não parecem elaboradas pela consciência
pessoal ordinária. Como as elaboraria? O horizonte hipotético
se abre exatamente para além das fronteiras costumeiras,
em um domínio em que a metapsíquica, que ainda não
é ciência, está tateando.
Passo a passo poderemos chegar longe.
O que a Fé anuncia com firmeza, e que a teologia das
últimas coisas vem indicando como o termo de vida além
da vida, já se revela suscetível de renovada reflexão.
É hora de passar do primeiro leite – alimento completo
para crianças, como lembra o apóstolo Paulo –
para uma alimentação condizente com a nossa idade.
A nossa época talvez seja a mais privilegiada. A riqueza
dos fenômenos e a perfeição dos instrumentos
usados na pesquisa levam-nos a reconhecer na expressão vida
além da vida, não só a projeção
transfigurante das nossas aspirações, como também
nos leva a individuar o núcleo constitutivo do ser, que é
imortal.
A luz que une a nossa existência à “transexistência”
não constitui o mais alto valor na escala logarítmica
dos valores humanos?
Pe.
Pascoal Magni
Teólogo, epistemólogo, escritor
(ALBERTINI, 1989, pp. 7-9).
2º - Pe. João Martinetti
Esse é o outro padre, cuja fala
consta no livro do Dr. Lino.
A IGREJA ANTE OS FENÔMENOS
PARANORMAIS
À Igreja, a meu ver,
agrada que a verdade anunciada por Jesus Cristo receba hoje, num
mundo secularizado, novas confirmações por meio de
fatos e provas concretas, aptos a despertar o interesse dos indiferentes
e dos agnósticos que, sem ele, dificilmente compreenderiam
o valor das motivações mais interiores e profundas
da Fé.
Entre os sinais e os indícios, já indicados pelos
Santos Padres, de uma vida no Além, em primeiro lugar se
apresentam alguns fenômenos paranormais espontâneos,
isto é, não-mediúnicos, como as bilocações
de viventes e as aparições de mortos (inumeráveis
as dos santos). Esses fenômenos, se forem enriquecidos de
credibilidade testemunhal e conexos com acontecimentos objetivos
(revelações de acontecimentos desconhecidos ou futuros
e, em seguida, realizados, curas instantâneas etc.), oferecem
um precioso e convincente convite ao homem moderno: aceitar a Fé,
como tive oportunidade de ilustrar num livro recente (G. Martinetti,
La vita fuori Del corpo, Elle Di Ci, Turim, 1986), do qual
estou preparando a segunda edição, com acréscimos
de muitos fatos históricos e contemporâneos.
Uma segunda categoria de fenômenos em favor do Além
nos é dada pelas comunicações mediúnicas,
que constituem um campo delicado e perigoso como a Igreja muitas
vezes o declarou, fundando-se na Bíblia.
A Bíblia condena a necromancia (tipo particular de comunicação
com presumíveis falecidos, conforme o costume das culturas
tribais, mas não ausente nos nossos países), por causa
de suas estreitas relações com as religiões
mágicas e animistas. Deus, como é apresentado pela
Revelação bíblica, quer nos conduzir para uma
felicidade supraterrena, por meio do amor e obediência confiante
nele e a aceitação de acontecimentos futuros –
por nós desconhecidos, mas por ele permitidos para cada um
de nós. O homem não pode pretender, servindo-se do
poder dos “espíritos” (magia, adivinhação,
necromancia), conhecer o próprio futuro, prejudicar, com
feitiços, os próprios adversários e construir
a seu gosto um destino de sucesso, riqueza e poder. Nas culturas
tribais atuais, em que se praticam a magia e a necromancia, o Criador
vem sendo esquecido, enquanto todo o culto é orientado, por
meio de feiticeiros, para os falecidos. Eles querem, por meio dos
mortos, obter “feitiços” para os inimigos e vantagens
materiais para os que pedem.
As proibições do Magistério (a última
é de 1971) são motivadas pela condenação
bíblica à necromancia (que pode apresentar afinidades
com certos tipos de espiritismo) e sobretudo pela possibilidade,
não remota e teórica, de que nas comunicações
mediúnicas se introduzam, sob nome falso, espíritos
negativos, com a intenção de desviar os viventes do
caminho certo e até provocar em alguém o fenômeno
chamado “possessão”.
Com o progresso da parapsicologia científica, os estudiosos
e também os que acreditam vêem na maioria das mensagens
mediúnicas ordinárias não necessariamente a
presença de Satanás, mas reflexos da psique do médium
e dos participantes.
Em alguns casos reconhecem somente sérios indícios
de contato com seres inteligentes que não vivem neste mundo.
1 – São os casos em que o presumido falecido revela
o caráter, a maneira de pensar e de falar que possuía
nesta vida aquele que diz ser, os nomes e os costumes de pessoas
conhecidas por ele e pelos participantes da sessão, mas,
sobretudo, notícias absolutamente desconhecidas dos médiuns
e dos participantes, conhecidas somente pelo falecido quando estava
nesta vida e verificadas, hoje, como exatas.
2 – Essas revelações possuem notável
valor indicial quando se pode constatar a ausência de especiais
e extraordinários dotes de clarividência no médium
e nos participantes (isto é, nunca mostraram esse dotes em
sua atividade ordinária) e, ainda mais, se as revelações
acontecem com particularidades paranormais não atribuíveis
a eles (como, por exemplo, com uma caneta que escreve sem a guia
do médium). As notícias até agora desconhecidas
e que se revelaram exatas são, então, um sinal bastante
convincente da presença de um espírito que se comunica
do além, mas não oferecem ainda fortes probabilidades
de que seja verdadeiramente o falecido que diz ser.
Poderiam provir de entes de baixo nível moral que referem
notícias exatas e verificáveis para enganar em outros
campos que não se podem provar facilmente e assim induzir
os viventes para posições que, com o passar do tempo,
tornar-se-iam moral e religiosamente desviantes.
3 – Deus pode querer a intervenção de alguns
falecidos em nossa vida para nos ajudar a acreditar na Vida eterna
e para nos admoestar a que não nos apeguemos às coisas
deste mundo (cf. Sto. Tomás, Suma, I, 89,8 ad 2;
Supl. 69, 3; e noutros trechos). O Magistério católico,
alertando para o perigo do espiritismo, nunca declarou que o mesmo
tenha sempre origens diabólicas. A Igreja permite que se
tentem experiências neste campo por pessoas competentes (sólida
formação religiosa e moral, senso crítico,
uma boa cultura em parapsicologia, equilíbrio psíquico),
à procura da verdade, com os devidos cuidados (por exemplo:
que o médium tenha demonstrado retidão moral e não
busque o lucro ou esteja à procura de notoriedade).
Sob tais condições, o Magistério se conforma
à opinião que prevalece entre os estudiosos de que
os fenômenos mediúnicos são originados, às
vezes, por causas infraterrenas (o inconsciente dos participantes
ou as fraudes do médium), mas não exclui que, em alguns
casos, se manifestem determinados mortos.
Podemos razoavelmente concluir que o presumido morto que se comunica
seja exatamente aquele que diz ser somente se apresentar suficientes
indícios capazes de convencer que sua comunicação
tenha sido autorizada por Deus e realizada em comunhão com
ele. Nesse caso, nós, que acreditamos, sabemos que:
a) o morto nunca negará
pontos substanciais do Evangelho e do ensino da Igreja;
b) poderia até fornecer deles confirmação
e aprofundamento;
c) de sua intervenção hão de surgir efeitos
positivos do ponto de vista moral e religioso (aproximação
da fé, recuperação da paz e da tranqüilidade,
oração, perdão, reconciliação,
etc.).
Se se verificarem todas as precedentes
condições, a exigência, para acreditar na autenticidade
das comunicações, de provas científicas, provas
tais que excluam absolutamente qualquer possibilidade de erro, embora
mínima, e que apresentem a certeza matemática-física,
representaria, a meu ver, um posicionamento de excessiva severidade
metodológica, capaz de fechar o caminho a qualquer outro
resultado e a qualquer outra pesquisa, quer de parapsicologia, quer
de todas as outras disciplinas que não estudam exclusivamente
os fenômenos físico-químicos.
De fato, o cientista acredita nas pessoas e nos acontecimentos e
toma decisões comprometedoras ou até vitais só
à base de certezas morais suficientemente meditadas (as relações
humanas, os fatos históricos e os relativos testemunhos,
os processos indiciários, os valores humanos não oferecem
certezas científicas). O cientista que tem fé pode
com razão acreditar, como com efeito acontece, nas aparições
de Lourdes, de Fátima etc., apesar de esses fenômenos
não serem suscetíveis de provas científicas,
mas de certezas morais somente.
Até as aparições contadas pelos Atos dos Apóstolos,
os milagres de Jesus, as profecias realizadas e as aparições
dos Ressuscitados, que os Evangelhos e a Igreja sempre consideraram
sinais qualificados da Fé, não podem ser comprovados
cientificamente, mas se baseiam em certezas de ordem moral seriamente
fundadas.
A intuição pessoal, além do mais, graças
à iluminação divina, chega à certeza
absoluta da Fé.
Os inúmeros e significativos reflexos positivos nas consciências,
obtidos por meio de O Além Existe, demonstram a
necessidade que tem o homem de sinais exteriores e de provas objetivas
que ajudem a Fé, hoje mais difícil, e o dever para
nós que acreditamos, de estudar este caso relevante e todo
o imenso e complicado campo do paranormal, deixando a atitude de
desinteresse e de estranheza que, no último século,
por influência do positivismo dominante, caracterizou boa
parte da cultura católica.
Pe. João Martinetti
Estudioso da paranormalidade
(ALBERTINI,
1989, pp. 11-14).
3º - Pe. François Brune
Estamos diante de um pesquisador da
Transcomunicação Instrumental, nome pelo qual passou-se
a designar a comunicação dos mortos através de
aparelhos eletrônicos. Pe. Brune teve a coragem de se lançar
à pesquisa, para saber se tais fatos eram reais ou não.
A conclusão a que chegou está registrada no livro de
sua autoria intitulado Os mortos nos falam.
Vamos transcrever sua opinião sobre o assunto, já que
não nos cabe, aqui, senão dar uma idéia de como
ele pensa, deixando, ao leitor, a oportunidade de ler o seu livro.
Interrogar sobre as origens, no
pensamento ocidental, desta recente ideologia do nada, não
é o meu propósito. O mais escandaloso é o silêncio,
o desdém, até mesmo a censura exercida pela Ciência
e pela Igreja, a respeito da descoberta inconteste mais extraordinária
de nosso tempo: o após vida existe e nós podemos nos
comunicar com aqueles que chamamos de mortos.
Escrevi este livro para tentar derrubar esse espesso muro de silêncio,
de incompreensão, de ostracismo, erigido pela maior parte
dos meios intelectuais do ocidente. Para eles, dissertar sobre a
eternidade é tolerável; dizer que se pode vivê-la
torna-se mais discutível; afirmar que se pode entrar em comunicação
com ela é considerado insuportável.
O padre e teólogo que sou quis, como se diz, certificar-se
completamente da verdade. Por que todos esses testemunhos deveriam
ser, a priori, considerados suspeitos? Quando o conteúdo
das mensagens e das comunicações gravadas reúne,
como eu o demonstro, os maiores textos místicos de diversas
tradições, existe nisso mais que uma simples coincidência.
Eu acompanhei, pois, e estudei apaixonadamente os resultados das
pesquisas mais recentes nesse campo. As conclusões deste
trabalho ultrapassam minhas previsões: não somente
a credibilidade científica das experiências de comunicação
com os mortos encontra-se confirmada e não pode ser mais
posta em dúvida, mas a prodigiosa riqueza dessa literatura
do além reanimou em mim o que os séculos de intelectualismo
teológico haviam extinguido.
(...)
Todos sabem, a Igreja nutre a maior desconfiança em relação
a esse tipo de fenômenos: Ela prega a eternidade, é
verdade, mas não aceita que se possa vivê-la e entrar
em comunicação com ela. Eu mostro que não foi
sempre assim. (....)
(BRUNE, 1991, pp. 15-16).
4º – Pe. Gino Concetti
Pe. Gino, teólogo católico, pertence
à Ordem dos Franciscanos Menores, comentarista do Jornal L'Obsservatore
Romano, órgão oficial do Vaticano, disse, em novembro
de 1996, numa entrevista a esse jornal que:
Segundo o catecismo moderno, Deus
permite aos nossos caros defuntos, que vivem na dimensão
ultraterrestre, enviarem mensagens para nos guiar em certos momentos
de nossa vida. Após as novas descobertas no domínio
da psicologia sobre o paranormal, a Igreja decidiu não mais
proibir as experiências do diálogo com os trespassados,
na condição de que elas sejam levadas com uma finalidade
séria, religiosa, científica. (1)
(1) http://www.universoespirita.org.br/GAIVOTAS%20DA%20PAZ/b_32.htm,
consulta dia 18.04.2007, às 11:50hs.
Essa entrevista do Pe. Gino Concetti
deu “panos para mangas” aqui no Brasil; não faltou
fundamentalista para dizer que essa declaração era falsa,
embora a imprensa mundial tenha dado notícia disso; fora a
questão de que, no próprio Jornal do Vaticano, isso
pode ser comprovado. Tentamos buscá-lo na Internet, mas, infelizmente,
não consta mais do site do Jornal. Entretanto, vimos essa notícia
sendo divulgada em vários outros sites (2)
e na Revista El Gran Corazón nº 174, janeiro
2002, pp. 8-10 e nº 175, março 2002, pp. 5-6, publicação
da Federación Espírita Cristiana de España.
Em 28 de outubro de 2001, no programa “Fantástico”,
da Rede Globo, quando foi apresentada a reportagem do Museu das Almas
do Purgatório, Pe. Gino Concetti, foi ouvido pelo repórter
da matéria, cujo trecho transcrevemos:
Repórter:
“Podem acontecer comunicações entre os vivos
e os mortos?”
Pe. Concetti: “Eu acredito que sim. Eu acredito
e me baseio em um fundamento teológico que é o seguinte:
todos nós formamos em Cristo um corpo místico, do
qual o Cristo é o soberano. De Cristo emanam muitas graças,
muitos dons; e se somos todos unidos, formamos uma comunhão
e onde há comunhão, existe também comunicação”.
Repórter: “O que o senhor pensa do
Espiritismo?”
Pe. Concetti: “O espiritismo existe. Há
sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura. Mas não é
do modo fácil como as pessoas acreditam. Nós não
podemos chamar o Espírito de Michelangelo ou de Rafael. Mas
como existem provas na Sagrada Escritura, não se pode negar
que exista essa possibilidade de comunicação”.
(CAJAZEIRAS, 2002, p. 89).
Diante disso, os católicos não teriam mais como negar
as comunicações com os mortos; entretanto, não
é o que acontece; há tantos fundamentalistas no meio,
que é bem provável que nem em Galileu Galilei ainda
eles acreditem A única ressalva é a confusão
que fez entre o Espiritismo como uma doutrina religiosa e as manifestações
dos espíritos (almas), tomando um pelo outro.
Conclusão
Ocorre-nos a
idéia de realçar duas coisas em relação
aos casos citados: uma, que isso ocorre na Igreja Católica
desde antes da codificação Espírita; a outra,
que os médiuns são encontrados nas mais variadas religiões,
independente de classes sociais, já que não há
privilégio algum quanto a esse “dom”. O fato disso
acontecer em vários países vem provar a sua universalidade
e, por isso, deveria merecer mais atenção dos cientistas.
Veja e constate você mesmo, caro leitor:
- Maria-Ana Lindmayr (1657-1726),
uma freira, carmelita descalça, Alemanha - início
12/1690;
- Eugênia von der Leyen
(1867-1929), uma princesa, Alemanha - início 08/1921;
- Maria Simma (1915-2004),
filha de um dono de uma hospedaria, Áustria - início
12/1940;
- Maria Gómez Cámara
(1919-2004), humilde agricultora, Espanha - início em 08/1971;
- Dr. Lino Sardos Albertini
(1915-2005), advogado, Itália - contato com o filho em fev/1983;
- Irmã Ana Felícia
(?-?), religiosa, Itália - aparição vista em
11/1859;
- Pe Miguel Martins, sacerdote
católico, Brasil - início 12/1985.
Quanto à
recomendação de Kardec sobre as evocações,
é bom ressaltar, porquanto, a maioria das pessoas acham que
fazemos isso levianamente, que acontece justamente o contrário:
Não
há, para esse fim, nenhuma fórmula sacramental. Quem
quer que pretenda indicar alguma pode ser tachado, sem receio, de
impostor, visto que para os Espíritos a forma nada vale.
Contudo, a evocação deve sempre ser feita
em nome de Deus.
Poder-se-á fazê-la nos termos seguintes, ou
outros equivalentes: Rogo a Deus Todo-Poderoso que permita venha
um bom Espírito comunicar-se comigo e fazer-me escrever;
peço também ao meu anjo de guarda se digne de me assistir
e de afastar os maus Espíritos.
(KARDEC, 1996, p.
248). (grifo nosso).
Quando queira chamar
determinados Espíritos, é essencial que o médium
comece por se dirigir somente aos que ele sabe serem bons e simpáticos
e que podem ter motivo para acudir ao apelo, como parentes, ou amigos.
Neste caso, a evocação pode ser formulada
assim: Em nome de Deus Todo-Poderoso peço
que tal Espírito se comunique comigo, ou então:
Peço a Deus Todo-Poderoso permita que tal Espírito
se comunique comigo; ou qualquer outra fórmula que corresponda
ao mesmo pensamento.
(KARDEC, 1996, p.
249). (grifo nosso).
Quando dizemos que se faça a evocação
em nome de Deus, queremos que a nossa recomendação
seja tomada a sério e não levianamente. Os
que nisso vejam o emprego de uma fórmula sem conseqüências,
farão melhor abstendo-se.
(KARDEC, 1996, p.
350). (grifo nosso).
Outras considerações
de Kardec sobre o tema:
2ª O Espírito evocado
atende sempre ao chamado que se lhe dirige?
"Isso depende das condições em que se encontre,
porquanto há circunstâncias em que não o pode
fazer."
3ª Quais as causas que podem impedir atenda um Espírito
tão logo ao nosso chamado?
"Em primeiro lugar, a sua própria vontade; depois, o
seu estado corporal, se se acha encarnado, as missões de
que esteja encarregado, ou ainda o lhe ser, para isso, negada permissão.
"Há Espíritos que nunca podem comunicar-se: os
que, por sua natureza, ainda pertencem a mundos inferiores à
Terra. Tão pouco o podem os que se acham nas esferas de punição,
a menos que especial permissão lhes seja dada, com um fim
de utilidade geral. Para que um Espírito possa comunicar-se,
preciso é tenha alcançado o grau de adiantamento do
mundo onde o chamam, pois, do contrário, estranho que ele
é às idéias desse mundo, nenhum ponto de comparação
terá para se exprimir. O mesmo já não se dá
com os que estão em missão, ou em expiação,
nos mundos inferiores. Esses têm as idéias necessárias
para responder ao chamado."
4ª Por que motivo pode a um Espírito ser negada permissão
para se comunicar?
"Pode ser uma prova, ou uma punição, para ele,
ou para aquele que o chama."
8ª O Espírito evocado vem espontaneamente, ou constrangido?
"Obedece à vontade de Deus, isto é, à
lei geral que rege o Universo. Todavia, a palavra constrangido não
se ajusta ao caso, porquanto o Espírito julga da utilidade
de vir, ou deixar de vir. Ainda aí exerce o livre-arbítrio.
O Espírito superior vem sempre que chamado com um fim útil;
não se nega a responder, senão a pessoas pouco sérias
e que tratam dessas coisas por divertimento."
9ª Pode o Espírito evocado negar-se a atender ao chamado
que lhe é dirigido?
"Perfeitamente; onde estaria o seu livre-arbítrio, se
assim não fosse? Pensais que todos os seres do Universo estão
às vossas ordens? Vós mesmos vos considerais obrigados
a responder a todos os que vos pronunciam os nomes? Quando digo
que o Espírito pode recusar-se, refiro-me ao pedido do evocador,
visto que um Espírito inferior pode ser constrangido a vir,
por um Espírito superior."
10ª Haverá, para o evocador, meio de constranger um
Espírito a vir, a seu mau grado?
"Nenhum, desde que o Espírito lhe seja igual, ou superior,
em moralidade. Digo em moralidade e não em inteligência,
porque, então, nenhuma autoridade tem o evocador sobre ele.
Se lhe é inferior, o evocador pode consegui-lo, desde que
seja para bem do Espírito, porque, nesse caso, outros Espíritos
o secundarão."
12ª Serão necessárias algumas disposições
especiais para as evocações?
"A mais essencial de todas as disposições é
o recolhimento, quando se deseja entrar em comunicação
com Espíritos sérios. Com fé e com o desejo
do bem, tem-se mais força para evocar os Espíritos
superiores. Elevando sua alma, por alguns instantes de recolhimento,
quando da evocação, o evocador se identifica com os
bons Espíritos e os dispõe a virem."
13ª Para as evocações, é preciso fé?
"A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá,
se desejardes o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos."
22ª Para se manifestarem, têm sempre os Espíritos
necessidade de ser evocados?
"Não; muito freqüentemente, eles se apresentam
sem serem chamados, o que prova que vêm de boa-vontade."
(KARDEC, 1996, pp. 358- 364).
Como ficou demonstrado
pelas manifestações dos espíritos que aqui apresentamos,
independentemente de evocar ou não, os espíritos só
aparecem porque há permissão; nada acontece por vontade
deles mesmos, pois seguem o controle de Espíritos Superiores,
que são os prepostos de Jesus, que, com Ele, fazem cumprir
a vontade de Deus.
As provas que tanto nos exigem determinados evangélicos, nós
as apresentamos usando as que os católicos possuem –
citadas aqui neste estudo -, exatamente, de quem se faz também
de nossos adversários, ficando, dessa forma, fora de propósito
eles contestá-las.
Aos católicos recomendamos que, se pesquisarem, acabarão
percebendo que nem tudo que lhes dizem é verdadeiro, especialmente
aqui no Brasil, onde parece que a cúpula católica odeia
os espíritas, apesar de que, diante de holofotes, dizem amá-los.
É o tal do “tapinha nas costas”, comum aos hipócritas.
A certos líderes continua prevalecendo o que disse Simma: “Muitos
padres se consideram tão sábios que pretendem entender
de tudo”. Outros negam o Espiritismo, por dever de ofício.
Não sabemos se teríamos algum argumento aos céticos,
porquanto, é difícil mesmo demovê-los do que pensam;
apenas lhes pediríamos que reflitissem um pouco mais, diante
dessas provas que aqui apresentamos, e estudassem cientificamente
o Espiritismo!
*
texto disponível em pdf - clique aqui
para acessar.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Abril/2007
Referências bibliográficas:
ALBANO, J. J. Maria Simma e as almas do purgatório. Curitiba:
Correio da Rainha da Paz, 2004.
ALBERTINI, L. S. O Além existe, São Paulo: Loyola, 1989.
BRUNE,F. Os Mortos nos Fala.. Sobradinho, DF: Edicel, 1991.
CAJAZEIRAS, F. Elementos de Teologia Espírita. Capivari, SP:
EME, 2002.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno, Rio de Janeiro: FEB, 1995.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: FEB, 1996.
LINDMAYR, M. As minhas relações com as almas do purgatório,
Requião – Portugal: Edições Boa Nova, 2003.
RODRIGUES, H. A Igreja Católica e a Codificação,
Revista Visão Espírita nº 4, Salvador: SEDA, julho/1998.
Revista Visão Espírita nº 1, abril e nº 2, maio,
Salvador: SEDA, 1998.
Revista El Gran Corazón nº 174, janeiro, e nº 175,
março, Murcia, Espanha: Federación Espírita Cristiana
de España, 2002.
FIGUEIREDO, P. H. Os mistérios do Egito segundo o Espiritismo,
Revista Universo Espírita nº 39, março, São
Paulo: Universo Espírita, 2007.
Livreto Sufrágio. Belo Horizonte: Divina Misericórdia,
1996.
Reportagem sobre declaração
do Pe. Gino Concetti (visitadas em 20/04/2007):
http://victorzammit.com/book/spanish/chapter03.htm;
http://www.karine-tci.com/Noticias.html#universal
http://www.lesquatrer.fr/37803.html?*session*id*key*=*session*id*val*
http://www.worlditc.org/d_07_brune_rediscovered_beyond.htm
http://www.after-death.com/articles/vatican.htm
-
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