Rogério Miguez
> A busca da paz e o ano novo
Mais um ano iniciou. Quantas expectativas!
Esperança mais uma vez a brilhar em nossos olhos. Incontáveis
pedidos. Entre os muitos formulados nesta hora de transição,
quando um período de 365 dias se encerra e outro novíssimo
desponta, destaca-se um: obter paz no ano começante.
Solicitação das mais justas, muito apropriada, pois,
com paz temos tranquilidade para viver e melhor aproveitamos as possibilidades
de aprendizado oferecidas pela vida, que são inumeráveis.
Contudo, raros são aqueles realmente dando-se conta do significado
de solicitação tão especial. Desconhecem, em
sua grande maioria, a própria participação neste
processo, por não perceberem ser fundamental e indispensável
o próprio envolvimento na aquisição de tão
nobre estado.
Alguns creem que dormirão e acordarão sem a existência
das guerras e conflitos mundiais; outros esperam de Deus a promoção
da paz por decreto; ajuízam mais alguns que os conflitos sociais
que marcam diariamente o nosso noticiário jornalístico,
envolvendo os contraventores e as diversas forças de segurança,
desaparecerão como por encanto, num passe de mágica;
soluções milagrosas, surgidas do nada, devem aparecer:
afinal, é um ano novo que se inicia...
Este justíssimo desejo expressa-se sem que os solicitantes
percebam, desde a passagem do ano, que estão agindo e criando
as bases para que o anseio não se realize. Vivem um paradoxo:
embora desejem algo ardentemente, insistem por destruir as condições
básicas que poderiam levar à concretização
do que avidamente aspiram.
Sim, infelizmente é um fato!
Como uma pessoa pode pedir e almejar paz, se durante o ano que se
finda, e mesmo durante as comemorações do que se inicia,
pauta a existência sob toda a sorte de abusos e condutas comprometedoras
que se opõem a uma convivência pacífica?
- Alguns saem armados para se “divertirem”
e, quando os multicores fogos de artifício são lançados
na virada do Ano, disparam literalmente suas armas em direção
ao espaço, numa demonstração inequívoca
dos princípios truculentos que lhes caracterizam a existência.
- Adquirem estes mesmos fogos de artifício
e os lançam em todas as comemorações julgadas
apropriadas, tais como aniversários, casamentos e jogos de
futebol, apavorando os animais e incomodando os idosos, os doentes
e as crianças, em um total desrespeito à ordem pública.
-
Outros bebem alcoólicos,
consomem drogas ilícitas, dando, desse modo, acesso e guarida
a obsessores de todos os tipos. Acabam se envolvendo em brigas e
discutindo por migalhas, sem nem mesmo saberem, ao final da refrega,
a razão da rixa em que se envolveram. Tomam seus veículos
e trafegam desnorteados pelas ruas, sob sério risco de atropelarem
e matarem transeuntes... Mantém a família sob o terror
de suas manias e idiossincrasias, agindo como verdadeiros déspotas,
cujas vontades não podem ser questionadas.
-
Compram armas para supostamente
se defenderem de agressões e, se preciso for, matar os “inimigos”
infiltrados na sociedade em que vivem, responsáveis, segundo
eles, por impedir a conquista da paz que tanto ambicionam, justificando-se
sob a infeliz máxima: antes ele do que eu.
-
Não respeitam os mais comezinhos
direitos alheios, não cumprem os próprios deveres,
discutem nas reuniões de condomínio, brigam na rua
por nonadas, xingam no trânsito, dirigem como alucinados,
desrespeitam sistematicamente todas as regras do trânsito
e, ao se verem envolvidos em acidentes, procuram quase sempre fugir
à responsabilidade que lhes compete.
-
Equipam suas residências
com medidas protetivas, tais como alarmes, câmeras, ferozes
animais de guarda, conexões com firmas de segurança,
na ilusória tentativa de assegurarem a própria paz,
bem como a de seus familiares, como se a paz pudesse vir do exterior
e não do interior do ser.
• Desrespeitam as mais básicas diretrizes da vida em
sociedade quando usam equipamentos sonoros em volumes incompatíveis
com o bom senso, em avançadas horas noturnas, perturbando
toda a vizinhança, sem se importarem se há recém-nascidos
ou não na comunidade.
• Adquirem animais por pura diversão, que uivam, latem,
rosnam, a qualquer hora do dia, perturbando o sono e a paz dos “amigos”
com quem convivem nos condomínios e prédios. Além
disso, confinam animais de grande porte em apartamentos muitas vezes
exíguos e saem para trabalhar e realizar afazeres diversos
sem se importar se os animais incomodam os vizinhos ou não,
nem mesmo em avaliar se este ambiente é adequado para um
animal de tamanho avantajado. Em vez de adestrá-los, preferem
deixá-los à vontade; afinal, educar e treinar um animal
irracional dá trabalho e, sobretudo, gera despesas.
Poder-se-ia elencar incontáveis atitudes
totalmente destoantes de uma convivência salutar, harmônica,
pacífica, em uma comunidade, e cada qual deve analisar-se
para identificar de que maneira pode melhorar a sua participação
no meio em que vive, tornando-se um verdadeiro e honrado cidadão.
Mas o que é a paz?
Seria poder desfrutar de uma vida ociosa, num repouso sem-fim, como
se estivesse deitado em berço esplêndido, sem necessidade
de trabalhar, de ocupar-se utilmente, sem contratempos de espécie
alguma, saúde quase perfeita, inexistência de inimigos,
desafetos e opositores, dinheiro farto nos bolsos para fazer face
a todas as extravagâncias, ausência de problemas de
qualquer ordem?
Cremos que não, pois muitos desfrutam de tudo ou quase tudo
isso e algumas vezes ainda mais; entretanto, continuam insatisfeitos,
intranquilos, inquietos, desconfiados, mau humorados, irritadiços,
ou seja, sem paz interior. Desconhecem o que falta, não identificam
onde está a lacuna, ignoram qual parte estaria ausente no
conjunto da própria existência, mas têm certeza
de que algo está faltando. Por isso reagem, alguns com violência
diante dos fatos corriqueiros e absolutamente necessários
que caracterizam o mundo de muitas provas e expiações
no qual vivemos.
A milenar civilização romana pautava-se no ditado:
Se queres a paz, prepara-te para a guerra.
Contudo, durante os anos romanos, quando o mundo ocidental conhecido
de então vivia e existia sob a égide da Pax Romana,
nasceu o maior e mais excelso Pacificador de todos os tempos, aquele
que jamais levantou a mão para agredir fosse quem fosse,
que nunca acusou nem mentiu. Sobre Ele não há registro
de qualquer ato violento, de qualquer desrespeito aos costumes e
opções de vida do próximo, a quem jamais prejudicou.
Viveu uma vida simples, sem ouro, prata, seda ou púrpura;
nada temia, pois, era detentor da única e verdadeira Paz:
a proporcionada pela consciência tranquila, fruto do dever
cumprido e da retidão de conduta moral.
Este exemplo de pacificação legou-nos o seguinte princípio,
registrado nos Evangelhos: “A minha Paz vos deixo, a minha
Paz vos dou [...]” [João, 14:27].
A Paz Cristã, a Paz do Cordeiro, a Paz do Ungido!
Se desejamos a verdadeira Paz para a Terra e para o nosso mundo
íntimo, não há outro caminho senão vivenciar,
em sua plenitude, os ensinamentos que o Cristo nos legou há
mais de dois mil anos, contidos em seu Evangelho de Amor e Redenção.
*
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Fonte: texto enviado pelo autor
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