*
texto disponível em pdf - clique aqui
para acessar
É da lei divina que todos
os Espíritos criados por Deus sejam submetidos a múltiplas
existências em mundos materiais, de modo a adquirir entendimento
dos princípios técnicos ou científicos que nos
regem, assim sendo, aumentando a correspondente capacidade intelectiva;
bem como desenvolver as muitas virtudes, tão pouco presentes
nestes tempos modernos. Este esforço tem por objetivo levá-los
à perfeição relativa, meta fatal de todos nós.
Em função das incontáveis experiências
adquiridas nessas muitas existências, elaboramos em nossa personalidade
e caráter, diversas tendências, boas e más, que
nos acompanharão nas reencarnações futuras, se
manifestando como inclinações natas, e, desde a infância,
muitas desafiando a educação recebida dos pais biológicos.
Esta estrutura de personalidade única, que agora nos caracteriza,
fornece a base para que alguns suponham sermos uma multidão
de Espíritos, todos ocupando apenas um corpo físico.
Contudo, essa possibilidade não é prevista no ordenamento
divino. De fato, há apenas um Espírito, e somente um,
vinculado a cada unidade biológica.
Através da observação cuidadosa de nós
mesmos concluímos o que fomos. Basta reconhecer uma forte conduta
instintiva, não ensinada pelos pais, para ajuizarmos que, em
tese, foi desenvolvida no passado.
É por esta razão que se diz que o passado é o
nosso maior inimigo, pois foi durante esses milênios, em que
estivemos mergulhados na carne, que se formaram algumas incômodas
tendências do presente. É por esta razão, também,
que muitos dizem: o grande inimigo somos nós mesmos.
Entretanto, por qual razão enfatizamos as más disposições
naturais? Não há as boas ou construtivas, aquelas que
podem nos enobrecer?
Sim, evidente que existem traços positivos,
porém, pelo simples fato de estarmos em um mundo que se caracteriza
por ser de provas e expiações, já indica
que trazemos um passado marcado por sinais característicos
do nosso lado egoístico e orgulhoso, caso contrário,
aqui não estaríamos. Essa sombra que, por hora carregamos,
foi edificada por atitudes grosseiras e levianas, em nossas etapas
anteriores de aprendizado, ao invés de boas índoles.
Sendo assim, precisamos vigiar, atentamente, as nossas particulares
reações às diversas situações de
vida, analisando, cuidadosamente, a forma como respondemos e agimos
aos muitos estímulos do nosso cotidiano. Identificando algo
que não nos agrada, iniciar um processo de desconstrução
dessa particular faceta de nossa individualidade, substituindo esses
hábitos pouco nobres, por outros mais alinhados com os princípios
do Criador.
É um trabalho talvez de algumas existências, pois não
é fácil desabituar-se de uma conduta enraizada por longo
tempo, em tão pouco tempo.
Tomemos um exemplo simples para bem caracterizar esse trabalho pessoal
e intransferível: imaginemos, que ao longo de algumas existências
anteriores, nos acostumamos a roubar e enganar o próximo, de
todas as formas possíveis. Após reencarnarmos, mais
uma vez, apesar dos esforços de nossos pais em nos orientar
a não tomar o que não nos pertence, desde cedo, no período
infantil, poderemos apresentar a tendência de levar para a casa
a bonita caneta do amigo de sala de aula, sem a preocupação
de que ele ficará triste por ter perdido a sua caneta, talvez
por seu inteiro desleixo.
É uma situação que acontece com muitas crianças
e que os pais deverão estar atentos para coibi-las, em uma
tentativa para que seu filho, no futuro, não enverede por outros
caminhos mais perigosos, aceitando ou propondo subornos e propinas,
para, por exemplo, facilitar o andamento das coisas, prática
tão comum em nossos dias, considerando a falta de moralidade
das sociedades modernas.
Quando a criança se tornar adulta terá duas vertentes
à pesar: aquela espontânea de continuar a subtrair o
que não lhe pertence, conforme as várias modalidades
e momentos que a vida apresenta, contrabalanceada pelos ensinos que,
possivelmente, seus pais lhe comunicaram, caso tenham estado atentos
a estes indesejados traços de personalidade de seus amados
filhos.
De modo semelhante funcionam os diversos vícios: preguiça,
gula, vaidade, avareza, soberba...
Além da importantíssima educação recebida
dos pais, há um outro caminho que também poderá
auxiliar, sobremaneira, a melhoria de nossa conduta: observando criteriosamente
os exemplos do Cristo, pois Esse perfeito Espírito nos deixou
incontáveis modelos de como proceder em sociedade e conosco
mesmos. Caso os observemos com atenção e nos disponhamos
a repeti-los em nosso cotidiano, rapidamente, poderemos também
domar as nossas más inclinações.
No entanto, se julgarmos difícil interpretar os imortais ensinos
do Rei dos reis, através da leitura dos registros dos Evangelistas,
em o Novo Testamento, o mesmo ato de bondade do Cristo ao
vir, pessoalmente, nos visitar na Terra, foi repetido, por meio de
Sua autorização, dezoito séculos após
a Sua passagem, quando Ele coordenou a vinda do Consolador que Ele
prometera à Terra, na figura da Doutrina dos Espíritos,
ou seja, o Espiritismo.
Quem materializou esta nova Revelação – a terceira
e última que tenhamos conhecimento -, foi o pedagogo Allan
Kardec quando, durante o século XIX, sem nenhum recurso tecnológico
que hoje conhecemos e que tanto facilita a elaboração
e a divulgação das ideias, escreveu algumas dezenas
de obras, usando canetas de pena, compondo esta nova Filosofia Espiritualista,
que tem por base, no que tange o lado moral e ético, a moral
do Meigo Rabi.
Através do estudo meticuloso e atento desses compêndios
poderemos entender e aprender sobre nós mesmos, o que nos facilitará,
sobremaneira, na identificação dessas muitas personalidades,
que se encontram hoje fundidas, constituindo o que somos, atualmente,
a nossa individualidade.
É de se observar que o simples fato de identificar vertentes
do nosso eu que não nos agradam, solicitando a sua superação
imediata, não será um trabalho fácil, pois tendências
e condutas natas, solidamente elaboradas através de algumas
existências, não se desfazem de imediato. É necessária
muita força de vontade, determinação, paciência,
constância, para desmontar o que, paulatinamente, elaboramos
no passado.
Por essa razão Paulo afirmou(1):
Porque bem sabemos que
a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso
não faço, mas o que aborreço isso faço.
E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que
é boa.
A propósito, Allan Kardec,
usando seus sentidos aguçados de pesquisador e professor, na
primeira obra fundamental também registou
(2):
O homem sempre poderia
vencer suas más tendências mediante seus próprios
esforços?
“Sim, e, às vezes, com pouco esforço. O que
lhe falta é a vontade. Ah! como são poucos os que
se esforçam entre vós!”
Se assim não fosse, Deus
teria criado um mecanismo de evolução desafiador, uma
vez que, após o Espírito ter se desviado do trilho divino
e, no uso de seu livre-arbítrio, incorporado traços
indignos e desonestos ao seu caráter, por força do hábito
em praticá-los, teria agora que realizar um esforço
hercúleo para se desvencilhar desse seu lado sombrio.
A tarefa é árdua, mas possível, não há
dúvida.
Principalmente, quando sabemos que todos nós contamos com um
Espírito superior, ao nosso lado, designado por Deus, que não
nos abandona, desde o nascimento – o Anjo Guardião -,
para nos auxiliar nessa retomada do processo evolutivo, ajudando-nos
a abandonar, definitivamente, tudo o que nos desagrada, em termos
de vícios e imperfeições.
Enquanto não dominarmos estas tendências negativas, agiremos
tais quais irracionais. Por isso, eventualmente, nos expressamos assim:
Quando escutei aquilo, virei bicho; Diante do que você me
fez, fiquei uma fera; Fulano é sorrateiro como uma serpente;
Sua agressividade se assemelha a de um leão. Ou seja,
basta que alguém nos fira em qualquer de nossas imperfeições,
e são muitas, para esquecermos toda a nossa educação
e polidez, voltando a agir tal qual uma fera.
E, de fato, se pudéssemos nos ver nesses momentos de extrema
cólera e intemperança, instantes de completo desatino,
poderíamos vislumbrar o nosso semblante transtornado, equivalente
ao de um animal selvagem.
Uma importantíssima informação que podemos acrescentar
neste processo do bom combate, é que, auxiliando, amplificando,
fortalecendo as nossas más índoles, existe a Humanidade
desencarnada, com os seus vícios, manias, transtornos e desalinhos
mentais, buscando, por hora, encarnados similares, para se acoplarem
e se satisfazerem, mesmo que tenuemente, com as emanações
e vibrações dos ainda desajustados da Terra.
É de se notar que nem tudo trazemos do passado de outras existências.
Há, também, na constituição de nossa personalidade,
a contribuição da educação que tivemos
dos pais, a da sociedade em que participamos, e das experiências
que vivenciamos em nosso cotidiano - três contribuições
originadas na atual existência.
Destaque-se, por fim, que não há necessidade absoluta
de, literalmente, descortinarmos o passado, de modo a viabilizar essa
tarefa de autoiluminação pessoal. Enfatizamos que o
estudo metódico e sincero dos exemplos do Cristo, em paralelo
às explicações fornecidas pelo Espiritismo são
suficientes para realizar esta transformação, verdadeira
reforma íntima, tão apropriada, nestes turbulentos tempos,
que caracterizam o século XXI.
A propósito, André Luiz tem interessantíssimo
texto, sob o sugestivo título: Introspecção
e reencarnação(3),
que merece ser lido e estudado também.
Por outro lado, sabemos que possuímos alguma luz, consequentemente,
da mesma forma que precisamos identificar o lado obscuro de nossa
personalidade, ao descortinarmos o lado bom, a nossa boa índole,
nesse ou naquele campo da vida, fortaleçamo-los, deixando que
eles aflorem e cresçam para bem enraizar o que de bom construímos
pelos nossos esforços.
Oração e vigilância, a Regra de Ouro,
para não nos deixarmos perder em mais esta importante oportunidade
de vida, ofertada pelo Amoroso Pai, como já o fizemos algumas
vezes no passado.
Prossigamos intimoratos, Jesus nos apoiará nesta empreitada,
como sempre O fez.
*
texto disponível em pdf - clique aqui para
acessar
1 BÍBLIA, N. T. Romanos. Português. O
novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira,1966. cap. 7, vers.
14 a 16.
2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 3ª ed. Comemorativa
do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. pt. 3, cap. XII,
q. 909.
3 XAVIER, Francisco Cândido. Sol nas almas. Pelo Espírito
André Luiz. Uberaba: Comunhão Espírita Cristã,
1964. cap. 50.