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“Os maus espíritos pululam em torno da
Terra em consequência da inferioridade moral dos seus habitantes.
Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos a que a humanidade
está exposta neste mundo. A obsessão, que é um
dos efeitos dessa ação, como as enfermidades e todas
as atribulações da vida, deve, assim, ser considerada
como uma provação ou uma expiação, e aceita
desse modo.”(1)
Esta contundente afirmação de
Allan Kardec fornece a real amplitude sobre a questão da obsessão
espiritual, não aquela entendida pelos profissionais –
materialistas - da mente, a última representa um ínfimo
subconjunto das obsessões, a maior parte é provocada
pelos Espíritos ainda desorientados habitantes do plano etéreo.
Para se ter uma percepção numérica
do problema, basta observar, por exemplo, o que foi informado em 1991,
quando a população da Terra girava em torno de cinco
bilhões e meio de almas.(2)
Naquela época, foi dito haver, na erraticidade, quase o quíntuplo
do número de Espíritos encarnados.(3)
Esta única informação quantitativa - existem
outras - já indica que Allan Kardec tinha razão ao afirmar
que os maus Espíritos pululam em torno da Terra fazendo
da obsessão espiritual uma verdadeira pandemia.(4)
Entretanto, poder-se-ia argumentar que estes bilhões de desencarnados,
não estão todos desequilibrados e isso é fato,
contudo, se considerarmos o atual nível moral e ético
dessa humanidade, pode-se facilmente aceitar que um imenso contingente
dos Espíritos aguardando retorno à Terra são
potencialmente obsessores, se não os são na realidade.
É de se notar que um segmento dos trabalhadores espíritas
– os médiuns -, comumente digam que são mais obsediados
do que os outros - não médiuns -, e justificam esta
ideia apontando a mediunidade como causadora das obsessões.
Estranha tese, Deus há de ter criado uma lei que permite o
intercâmbio entre os chamados vivos com os ditos mortos, para
nos ajudar em nosso processo evolutivo - lei essa que foi usada extensivamente
pelo consolidador da Doutrina Espírita, ou seja, um importante
princípio divino -, contudo, potencialmente, este mecanismo
de comunicação favoreceria o surgimento das obsessões.
Ora, se assim fosse, poder-se-ia perguntar: quem desejaria estar na
condição de médium na Terra antes de reencarnar?
Cremos que poucos se disporiam a enfrentar as dificuldades do mediunato
sabedores que facilmente seriam apanhados em processos obsessivos.
Seria uma luta moral desigual entre os chamados médiuns e os
destituídos dessa faculdade.
E mais, imaginemos a luta enfrentada pelosos médiuns de todos
os tempos, quando, no passado, ainda nem sequer havia Espiritismo,
muito menos O Livro dos Médiuns, o tratado basilar
sobre condutas e procedimentos dos muito médiuns; aliás,
uma obra ainda amplamente desconhecida dos médiuns, pois se
o conhecessem, certamente concluiriam que não pode ser assim
e, graças a Deus, não é assim!
Contudo, esta proposta sobre a vinculação entre a mediunidade
e obsessão se encontra enraizada no meio espírita, certamente
por falta de estudo e observação do que é a mediunidade
e da obsessão.
Há médiuns obsediados? Sem dúvida, como há
incontáveis de encarnados passando pelo mesmo processo obsessivo.
Como disse Allan Kardec, os maus espíritos pululam em torno
da Terra, sendo assim, há obsessão generalizada
no planeta. Ora, se nem todos são médiuns, cremos inclusive
que pequena parcela da humanidade se encontra na condição
de médiuns ostensivos, a maioria dos obsediados não
é médium, então, por qual razão se desenvolveu
esta percepção de que a mediunidade favoreceria a vinculação
obsessiva?
Como vimos, seria um completo absurdo crer que a Divindade, infinitamente
misericordiosa e sábia, pudesse engendrar um mecanismo de evolução
que traria riscos imensos aos seus portadores, e poucos poderiam vencer
os perigos ainda inerentes a este planeta de provas e expiações
no que tange à questão das obsessões.
Uma das razões na escolha da condição de estar
médium quando encarnado se deve exatamente ao momento em que
se encontra o reencarnante em seu processo evolutivo, ou seja, geralmente
são Espíritos altamente endividados e que, por sugestão,
ou mesmo por decisão pessoal, optam por enfrentar as dificuldades
inerentes ao trabalho mediúnico; ressalte-se, dificuldades
existentes em qualquer outra atividade envolvendo ajuda ao próximo.
Significa que, na média, médiuns são trabalhadores
com largo passivo moral e ético e, por conta destas muitas
dívidas, optam ou aceitam tarefas no âmbito do exercício
mediúnico, visando a uma rápida recuperação
de débitos, caso exerçam o seu mediunato com aproveitamento.
Contudo, queixosos e desanimados, ingratos e desgostosos, enfatizam
que sua ferramenta de trabalho – a mediunidade ostensiva - lhes
traz incontáveis assédios, tornando sua caminhada evolutiva
um verdadeiro calvário de dores e aflições.
Ledo engano, pois o bom e proveitoso exercício da mediunidade,
ao invés, pode proporcionar ao seu provisório detentor
uma existência plena de gratificantes conquistas proporcionadas
pelo bem-estar, que surge naturalmente por meio do serviço
bem executado, mas também pelos bons Espíritos que o
acompanham e que desejam, invariavelmente, que vença os seus
variados desafios, ora no campo mediúnico.
Nesta hora também poder-se-ia indagar: por qual razão
o médium responsabiliza os assédios obsessivos que sofre,
como todos nós, por conta da mediunidade, se sabe que pode
contar com outros Espíritos lúcidos e bondosos acompanhando-o
de perto, particularmente seu anjo da guarda? Por que escolhe, nos
momentos de luta íntima, do bom combate, entre o fazer ou não
fazer, as sugestões dos obsessores e não as dos prestativos
Espíritos que lhe fazem companhia desde o berço? Se
o seu canal mediúnico favorece o assédio obsessivo,
como se supõe, por qual razão esse mesmo canal não
facilita também as percepções das intuições
do seu anjo da guarda? Caso buscasse melhor sintonia com o bem, poderia
prevenir ou mesmo neutralizar as obsessões.
E a resposta, para quem bem conhece as leis divinas, aponta para o
passado do médium.
Neste momento, seria oportuno observar com cuidado o complemento do
texto anteriormente destacado de Allan Kardec: em consequência
da inferioridade moral dos seus habitantes. Essa é a chave,
assim cremos, explicando o surgimento da proposta insustentável
de se associar mediunidade à obsessão.
A Terra é habitação destinada, por enquanto,
a almas devedoras, caracterizadas pelo enfrentamento de muitas provas
e incontáveis expiações, fruto de antigas condutas
em existências anteriores distanciadas das leis de Deus.
Contudo, particularmente, entre outros, como destacado anteriormente,
os médiuns ostensivos se revestem de maiores débitos
como se denota nesta passagem datada de 1952:
“Mais de dois terços dos médiuns do mundo jazem,
ainda, nas zonas de desequilíbrio espiritual, sintonizados
com as inteligências invisíveis que lhes são afins.
Reclamam, em razão disso, estudo e boa vontade no serviço
do bem, a fim de retomarem a subida harmônica aos cimos da luz,
assim como os cooperadores de qualquer instituição respeitável
da Terra necessitam exercício constante no trabalho esposado
para crescerem na competência e no crédito moral.”(5)
Destaque-se que essa não é uma opinião isolada,
pois em 1982:
“[...] o período inicial de educação mediúnica
sempre se dá sob ações tormentosas. O médium,
geralmente, é Espírito endividado em si mesmo, com vasta
cópia de compromissos a resgatar, quanto a desdobrar, trazendo
matrizes que facultam o acoplamento de mentes perniciosas do Além-túmulo,
que o impele ao trabalho de auto burilamento, quanto ao exercício
da caridade, da paciência e do amor para com os mesmos. Além
disso, em considerando os seus débitos, vincula-se aos cobradores
que o não querem perder de vista, sitiando-lhe a casa mental,
afligindo-o com o recurso de um campo precioso e vasto, qual é
a percepção mediúnica, tentando impedir-lhe o
crescimento espiritual, mediante o qual lograria libertar-se do jugo
infeliz. Criam armadilhas, situações difíceis,
predispõem mal aquele que os sofrem, cercam-no de incompreensões,
porque vivem em diferente faixa vibratória, peculiar, diversa
aos que não possuem disposições medianímicas.”(6)
Não há dúvida, é a realidade:
“Invariavelmente, o médium portador de faculdade ostensiva
é um Espírito com sérios débitos para
com as soberanas leis da vida, em processo de reajustamento emocional
e psíquico, ao mesmo tempo auxiliando aqueles desafetos que
ficaram na retaguarda e que se lhes acercam com as mágoas e
pesares, dores e amarguras que lhes foram impostos no passado, por
esse que, agora, dispõe dos recursos próprios para a
reparação.”(7)
Há outras referências apontando na mesma direção,
mas não as citaremos por crer que essas três já
fornecem boa dimensão sobre a situação real dos
médiuns.
E mais, é o próprio Codificador quem adverte no único
tratado confiável sobre mediunidade quando discorre sobre a
Influência moral do médium:
“Todas as imperfeições morais são outras
tantas portas abertas ao acesso dos maus Espíritos. Porém,
a que, eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque
é a que a criatura menos confessa a si mesma.”(8)
O presente texto não tem por objetivo desmerecer o nobre trabalho
dos médiuns, pois como enfatizado, a mediunidade é lei
de Deus e aqueles que empregam esse recurso para promover a sua própria
evolução, o fazem sob a permissão do Criador,
mas, atribuir à mediunidade a causa das obsessões demonstra
desconhecimento dos desígnios de Deus.
REFERÊNCIAS:
1 KARDEC, Allan. A Gênese. Trad. de Albertina
Escudeiro Sêco. 3. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010. Obsessões
e possessões. cap. 14. it. 45.
2 Disponível em: https://www.populationpyramid.net/pt/mundo/1991/
- Acesso em 12/08/2024.
3 TEIXEIRA, José Raul. Correnteza de Luz. Pelo Espírito
Camilo. 1. ed. Niterói: SEF, 1991. Medo de Espíritos.
cap. 6.
4 MIGUEZ, R. R. Bastos. Obsessão em 100 respostas. 1. ed. Matão:
Casa Editora O Clarim, 2022. Introdução.
5 XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel.
5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Entre as forças comuns. cap.
35.
6 FRANCO, Divaldo Pereira. Nas fronteiras da loucura. Pelo Espírito
Manoel Philomeno de Miranda. 2. ed. Salvador: LEAL, 1982. Trama na
Treva. cap. 23.
7 Idem. Compromisso de amor. Pelo Espírito Yvonne do Amaral
Pereira. 1. ed. Salvador: LEAL, 2014. Comportamento mediúnico.
cap. 37.
8 KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução
Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.
it. 228.
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