Preocupado em melhor difundir o Espiritismo
pelo mundo, viabilizando a todos desta forma o correto entendimento
das Leis Divinas e, considerando estar a Doutrina consideravelmente
disseminada em território francês àquela época,
o Mestre lionês, sete meses após a sua desencarnação,
ocorrida em março de 1869, comparece a uma reunião espírita
e dita mais uma comunicação por meio do médium
Sr. Tailleur,(1) pois já o havia
feito em outras ocasiões, enfatizando ao final desta comunicação:
Traduzi as minhas obras! Só
se conhecem na América os argumentos contra a reencarnação.
Quando as demonstrações em favor desse princípio
ali se tornarem populares, o Espiritismo e o Espiritualismo não
tardarão a se confundir, tornando-se, por sua fusão,
a Filosofia natural adotada por todos.(2)
Presentes nesta reunião estavam,
entre outros, o Sr. Peebles,(3) partidário
da escola espiritualista americana, muito conhecido do mundo espírita
americano como redator do Banner of Light (Estandarte de
Luz), em tradução livre, jornal espiritualista de Boston,
e Anna Blackwell, correspondente espírita em Londres. O enfático
apelo do Prof. Rivail foi feito a ambos e, até onde sabemos,
apenas Anna Blackwell atendeu este significativo e especial pedido.
Além de tradutora, Anna Blackwell se destacou na poesia e jornalismo,
desempenhando também atividades de ensino. Ela foi contribuinte
correspondente em cerca de onze jornais, nos seguintes países:
África do Sul, Austrália, Canadá, Estados Unidos
e Índia. Hannah e Samuel Blackwell, pais de Anna, imigraram
da Inglaterra para os Estados Unidos com seus nove filhos, em 1832.
Anna Blackwell foi membro da comunidade Brook Farm, em 1845, instalando-se
na França a partir de então. Traduziu as obras do socialista
francês Fourier e as novelas de Georges Sand. Ao final de sua
vida, morou em Triel, na França, desperdiçando seus
recursos em uma busca infrutífera pelo tesouro perdido do rei
James II da Inglaterra.(4,5)
Desconhecemos por qual razão Anna Blackwell só viria
a se debruçar na tarefa de traduzir algumas obras espíritas
anos após aquela solicitação de Allan Kardec,
pois foi somente em 1875, aproximadamente seis anos depois daquela
reunião que viria a lume a primeira tradução
para o inglês de O livro dos espíritos - The Spirits'
Book, pela editora Colby and Rich, Publishers, 9 Montgomery Place,
Boston.(6) Neste ano, O livro dos espíritos
já se encontrava na 12ª edição publicada
em 1864, versão definitiva que não mais sofreria qualquer
alteração do mestre em seu conteúdo. Se algum
tradutor houvesse vertido esta obra espírita anteriormente
à 12ª edição, o trabalho, se não
fosse “retocado” no futuro, talvez permanecesse sem fidelidade
às derradeiras correções do Codificador.
No seu primeiro trabalho de tradução espírita,
Anna Blackwell deixou registrada uma breve biografia de Allan Kardec
endereçada aos seus conterrâneos ingleses, porém,
com vários detalhes de interesse aos espíritas de modo
geral. Anna era amiga do casal Rivail, por isso pôde registrar
aspectos pessoais de ambos em sua sucinta, mas importante biografia.(7)
Tudo indicava ter sido Anna a pioneira na tradução de
obras espíritas, contudo, não o foi, pois em 1865, dez
anos antes do lançamento do The Spirits' Book, surge
uma versão para o inglês de O espiritismo na sua
expressão mais simples – Spiritism in its most
simple expression, por Miss GR. & J. J. T. - Leipzig, impresso
por Bir & Hermann.(8) Esta obra foi
originalmente oferecida ao público por Allan Kardec, em 1862,
em um esforço por divulgar pontos fundamentais da Doutrina
ao grande público.
Entretanto, considerando que o opúsculo O espiritismo na
sua expressão mais simples não faz parte da relação
de obras básicas, Anna Blackwell ainda permaneceria como a
primeira tradutora de obras espíritas fundamentais.
Nada obstante, o esforço e dedicação de Anna
Blackwell não terminaram na tradução da primeira
obra básica da Doutrina, pois em 1876, pelos mesmos editores,
O livro dos médiuns – Book of Mediuns: or, Guide
for médiuns and invocators (9)
materializa-se em língua inglesa, permitindo que as comunidades
americana e inglesa, entre outros leitores deste idioma, pudessem
bem se instruir nas práticas espíritas propriamente
ditas.
Dando prosseguimento às suas atividades de tradução,
em 1878, publicou o seu terceiro trabalho, O céu e o inferno
ou a justiça divina segundo o espiritismo - Heaven and Hell,
or, the divine justice vindicated in the plurality of existences,(10)
esta obra foi revista e reeditada em 2003, conforme segue: New Edition
Totally Revised by the Spiritist Alliance for Books 2003 by Spiritist
Alliance for Books/Spiritist Group of New York. (11)
Não há indícios de que Anna Blackwell tenha terminado
o seu trabalho de tradução de A gênese,
conforme consta menção em seu prefácio do livro
O céu e o inferno traduzido para o inglês (12)
ou mesmo no livro de Berthe Fropo, vice-presidente da União
Espírita Francesa, intitulado Beaucoup de lumière
(13) (Muita luz), em tradução
livre, quando, neste último, Anna afirmou que já havia
iniciado o seu quarto trabalho de tradução das obras
espíritas.
Contudo, em paralelo ao esforço de Anna Blackwell em popularizar
o Espiritismo, outra tradutora, Emma A. Wood, também havia
se ocupado em traduzir obras espíritas e publica em 1874, (14)
alguns meses antes da correspondente tradução de Anna
Blackwell, sua própria tradução de O livro
dos médiuns, originalmente publicado em francês
pelo Codificador em 1861.
Até o momento não obtivemos sucesso em encontrar versões
de A gênese em inglês, cuja primeira edição
data do ano de 1868, exceto uma tradução preparada por
Mr. W. J. Colville de 1883, conforme segue: Genesis: the miracles
and the predictions according to spiritism pela Colby & Rich,
Boston. (14)
Em relação à obra O evangelho segundo o espiritismo,
publicado pelo Codificador em 1864, do que se sabe, não há
tradução antiga dessa obra, fato no mínimo curioso.
Foi somente ao final do século XX, em um encontro singular
descrito pelo biógrafo Mickaël Ponsardin no livro Chico
Xavier, l'homme et le medium, (16) entre
Janet A. Duncan, inglesa nascida em 1928, em Londres e o médium.
Neste encontro Chico solicitou que Janet traduzisse a obra, pedindo:
“Janet! Janet! Você tem que traduzir o Evangelho!”,
Janet atendeu à sua solicitação e, em 1987, conforme
data de seu Prefácio no referido livro, teve publicado
o seu trabalho: The Gospel According to Spiritism. (17)
A Doutrina Espírita foi codificada com o propósito de
transformar o mundo em que vivemos, mas precisa estar compreensível
ao entendimento de todos. Somos ainda uma grande massa de Espíritos
estratificados pelas muitas culturas e idiomas. Allan Kardec percebeu
claramente esta realidade, quando aqui esteve em sua última
reencarnação, e se esforçou sobremaneira por
difundir o Espiritismo para as comunidades da língua inglesa.
Alguns atenderam este chamamento, seja diretamente, seja por intuições
pessoais de seus Espíritos protetores, e ofereceram ao mundo
daqueles tempos algumas obras espíritas vertidas ao idioma
inglês.
Tais quais os leitores dos textos espíritas na língua
inglesa, nós, os brasileiros que também temos estas
obras à disposição há um bom tempo em
nosso próprio idioma, precisamos, mais do que ler, estudar
com afinco e metodicamente a Doutrina.
A propósito, foi Joaquim Carlos Travassos quem primeiro traduziu
O livro dos espíritos para o idioma português,
em 1875, mesmo ano da primeira tradução de Anna Blackwell
para o inglês. Uma “coincidência” e tanto.
(18)
Do Brasil espera-se o exemplo maior para que as leis de Deus, explicadas
à luz do Espiritismo, se espalhem e frutifiquem em entendimento
e vivência. Cabe a nós a decisão de concretizar
tal conquista o mais rápido possível, para colhermos,
quem sabe, em futuro não muito distante, as benesses, tão
ansiosamente almejadas, de uma vida de acordo com os preceitos divinos.
Os livros aí estão: Estudemo-los!
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