Estive hoje no Shopping Boulevard,
em Belo Horizonte-MG, e aproveitei para ver "Nosso Lar 2:
Os Mensageiros" no primeiro horário disponível,
o das 14 horas.
Um filme feito a partir de uma obra
é passível de diversos comentários, como
a proximidade ou não do livro original, a coerência
doutrinária e outros, mas, honestamente, não pretendo
tratar a partir dessa perspectiva.
A finalidade deste texto é
compartilhar minhas percepções e sentimentos ao
assistir o filme com o leitor, e desafiá-lo a compartilhar
também, na parte de comentários ou no grupo do Facebook
"Espiritismo Comentado", suas próprias impressões.
Um comentário que alguns
amigos fizeram, meio maldoso, foi por que as peças de divulgação
destacaram o ator Edson Celulari, e não Renato Prieto,
que é André Luiz, e. portanto, protagonista da narrativa.
Bem, a resposta é simples: Edson Celulari é Aniceto,
o instrutor de André Luiz, e a narrativa foi construída
ao redor dele, ou seja, ele é o protagonista desse filme.
No começo do filme senti
um pouco de confusão. Gastei um tempo para perceber quem
era encarnado e desencarnado, o que estava acontecendo e o que
era recordação do passado, o que acontecia no plano
espiritual e o que acontecia no plano material, apesar do esforço
da equipe em criar imagens distintas. Mesmo tendo lido os livros
de André Luiz há muitos anos, e reconhecendo Aniceto,
André Luiz e Vicente, alguns eventos do filme me deixaram
inicialmente confuso.
Como são apenas duas horas,
a história teve que ser reduzida e um pouco alterada, incluindo
cenas da série de outros livros e cortando eventos de "Os
Mensageiros". Isso significa que quem gostar do filme, vai
se interessar por ler o livro, e quem vai ler Os Mensageiros,
precisa ter lido antes Nosso Lar, para se ambientar com os personagens
e suas histórias.
A essência do filme traz bem
as sementes plantadas por Chico Xavier e dos espíritos
que se comunicam através deles. Somos falíveis,
fazemos planos que nem sempre se concretizam, esses planos vêm
conosco e os intuímos ao longo da vida, nossa vida tem
um sentido maior que nossa mera existência, esse sentido
foi construído por ninguém menos que nós
mesmos, antes do nascimento, e não estamos sós.
Somos passíveis de cometer erros, atrair desafetos, viver
dilemas e conflitos, mas há quem nos ame e pode haver ajuda
de onde menos esperamos.
O transcendente está imbricado
com a vida ordinária, de tal forma que às vezes
não é fácil desfazer a rede de ligações
que se estabelece entre os espíritos e nós.
O filme me fez perceber que vivemos
em uma anti-utopia prevista por Allan Kardec. Há mil chamamentos
para nos envaidecer do que conquistamos no mundo, mil distrações
e atrações ao conforto, ao trabalho e ao dinheiro,
e é muito fácil ser visto como tolo em no mundo
platônico das aparências em que vivemos. Contudo,
como a vida não finda, e a vida no mundo dá voltas,
sempre podemos arrepender do que vimos fazendo e escolher um novo
rumo no mundo.
Achei belíssima a imagem
que o roteirista e cineasta construiu do papel das casas espíritas.
Elas são uma espécie de continuum entre o aqui e
o além, suas atividades vão muito além do
que somos capazes de avaliar, e sua participação
na vida das pessoas pode fazer a diferença.
Num momento de tanto ataque político
às religiões, em nosso país, foi muito reconfortante
ver que a leitura que o espiritismo faz da sociedade e das relações
humanas, muito marcado pelo cristianismo, se volta à necessidade
de um mundo menos desigual, mais fraterno e mais consciente das
consequências do uso da liberdade que temos.
Tropeçar, cair e levantar,
essa repetição contínua do bebê que
está aprendendo a andar, me emocionou em alguns momentos
do filme, especialmente quando os caídos aceitam a mão
de quem lhes oferece.
Aniceto não é o "todo
poderoso", ou o herói que não falha, mas o
mensageiro, ser humano transcendente que nem sempre consegue atingir
o que deseja, porque está sempre diante da liberdade concedida
pelo criador aos seus filhos, que a empregam conforme suas crenças
e sua consciência nem sempre clara diante da lei universal.
Gostei dos personagens "encarnados"
pelos atores que lhes conferiram humanidade, mais que angelitude.
Uma grande contribuição à narrativa.
Não esperem um filme aos
moldes de Hollywood, mas se conhecem alguma coisa do espiritismo
e da vida, preparem-se para as emoções que o filme
desperta em quem vê um pouco mais do que a história
contada.