Uma palestra
estava sendo feita em uma sociedade espírita da região
sudeste, e o expositor tratava de um tema à luz do pensamento
de André Luiz, espírito que se manifestou principalmente
a partir do lápis que se encontrava nas mãos de um
médium extraordinário: Francisco Cândido Xavier
e de seu colega e amigo Waldo Vieira.
Um dos participantes, estudioso
paulista do espiritismo, perguntou-lhe:
- O que Allan Kardec diz sobre isso?
O expositor, com franqueza, respondeu:
- Lamento, mas não me preparei
para abordar a posição de Allan Kardec, vim apresentar
a visão de André Luiz.
A história chegou aos meus
ouvidos, e não tenho como afirmar que se deu exatamente assim,
porque, afinal, diz a sabedoria popular que “quem conta um
conto, aumenta um ponto”. Mesmo que ela não fosse exatamente
assim, fica um reflexão: Se Kardec desenvolveu os alicerces
do pensamento espírita, como o expositor não conhecia
pelo menos suas ideias básicas, porque estudou o tema exclusivamente
a partir da visão de um autor que erigiu suas paredes sobre
o pensamento e as propostas de Allan Kardec? Por que ele não
se sentiu seguro para responder em poucas palavras o que pensa o
fundador do espiritismo e o que são ideias do espírito
cuja contribuição estava sendo estudada?
Pessoalmente, não vejo nenhum
problema em estudar com detalhes um autor espiritual que foi reconhecido
por estudiosos do espiritismo, mas estamos abandonando as bases
do pensamento espírita?
Convido o leitor a examinar o risco
do misticismo que é sempre real quando os assuntos são
de ordem metafísica. Kardec abordou Deus, a vida espiritual
e as informações que os espíritos davam sobre
a vida após a morte com uma forte base racional. Na medida
em que a razão é abandonada e prevalece a autoridade
de um espírito, nos colocamos diante do que o professor Herculano
Pires denunciava, que era a redução do espiritismo
a um autor espiritual ou a um médium. Não teríamos
assim, a doutrina dos espíritos, mas a doutrina de um espírito/médium
só, perdendo o que distingue o espiritismo de outras designações
religiosas e ficando bem próximos do culto de um espírito,
problema que os espíritos que escreviam por Chico Xavier,
tantas vezes nos advertiram.
"Quando a razão sai
pela porta, ideias como a dos "reptilianos" entram pelo
centro espírita". Mas essa é outra história.