Poucas fontes
documentais tratam da fundação da Federação
Espírita Brasileira.
Canuto Abreu escreveu um livro importante,
mas pouco conhecido, chamado "Bezerra de Menezes - Subsídios
para a História do Espiritismo no Brasil até o Ano
de 1895." Consegui outras fontes, inclusive documentais, no
livro do Eduardo Carvalho Monteiro que cito ao final do trabalho.
Nasce o Reformador
Abreu defende uma tese curiosa,
a FEB é filha do Reformador e de uma pastoral da Igreja Católica
de afirmava "devemos odiar pelo dever de consciência",
referindo-se aos adeptos do movimento espírita e baseando-se
no pensamento moisaico.
Esta pastoral foi escrita em junho
de 1882. À época, Augusto Elias da Silva era neófito
no movimento espírita, frequentava a Sociedade Acadêmica
e convenceu-se das idéias espíritas a partir dos estudos
de "O Livro dos Espíritos".
Incomodado pela pastoral, ele escreveu
um texto em resposta aos católicos intolerantes e não
conseguiu publicá-lo em nenhum órgão de imprensa
da época. Resolveu então fundar uma revista de orientação
liberal com duas partes: uma seção voltada a "todas
as corporações científicas, filosóficas
e literárias" e outra voltada ao Espiritismo.
Após publicar o primeiro
número, afirma Abreu que o editor saiu à cata de colaboradores,
e conseguiu envolver neste projeto Pinheiro Guedes (médico
homeopata), Ewerton Quadros (marechal) e Bezerra de Menezes.
Bezerra de Menezes julgava necessário
unir os espíritas no Brasil em um centro, na capital do império,
formado por delegados de todos os grupos. Esta idéia ganhou
força com a publicação de Reformador, uma vez
que seu "conselho editorial" não desejava associá-lo
a uma sociedade espírita isolada.
No natal de 1883 (segundo Abreu)
ou em 1º de Janeiro de 1884 (segundo Ewerton Quadros, apud
MONTEIRO, 2006), reuniram-se na casa de Antônio Elias da Silva
as seguintes pessoas: Bezerra de Menezes, Raymundo Ewerton Quadros,
Manoel Fernandes Filgueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro,
João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Victório
e Pedro da Nóbrega.
Canuto Abreu entende que a idéia
de congregar os grupos espíritas em torno de uma entidade
central era uma das tônicas da fundação desta
nova organização, mas Quadros afirma que a finalidade
era “fundar uma sociedade para o estudo científico
do Espiritismo” (MONTEIRO, 2006. p.
23). Giumbelli (1997, p. 63)
também discute esta finalidade, e com base no Reformador
da época ele encontra a apresentação da FEB
como uma organização que visava a “propaganda
ativa do Espiritismo pela imprensa e por conferências públicas”.
Foram convidadas outras pessoas
para participarem da sociedade e as que o fizeram no prazo de sessenta
dias foram inscritas como sócios-fundadores. O número
chegou a 40 pessoas de pelo menos quatro estados diferentes. Giumbelli
(1997, p. 62) fez um levantamento das
profissões dos fundadores e encontrou engenheiros, homeopatas,
advogados, militares, funcionários públicos, autônomos,
algumas esposas dos fundadores e mulheres sem vínculo familiar
com os demais associados.
A Sobrevivência da Nova Sociedade
Com uma sede alugada e poucos recursos,
Dias da Cruz, médico homeopata, eleito presidente, teve um
papel importante na sobrevivência da mesma. Ele a manteve
e chegou a assinar um contrato de aluguel de valor muito mais alto
que o inicial, enfrentando a crise econômica que sobreveio
com a proclamação da república sem permitir
que a sociedade se dissolvesse.
(segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO, 2006)
O Papel de Órgão Federativo
Giumbelli (1997,
p. 63) mostrou muitas evidências de que o papel de
órgão federativo, apesar do nome da sociedade, só
foi assumido tempos após a fundação da FEB.
Ela chegou a filiar-se a uma sociedade que foi criada com esta função.
Abreu (1981) entende que havia uma intenção da parte
de Bezerra de Menezes em transformar a FEB em uma organização
que coordenasse a propaganda espírita no Brasil, e cita seu
discurso publicado no Reformador de 1895 no qual ele implementa
mudanças importantes na gestão da sociedade que consolidariam,
no futuro o papel que esta organização desempenha
hoje.